CARTA AO TORCEDOR VETERANO
por Claudio Lovato
Você
Que vai dormir de mau humor quando seu time perde
E acorda na manhã seguinte com um humor pior ainda
Você
Que jura que seu filho terá total liberdade para escolher o próprio clube
Mas se tortura intimamente com medo de que ele não escolha o seu
Você
Que diz que o futebol mudou para pior e que antigamente é que havia craques de verdade
Mas aos amigos sempre garante que “a base vem forte este ano”
Você
Que diz que já gostou mais “desse negócio”
Mas se emociona sempre que vê a camisa “mais bonita do mundo” entrar em campo
Você
Que critica duramente a construção dessas “arenas caras e elitistas”
Mas não deixa que ninguém fale mal da do seu clube
Você
Que não consegue passar muito tempo (digamos assim, mais de meia hora) sem pensar na bola
E mantém o escudo amado em casa, no carro e no escritório
Você
Que usando estratagemas diversos adianta ou retarda viagens para conseguir ir ao estádio
E jura que deixou o fanatismo para trás, definitivamente para trás
Você
Que sabe que não conseguiria viver sem isso, ainda que quisesse, mesmo que tentasse
A você, meu amigo
Faço a pergunta de Neruda
(Já sabedor da resposta)
“Onde está o menino que fui
Segue dentro de mim
Ou se foi?”
TÃO LONGE, TÃO PERTO
por André Luís Oliveira
O aniversário de meu filho João Pedro está chegando. João escolheu o futebol como tema de sua festa. O time e as cores do Barcelona. Ele é palmeirense em São Paulo e BOTAFOGO no Rio. Assiste aos jogos do Verdão, vibra e torce pra valer, mas pouco sabe os nomes dos “craques” do Palestra. Fernando Prass, Dudu e para por aí.
Interessante que ele não tem o mesmo fervor de torcedor pelo Barça, mas os seus ídolos jogam lá, os icônicos Messi, Suárez e companhia. O “vínculo” é imediato, proporcional à frequente exposição dos mesmos nas mídias esportivas e anúncios de publicidade.
Quando eu tinha a idade do João, os jogadores não trocavam de times como acontece hoje, tão pouco eram negociados com frequência para o exterior, pelo menos não antes de construir uma história dentro de um clube em seu país. Por conta disso, sabíamos as escalações dos times para os quais torcíamos e gradativamente íamos nos identificando com este ou aquele jogador.
A construção do ídolo era lenta, a relação fã/ídolo ia se estreitando pelas ondas dos rádios, nas épicas narrações de Osmar Santos, Jorge Cury, Fiore Giliote… Waldir Amaral narrava: “Lá vai o BOTAFOGO transando pela direita…Peri da Pituba cruzou… pulou Mendonça de cabeça… é gol! Goooollll…Mendonça, camisa número 8, indivíduo competente, o Mendonça!!! O ” Menino do Rio abre o placar de cuca legal!!!”
Assim, ouvindo os criativos jargões dos narradores íamos elegendo nossos ídolos no futebol. Nas peladas, nos jogos de botão, escolhíamos nossos ídolos para nos representar. O flamenguista brincava de fazer de conta que era o Zico, enquanto o vascaíno retrucava: “Que Zico, que nada, eu sou o Dinamite.” E até o botafoguense há tempos sem comemorar um título, orgulhava- se de sua estrela solitária: ” Eu sou Mendonça, o ” menino do Rio”
Sim, tai o meu maior ídolo no futebol. Mendonça! Jogava muito, um meia armador artilheiro, estilo elegante, uma raridade! Contemporâneo de Rivellino, Zico, Falcão e companhia, nunca disputou uma Copa do Mundo, azar da Copa do Mundo.
Mendonça nunca colecionou títulos e isso faz dele um ídolo muito singular, mais interessante, pois mesmo sem a chancela de títulos no currículo, figura entre os maiores jogadores da gloriosa história do BOTAFOGO, na companhia de Garrincha, Nilton Santos, Marinho, PC Caju… Foi muito legal também quando Mendonça veio jogar em São Paulo, na Portuguesa, Palmeiras e Santos. Pude assistir vários jogos dele no Canindé, Pacaembu e Morumbi, além de jogos contra o Bafo e o Pantera, aqui em Ribeirão.
Aliás, quando chegou no futebol Paulista, Mendonça desmentiu a máxima de que jogador carioca não vingava no Campeonato Paulista. Mendonça jogou mais tempo em São Paulo do que no Rio, mesmo jogando pela Lusa foi artilheiro e convocado para a Seleção em uma Copa América. É meio louco, quando digo pro meu filho que o meu ídolo nunca foi campeão. Fica difícil pra ele entender.
Voltando aos tempos de Mendonça no BOTAFOGO, como ele mesmo dizia: ” Eu não sou um jogador do BOTAFOGO, eu sou torcedor do BOTAFOGO. “ De fato, era mesmo, pois rejeitou inúmeras propostas de outros grandes clubes e permaneceu em seu clube de coração, pois queria dar a volta olímpica pelo Fogão. Não deu, mas Mendonça conseguiu muito mais… conseguiu manter uma geração de torcedores fiéis ao BOTAFOGO mesmo sem a sustentação de um título.
Sim, pois sobretudo para as crianças que não curtem muito esse lance de sofrer no esporte, Mendonça era uma luz no final do túnel. Nesta época, o orgulho do botafoguense que não tinha títulos para ostentar, era ter Mendonça em suas fileiras. O botafoguense ia ao Maraca só pra ver o “Menino do Rio” e seu futebol refinado.
Um dia meu filho João vai saber a distinção entre celebridades e heróis. Talvez com a ajuda de Joseph Campbel que diz em ” O poder do mito”: ” … o objetivo último na busca do herói ( diferente da celebridade) não será, nem evasão, nem êxtase, pra si mesmo, mas a conquista da sabedoria para servir aos outros.”
Messi e Neymar são grandes craques da linhagem das celebridades, enquanto Mendonça foi craque pertencente à linhagem dos heróis. Assim foi feito: Mendonça serviu ao BOTAFOGO com a dignidade de um herói. Não é à toa que dois torcedores resolveram homenageá- lo escrevendo um livro: ” Mendonça do Botafogo”. Um livro independente, publicado na raça. Parabéns, Roberto Botafogo e Ícaro Vinicius. Eu entrei na ” roda” com o objetivo de retribuir ao meu ídolo um pouco do muito que recebi dele. Certamente minha infância não teria a mesma graça sem um ídolo.
VASCO 1989
por Marcelo Mendez
O ano de 1989 foi um ano legal.
Aos meus 19 anos de idade, eu via o Brasil em polvorosa por conta da primeira eleição presidencial depois de 1961. Eu iria estrear meu título de eleitor escolhendo o Presidente e isso, em tese, era muito importante.
Pelo menos, eu achava que…
Daí então vivíamos um País de grandes expectativas. Para o assunto que aqui será tratado não era diferente. O Brasil havia voado na Copa América, conquistando o caneco, que não vinha desde 1949. A vaga para a Copa da Itália estava assegurada após batalhas épicas contra o Chile, nossos atacantes voando na Europa e no Brasil, um timaço surgia no segundo semestre do Brasileirão daquele ano. Falaremos dele aqui nessa coluna.
Senhoras e Senhores, com vocês, o Vasco de 1989.
A CASA PRECISAVA SER ARRUMADA
Naquele final de década as coisas não estavam muito de acordo na Colina.
O Vasco havia ganhado o carioca do ano anterior em cima do Flamengo, tudo bem. Mas perder a vaga para semifinal do Brasileiro de 1988 para o Fluminense da forma como aconteceu, definitivamente não agradou ninguém.
Um time forte, caro, base da seleção Brasileira, com craques como Romário, Giovane, Luis Carlos, Dinamite, caía fora do campeonato e isso ficou entalado na garganta dos torcedores cruz-maltinos. Algo precisava ser feito e para 1989, isso foi providenciado muito a contento.
EURICO EM AÇÃO!
Foi uma bomba!
Eurico Miranda, El capo de tuti cape da Colina, dá um tremendo balão no Flamengo e tira Bebeto de lá. Ele era a maior contratação de um time que já teria Quinhones da seleção equatoriana para a zaga ao lado do ótimo Marco Aurélio, dois “lateraiszassos” Luiz Carlos Winck e Mazinho e uma meiuca forte que começou com Giovane, Boiadeiro o regular Zé do Carmo e o goleiro milagreiro Acácio.
Para o comando da máquina vem o experiente Nelsinho Rosa e assim começa a saga do Vasco rumo ao seu segundo Caneco nacional.
DECISÃO LOGO EM SÃO PAULO
O campeonato previa a classificação para a final dos dois vencedores de grupo. Do lado de lá veio o São Paulo, do lado do Vasco, sem novidades, veio o timaço da Colina. Mas veio com uma novidade portentosa para os lados de lá.
No decorrer da competição, o Vasco descobre grandes jogadores em sua base e estes vêm para formar com o time principal; O Artilheiro Sorato, o meia Bismarck e o cerebral Willian chegam para dar uma jovialidade a um time que já tinha em seu grupo jogadores experientes como Tita e Andrade, ambos ex Flamengo. Com eles sendo decisivos em jogos como o do Botafogo quando Sorato decide, ou contra o Internacional em Porto Alegre, com o Willian deitando o cabelo em cima dos colorados, o Vasco ganha confiança e vai para a decisão.
O Vasco jogava por uma vitória em dois jogos, tendo a melhor campanha, poderia escolher o campo onde jogaria contra o São Paulo. A confiança era tanta, que fazendo uso do regulamento, Eurico decide que seria campeão já em São Paulo mesmo.
“Já resolve logo lá pra gente ir pro Natal mais cedo”
A SAGRAÇÃO
No Jogo do Morumbi, o São Paulo veio com tudo pra cima.
Jogando na garganta da zaga do Vasco, criou demais, perdeu chances, esbarrou nos milagres de Acácio e como castigo, tomou o gol que veio sacramentar o título do time que mereceu demais aquele caneco.
Bola de pé em pé; Todos os jogadores do Vasco tocando na bola até ela chegar do lado direito do ataque de onde Luis Carlos Winck cruza no segundo pau para Sorato cabecear firme, vencendo o goleiro Gilmar.
O Vasco vence por um 1×0 e sagra-se campeão Brasileiro de 1989.
Acácio, Luis Carlos Winck, Quinhones, Marco Aurélio e Mazinho; Zé do Carmo, Boiadeiro, Bismarck; Bebeto, Sorato e Willian são os 11 caras que botam esse time aqui nessa coluna com méritos.
Vasco Da Gama, Campeão Brasileiro de 1989, um dos grandes Esquadrões do Futebol Brasileiro
O VASCO DO JOÃO; O JOÃO DO VASCO
por André Felipe de Lima
O garçom Tiãozinho, do bar Degrau, no Leblon, quase que diariamente, durante pouco mais de 40 anos, entregava quentinhas no apartamento do recluso músico e cantor João Gilberto, que partiu neste sábado, 6. Construíram uma amizade, mas não graças à música que João ajudou a revolucionar com sua nota diferenciada ao violão. O papo era quase que restrito aos dramas, vitórias e títulos do Vasco da Gama, o time do coração de ambos. Sempre que retornava de um show, João telefonava para o Degrau e perguntava à moçada do bar qual foi o resultado do jogo do Vasco, como bem lembrou o ótimo blog Kike da Bola.
João Gilberto jamais escondeu que gostava do Vasco, mas se dizia um torcedor tímido. Mas vamos combinar, meus caros. Uma timidez inegavelmente eloquente. Falar do Vasco era um prazer para ele, que gostava de papear sobre futebol. Em uma entrevista que concedera à revista Veja, disse que Neymar era o “cara” e que estava encantado pelo time do Santos, que papava tudo no futebol paulista. Talvez, nos últimos anos de vida, essa admiração por Neymar tenha ido pras cucuias.
Com João Gilberto protagonista, a Bossa Nova começou a ganhar o mundo no final dos anos de 1950. O Vasco dele também lhe proporcionava alegrias com os títulos inesquecíveis de campeão carioca em 1956 e 58 e, especialmente, com a dupla de zaga Orlando Peçanha e Bellini do escrete campeão do mundo na Suécia, em 58. Na década seguinte, enquanto João era mundialmente reverenciado, o Vasco amargava a escassez de títulos, mas, supreendentemente, em 1965, ano em que João se casou com a cantora Miúcha, irmão do fanático tricolor Chico Buarque, o Cruz-maltino foi campeão da primeira edição da charmosa Taça Guanabara. O genial músico certamente se sentiu realizado com o Vascão.
Como precisamente escreveu o Kike da Bola, João Gilberto foi um cruz-maltino bossa nova.
Macedo
multicampeão
por Marcelo Soares
Marcamos o encontro num shopping da cidade de Americana. No dia em que eu ficava mais velho tive o privilégio proporcionado pelo Museu da Pelada de almoçar e passar um dia com Macedo. Bicampeão da Libertadores e do Mundial de clubes pelo São Paulo.
Após o almoço, fomos até o estádio Décio Vitta, casa do Rio Branco. Clube que o revelou para o futebol. No Rio Branco, conquistou o acesso à primeira divisão e foi artilheiro do campeonato paulista pelo clube com 14 gols, campanha que o fez ser contratado pelo São Paulo, onde viu sua carreira decolar.
De família humilde, Macedo pode ajudar seus pais e seus irmãos através do futebol. E, como ele mesmo diz, teve a oportunidade de conhecer o mundo através do esporte e de jogar com grandes craques.
Macedo nos contou como era dividir o campo com craques no histórico time tricolor do início dos anos 90, os melhores companheiros que teve dentro de campo, histórias com Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho, a vitória no Maracanã sobre o Flamengo e muitas histórias curiosas protagonizadas por ele e Telê Santana.
Confira no Museu da Pelada!