O DIA EM QUE O PAPA ENTROU EM CAMPO
por Victor Kingma
Charge: Eklisleno Ximenes
Pafuncio Parreira, popularmente conhecido como PAPA, era um poderoso cartola do interior. Próspero empresário do ramo de sumos de frutas e cacique político da região, era amado pelos aliados e odiado pelos adversários. Não tinha meio termo. Pré-candidato a prefeito de sua cidade foi denunciado à Justiça Eleitoral por estar fazendo propaganda antes da data permitida, ou seja, distribuindo um sem número de jogos de camisas para os times de várzea do lugar com a inscrição: “O PAPA vem aí”.
O juiz do lugarejo, em razão disso, concede um mandado de apreensão e as camisas são recolhidas.
Os adversários já cantavam vitória por terem inibido a fraude, quando, no domingo seguinte, todos os times entram em campo com o novo uniforme patrocinado pelo mega cartola. Dessa vez trazendo estampado nas camisas a propaganda de um inusitado “produto”, desenvolvido às pressas pela sua empresa e que em breve chegaria ao mercado:
“Vem aí o SUMO PONTÍFICE!”.
BUJICA 2.0, O CAÇADOR DE MARAJÁS
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 1989, Flamengo e Vasco da Gama jogariam pela primeira fase do Campeonato Brasileiro, no Maracanã. Seria o primeiro jogo de Bebeto, recém contratado pelos vascaínos, contra o ex clube.
O Vasco da Gama contava com uma configuração de grandes jogadores frequentemente convocados para a Seleção Brasileira, como Acácio, Luiz Carlos Wink, Mazinho, Tita, Bismark e o próprio Bebeto. Era a SeleVasco.
O Flamengo tinha um bom time com jogadores, contudo, menos brilhantes e conhecidos, à exceção de Júnior e Zico.
Pois o jogo não foi nada do que se esperava. O brilho da SeleVasco não aconteceu. Bebeto, muito nervoso em seu primeiro jogo contra o antigo clube, acabou expulso, juntamente com o goleiro rubro negro Zé Carlos, em uma briga entre os dois.
Liderados pelos experientes Júnior – em uma atuação como líbero soberba – e Zico – atuando como meia armador de forma magistral – e pelo garoto cabeludo Luiz Carlos, cria da base – que levou à loucura os adversários criando jogadas pelos dois lados do campo, o “mais querido” deu uma aula de futebol nos selecionáveis, que não viram a “cor da bola” naquele dia.
Um centroavante de apelido engraçado, o Bujica, se tornou o nome do jogo. Ao marcar dois gols de puro oportunismo, “roubou a cena”.
Flamengo 2 x 0 Vasco da Gama. E estamos conversados!
O cidadão que hora vos escreve, vascaíno, saiu do Maracanã de cabeça inchada. Mas o pior ainda estava por vir…
Os jogadores do Vasco eram, então, chamados de marajás – designação a quem tem alta remuneração. Havia um candidato a presidente que se dizia caçador de marajás e logo o adesivo “Bujica 2.0 – O Caçador de Marajás” começou a estampar vários carros pelas ruas do Rio de Janeiro.
E, no dia seguinte, havia aula na faculdade. Lá estava eu, assistindo aula. Do lado de fora, vem o grito do meu amigo Raul, flamenguista, citando meu apelido de juventude, para risada geral da turma (de dentro e de fora da sala) e para a minha cara de paspalho:
“Gargamel… Bujica!!!”.
Há 30 anos, direto do túnel do tempo.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.
Dudu + Da Silva
OS BONS FILHOS DE ARRAIAL
entrevista: Sergio Pugliese e Marcelo Cortez | fotos e vídeo: Daniel Planel
Um grande encontro. O cenário escolhido foi o Hostel do Navio em Arraial do Cabo. Difícil era conter as emoções. Sérgio Pugliese, depois de muito tempo, finalmente realizava o sonho de encontrar Dudu, o ídolo da juventude. Henrique dos Santos, nosso campeão da Libertadores de 2002, não continha a alegria e a emoção de mais uma vez estar ao lado do amigo, ídolo e ex-técnico. Daniel, nosso cinegrafista, com sua sensibilidade, procurava não perder nenhum detalhe. Foram quase 4 horas de muitas histórias, umas já conhecidas e outras reveladas pela primeira vez. Nesse episódio do Museu da Pelada, vocês vão conhecer um pouco da incrível história de Henrique da Silva, um campeão que atribui seu sucesso a uma grande mulher que não permitiu que ele desistisse do sonho de jogar futebol. Vamos também revelar os bastidores da final do estadual de 1982 entre o Vasco, do Roberto Dinamite, e o Flamengo, de Zico, em uma tarde com mais 130 mil torcedores no maior estadio do mundo, o Maraca! Dudu abre o coração e também fala porque não foi a Copa de 82. Falamos também do histórico encontro do então presidente do Belenenses de Portugal com Dudu, quando esse veio acertar a contratação do craque do Vasco, o local da reunião foi as areias da prainha e tudo regado a muita caipirinha. Dudu conta da estreia no Cruzeiro que nunca aconteceu. Nossa resenha foi finalizada com um bela feijoada,mas acredite o melhor mesmo, vocês vão poder acompanhar nesse vídeo. Peladeiros, arquibaldos e geraldinos, assistam a esse show da bola.
Fagner + Ozires + Paulinho Pereira
ENCONTRO DE ÍDOLOS
entrevista: Sergio Pugliese | fotos e vídeo: Daniel Planel
Quem nos conhece sabe a nossa paixão por encontro entre boleiros e músicos. Depois de Afonsinho & Gilberto Gil, Moacyr Luz & Jairzinho, Adílio & Oswaldo Montenegro, chegou a vez de reunir Fagner, Ozires e Paulinho Pereira, um trio de respeito!
Nascido em Orós, no Ceará, o famoso cantor e compositor era um daqueles meninos fissurados por futebol.
– Sempre fui muito ligado e ia em todos os jogos no Ceará. Tive a oportunidade de assistir grandes craques que passaram lá e, posteriormente, me tornei amigos de muitos deles.
Muitas dessas amizades foram formadas após sua passagem pelo Trem da Alegria, time de pelada formado por Afonsinho que reúne ex-craques, novos talentos e simpatizantes em geral.
– Quando cheguei ao Rio, conheci Afonsinho e recebi o convite para brincar lá! Naquele timaço, cheio de craques, com Nei, Afonsinho, Pintinho, eu fui escalado para marcar. Eu ficava lá atrás, só pegava a bola e tocava! – confessou o cantor.
Nessa pelada, Fagner com certeza se inspirou no zagueiro Ozires Paiva, um dos grandes jogadores que honraram a camisa do Fortaleza. Até o encontro proporcionado pelo Museu da Pelada, a dupla nunca tinha se encontrado, apesar da admiração mútua.
– Sempre escutei as músicas dele e foi, inclusive, o irmão dele me vendeu para o Cruzeiro! É um prazer estar aqui hoje!
Paulinho Pereira, por outro lado, é amigo de longa data de Fagner e fez questão de participar da resenha. Nos encontramos no Posto 11, na Praia do Leblon, para uma resenha de alto nível.
– Eu já era fã, mas conheci o Fagner através do Armando, nos falamos todo dia, vou a show. Uma relação muito bacana. Quando o Fagner faz show no Rio, a galera me perturba para ganhar ingresso! – revelou Paulinho, que hoje é professor de uma escolinha de futebol de areia.
O cantor retribuiu o carinho do ex-craque do Vasco da Gama:
– Paulinho é uma referência para a gente, grande parceiro! Recebe todo mundo muito bem. Nossa resenha de futebol nunca acaba!
Para fechar essa resenha com chave de ouro, surpreendemos o zagueiro e o cantor com um presentaço de Carlinhos Cortazio, rei das peladas na Barra: duas camisas do Fortaleza personalizadas com nome e número.
Que dia, amigos!
ÍDOLO IMORTAL
por Wendell Pivetta
Fernando Lúcio da Costa, mais conhecido como Fernandão (F9), é o cara que qualquer colorado sente dor no coração, faz escorrer uma lágrima pelo olho e bater com força no escudo da camisa do Sport Club Internacional com o pensamento que o eterno capitão honrou a camisa do colorado dos pampas.
Nascido em 18 de março de 1978, tendo sua formação para o futebol profissional nas categorias de base do Goiás, o atacante de 1,90m, destro e de cabeceio potente passou pelo futebol francês (Olympique de Marseille e Tolouse, entre 2001 e 2004) antes de defender o Clube do Povo. Em 2004, aos 26 anos, chegou ao Beira-Rio em uma contratação feita especialmente pelo ex-presidente Fernando Carvalho. Na época que Fernandão estreou pelo clube eu era jovem, tinha meus 9 anos e ainda não ganhara minha camisa do Inter. Meu pai e meu avô eram colorados, mas não forçavam em tentar me fazer do Inter, então não me apoiavam em torcer, apenas ligavam a TV. Eu já havia pegado gosto pelo clube e cada vez mais me envolvia com o futebol, e meu amor só aumentava, ainda mais quando via a frase: “O Clube do Povo do Rio Grande do Sul” ou ” OClube que ergueu seu estádio sobre ás águas do Guaíba”. Era magnífico ouvir estas histórias e ver o clássico gre-NAL que naquela fase tinha o rival rebaixado.
Quando vi a chegada de Fernandão foi logo pela TV, na escalação dele na linha de frente no clássico gre-NAL 360 vencido por 2 a 0 pelo Inter, no Beira-Rio, pelo Brasileirão. O F9 foi chamado do banco de reservas pelo então técnico Joel Santana, o atacante entrou no segundo tempo e fez uma estreia de gala. Aos 33 minutos, aproveitou um cruzamento de Élder Granja vindo da direita e cabeceou de forma convicta para colocar a bola no cantinho direito, sem chance para o goleiro Tavarelli. Fernandão ajoelhou-se no gramado e eu pulava de faceiro, era diferente ver o Fernandão jogando pois ele assumia de certa forma a responsabilidade e se destacava na impulsão, marco imprescíndivel que logo na sua estréia o coroou com o gol 1000 do Gre-Nal! O feito rendeu até placa comemorativa que foi fixada no vestiário do Gigante da Beira Rio.
Naturalmente o capitão foi assumindo sua titularidade e braçadeira, sempre se saindo bem em suas entrevistas respeitando o adversário, comandava a esquadra vermelha para muito além do possível, unindo um time que pintou o mundo de vermelho, e que treinou e ensinou outro craque a ter mais responsabilidade e amor pelo clube: D’Alessandro. A campanha de 2006, depois de um Brasileiro ridículo e marcado pelo roubo, fortaleceu ainda mais o grupo por algo maior, e a Libertadores veio após uma final inesquecível contra o poderoso São Paulo. O atacante desempenhou o fino futebol e foi o artilheiro do time, com cinco gols. Na finalíssima contra o São Paulo, no memorável dia 16 de agosto, coube a Fernandão a honra de abrir o placar, e a imagem da emoção estampada no seu rosto na comemoração segue cristalina na memória de todos, ainda mais da minha, que o olhou em uma TV minúscula, o frio era de quase 0 graus, mas nada me impediu de pular e comemorar a taça de pijama. É inenarrável retratar a minha alegria após este jogo. Quatro meses e algumas horas depois, em 17 de dezembro, o eterno capitão protagonizou o momento mais sonhado por qualquer colorado. Na distante Yokohama, no Japão, o ídolo ergueu sobre a cabeça o troféu do Mundial de Clubes FIFA. Ao vencer o poderoso Barcelona por 1 a 0, com gol de Adriano Gabiru, o Inter encerrava o ano no topo do mundo. Ninguém no planeta era páreo para o Colorado dos Pampas! E, mais uma vez, Fernandão foi fundamental. O Sul calava o mundo, e o Clube do Povo recebia, no Beira Rio, Fernandão com a taça na mão para cantar com os colorados presentes “Vamo, vamo, inter…”
O que este cara fazia era muito além do que um clube poderia contar. Capitão de verdade, respeitador e respeitado, marcou eternamente a minha vida e a de todos os colorados. Fernandão ainda foi treinador do Internacional, com passagem curta, mas sempre admirado. Acabou falecendo cedo, e de forma trágica, o que todos sabem. Ganhou estátua no Beira Rio, mas ganhou a eternidade na memória de todos que viram sua passagem pelo clube, principalmente naquele domingo de manhã, num verão em que apenas os colorados, e só os colorados acreditaram no clube que vestia branco e pintava o mundo de vermelho, com um capitão, um tal de Fernandão.
Eu
nunca me esquecerei
dos dias que passei
contigo, INTER
Colorado é coração,
trago, amor e paixão
Pra sempre INTER
(2x)