ÍDOLO IMORTAL
por Wendell Pivetta
Fernando Lúcio da Costa, mais conhecido como Fernandão (F9), é o cara que qualquer colorado sente dor no coração, faz escorrer uma lágrima pelo olho e bater com força no escudo da camisa do Sport Club Internacional com o pensamento que o eterno capitão honrou a camisa do colorado dos pampas.
Nascido em 18 de março de 1978, tendo sua formação para o futebol profissional nas categorias de base do Goiás, o atacante de 1,90m, destro e de cabeceio potente passou pelo futebol francês (Olympique de Marseille e Tolouse, entre 2001 e 2004) antes de defender o Clube do Povo. Em 2004, aos 26 anos, chegou ao Beira-Rio em uma contratação feita especialmente pelo ex-presidente Fernando Carvalho. Na época que Fernandão estreou pelo clube eu era jovem, tinha meus 9 anos e ainda não ganhara minha camisa do Inter. Meu pai e meu avô eram colorados, mas não forçavam em tentar me fazer do Inter, então não me apoiavam em torcer, apenas ligavam a TV. Eu já havia pegado gosto pelo clube e cada vez mais me envolvia com o futebol, e meu amor só aumentava, ainda mais quando via a frase: “O Clube do Povo do Rio Grande do Sul” ou ” OClube que ergueu seu estádio sobre ás águas do Guaíba”. Era magnífico ouvir estas histórias e ver o clássico gre-NAL que naquela fase tinha o rival rebaixado.
Quando vi a chegada de Fernandão foi logo pela TV, na escalação dele na linha de frente no clássico gre-NAL 360 vencido por 2 a 0 pelo Inter, no Beira-Rio, pelo Brasileirão. O F9 foi chamado do banco de reservas pelo então técnico Joel Santana, o atacante entrou no segundo tempo e fez uma estreia de gala. Aos 33 minutos, aproveitou um cruzamento de Élder Granja vindo da direita e cabeceou de forma convicta para colocar a bola no cantinho direito, sem chance para o goleiro Tavarelli. Fernandão ajoelhou-se no gramado e eu pulava de faceiro, era diferente ver o Fernandão jogando pois ele assumia de certa forma a responsabilidade e se destacava na impulsão, marco imprescíndivel que logo na sua estréia o coroou com o gol 1000 do Gre-Nal! O feito rendeu até placa comemorativa que foi fixada no vestiário do Gigante da Beira Rio.
Naturalmente o capitão foi assumindo sua titularidade e braçadeira, sempre se saindo bem em suas entrevistas respeitando o adversário, comandava a esquadra vermelha para muito além do possível, unindo um time que pintou o mundo de vermelho, e que treinou e ensinou outro craque a ter mais responsabilidade e amor pelo clube: D’Alessandro. A campanha de 2006, depois de um Brasileiro ridículo e marcado pelo roubo, fortaleceu ainda mais o grupo por algo maior, e a Libertadores veio após uma final inesquecível contra o poderoso São Paulo. O atacante desempenhou o fino futebol e foi o artilheiro do time, com cinco gols. Na finalíssima contra o São Paulo, no memorável dia 16 de agosto, coube a Fernandão a honra de abrir o placar, e a imagem da emoção estampada no seu rosto na comemoração segue cristalina na memória de todos, ainda mais da minha, que o olhou em uma TV minúscula, o frio era de quase 0 graus, mas nada me impediu de pular e comemorar a taça de pijama. É inenarrável retratar a minha alegria após este jogo. Quatro meses e algumas horas depois, em 17 de dezembro, o eterno capitão protagonizou o momento mais sonhado por qualquer colorado. Na distante Yokohama, no Japão, o ídolo ergueu sobre a cabeça o troféu do Mundial de Clubes FIFA. Ao vencer o poderoso Barcelona por 1 a 0, com gol de Adriano Gabiru, o Inter encerrava o ano no topo do mundo. Ninguém no planeta era páreo para o Colorado dos Pampas! E, mais uma vez, Fernandão foi fundamental. O Sul calava o mundo, e o Clube do Povo recebia, no Beira Rio, Fernandão com a taça na mão para cantar com os colorados presentes “Vamo, vamo, inter…”
O que este cara fazia era muito além do que um clube poderia contar. Capitão de verdade, respeitador e respeitado, marcou eternamente a minha vida e a de todos os colorados. Fernandão ainda foi treinador do Internacional, com passagem curta, mas sempre admirado. Acabou falecendo cedo, e de forma trágica, o que todos sabem. Ganhou estátua no Beira Rio, mas ganhou a eternidade na memória de todos que viram sua passagem pelo clube, principalmente naquele domingo de manhã, num verão em que apenas os colorados, e só os colorados acreditaram no clube que vestia branco e pintava o mundo de vermelho, com um capitão, um tal de Fernandão.
Eu
nunca me esquecerei
dos dias que passei
contigo, INTER
Colorado é coração,
trago, amor e paixão
Pra sempre INTER
(2x)
AOS MESTRES QUE NÃO CONHECI
por Israel Cayo Campos.
Desde garoto três coisas sempre me interessaram. Ciências, música e futebol. A intelectualidade que a primeira transmite a consciência da segunda e as alegrias da terceira me causaram um profundo desejo de fazer parte de todos esses meios. E por incrível que pareça, eu consegui modestamente fazer parte. Graças a pessoas as quais eu sequer conheci em vida, e que infelizmente em menos de 48 horas e ainda em plena juventude acabaram por nos deixar antes do combinado. A eles gostaria de fazer uma singela homenagem no Museu de Pelada, pois se um era um expert no que tange a história do futebol, um museu humano do futebol, o outro era um peladeiro ao estilo que todo peladeiro deve ser: Bom o suficiente para seguir outra profissão a qual tenha de fato talento!
Mas para contar um pouco dos dois preciso me inserir como parte da história de ambos, embora eles nunca tenham me conhecido (a não ser por alguns e-mails perdidos do professor os quais tive a honra de trocar com ele na época que ainda estava a fazer meu TCC), pois eles fizeram parte da minha e mudaram-na dando um rumo especial para a mesma. Gostaria de por meio do futebol, algo que nos une (os três), agradecer a essas pessoas tão especiais em minha vida.
Por cronologia, gostaria de começar por André Matos, um dos maiores cantores e pianistas brasileiros, que como escolheu o rock and roll como seu meio de vida, é por incrível que pareça pouco conhecido entre os tupiniquins, apesar do sucesso estrondoso que fez no mundo todo em todas as suas bandas, o Viper, Angra e Shaman. Além é claro de seu trabalho solo e projetos com músicos internacionais de renome como o Avantasia, do alemão Tobias Sammet.
O corintiano roxo André, apareceu em minha vida logo que comecei a me interessar por música. Tentar aprender instrumentos, e principalmente cantar… Uma forma de reduzir minha timidez crônica. Por meu jeito calado apesar de não me considerar impopular, o heavy metal caiu em minha vida como uma bomba. Não parava de ouvir todo dia bandas diferentes. Tornei-me fã número 01 do Iron Maiden, mas tinha como referencia de músico desse estilo em nosso país o André Matos.
Não queria só o admirar, queria ser como ele! Cantar com suas notas que poucos cantores no mundo conseguem. Infelizmente, eu era um peladeiro musical!
Mas nem por isso desisti, montei minhas “bandinhas de garagem” e sempre arriscava um cover do André em discos maravilhosos do Viper como o “Soldiers of Sunrise” e “Theatre Of Fate”, ou do Angra, tais como “Angels Cry”, “Holy Land” e “Fireworks” ou na banda que em meados dos anos 2000 quando de fato comecei a ouvir rock pesado ele estava como vocalista, o Shaman. Banda essa que com seu disco “Ritual” de tanto eu ouvir acabei irritando meus vizinhos por anos! A minha predileta dessa fase se chama “Here I Am”. Traduzido no bom português: Estou aqui!
Mas se for pra falar das composições do André as quais era viciado em ouvir e tentar reproduzir vou acabar saindo do foco do texto. São muitas canções lindas que aconselho a quem nunca ouviu procurar na internet as letras enquanto ouve as músicas.
Mas quero falar de outro André Matos, o rockeiropeladeiro! Que sempre como goleiro participava dos campeonatos de músicos promovidos pela MTV. De fato, ele como arqueiro era um gigante músico. Mas como todo peladeiro, achava que tinha mais talento do que de fato apresentava!
Ao ver um ídolo da música que gosta do mesmo esporte que eu, meu instinto de fã sempre me impedia de torcer contra a equipe que estivesse defendendo! Ainda mais pelo fato de dentro de um estilo musical tão fechado, quase uma seita, haver um dos ícones do mesmo, fã de futebol igual a mim. Não só nos identificávamos pela música, mas também pelo amor pelas peladas.
Torcedor corintiano doente (apesar de eu ser São Paulino), pouco me importava seu time do coração. Gostar de metal e de futebol ao mesmo tempo fazia me identificar com o cara! Tietado pelo goleiro Cássio (Roqueiro assumido) e tiete do técnico Tite, visitou em programas esportivos o CT do Corinthians! E sua paixão pelo clube era tão grande que até o hino do time de Parque São Jorge em japonês ele gravou após a conquista do mundial de clubes de 2012. Só lembrando que no Japão, ele recebia o valor e admiração do grande gênio da música que era!
Outro momento especial da relação André Matos e futebol veio com a gravação da música intitulada ‘Kamisama”, em parceria com a banda de metal brasileira Eyes of Shiva. A letra é uma homenagem a Zico, maior ídolo da geração 1980, que é tratado como o Deus do futebol na letra. E que como todos sabem, é não só aqui no Brasil, como também no Japão, o “Galinho de Quintino” assim como o André Matos são reverenciados com a grandeza que merecem! Tal canção da qual Matos participou, fez Zico, um conhecido fã do samba brasileiro, convidar a banda para o conhecer, além das dependências do CFZ. O eterno camisa dez do Flamengo ainda brincou com os integrantes do Eyes of Shiva que se sentia muito honrado com a homenagem e agora começaria a ouvir heavy metal! (Fonte, Site Wiplash. Dia 30 de novembro de 2005).
Infelizmente no dia 08 desse mês, Matos acabou deixando órfãos os seus milhões de fãs no mundo todo. O maestro das notas perfeitas no vocal se foi. E com ele parte da minha adolescência. Mas a sua relação interseccionada entre música de ótima qualidade, gosto pelo esporte mais popular do mundo, e inspiração devido transmitida pelo seu grande talento a fãs das duas artes como eu sou, ficarão guardadas para sempre! Como ele dizia em uma de suas mais belas composições… Carry On…
Se André Matos não teve o reconhecimento do público brasileiro ao qual merecia, esse outro homenageado por minha humilde pessoa é ainda menos reconhecido do público. Afinal, quem liga para os professores? Mas um cidadão com tamanho conhecimento de futebol, e que me fez ver que eu poderia aliar minha profissão a algo que eu sempre gostei, falo do professor (Doutor) Gilmar Mascarenhas de Jesus, geógrafo, que faleceu no dia em que escrevo esse texto (10 de junho).
Além das bandas de rock e de um flerte com uma formação em economia, acabei optando por me graduar em geografia. E muito desse gosto pela disciplina vinha do conhecimento que adquiria sobre outros países principalmente em épocas de Copa do Mundo. Contudo, perto de me graduar na profissão, ainda não sabia em que área da geografia iria me especializar. Foi aí que um professor de geografia cultural me sugeriu – por qual motivo você não fala de futebol?
Pensei comigo: Como esses assuntos se entrelaçavam? Qual a relação que eles poderiam ter? De fato era uma ótima ideia! Mas como encaixar ambas as temáticas? Foi aí que comecei a ler os textos e livros do professor Gilmar Mascarenhas, e percebi o quanto isso era possível. Que um diploma em geografia não necessariamente só precisava ser dado a quem quer entender de politica ou relevo, que havia muitos caminhos pelos quais a geografia se entrelaçava.
Mesmo não o conhecendo pessoalmente, apenas trocando alguns e-mails, o professor carioca me inspirou a concluir meu curso. A fazer meu trabalho me baseando em algo que adoro. Deu-me um ânimo para investir naquilo que me dispus a fazer da vida. Seus textos sobre as origens do futebol brasileiro, e a territorialidade criada por torcedores como os do Grêmio e Internacional que ultrapassava os limites das quatro linhas desde seus primórdios, me fizeram ver o futebol muito além do que ele almeja ser. Muito mais do que um jogo inglês reinventado no Brasil. O futebol pode assumir outros contextos e formas de acordo com o entendimento do que ele representa dentro de uma sociedade! Principalmente uma sociedade tão miscigenada e pobre como a nossa! Se não fosse o Professor Gilmar Mascarenhas, minha linha de pesquisa seria apenas mais do mesmo!
Com suas referências bibliográficas construí meus próprios textos. Conclusão de curso, artigos, revistas, e utilizo algumas informações até aqui no Museu da Pelada. O professor Mascarenhas foi o pioneiro no mundo acadêmico a associar geografia e futebol. Que hoje longe das amarras caretas de alguns professores universitários, consigo ver o quanto estão relacionados! Para mim, é um pai acadêmico! Apesar de ainda ser um homem muito jovem, perdendo sua vida a dez dias de completar 55 anos!
Vale salientar os mais de 100 artigos em inglês e português sobre a temática. Que iam além do futebol, bem como os grandes eventos esportivos que o Brasil sediou nos últimos anos, tais como os Jogos Pan-americanos e Olímpiadas. Além de livros essenciais para quem gosta da história do futebol no Brasil, como por exemplo, “Entradas e Bandeiras, a conquista do Brasil pelo futebol”.
Em seus artigos o professor analisou a história de grandes times como o Corinthians, o Bangu, o Grêmio, o Internacional e até a importância da Seleção Brasileira na construção do espaço urbano do país. Sem contar a análise do operariado tomando um esporte que até então era das grandes elites e a busca para saber se o futebol no Brasil entrou primeiro via Charles Muller, como a história conta, ou pelas vias férreas que ligavam o Rio Grande do Sul ao Uruguai e Argentina, países pioneiros nesse esporte na América do Sul. Também escreveu sobre a Copa do Mundo de 1950 e sua importância para o estado do Rio de Janeiro, os legados da Copa de 2014 e Jogos Olímpicos para o território brasileiro, e o que passamos hoje em nosso futebol, a globalização que praticamente torna os nossos campeonatos que já foram os mais fortes em torneios de segundo escalão devido ao êxodo de nossos craques. São tantos temas futebolísticos associados ao meio acadêmico que foram discutidos pelo professor Mascarenhas que não cabem nessa singela homenagem.
Que me desculpem os ex-jogadores de futebol que acham que só quem entende de bola é quem enfrentou um maracanã lotado. Mas o conhecimento adquirido sobre esse esporte também pode vir das salas de aula. O futebol também é aprendizado! E ninguém mostrou de maneira melhor em nosso país que essa afirmação é verdadeira do que o Doutor Gilmar Mascarenhas de Jesus.
Torcedor do Botafogo, soube por amigos próximos que ele planejava ver a Seleção brasileira na Copa América desse ano. Infelizmente o destino não permitiu que isso acontecesse. Mas meus sinceros agradecimentos a um cara que nem conheci, mas que me ensinou que tanto. Que fez muito por uma temática tão importante, mas ao mesmo tempo tão marginalizada pelo meio acadêmico. E que aceitem ou não, é uma parte da história de nosso povo. Que seu exemplo inspire novos acadêmicos a pesquisarem outros assuntos que também são de extrema importância para boa parte dos brasileiros. Esse foi seu grande legado! Grande mestre. O Futebol não pertence só a jogadores e jornalistas especializados. Mas é um bem do povo brasileiro, que pode e deve ser analisado por todas as óticas. Inclusive acadêmica!
Mesmo que não tendo a fama de alguns que aparecem na TV para mostrarem que não tem metade do conhecimento que o senhor possuía, em um país onde os professores são pouco valorizados, um visionário como o senhor merece a minha sincera homenagem! Livros e textos na internet gratuitos estão aos montes. Resta as pessoas uma vontade de aprender mais sobre aquilo que elas acham conhecer tanto e na verdade entendem apenas de maneira superficial! Um pouco de cultura não faz mal a ninguém! Conhecer a história do esporte pelo qual se dá tanta audiência muito menos! E graças ao professor Gilmar, tal situação é possível! Um exemplo que infelizmente eu não tive o prazer de conhecer pessoalmente! Só me resta desejar sinceras condolências a família! Que descanse em paz grande mestre!
O MENINO WAYUU
por Claudio Lovato
O menino é um índio wayuu de Maracaibo, na Venezuela. Chama-se Juan Francisco Fernández Montiel e quer ser jogador de futebol. O menino wayuu torce pela seleção da Colômbia, mas também gosta do Brasil. Ele mora numa casa pobre na área rural da cidade e fez do pequeno quintal que fica nos fundos dela o seu campo com tijolos que ele imagina traves perfeitas, dignas do Camp Nou.
O menino wayuu tem um chute forte de esquerda. Ele sonha ser como Juan Arango, seu conterrâneo que um dia foi brilhar na Europa. O menino, cada vez que chuta a bola, imagina-se Arango, e, em outras vezes, Cristiano Ronaldo, Messi, James Rodríguez.
O menino wayuu tem um irmão mais velho chamado Remigio Elías que o protege de tudo e de todos, porque os adversários nesta vida são muitos, mas Remigio prefere o beisebol. Seus ídolos usam tacos e luvas, e ele não entende como o irmãozinho foi gostar tanto de futebol, mas não acha isso ruim, apenas engraçado, e de vez em quando troca uns passes com o pequeno nos fundos da casa.
O pai do menino wayuu, Hugo Cesar, sempre ri quando assiste ao menino jogar futebol; não pelo que o menino faz, mas pelo que ele diz, como se fosse um locutor no estádio, e o pai ri de verdade cada vez que o menino faz um gol, e se lembra (isso é recorrente) de quando ele, Hugo, vivia na Península de la Guajira com seus pais – a Península onde viveu até os 18 anos, até vir morar com tios em Maracaibo, a Península árida e bela, com o céu mais estrelado que uma pessoa pode ver. Em Maracaibo perdeu a ingenuidade, mas conheceu o amor de Mari Carmen, e casou-se com ela depois de ter se tornado professor primário. Pensamentos, lembranças.
A bola vem e bate na parede ao seu lado, um estouro, uma pequena explosão originária de um arsenal infantil. Leva um susto, já não pensa mais na Península, e, de olhos arregalados, ouve as risadas finas do filho e começa a rir também, e ele faz uma careta daquelas engraçadas, que fazem o menino rir mais ainda, e agora vem a mãe, Mari Carmen, porta da cozinha afora, avisando que o cabrito assado está pronto e pensando em como é bom ver o pequeno Juan Francisco rindo, e o pai dele rindo também, pensa que seria muito bom se seu filho mais velho estivesse com eles, mas Oscar já tem a casa da namorada para almoçar aos domingos (não em todos os domingos, mas em muitos deles), e então eles se sentam para comer na mesa que fica na área externa ao lado da cozinha, sob uma árvore, como gostam os wayuu, e se unem para comer, um com Arango na cabeça, outro com a Península de la Guajira, outra com o filho ausente, mas estão todos felizes, sabedores de que,se perdem algo ou alguém de um jeito, ganham de outro, porque a vida, por mais que às vezes não pareça assim, sempre dá em troca, sempre compensa tudo, é negociadora severa mas justa, tanto é que estão juntos, e isso é o que mais importa para eles, isso é tudo o que importa neste exato momento presente, juntos.
PODE ISSO, ARNALDO?
por Ricardo F Dias
Há pouco tempo tive contato com o Arnaldo Cesar Coelho. Estou proibido, por ele, de contar, mas o cara tomou uma atitude sensacional. Teve um gesto absolutamente maravilhoso, e não posso contar… Mas ao menos conto que houve algo, e que ele é um cara fantástico. Virei fã, além de ter sido talvez o único juiz que jamais xinguei.
Mas, falando de juízes… Meu pai foi gerente de banco. Um cliente seu era o árbitro Aloisio Felisberto – estamos nos anos 70. Sempre que ia à agência, meu pai dizia impropérios sobre juízes, e ele sempre aceitou com bonomia.
Numa segunda-feira, no jogo da véspera, Cafuringa, ponta direita do Fluminense, havia apanhado muito. Meu pai havia ido ao jogo, e ao ver Aloisio começou a xingar todos os juízes. O árbitro riu, conversaram um pouco e este pediu para dar um telefonema. Deu, e comentou sobre o jogo do Flu. Passou o telefone para meu pai, dizendo:
– Acho que esse meu amigo também concorda com você.
Papai pegou o telefone e começou a comentar sobre o fato. Xingou o juiz da véspera, lançou dúvidas sobre sua masculinidade, insinuou comportamento moralmente indevido por parte da mãe do juiz, Supôs subornos, falou o diabo. Seu interlocutor ouvia, até que perguntou:
– Mas quem foi o juiz de ontem?
– Luis Carlos Felix.
– Prazer, sou eu.
Meu imprevidente ancestral, ao xingar tanto o pobre árbitro, talvez tenha esquecido de uma passagem em sua própria biografia. Ele jogava vôlei nos anos 50. Época de total amadorismo, um dia haveria um jogo entre Mackenzie e Flamengo. Ele não poderia jogar, estava machucado, então foi escalado como árbitro.
Meu pai tem pelo Flamengo sentimentos poderosos, nenhum deles positivo. E roubou o mais que pôde. Bola deles dentro era fora, bola fora do adversário era dentro, fez o diabo, e teve que sair fugido do ginásio. Já naquela época a torcida rubro-negra era apaixonada. Fugiu, e com a inocência dos justos parou num bar do bairro vizinho para um caldo de cana com pastel. Não contava com o bonde, que passava em frente, lotado com torcedores que estiveram no ginásio.
-É ele!!!!!!!!!!
Era jovem , corria muito, sobreviveu!
Antônio Lopes
CONSELHOS DE MESTRE
entrevista: Sergio Pugliese | fotos e vídeo: Daniel Planel
Como muitos já sabem, um dos trabalhos do Museu da Pelada é revitalizar os acervos dos ex-jogadores e o craque Vitor nos deu essa honra no dia em que fomos entrevistá-lo. No meio de tanta relíquia, encontramos cartinhas motivacionais do treinador Antônio Lopes. Maravilhados, fomos atrás do delegado para relembrar essas mensagens e viajar no tempo.
“Dê carrinho, chutão (…) Não conduza muita a bola, cuidado com o Arthurzinho no campo de defesa, dê mais atenção a cobertura dos laterais (…)”. “Leia várias vezes até antes da partida”
– Eu fazia essa cartinha para todos os jogadores e entregava na noite anterior ao dia do jogo. Era uma forma de motivá-los!
O lado psicólogo não demorou a surtir efeito e o treinador logo ganhou o respeito do grupo, montando um timaço do Vasco na década de 80.
– Eu comecei a fazer isso em 1985, organizando o Vasco! Promovi um monte de garotos (Lira, Mazinho, Romário…) e comecei a formar um novo time. Dispensei muita gente também. No ano seguinte, já deu frutos e fomos campeões da Taça Guanabara!
O fato de Vitor guardar até hoje as cartinhas mostra o quanto elas eram importantes para os craques e hoje, no dia do aniversário de Antônio Lopes, publicamos esse vídeo para homenageá-lo! Vida longa ao delegado!!