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BUJICA 2.0, O CAÇADOR DE MARAJÁS

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1989, Flamengo e Vasco da Gama jogariam pela primeira fase do Campeonato Brasileiro, no Maracanã. Seria o primeiro jogo de Bebeto, recém contratado pelos vascaínos, contra o ex clube.

O Vasco da Gama contava com uma configuração de grandes jogadores frequentemente convocados para a Seleção Brasileira, como Acácio, Luiz Carlos Wink, Mazinho, Tita, Bismark e o próprio Bebeto. Era a SeleVasco.

O Flamengo tinha um bom time com jogadores, contudo, menos brilhantes e conhecidos, à exceção de Júnior e Zico.

Pois o jogo não foi nada do que se esperava. O brilho da SeleVasco não aconteceu. Bebeto, muito nervoso em seu primeiro jogo contra o antigo clube, acabou expulso, juntamente com o goleiro rubro negro Zé Carlos, em uma briga entre os dois.

Liderados pelos experientes Júnior – em uma atuação como líbero soberba – e Zico – atuando como meia armador de forma magistral – e pelo garoto cabeludo Luiz Carlos, cria da base – que levou à loucura os adversários criando jogadas pelos dois lados do campo, o “mais querido” deu uma aula de futebol nos selecionáveis, que não viram a “cor da bola” naquele dia.

Um centroavante de apelido engraçado, o Bujica, se tornou o nome do jogo. Ao marcar dois gols de puro oportunismo, “roubou a cena”. 

Flamengo 2 x 0 Vasco da Gama. E estamos conversados!

O cidadão que hora vos escreve, vascaíno, saiu do Maracanã de cabeça inchada. Mas o pior ainda estava por vir…

Os jogadores do Vasco eram, então, chamados de marajás – designação a quem tem alta remuneração. Havia um candidato a presidente que se dizia caçador de marajás e logo o adesivo “Bujica 2.0 – O Caçador de Marajás” começou a estampar vários carros pelas ruas do Rio de Janeiro.

E, no dia seguinte, havia aula na faculdade. Lá estava eu, assistindo aula. Do lado de fora, vem o grito do meu amigo Raul, flamenguista, citando meu apelido de juventude, para risada geral da turma (de dentro e de fora da sala) e para a minha cara de paspalho:

“Gargamel… Bujica!!!”.

Há 30 anos, direto do túnel do tempo.  

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

Dudu + Da Silva

OS BONS FILHOS DE ARRAIAL

entrevista: Sergio Pugliese e Marcelo Cortez | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Um grande encontro. O cenário escolhido foi o Hostel do Navio em Arraial do Cabo. Difícil era conter as emoções. Sérgio Pugliese, depois de muito tempo, finalmente realizava o sonho de encontrar Dudu, o ídolo da juventude. Henrique dos Santos, nosso campeão da Libertadores de 2002, não continha a alegria e a emoção de mais uma vez estar ao lado do amigo, ídolo e ex-técnico. Daniel, nosso cinegrafista, com sua sensibilidade, procurava não perder nenhum detalhe. Foram quase 4 horas de muitas histórias, umas já conhecidas e outras reveladas pela primeira vez. Nesse episódio do Museu da Pelada, vocês vão conhecer um pouco da incrível história de Henrique da Silva, um campeão que atribui seu sucesso a uma grande mulher que não permitiu que ele desistisse do sonho de jogar futebol. Vamos também revelar os bastidores da final do estadual de 1982 entre o Vasco, do Roberto Dinamite, e o Flamengo, de Zico, em uma tarde com mais 130 mil torcedores no maior estadio do mundo, o Maraca! Dudu abre o coração e também fala porque não foi a Copa de 82. Falamos também do histórico encontro do então presidente do Belenenses de Portugal com Dudu, quando esse veio acertar a contratação do craque do Vasco, o local da reunião foi as areias da prainha e tudo regado a muita caipirinha. Dudu conta da estreia no Cruzeiro que nunca aconteceu. Nossa resenha foi finalizada com um bela feijoada,mas acredite o melhor mesmo, vocês vão poder acompanhar nesse vídeo. Peladeiros, arquibaldos e geraldinos, assistam a esse show da bola.

 

 

Fagner + Ozires + Paulinho Pereira

ENCONTRO DE ÍDOLOS

entrevista: Sergio Pugliese | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Quem nos conhece sabe a nossa paixão por encontro entre boleiros e músicos. Depois de Afonsinho & Gilberto Gil, Moacyr Luz & Jairzinho, Adílio & Oswaldo Montenegro, chegou a vez de reunir Fagner, Ozires e Paulinho Pereira, um trio de respeito!

Nascido em Orós, no Ceará, o famoso cantor e compositor era um daqueles meninos fissurados por futebol.

– Sempre fui muito ligado e ia em todos os jogos no Ceará. Tive a oportunidade de assistir grandes craques que passaram lá e, posteriormente, me tornei amigos de muitos deles.

Muitas dessas amizades foram formadas após sua passagem pelo Trem da Alegria, time de pelada formado por Afonsinho que reúne ex-craques, novos talentos e simpatizantes em geral.

– Quando cheguei ao Rio, conheci Afonsinho e recebi o convite para brincar lá! Naquele timaço, cheio de craques, com Nei, Afonsinho, Pintinho, eu fui escalado para marcar. Eu ficava lá atrás, só pegava a bola e tocava! – confessou o cantor.

Nessa pelada, Fagner com certeza se inspirou no zagueiro Ozires Paiva, um dos grandes jogadores que honraram a camisa do Fortaleza. Até o encontro proporcionado pelo Museu da Pelada, a dupla nunca tinha se encontrado, apesar da admiração mútua.

– Sempre escutei as músicas dele e foi, inclusive, o irmão dele me vendeu para o Cruzeiro! É um prazer estar aqui hoje!

Paulinho Pereira, por outro lado, é amigo de longa data de Fagner e fez questão de participar da resenha. Nos encontramos no Posto 11, na Praia do Leblon, para uma resenha de alto nível.

– Eu já era fã, mas conheci o Fagner através do Armando, nos falamos todo dia, vou a show. Uma relação muito bacana. Quando o Fagner faz show no Rio, a galera me perturba para ganhar ingresso! – revelou Paulinho, que hoje é professor de uma escolinha de futebol de areia.

O cantor retribuiu o carinho do ex-craque do Vasco da Gama:

– Paulinho é uma referência para a gente, grande parceiro! Recebe todo mundo muito bem. Nossa resenha de futebol nunca acaba!

Para fechar essa resenha com chave de ouro, surpreendemos o zagueiro e o cantor com um presentaço de Carlinhos Cortazio, rei das peladas na Barra: duas camisas do Fortaleza personalizadas com nome e número.

Que dia, amigos!
 

 

ÍDOLO IMORTAL

por Wendell Pivetta


Fernando Lúcio da Costa, mais conhecido como Fernandão (F9), é o cara que qualquer colorado sente dor no coração, faz escorrer uma lágrima pelo olho e bater com força no escudo da camisa do Sport Club Internacional com o pensamento que o eterno capitão honrou a camisa do colorado dos pampas. 

Nascido em 18 de março de 1978, tendo sua formação para o futebol profissional nas categorias de base do Goiás, o atacante de 1,90m, destro e de cabeceio potente passou pelo futebol francês (Olympique de Marseille e Tolouse, entre 2001 e 2004) antes de defender o Clube do Povo. Em 2004, aos 26 anos, chegou ao Beira-Rio em uma contratação feita especialmente pelo ex-presidente Fernando Carvalho. Na época que Fernandão estreou pelo clube eu era jovem, tinha meus 9 anos e ainda não ganhara minha camisa do Inter. Meu pai e meu avô eram colorados, mas não forçavam em tentar me fazer do Inter, então não me apoiavam em torcer, apenas ligavam a TV. Eu já havia pegado gosto pelo clube e cada vez mais me envolvia com o futebol, e meu amor só aumentava, ainda mais quando via a frase: “O Clube do Povo do Rio Grande do Sul” ou ” OClube que ergueu seu estádio sobre ás águas do Guaíba”. Era magnífico ouvir estas histórias e ver o clássico gre-NAL que naquela fase tinha o rival rebaixado.

Quando vi a chegada de Fernandão foi logo pela TV, na escalação dele na linha de frente no clássico gre-NAL 360 vencido por 2 a 0 pelo Inter, no Beira-Rio, pelo Brasileirão. O F9 foi chamado do banco de reservas pelo então técnico Joel Santana, o atacante entrou no segundo tempo e fez uma estreia de gala. Aos 33 minutos, aproveitou um cruzamento de Élder Granja vindo da direita e cabeceou de forma convicta para colocar a bola no cantinho direito, sem chance para o goleiro Tavarelli. Fernandão ajoelhou-se no gramado e eu pulava de faceiro, era diferente ver o Fernandão jogando pois ele assumia de certa forma a responsabilidade e se destacava na impulsão, marco imprescíndivel que logo na sua estréia o coroou com o gol 1000 do Gre-Nal! O feito rendeu até placa comemorativa que foi fixada no vestiário do Gigante da Beira Rio.

Naturalmente o capitão foi assumindo sua titularidade e braçadeira, sempre se saindo bem em suas entrevistas respeitando o adversário, comandava a esquadra vermelha para muito além do possível, unindo um time que pintou o mundo de vermelho, e que treinou e ensinou outro craque a ter mais responsabilidade e amor pelo clube: D’Alessandro. A campanha de 2006, depois de um Brasileiro ridículo e marcado pelo roubo, fortaleceu ainda mais o grupo por algo maior, e a Libertadores veio após uma final inesquecível contra o poderoso São Paulo. O atacante desempenhou o fino futebol e foi o artilheiro do time, com cinco gols. Na finalíssima contra o São Paulo, no memorável dia 16 de agosto, coube a Fernandão a honra de abrir o placar, e a imagem da emoção estampada no seu rosto na comemoração segue cristalina na memória de todos, ainda mais da minha, que o olhou em uma TV minúscula, o frio era de quase 0 graus, mas nada me impediu de pular e comemorar a taça de pijama. É inenarrável retratar a minha alegria após este jogo. Quatro meses e algumas horas depois, em 17 de dezembro, o eterno capitão protagonizou o momento mais sonhado por qualquer colorado. Na distante Yokohama, no Japão, o ídolo ergueu sobre a cabeça o troféu do Mundial de Clubes FIFA. Ao vencer o poderoso Barcelona por 1 a 0, com gol de Adriano Gabiru, o Inter encerrava o ano no topo do mundo. Ninguém no planeta era páreo para o Colorado dos Pampas! E, mais uma vez, Fernandão foi fundamental. O Sul calava o mundo, e o Clube do Povo recebia, no Beira Rio, Fernandão com a taça na mão para cantar com os colorados presentes “Vamo, vamo, inter…”

O que este cara fazia era muito além do que um clube poderia contar. Capitão de verdade, respeitador e respeitado, marcou eternamente a minha vida e a de todos os colorados. Fernandão ainda foi treinador do Internacional, com passagem curta, mas sempre admirado. Acabou falecendo cedo, e de forma trágica, o que todos sabem. Ganhou estátua no Beira Rio, mas ganhou a eternidade na memória de todos que viram sua passagem pelo clube, principalmente naquele domingo de manhã, num verão em que apenas os colorados, e só os colorados acreditaram no clube que vestia branco e pintava o mundo de vermelho, com um capitão, um tal de Fernandão. 

 Eu
 nunca me esquecerei
 dos dias que passei
 contigo, INTER

 Colorado é coração,
 trago, amor e paixão

 Pra sempre INTER
(2x)


AOS MESTRES QUE NÃO CONHECI

por Israel Cayo Campos.  


Desde garoto três coisas sempre me interessaram. Ciências, música e futebol. A intelectualidade que a primeira transmite a consciência da segunda e as alegrias da terceira me causaram um profundo desejo de fazer parte de todos esses meios. E por incrível que pareça, eu consegui modestamente fazer parte. Graças a pessoas as quais eu sequer conheci em vida, e que infelizmente em menos de 48 horas e ainda em plena juventude acabaram por nos deixar antes do combinado. A eles gostaria de fazer uma singela homenagem no Museu de Pelada, pois se um era um expert no que tange a história do futebol, um museu humano do futebol, o outro era um peladeiro ao estilo que todo peladeiro deve ser: Bom o suficiente para seguir outra profissão a qual tenha de fato talento! 

Mas para contar um pouco dos dois preciso me inserir como parte da história de ambos, embora eles nunca tenham me conhecido (a não ser por alguns e-mails perdidos do professor os quais tive a honra de trocar com ele na época que ainda estava a fazer meu TCC), pois eles fizeram parte da minha e mudaram-na dando um rumo especial para a mesma. Gostaria de por meio do futebol, algo que nos une (os três), agradecer a essas pessoas tão especiais em minha vida. 

Por cronologia, gostaria de começar por André Matos, um dos maiores cantores e pianistas brasileiros, que como escolheu o rock and roll como seu meio de vida, é por incrível que pareça pouco conhecido entre os tupiniquins, apesar do sucesso estrondoso que fez no mundo todo em todas as suas bandas, o Viper, Angra e Shaman. Além é claro de seu trabalho solo e projetos com músicos internacionais de renome como o Avantasia, do alemão Tobias Sammet. 

O corintiano roxo André, apareceu em minha vida logo que comecei a me interessar por música. Tentar aprender instrumentos, e principalmente cantar… Uma forma de reduzir minha timidez crônica. Por meu jeito calado apesar de não me considerar impopular, o heavy metal caiu em minha vida como uma bomba. Não parava de ouvir todo dia bandas diferentes. Tornei-me fã número 01 do Iron Maiden, mas tinha como referencia de músico desse estilo em nosso país o André Matos.  

Não queria só o admirar, queria ser como ele! Cantar com suas notas que poucos cantores no mundo conseguem. Infelizmente, eu era um peladeiro musical! 

Mas nem por isso desisti, montei minhas “bandinhas de garagem” e sempre arriscava um cover do André em discos maravilhosos do Viper como o “Soldiers of Sunrise” e “Theatre Of Fate”, ou do Angra, tais como “Angels Cry”, “Holy Land” e “Fireworks” ou na banda que em meados dos anos 2000 quando de fato comecei a ouvir rock pesado ele estava como vocalista, o Shaman. Banda essa que com seu disco “Ritual” de tanto eu ouvir acabei irritando meus vizinhos por anos! A minha predileta dessa fase se chama “Here I Am”. Traduzido no bom português: Estou aqui! 

Mas se for pra falar das composições do André as quais era viciado em ouvir e tentar reproduzir vou acabar saindo do foco do texto. São muitas canções lindas que aconselho a quem nunca ouviu procurar na internet as letras enquanto ouve as músicas. 

Mas quero falar de outro André Matos, o rockeiropeladeiro! Que sempre como goleiro participava dos campeonatos de músicos promovidos pela MTV. De fato, ele como arqueiro era um gigante músico. Mas como todo peladeiro, achava que tinha mais talento do que de fato apresentava! 


Ao ver um ídolo da música que gosta do mesmo esporte que eu, meu instinto de fã sempre me impedia de torcer contra a equipe que estivesse defendendo! Ainda mais pelo fato de dentro de um estilo musical tão fechado, quase uma seita, haver um dos ícones do mesmo, fã de futebol igual a mim. Não só nos identificávamos pela música, mas também pelo amor pelas peladas.

Torcedor corintiano doente (apesar de eu ser São Paulino), pouco me importava seu time do coração. Gostar de metal e de futebol ao mesmo tempo fazia me identificar com o cara! Tietado pelo goleiro Cássio (Roqueiro assumido) e tiete do técnico Tite, visitou em programas esportivos o CT do Corinthians! E sua paixão pelo clube era tão grande que até o hino do time de Parque São Jorge em japonês ele gravou após a conquista do mundial de clubes de 2012. Só lembrando que no Japão, ele recebia o valor e admiração do grande gênio da música que era! 

Outro momento especial da relação André Matos e futebol veio com a gravação da música intitulada ‘Kamisama”, em parceria com a banda de metal brasileira Eyes of Shiva. A letra é uma homenagem a Zico, maior ídolo da geração 1980, que é tratado como o Deus do futebol na letra. E que como todos sabem, é não só aqui no Brasil, como também no Japão, o “Galinho de Quintino” assim como o André Matos são reverenciados com a grandeza que merecem! Tal canção da qual Matos participou, fez Zico, um conhecido fã do samba brasileiro, convidar a banda para o conhecer, além das dependências do CFZ. O eterno camisa dez do Flamengo ainda brincou com os integrantes do Eyes of Shiva que se sentia muito honrado com a homenagem e agora começaria a ouvir heavy metal! (Fonte, Site Wiplash. Dia 30 de novembro de 2005). 

Infelizmente no dia 08 desse mês, Matos acabou deixando órfãos os seus milhões de fãs no mundo todo. O maestro das notas perfeitas no vocal se foi. E com ele parte da minha adolescência. Mas a sua relação interseccionada entre música de ótima qualidade, gosto pelo esporte mais popular do mundo, e inspiração devido transmitida pelo seu grande talento a fãs das duas artes como eu sou, ficarão guardadas para sempre! Como ele dizia em uma de suas mais belas composições… Carry On… 

Se André Matos não teve o reconhecimento do público brasileiro ao qual merecia, esse outro homenageado por minha humilde pessoa é ainda menos reconhecido do público. Afinal, quem liga para os professores? Mas um cidadão com tamanho conhecimento de futebol, e que me fez ver que eu poderia aliar minha profissão a algo que eu sempre gostei, falo do professor (Doutor) Gilmar Mascarenhas de Jesus, geógrafo, que faleceu no dia em que escrevo esse texto (10 de junho). 

Além das bandas de rock e de um flerte com uma formação em economia, acabei optando por me graduar em geografia. E muito desse gosto pela disciplina vinha do conhecimento que adquiria sobre outros países principalmente em épocas de Copa do Mundo. Contudo, perto de me graduar na profissão, ainda não sabia em que área da geografia iria me especializar. Foi aí que um professor de geografia cultural me sugeriu – por qual motivo você não fala de futebol?

Pensei comigo: Como esses assuntos se entrelaçavam? Qual a relação que eles poderiam ter? De fato era uma ótima ideia! Mas como encaixar ambas as temáticas? Foi aí que comecei a ler os textos e livros do professor Gilmar Mascarenhas, e percebi o quanto isso era possível. Que um diploma em geografia não necessariamente só precisava ser dado a quem quer entender de politica ou relevo, que havia muitos caminhos pelos quais a geografia se entrelaçava. 

Mesmo não o conhecendo pessoalmente, apenas trocando alguns e-mails, o professor carioca me inspirou a concluir meu curso. A fazer meu trabalho me baseando em algo que adoro. Deu-me um ânimo para investir naquilo que me dispus a fazer da vida. Seus textos sobre as origens do futebol brasileiro, e a territorialidade criada por torcedores como os do Grêmio e Internacional que ultrapassava os limites das quatro linhas desde seus primórdios, me fizeram ver o futebol muito além do que ele almeja ser. Muito mais do que um jogo inglês reinventado no Brasil. O futebol pode assumir outros contextos e formas de acordo com o entendimento do que ele representa dentro de uma sociedade! Principalmente uma sociedade tão miscigenada e pobre como a nossa! Se não fosse o Professor Gilmar Mascarenhas, minha linha de pesquisa seria apenas mais do mesmo!


Com suas referências bibliográficas construí meus próprios textos. Conclusão de curso, artigos, revistas, e utilizo algumas informações até aqui no Museu da Pelada. O professor Mascarenhas foi o pioneiro no mundo acadêmico a associar geografia e futebol. Que hoje longe das amarras caretas de alguns professores universitários, consigo ver o quanto estão relacionados! Para mim, é um pai acadêmico! Apesar de ainda ser um homem muito jovem, perdendo sua vida a dez dias de completar 55 anos! 

Vale salientar os mais de 100 artigos em inglês e português sobre a temática. Que iam além do futebol, bem como os grandes eventos esportivos que o Brasil sediou nos últimos anos, tais como os Jogos Pan-americanos e Olímpiadas. Além de livros essenciais para quem gosta da história do futebol no Brasil, como por exemplo, “Entradas e Bandeiras, a conquista do Brasil pelo futebol”.

Em seus artigos o professor analisou a história de grandes times como o Corinthians, o Bangu, o Grêmio, o Internacional e até a importância da Seleção Brasileira na construção do espaço urbano do país. Sem contar a análise do operariado tomando um esporte que até então era das grandes elites e a busca para saber se o futebol no Brasil entrou primeiro via Charles Muller, como a história conta, ou pelas vias férreas que ligavam o Rio Grande do Sul ao Uruguai e Argentina, países pioneiros nesse esporte na América do Sul. Também escreveu sobre a Copa do Mundo de 1950 e sua importância para o estado do Rio de Janeiro, os legados da Copa de 2014 e Jogos Olímpicos para o território brasileiro, e o que passamos hoje em nosso futebol, a globalização que praticamente torna os nossos campeonatos que já foram os mais fortes em torneios de segundo escalão devido ao êxodo de nossos craques. São tantos temas futebolísticos associados ao meio acadêmico que foram discutidos pelo professor Mascarenhas que não cabem nessa singela homenagem. 

Que me desculpem os ex-jogadores de futebol que acham que só quem entende de bola é quem enfrentou um maracanã lotado. Mas o conhecimento adquirido sobre esse esporte também pode vir das salas de aula. O futebol também é aprendizado! E ninguém mostrou de maneira melhor em nosso país que essa afirmação é verdadeira do que o Doutor Gilmar Mascarenhas de Jesus. 

Torcedor do Botafogo, soube por amigos próximos que ele planejava ver a Seleção brasileira na Copa América desse ano. Infelizmente o destino não permitiu que isso acontecesse. Mas meus sinceros agradecimentos a um cara que nem conheci, mas que me ensinou que tanto. Que fez muito por uma temática tão importante, mas ao mesmo tempo tão marginalizada pelo meio acadêmico. E que aceitem ou não, é uma parte da história de nosso povo. Que seu exemplo inspire novos acadêmicos a pesquisarem outros assuntos que também são de extrema importância para boa parte dos brasileiros. Esse foi seu grande legado! Grande mestre. O Futebol não pertence só a jogadores e jornalistas especializados. Mas é um bem do povo brasileiro, que pode e deve ser analisado por todas as óticas. Inclusive acadêmica! 

Mesmo que não tendo a fama de alguns que aparecem na TV para mostrarem que não tem metade do conhecimento que o senhor possuía, em um país onde os professores são pouco valorizados, um visionário como o senhor merece a minha sincera homenagem! Livros e textos na internet gratuitos estão aos montes. Resta as pessoas uma vontade de aprender mais sobre aquilo que elas acham conhecer tanto e na verdade entendem apenas de maneira superficial! Um pouco de cultura não faz mal a ninguém! Conhecer a história do esporte pelo qual se dá tanta audiência muito menos! E graças ao professor Gilmar, tal situação é possível! Um exemplo que infelizmente eu não tive o prazer de conhecer pessoalmente! Só me resta desejar sinceras condolências a família! Que descanse em paz grande mestre!