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Luisinho Quintanilha

o libertador da colina

entrevista e texto: Marco Antonio Rocha | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Era uma tarde de quarta-feira ensolarada em São Januário. Mas não iluminada o bastante para ofuscar as histórias do personagem que logo chegaria.

Maior campeão com a camisa do Vasco, Luisinho logo surgiu brincando com todos. Anos após sair do Vasco, era como se o Vasco jamais tivesse saído dele.

A convite do Museu da Pelada, um dos maiores cabeças-de-área da história do clube falou sobre a conquista da Libertadores de 1998. Para Luisinho, o mais difícil neste bate-papo foi manter a concentração a cada interrupção feita por funcionários do Vasco. A cada um que passava, a saudação era inevitável. Ele estava, de fato, em casa!
 

 

IN LUXEMBURGO WE TRUST

por Zé Roberto Padilha


Chegava às Laranjeiras de Xerém, no final dos anos 80, quando recebi a notícia de que havia sido promovido. O treinador dos Juniores tinha ganho a Taça São Paulo e recebera um convite de uma equipe do interior de lá. O Bragantino. Daí Rubens Galaxe, que treinava a equipe Juvenil, foi para o seu lugar e eu, dos infantis, ocupei o lugar do Rubens. O nome do treinador: Vanderlei Luxemburgo.

Vanderlei embarcou para o Bragantino levando a base da sua equipe que não teria chances tão cedo nos profissionais: João Santos, Carlos Ivã, Robert, Franklin e Silvio. Estavam na ponta dos cascos e acabaram levantando o título estadual paulista. Foi aí, nesta meteórica aparição, que Vanderlei recebeu o convite do Palmeiras. E sua estrela, desde então, jamais deixou de brilhar.

No palestra, formou uma equipe difícil de se comparar. Nenhuma outra marcou 100 gols no Campeonato Paulista, mais até do que o Santos, de Pelé e Coutinho. E jamais outro clube cedeu tantos jogadores à seleção: Marcos (Veloso), Cafú, Antonio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho, Djalminha e Zinho; Edmundo e Rivaldo. De quebra, Evair, Edilson, Luisão. Para representar o Brasil, bastava trocar a camisa verde e branca pela camisa verde e amarela.

Joguei na Máquina Tricolor 75 onde Félix, Toninho, Edinho, Marco Antonio, Gil, Paulo César e Rivelino serviram à seleção. Como poucos, sei o valor deste time inesquecível, bicampeão carioca, Campeão do Torneio de Paris e duas vezes semifinalista do Campeonato Brasileiro. E realizei, um ano depois, na Gávea, coletivos aprontos que já mostravam a preciosa geração que alcançaria, alguns anos depois, a hegemonia do futebol carioca e o título do mundial de clubes.

O Leandro era meu marcador e Toninho Baiano se virava tentando marcar Júlio César. No meio campo, o duelo era entre Tadeu Ricci, Geraldo e Zico contra Andrade, Adílio e Tita. E o Mozer, sozinho, tomava conta do Caio e do Luizinho. Quando este elenco se juntou nos profissionais e recebeu a arte do Junior e o oportunismo do Nunes, chegaram perto da perfeição. Esta, na minha opinião, foi alcançada pelo Palmeiras, de Vanderlei Luxemburgo.

Vanderlei treinou a seleção brasileira e o clube mais poderoso do mundo, o Real Madrid. Depois de tudo isto, poderia parar, se tornar uma lenda, ir até o Palestra Itália apenas para inaugurar a sua estátua. Mas o amor pelo futebol não o deixou, felizmente, parar. E no último sábado, quando o Vasco virou sobre o nosso tricolor, muitos comentaristas disseram que foi na garra e porque estavam no alçapão de São Januário. Esqueceram que no banco tinha um treinador mais do que vencedor. Tinha um estrategista. E desde Tim o futebol carecia de um que sabia mexer no tabuleiro.

Não é Jesus, o Messias, mas dos treinadores que conheci de perto, foi o que mais entendeu a língua dos Deuses do Futebol. E, por isto, Vanderlei merece o nosso respeito. Because, “In Luxemburgo we trust”.

DIRRAN, A LENDA FRANCESA. SÓ QUE NÃO

por Jonas Santana


Foto: André Teixeira

Não havia naquele perímetro nenhum jogador mais habilidoso que o Dirran. A bola parecia que “grudava” no seu pé e era quase que impossível pará-lo quando ele, com exímia destreza, disparava rumo à meta adversária. Era só pegar na pelota que começava o desespero dos beques (o pessoal “das antigas” sabe o que é isso) porque Dirran sempre ignorava o seu marcador, fosse pela direita ou esquerda pois, ágil como ele só, deixava o coitado do defensor “a ver navios”. E podia ser lateral, zagueiro, meio campo, não tinha problema, era só baixar a cabeça e quando se dava conta estava o nosso craque na cara do gol.

Nem Todo-Duro, zagueiro famoso pelo seu jeito delicado de tratar a bola e os corajosos que ousavam saracotear na sua frente, escapava dos dribles acachapantes que no mais das vezes deixava o oponente de traseiro no chão, pouco importando se fosse grandalhão ou técnico. Sua habilidade e visão do jogo o faziam desejado por todos os times de várzea da região.

Baixinho, atarracado, meio agalegado, pernas tortas, nem parecia o mesmo quando colocava as chuteiras Club Sul que comprou a prestação. Dirran trabalhava na fábrica e no fim de semana ganhava uns trocados defendendo um ou outro clube, sem vínculo com ninguém, embora fosse objeto de desejo de todos os dirigentes amadores que o conheciam.  

Além de rápido e habilidoso, Dirran também sabia lançar como ninguém e talvez perdesse apenas para Zé Rosca (famosos pelos seus chutes de trivela).  Era considerado o terror da defesa naquela época e o xodó da torcida que gritava a cada drible: ”ão, ão, ão” Dirran é seleção” numa clara alusão aos jogadores que seriam convocados para a Copa das Copas, torneio que reunia os melhores atletas de cada município numa disputa tão acirrada que até a polícia tinha que ser convocada para conter os ânimos.  

E aconteceu a tão desejada convocação. Dirran e Nêrroda, outro jogador de renome na redondeza, apelidado assim por ser a antítese do centroavante tcheco, embora jogasse na mesma posição, foram chamados para a seleção do município.    

E assim foi. Jogo decisivo, Dirran estava inspirado levando à loucura a torcida com suas proezas futebolísticas.  E a empolgação acabou contagiando o narrador.  O jogador mal podia pegar na bola que o narrador gritava seu nome. E era Dirran pra cá, Dirran pralá, que o homem acabou sendo o destaque do jogo. 

Diante daquela manifestação em que o estádio todo gritava o nome de Dirran, e depois de receber o título de “melhor em campo”, cercado por microfones, o atleta só agradecia. 

Ao se aproximar da beira do gramado, terminada a disputa em que sua seleção saíra vencedora, um jovem repórter corre em sua direção, admirado com tamanha homenagem. Assim a primeira pergunta foi: você tem parentes na França? Isso depois de dizer ao público que estava entrevistando o astro do dia. Antes que este respondesse tasca outra pergunta: E esse seu nome é de descendência francesa? 

O jogador, vendo-se assediado e assustado responde de pronto: Não, não, sou daqui mesmo, do interior.  E qual a origem desse seu nome?  Sem pestanejar o atleta reponde: é que meu apelido é C* de Rã, mas como não podem falar no rádio eles me chamam da segunda parte.  E seguiu para o vestiário deixando atônito o repórter.

Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol.   Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50

PROMOÇÃO. NÃO PODE FALTAR…

por Idel Halfen


Dois dos patrocinadores da Confederação Brasileira de Futebol – Ambev e Gol – elaboraram uma ativação bem interessante para a Copa América 2019: durante duas horas, mais precisamente no horário de um jogo do Brasil, seriam vendidas passagens aéreas para destinos da América do Sul através do site da Gol pelo preço de uma cerveja (R$ 3,90).

A promoção, além de reforçar a estratégia de cobranding,  teve ótima repercussão, no entanto, também gerou uma enorme quantidade de pessoas insatisfeitas por não conseguirem acessar o site da empresa. Tamanha insatisfação acabou envolvendo o órgão de proteção ao consumidor, que em sua investigação apurou que 167 passagens foram comercializadas, sendo que 47% destas estavam vinculadas a agências de turismo.

A citação a essa promoção tem unicamente o objetivo de chamar a atenção para a complexidade envolvida em qualquer tipo de iniciativa nesse sentido, ou seja, ter simplesmente uma ideia “criativa” é muito pouco diante dos desafios que a operacionalização exige. Aliás, penso que para uma ideia ser considerada realmente criativa, ela já deve vir devidamente avaliada no tocante a riscos e necessidades para sua execução.

Na verdade, a história do marketing está repleta de casos em que a falta de uma avaliação mais minuciosa de alguma ideia trouxe resultados totalmente diferentes dos que eram esperados, dentre os quais mencionaremos alguns a título de ilustração.


Para nos mantermos no segmento de aviação, vale citar o caso da American Airlines que na década de 80 ofertou uma espécie de assinatura para voos ilimitados, o AAirpass, onde por US$ 250 mil o cliente poderia voar de 1ª classe quantas vezes e para quais destinos quisesse e por mais US$ 150 mil poderia adicionar uma pessoa. A quantidade de voos por assinatura ficou de tal forma alta – teve cliente que em 25 dias fez 16 voos dos EUA para Londres, fora os casos de fraudes e revenda dos bilhetes relativos ao acompanhante -, que em 1990 a empresa subiu o valor do pacote titular mais acompanhante para US$ 600 mil, em 1993 para US$ 1 milhão e em 1994 descontinuou o produto devido ao prejuízo que lhe causava.

Outro caso emblemático foi o do McDonald’s nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles com a promoção “US wins, you win”, em que ofereceu aos clientes uma raspadinha – um cartão com o nome oculto de uma modalidade que, ao ser descoberta, dava ao cliente gratuitamente algum produto caso os EUA tivessem conquistado medalhas naquele esporte. Se fosse de ouro o consumidor ganharia um Big Mac, prata uma batata frita e bronze um refrigerante. Não há como negar que se tratava de uma ativação bastante interessante, já que associava a marca ao evento e promovia o tráfego de clientes aos seus estabelecimentos. O problema se deu ao basear a estimativa de medalhas na performance dos EUA em Montreal-76 (34 de ouro, 35 de prata e 25 de bronze), onde todos as principais nações participaram, não contemplando que em Los Angeles-84 a União Soviética, principal rival dos americanos, boicotaria e não participaria dos Jogos Olímpicos, o que fez com que o número de medalhas conquistadas pelos EUA ultrapassasse as expectativas (83 de ouro, 61 de prata e 30 de bronze). 


Casos iguais aos narrados não faltam à literatura do marketing, muitos dos quais frutos da ansiedade para se colocar em prática alguma ideia supostamente genial, o que leva a ignorar, ou não conseguir elencar os possíveis cenários e obstáculos. Mesmo porque, alguns destes talvez exigissem soluções que inviabilizassem a promoção, tamanho o prazo ou até investimentos necessários. 
O fracasso em iniciativas como essa pode causar, além de prejuízos financeiros, severos danos à imagem e credibilidade da empresa, o quais, provavelmente, não serão compensados através dos ganhos auferidos com a promoção, razão pela qual deve se priorizar o planejamento antes de qualquer ação.

CANSEI DE ESPERAR O BRASIL MUDAR

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Os amigos já devem ter percebido que hoje fala-se mais de arbitragem do que futebol. Ontem à noite assistia mais uma dessas mesas-redondas sonolentas e ouvia um comentarista pedindo paciência porque o VAR ainda está se ajustando. Sou botafoguense e esperei 21 anos por um título.

Sinceramente, cansei de esperar, mas cansei mesmo. Desde os anos 70, em plena ditadura militar, ouvia dizer que a situação do país iria melhorar, que o Brasil era o país do futuro. Lembro até de uma canção curtinha dos “Incríveis”, que virou febre na época: “Este é um país que vai pra frente, ô ô ô ô ô, de uma gente amiga e tão contente, ô ô ô ô ô, este é um país que vai pra frente, de um povo unido de grande valor, é um país que canta trabalha e se agiganta, é o Brasil do nosso amor”.

E o que mudou? Hoje temos políticos corruptos presos, políticos caricatos soltos, políticos nos pedindo paciência porque o Brasil vai mudar. Quando criança vi minha mãe, negra, sofrer com preconceito, várias vezes me mandaram entrar pela porta dos fundos dos prédios e, profissional, vi parceiros de time, também negros, proibidos de entrar em restaurantes, no Sul. Sofria demais com aquilo, botava a boca no mundo, e o pessoal pedia calma: “O mundo vai mudar, PC!”.

Mas, peraí, estou vendo agora na tevê um grupo de torcedores do Inter confirmando que meus amigos estavam errados e que o racismo continua imperando nos estádios, em nossas vidas. Talvez tenha piorado porque nem mulheres e crianças escapam desse ódio. Vivemos esperando, esperando. Ouve-se de tudo, que o Neymar vai amadurecer, que a seleção do Tite vai engrenar e que a minha aposentadoria vai sair.

Vocês não sabem, mas minha aposentadoria foi embargada pela Justiça sob a alegação de que estou bem de vida. Não vou entrar em detalhes aqui, mas esse país precisava ser analisado pelo VAR. De repente, ele manda voltar tudo, recomeçarmos do zero.

Estou na minha sala sintonizado no Canal Viva esperando “Os Trapalhões” começar. Eles ainda me divertem. Estava assistindo São Paulo x Chapecoense, mas mudei de canal quando o comentarista disse que “o São Paulo estava obrigando a Chap a quebrar a bola…”. A bola virou pedra, Kkkkkkkk! Acho que para passar o tempo, refrescar minha cabeça, vou escrever o “Dicionário do Futebolês, a Linguagem do Futebol Moderno”.

Quebrar a bola acabou de entrar na minha lista! Também tem a ligação direta, que na minha época era uma forma de roubar carro, volante, que antes encontrava-se nas casas lotéricas, peças de reposição, comprovando que os jogadores viraram robôs, leitura de jogo, orelha da bola, bochecha da rede, jogador de beirinha, de lado de campo, entre tantas outras pérolas. Aceito sugestões! Claro que o dicionário terá um capítulo reservado às expressões do professor Tite.

Começou “Os Trapalhões”! Preciso dessa paz, dessa pureza, preciso acreditar que esse é um país que vai pra frente, ô ô ô ô ô.