A INCRÍVEL HISTÓRIA DE ZÉ ROSCA
por Jonas Santana Filho
Ninguém no bairro sabia seu nome. Todo o mundo só conhecia por Zé Rosca. Diferentemente do nome, o apelido descrevia exatamente uma característica do então recém-chegado naquele lugar.
Nas peladas ou onde houvesse uma bola e dois ou três correndo lá estava ele. Zé Rosca não perdia uma oportunidade de esbanjar seu talento no chute de três dedos com a parte externa do pé, conhecido como “trivela, três dedos ou de rosca”. Daí a origem de seu apelido. Não exista bola que resistisse ao pé de Zé Rosca. Ele poderia não ter o dom do drible, mas metia uma “rosca” na bola como ninguém.
Embora os amigos do futebol vivessem pedindo para ele jogar “normal”, eram olimpicamente ignorados quando o assunto se referia a “redonda”. Não tinha jeito. E Zé Rosca cresceu ali no bairro e foi conquistando a galera até conseguir uma vaga no meio-campo do time da Rua B.
Nas peladas de fim de semana, quando se enfrentavam os times da Rua A contra a rua B (onde Zé Rosca morava) ele mostrava sua arte. Bola no pé de Zé Rosca era certeza, tanto para a galera quanto para os companheiros de time, que ali viria um “três dedos”, muitas vezes salvador, fulminante, muitas vezes matador. Sim, quando acertava era uma maravilha aqueles lançamentos longos que Vevé (Everaldo era seu nome) dominava e partia para cima do marcador, que geralmente era Zé Luís (mais conhecido como Todo Duro), um zagueiro que batia mais que dona Zefa no bife de segunda. Quando Vevé, Lila, ou Pedro Preto pegavam na pelota, geralmente recolhendo um lançamento de “rosca” era quase impossível o adversário não levar o gol. Também quando errava a torcida não poupava o camisa 8 (sim, ele jogava com a oito) de elogios, capaz de enrubescer até os caras do stand up comedy de hoje.
A galera gostava e a rua B era a sensação do conjunto residencial, naquele campo de grama cuidada naturalmente pelo tempo, fincado bem na última rua da COHAB, onde a diversão do domingo de manhã depois da missa era assistir a jogos da Rua A Contra B ou contra C.E quando tinha torneio era sopa de letrinhas. Para a grande maioria dos proletários do lugar ali era diversão, possivelmente a única. E o campo lotava e Zé Rosca se empolgava. Quando acertava um drible então, com a elegância e altivez de Nilton Santos ele erguia a cabeça e a la Gerson soltava a trivela (não tinha jeito ele era o cara da “rosca”). E tome Vevé a correr e dominar o capotão. E tome Zé Rosca a exibir sua especialidade.
E foi numa dessas manhãs, em que o sol já está a pino que o fato inusitado aconteceu: jogo contra a rua Z, finaldo Torneio Seu Maneca, o patrocinador e nome da bodega do local. Enquanto Vevé, Todo-Duro (já estava jogando com a rua B, pois havia casado com a filha de seu Gumercindo, o polícia), Lila e todo o time suavam para garantir o empate, Zé Rosca estava inspirado. Bola prá lá, bola prá cá, a rua B na final e a bola cai na área. Lila domina e toma um tranco de Orlando Touro (o nome já diz) que nem de VAR o juiz precisou: Pênalti claro. Quem vai bater? Todo o estádio se levanta gritando o nome de Zé Rosca. E ele pega a bola e coloca na marca fatal, o juiz apita e o chute sai assoviando, até chegar nas mãos de Quiabo, o goleiro comprido e magrelo, mas muito efetivo até ali. Bola encaixada, decepção total.
Toda a torcida começa a vaiar o batedor, a vitória garantiria o troféu, uma caixa de cerveja e mil reais para otime campeão. Nessa altura todo o time já estava em cima de Zé Rosca, afinal o relógio marcava quarenta e cinco do segundo tempo e seria provavelmente o último lance. E Zé Rosca tranquilo enquanto os apupos e xingamentos atingia até sua oitava geração, principalmente de Todo –Duro, que a todo custo tentava dar uns empurrões no craque.
O empate daria o troféu para o time da rua Z que tinha em Progoló o seu melhor jogador e que tinha sido até “profissional do juvenil” do clube da cidade. E eles já comemoravam. Enquanto isso Zé Rosca demonstrava uma tranquilidade inexplicável diante de tão contundente complexo fato.
Ânimos acalmados, Quiabo vai repor a bola para recomeçar o jogo. (Vale dizer que o juiz nunca tivera tanto desejo de terminar assim que a bola rolasse). Assim o goleiro coloca a bola dentro da pequena área para alçar o petardo quando, de repente, a bola começa a assoviar de novo e entra. Incontinente o juiz dá gol da rua B e aponta o centro do campo. O dantes xingado é carregado nos braços, todos gritando “É campeão”, jogadores se abraçando, alguns chorando, outros ajoelhados, emoção à toda.
Zé Rosca caprichou no chute. E deu um chute de rosca, como sempre fazia. Mas fez com tanta perfeição que deu a “rosca” interna e quando o goleiro foi recolocar a bola em jogo esta deu seguimento a sua trajetória. E viva Zé Rosca.
Depois daquele título Zé Rosca ainda tentou, mas futebol não era sua prioridade. Soube por esses dias que ele estava num interior, onde tem uma padaria.
Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol.
Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50
14 DE JULHO DE 2005
por Israel Cayo Campos
Há quatorze anos o São Paulo se tornava o primeiro clube brasileiro a ser tricampeão da Taça Libertadores da América.
Com uma vitória incontestável no Morumbi por quatro a zero em cima do Atlético Paranaense (que a época não tinha o th), o time do técnico Paulo Autuori começava uma nova trajetória rumo a conquista do mundo.
Existem aqueles que reclamam que o primeiro jogo que fora remanejado da Arena da Baixada para o Beira Rio prejudicou o clube curitibano. O que é um fato, pois até os dias atuais o São Paulo tem grandes dificuldades quando joga no estádio do Athletico.
Mas vale lembrar que quem decidiu por essa mudança de estádio foi a CONMEBOL, não o São Paulo. Por mais que os dirigentes tricolores tenham apoiado de prontidão tal ordem da entidade Sul-americana.
Todavia, por mais que perdesse na ida, que acabou em empate por um a um, o time tricolor fora mais consistente durante todo o torneio e deu um show em casa. Com direito a pênalti perdido pelo meia Fabrício do Atlético.
Não dá pra dizer que um time que vence o outro por quatro a zero ganhou de maneira injusta. Que me perdoem os torcedores do Furacão!
Rogério Ceni na melhor fase da sua carreira, um trio defensivo sólido com Fabão, que anotou um dos gols da final, Alex e o grande Diego Lugano.
Dois laterais de seleção como Cicinho e Júnior, dois volantes, Mineiro e Josué, que eram os pilares do time.
Um meia que nasceu com o DNA de campeão, Danilo. E uma dupla de atacantes que revivia os tempos áureos do Guarani. Amoroso e Luizão.
Sem contar reservas do nível de Grafite, Diego Tardelli, que sacramentou o titulo com o quarto gol do jogo, e Souza.
Se formos falar de competições oficiais, só Alex, Fabão, Souza e Danilo não vestiram a camisa da Seleção Brasileira.
Danilo nunca ter jogado nem amistoso com a amarelinha, pra mim a maior injustiça entre todos!
Desses, Rogério Ceni, Cicinho, Lugano, Júnior, Mineiro, Josué, Luizão e Grafite chegaram a disputar ao menos uma Copa do Mundo! Sendo o Mito, Júnior e Luizão campeões mundiais em 2002 na Copa da Coréia do Sul e do Japão.
O São Paulo era mesmo uma Seleção!
Com uma campanha que acumulou nove vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, o São Paulo enfrentou a altitude de La Paz, o forte Palmeiras que vencera nas duas partidas, o difícil Tigres do México, que foi a única equipe a vencer o tricolor no torneio, O até então favorito River Plate de Marcelo Gallardo, Javier Mascherano, Lucho González e Marcelo Salas e o Atlético Paranaense que tinha jogadores promissores como Fernandinho, Jadson e Aloísio.
Uma campanha inconteste! Com uma vitória de mesmo adjetivo.
Amoroso aos dezesseis, Fabão de cabeça aos sete da segunda etapa, Luizão “emocionado”, pois já sabia que aquele seria seu último jogo no clube, aos vinte e cinco e Tardelli nos acréscimos, mostraram que no ano de 2005, o melhor time do continente era o São Paulo Futebol Clube.
O São Paulo partia rumo ao Japão para o seu tricampeonato mundial. O que seria seu terceiro título naquele mesmo ano!
A partir dali, começara uma sequência de conquistas que o clube não possuia desde os tempos de Telê Santana.
Por falar no mestre. Quando o jogo se encaminhava para o final, a torcida São-paulina gritava o nome do técnico já falecido.
Uma forma de mostrar que ele será sempre lembrado quando o assunto é São Paulo e Libertadores!
“Olê, Olê, Olê, Olê… Telê, Telê…”
Hoje os tempos são de vacas magras para o time do Morumbi. Mas como é a história quem constrói a grandeza de um clube, fica mais do que evidente que o São Paulo é um gigante mundial.
Parabéns, ídolo tricolor!
Que venham novas Libertadores!
DESEJO DE ANULAR
por Zé Roberto Padilha
Quando era treinador do América FC-Tr, disputando a segunda divisão do carioca em 92, fomos enfrentar o Miguel Couto, na Baixada Fluminense. Um campo modesto, um barzinho lotado que deveria atrair seus torcedores desde o meio dia para empunhar seus copos antes de desfraldarem suas bandeiras.
Tínhamos um grande time, com Leonardo, Quarentinha, Mário Alexandre, Cesar Diniz, Renatinho, e acabamos subindo, ano seguinte, para a elite do futebol carioca. Mas meu preparador físico, Carlos Camelo, estava preocupado com a arbitragem. Era, àquela ocasião, de um nível muito baixo e só o relaxei quando os vi entrar em campo. Muitos jovens conheciam o juiz principal. Havia feito com a gente, em Xerém, nas divisões de base do Fluminense, um bom estágio. E disse ao Carlinhos: “Relaxa, este nós conhecemos!”
Em menos de dois minutos ele marcou um pênalti absurdo contra nós. Empatamos de 1×1 e, tão contrariado, nem fui falar com ele após a partida. E no jogo da volta, em Três Rios, muito menos. Sua postura em nada diferenciava da velha e ultrapassada geração de sopradores de apito da FERJ. E, com a mesma moeda, devolveu o presente: marcou um pênalti inexistente a nosso favor. Após a partida, não fui lhe agradecer. Nem saber porque era tão ruim assim. Fui ao seu vestiário para saber porque fez aquilo.
Meio sem graça, pediu desculpas. E me convidou a olhar em volta. Casa cheia, bebida liberada, um bairro afastado do centro da cidade e apenas dois guardas municipais a protege-los. “Lembra de Miguel Couto? Por lá os policiais nem apareceram!”. E confessou ali que desde cedo desenvolvem, no nascedouro da sua profissão, um instinto de sobrevivência. Dividiu, aprenderam, é da casa. “Para que sair dali a pedradas se você pode deixar aquele buraco quente tranquilo e voltar em paz?”, concluiu.
Daí pra frente notei que o arbitro caseiro é fruto da insegurança do seu cativeiro. Desde lá, incorporam este trauma que jamais os abandonará. Mesmo com a SWAT nas arquibancadas, dividiu, é da casa. Foi quando Pikachú recebeu, no sábado, uma bola que veio de uma dividida do Rossi. Poucos perceberam a falta porque, dali pra frente, ele transformou a jogada em uma obra de arte.
Porém, aquele 2×0 liquidava o time da casa. E neste instante, Rodolpho Toski Marques foi tomado pelo incontido desejo de anular. E recorreu ao VAR. Que este tentasse descobrir uma irregularidade qualquer, mesmo lá atrás, um lateral mal batido, um gandula dentro de campo porque ele estava na Arena do Grêmio. E não queria sair dali com o enjoado do Renato Gaúcho berrando ao seu ouvido.
Quem berrou foi o Vanderlei Luxemburgo. Perdeu seu tempo. Na próxima partida, em São Januário, a arbitragem, traumatizada do berço, lhe devolve o presente. Marca um daqueles pênaltis que só o Eurico Miranda enxergava. E sairá são e salvo daquele lugar esquisito. Se bobear, até aplaudido.
Luiz Orlando
O CARA QUE COMANDOU O OLIMPO DA CRÔNICA ESPORTIVA
por André Felipe de Lima
Museu da Pelada conversou com Luiz Orlando, radialista e jornalista que entrou para a história da TV por chefiar uma das mesas redondas mais famosas da história do jornalismo esportivo
POR ANDRÉ FELIPE DE LIMA
Na virada para a década de 1980, o Maracanã era minha segunda casa. Quando saía do estádio após um jogo do Vasco, corria para a minha casa oficial, ligava a TV e sintonizava no canal dois, da TVE, para assistir ao VT completo do mesmo jogo que vi no estádio. Coisa de doido. Era fominha à beça, e essa “fome” de futebol só era saciada após assistir à mesa redonda com feras do naipe do João Saldanha, Luis Mendes, Achilles Chirol, José Inácio Werneck e Sergio Noronha sob a indefectível batuta do então jovem Luiz Orlando Baptista, filho do magnífico locutor Orlando Baptista.
Lembro-me bem dos debates acirrados. Os caras falavam de futebol com uma propriedade impressionante, que hoje não se vê mais na TV. Este saudosista repórter que escreve aos amigos, o trepidante Sergio Pugliese e o repórter cinematográfico Daniel Planel vestimos a camisa do Museu da Pelada e rumamos para a casa do Luiz Orlando, na Tijuca. Batemos um papo muito bacana com ele para recordar os tempos da TVE e outras mesas redondas que ele comandou no passado. Figura simpaticíssima. As histórias que narrou para o Museu da Pelada são impagáveis. Imperdíveis. Algumas hilariantes. Um bastidor da TV que ele jamais tornou público e que pretende lançar em um livro de memórias. Sucesso garantido de vendas.
Hoje com 65 anos, Luiz Orlando, cujo espírito jornalístico nasceu do rádio, deixou para trás o famoso cabelo black power (sua marca registrada na época) e recordou alguns momentos espetaculares dos quais participou ao lado destes cobras do jornalismo esportivo que faziam da mesa redonda da TVE um olimpo de cronistas, mas também lembrou-se de situações inusitadas, como as que presenciou de Garrincha, Telê Santana e o argentino César Luis Menotti.
Vamos encurtar o papo para curtirmos a entrevista com Luiz Orlando, que, inegavelmente, é um patrimônio histórico do jornalismo esportivo.
SAUDADES DE JOÃO GILBERTO E MENDONÇA
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
No espaço de poucos dias perdemos dois artistas, um da bola e outro da música, Mendonça e João Gilberto. Dois homens tímidos, de poucas palavras, e com talentos extraordinários, de pura arte.
A habilidade de um estava nas mãos, a do outro nos pés. Um foi meu parceiro de time e o outro de toca-discos. Um criou a Bossa Nova, o outro o Baila Comigo, apelido do drible aplicado em Júnior Capacete. Um foi homenageado com um minuto de silêncio no final da Copa América, o outro, não.
A reverência não poderia ser feita aos dois? Claro que sim! Seria a chance desse torneio homenagear o futebol-arte, talvez a única chance. Tudo bem que João Gilberto levou o nome do Brasil para o exterior, mas no Maracanã, me perdoem os fãs do autor da belíssima “Wave”, Mendoncinha fez chover! Mesmo quem não torcia para o Botafogo se encantava com a magia do ídolo, que morreu pobre e lutando contra o vício.
Mendonça não era queridinho da imprensa, nasceu e morreu em Bangu. Atuamos juntos no chamado time do camburão, do Botafogo, e jogou uma barbaridade em nossa vitória contra o Cruzeiro, em Minas. Meu Deus, como jogava bola o Mendoncinha!
Mas pensando bem, nem ele, nem João Gilberto deveriam ser homenageados nessa Copa América. Essa competição não os representava, com jogos medíocres e organização de quinta categoria. Se estivesse na torcida, João Gilberto teria pego seu banquinho e seu violão e se mandado.
Me perdoem os trocadilhos musicais, mas o nosso futebol virou o “Samba de uma nota só” porque temos um técnico “Desafinado”.
O que foi o Tite tentando se desvencilhar de Bolsonaro e, em seguida, dando um caloroso abraço no presidente da CBF??? CBF que ele tanto achincalhou quando estava do outro lado do balcão!!!!
Pergunto a todos os dirigentes e políticos que estavam pegando carona na cerimônia: jogaram “aonde”, vestiram a amarelinha quantas vezes, assinaram quantas súmulas??? É uma vergonha!!!
Vocês acreditam que a CBF me convidou para assistir à final da Copa América, mas eu teria que arcar com a passagem aérea? Moro em Florianópolis e a maioria dos campeões de 70 também mora fora do Rio. A ideia era reunir esse grupo. A CBF ganha milhões e não consegue comprar passagem para os convidados? Pede para fechar!!!
Mas Tite e seus pupilos foram campeões e isso é o que importa! Daniel Alves foi o melhor do torneio porque deu um balãozinho seguido de um passe olhando para o lado oposto, é muita pobreza!!! Mas, viva o futebol brasileiro!!!
Hoje quem dá um caneta vira rei e o gol é comemorado com a dança do pombo. Me perdoem João Gilberto e Mendonça, mas os tempos mudaram. A garota de Ipanema virou Anita, a bossa é outra, mas como dizem por aí, aceita que dói menos, PC, e “Chega de Saudade”!!!