UM SÁBADO EM QUE A VÁRZEA BEIJOU MEU ROSTO…
por Marcelo Mendez
São tempos obtusos para quem quer um pouco de emoção verdadeira…
Foto: Reprodução
Acordei pensando nisso em um sábado que não era de muito sol. O céu meio acinzentado, o vento indeciso que ora era frio, ora era Caetano, os risos escondidos atrás de algumas horas que insistiam em passar, me fez inquieto. Era sábado…
Sábados são por si só singulares em sua existência.
São dias alegres, risonhos, espevitados como diriam os antigos, dia de acordar um tanto mais tarde, de curtir a aurora do final de semana, de se ter a esperança de divertimentos nababescos. Expectativas que não combinavam com o que a minha janela me mostrava e então, liguei a televisão para ver um desses campeonatos europeus, essas ligas suntuosas.
E pela minha TV vi então um estádio lotado de absolutamente nada.
Eram selfies, “stewarts” a vigiar os torcedores, locutores oficiais das arenas para tutelar as paixões e para não deixar que nada fugisse à regra barata e manjada do que se calhou chamar por aí de, “espetáculo”. Um teatro de frio, de almas robotizadas em prol de um jogo que agrada apenas a uma meia dúzia de estetas, que do futebol querem muito mais as moedas do que os gols. Resolvi sair.
E como sempre faço nessas horas, tomei rumo para o único lugar de onde consigo tirar o encanto necessário para me redimir de todas essas tralhas elitistas, de todo esse engodo objetivista; O campo de várzea.
Como que por magia minhas pernas me guiaram para lá. Um sábado turvo como falei, de pouco sol e um vento indeciso, porém intenso o bastante para varrer com o terrão do Campo do São Paulinho, aqui no meu Parque Novo Oratório. Desci pela rua de terra que dá acesso ao estádio e caminhei por entre árvores que são cada vez mais raras no meu bairro.
Ultimamente o povo tem preferido uma garagem, ante a sombra e o ar fresco. Dizem que é a modernidade…
Sentado no concreto duro da arquibancada vi um jogo de dois times, cujo nome não sei. Um vestia roupa amarela e preta e o outro, vermelho. A bola do jogo não era da patrocinadora do campeonato chique que passava na TV, era uma coisa amarelada de terra, de bicudas e de vida. As chuteiras não eram novas, as meias das equipes arriavam até os tornozelos de gastas, nas canelas não havia a proteção das caneleiras, em campo não havia craques e o jogo era deplorável de ruim.
Pois bem:
Está o caro leitor aí do outro lado a pensar; “Mas oras o que diabo tem de bom nesse cenário descrito? Por que haveria eu de largar o conforto de meu sofá para ver isso?” Oras…
É justamente por isso tudo, por esse desconforto anunciado todo, que vos afirmo que a várzea salva!
Em tempos onde a regra é a prevenção a qualquer coisa que seja intensa, onde se tem os pés atrás com qualquer coisa que aproxime o cidadão do encanto e do sonho, em um mundo que cada vez mais, programa robôs tristes para apenas dizer sim, a várzea é a contra mola que resiste.
O seu espetinho de carne banhando na farinha, sua cerveja de litrão, seu salgadinho recheado de alguma carne, seus drinks psicodélicos vendidos a preços justos e negociáveis são a redenção.
Sua bola quase de capotão, suas camisas coloridas cheias de estampa, seus árbitros improváveis, seus artilheiros de panças homéricas e zagueiros botinudos são a nossa vingança contra esses elitistas que não conseguem entender que um beijo no rosto vale mais que cem mil réis, Amém Wally Salomão e seu verso aqui citado de novo Poeta!
Em tempos de Poesias escassas, a várzea é quem me beija o rosto…
RETRATOS EM PRETO E BRANCO
por Eliezer Cunha
Longe de mim ser um especialista nos acontecimentos que cercam e constituem as histórias dos times, campeonatos, jogos e jogadores do futebol brasileiro. Mas não posso me furtar de atender as lembranças que se debruçam volta e meia sobre o meu subconsciente. E sendo assim, neste relato, venho demostrar meus questionamentos sobre um dos grandes times do nosso futebol brasileiro. O Botafogo de Futebol e Regatas, isso mesmo, o time alvinegro de tantos craques nacionais.
Minha idade e os registros disponíveis nos canais de divulgação me permite expor minha perplexidade com a falta de títulos conquistados pelo Botafogo nas décadas de 70 até o final da década de 80, claro que este jejum se encerrou em 1989, num jogo até hoje contestado pelo gol do Maurício. Só lembrando que neste ano o Flamengo foi o rival na decisão do campeonato e tinha em seu comando um grande treinador e uma bela equipe. Mas, isso não vem ao caso.
A história foi construída e o Botafogo se tornou campeão. Voltamos às décadas. Nos anos sessenta, sob comando de Jairzinho e o grande Garrincha, obteve alguns títulos, sendo junto ao Santos de Pelé, os melhores times desta década, temidos por todos. Mas, o que veio após estes anos de glórias? Um jejum de 21 anos sem títulos. E o que me intriga é o fato de que seu elenco, nessas duas décadas posteriores a 60. apresentava jogadores de alto nível como Paulo Cesar, Rodrigues Neto, Brito, Búfalo Gil, Mário Sérgio, Afonsinho, Alemão e até o próprio Jairzinho, um dos heróis da Copa de 1970. E então o que houve?
Além disso, posso afirmar que mesmo sem títulos o Botafogo sempre foi uma pedra no sapato de vários grandes times Brasileiro, incluído o meu Rubro-Negro. Lembro que em jogos contra o alvinegro era certo ter sempre algum ponto perdido. Lembrando também que é do Botafogo, junto ao Flamengo, a maior invencibilidade do futebol brasileiro, 52 duas partidas (se não me falham a memória, os dados e as especulações). E a história do futebol pregou um acontecimento no mínimo muito curioso. Foi num jogo em uma tarde de domingo que Renato Sá do Botafogo retirou do Flamengo de Zico a possibilidade de se tornar o time com o maior número de jogos invicto. Sendo também ele, Renato Sá, pelo Grêmio, o responsável por impedir a quebra deste recorde pelo Botafogo. Então o que houve?
Como o título desta resenha sugere, acho que o Botafogo apesar de possuir por sua história vários atletas de primeira, faltou formar um álbum completo, como se formam o de casamento, 15 anos entre outros, ficando apenas resumidas a várias fotografias em preto e branco de glórias espalhadas por estas duas décadas.
Borrachinha
BORRACHA NELES
“Muitíssimo obrigado, meus amigos do Museu da Pelada, pela oportunidade de contar, não só a minha história, como a de outros profissionais que deram imensa alegria a milhares de torcedores”.
Representada por Júlio César Ferreira, Cristian Ferreira, Ian César Ferreira e Alessandro César Gonçalves, a equipe do Museu foi até Joinville bater um papo com o goleiro Borrachinha e, após uma baita resenha, fomos surpreendidos com a bela mensagem acima!
Diretamente dos gramados da Arena Joinville, onde o arqueiro conquistou cinco títulos (quatro defendendo a meta e um como treinador de goleiros) e se tornou herói, Borrachinha relembrou sua trajetória desde os tempos de futebol de salão no Vasco da Gama!
– Morava no Jardim Botânico e ficava muito longe para ir diariamente a São Januário!
Por ironia do destino, após deixar o Vasco, acabou recebendo o convite para fazer um teste no maior rival, o Flamengo e passou com louvor, aos 15 anos de idade! Permaneceu no clube de 1965 a 1972, quando foi emprestado ao Campo Grande para fazer sua estreia entre os profissionais no Campeonato Carioca daquele ano.
Sem espaço no Flamengo quando retornou, foi tentar a sorte em Manaus e fechou o gol do Nacional Fast Club. Em um dos muitos torneios amistosos da época, o Botafogo desembarcou por lá e o treinador Paulo Amaral se encantou com o desempenho de Borrachinha.
– Me apresentei ao Botafogo e fiquei lá de 77 a 79 como suplente!
Como todo bom profissional, a fera não se desanimou e continuou trabalhando forte esperando uma oportunidade. Até que ela apareceu um jogo antes de um duelo histórico contra o Flamengo.
De acordo com Borrachinha, a desconfiança por parte dos torcedores alvinegros e da diretoria era grande, mas não intimidou.
– O lado bom é que a comissão técnica confiou em mim e colocou até o cargo à disposição em caso de derrota!
Calando os críticos, o Botafogo venceu a partida com gol de Renato Sá e deu fim à invencibilidade do Flamengo!
– Me ovacionar no final! Foi emocionante! – lembra.
Após o fim do contrato com o Botafogo, recebeu o convite para agarrar no Joinville e logo se firmou como titular. Apaixonado pela cidade, caiu nas graças da torcida após a conquista dos cinco títulos já citados.
No cargo de treinador de goleiros do Joinville, foi convidado para integrar a Seleção do Catar.
– Todos imaginavam que eu voltaria logo! Fiquei lá por 28 anos e treinei, inclusive, os goleiros que jogaram na Copa América.
Apesar de estar totalmente adaptado ao país, Borrachinha revela que pretende voltar a morar no Brasil:
– Quem sabe não volto para abrir um academia só de goleiros?
Dê o play no vídeo acima e confira a resenha completa!
OS OLHOS DO VELHO MARACA
Após receber um acervo de fotos da fera e se deliciar diariamente com os registros compartilhados em seu Facebook, a equipe do Museu foi até a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) para saber mais da trajetória de Wilson Alves Cordeiro, fotógrafo dos áureos tempos de Maracanã.
– Aquele estádio não existe mais! – lamenta!
Com 45 anos dedicados ao mundo dos esportes, o fotógrafo iniciou a carreira como repórter rádio-escuta na agência de notícia Sportpress em 66 e se transferiu para o Jornal dos Sports dois anos depois.
– Fiz coberturas de vários clássicos do futebol brasileiro e internacional. Vivia viajando para cobrir eventos esportivos.
Vale ressaltar, no entanto, que naquela época as câmeras eram muito menos desenvolvidas e os profissionais se desdobravam para fazer o melhor clique. Ao ser perguntado sobre essa diferença, Wilson revelou o segredo:
– Tinha que estar preparado para qualquer movimento e acertar o foco, que não era automático como hoje em dia! Então, era necessário usar as duas mãos e manter o olhar naquilo que que estava focando!
Seu vasto currículo conta ainda com passagens pelos jornais O Globo, O Dia, Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Diário de Notícias, entre outros. Durante a carreira, acumulou uma lista extensa de ídolos na profissão, com destaque para Ari Gomes, Jorge Reis, Paulo Rei, Eurico Dantas, Sebastião Marinho e Jorge Marinho.
Contudo, se na beira do campo Wilson fez história, com registros de tirar o fôlego, dentro dele o desempenho não era dos melhores.
– Eu era um fracasso dentro de campo. Não jogava muita pelada.
Caso o talento com a bola nos pés fosse ao menos parecido com sua habilidade fotográfica, Wilson estaria, sem dúvidas, na seleta lista dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro!
No fim da resenha, fomos brindados com um belíssimo quadro do time do Vasco formado!
LENDA DO SALÃO
por Fernando Damasceno
Eu conheci o Aécio muito antes dele me conhecer.
Eu jogava ainda nos infantis do América e já ouvia sobre o time da Vila.
Sim, o grande time tricampeão da Associação Atlética Vila Isabel, onde Aécio, Serginho, Adlson e os demais companheiros deles deste time faziam chover até em quadra coberta!
O tempo passou e essas lendas pararam de nos encantar como se joga bonito com a bola pesada.
Todavia, deixaram um legado fabuloso e o Aécio tem grande parcela nisto tudo!
Vou me permitir transmitir dois depoimentos de dois craques da bola que fizeram sobre o Aécio em um grupo que mantemos de ex-jogadores.
O primeiro do Ademar, campeão em 1967 pelos juvenis e em 68 pelo adulto do América:
– Um dos maiores jogadores que vi jogar. Me lembro de uma passagem quando o Alaor que era treinador do América foi demitido, e o pessoal do América foi assediado para jogar em outros clubes, fui convidado a treinar no Vila. Lá chegando, acostumado a ter todo o material no América, só levei minha sunga.O Grande Djalma (Noventa) me deu um tênis, e eu fui logo falando, que não estava acostumado a jogar com aquilo, pois mais parecia um quichute preto. O Djalma vira para mim e diz: NÃO SE PREOCUPE NÃO, ESTE TENIS JOGA SOZINHO, POIS É DO AÉCIO.”
O segundo, Leley, como jogador do Aécio e este já como treinador do Clube Municipal, que por sinal foi campeão naquele ano e justamente em cima de mim, no Maracanazinho!!:
– Só quem jogou no clube Municipal em 78 viu que quem foi REI nunca perde a majestade. Em um treino da equipe principal, cujo o técnico era um ex-jogador aconteceu uma falta bem próximo da área. No gol estava o Batman ou o Gato, não me recordo, foi armada a barreira. A partir daí, começou a polêmica! A bola entra ou não entra. Houve um consenso geral que a bola não tinha como entrar até que acho eu, o Hugo falou: Vamos tirar essa dúvida! O treinador estava no banco com sua calça de tergal, camisa de linho e sapato de bico fino tipo aqueles que matam barata no canto da parede. O treinador com aquele olhos meio vesgos, falou: Entra!!! E olha que a bola não é a de hoje. Era aquela que exigia muita habilidade do jogador! ELE, o AÉCIO, meteu uma curva na bola que deixou todos de boca aberta! Aí a gorduchinha foi mansamente parar no fundo da rede. O treino acabou com palmas para aquele que foi um dos maiores jogador do futebol de salão ⚽ vá com DEUS meu craque .
Amigos no velório de Aécio
Craque na quadra e fora dela! Figura humana importante para todos nós. Foi meu técnico na seleção carioca que disputava o campeonato brasileiro de seleções! Me colocou no banco para o Mario Ricardo! Mas eu podia ficar aborrecido? Afinal ele sabia tudo dentro daquelas quatro linhas! Lembro que da ultima vez que estive com ele lá na celebração anual que o Vila faz para todos os ex-atletas de futebol de salão, eu falei para ele: ” Lembra que você me botou no banco?. Ele me olhou e eu completei. Eu teria feito a mesma coisa se eu fosse você! Começamos a rir! Minhas ultimas palavras trocadas com este grande personagem!
Meu treineiro! Descanse em paz!!!!