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NINGUÉM SUPORTA MAIS ESSES PROFESSORES MEDROSOS

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Sou do tempo em que o astrólogo Omar Cardoso fazia muito sucesso e, ainda hoje, as previsões de Zora Yonara podem ser ouvidas pelo rádio. Sou geminiano e o tigre me representa no horóscopo chinês. Tenho a personalidade forte, sou ácido em minhas críticas, mas nunca abandono a coerência.

Bom, toda essa introdução é para dizer que os retranqueiros estão vivendo o seu inferno astral, Kkkkk!!!! E tem muito jornalista revendo suas posições. É fácil voltar atrás. Tite, Abelão, Mano, Felipão e Carille sempre foram os queridinhos de grande parte da imprensa. E não me venham agora dizer que é mentira.

Os clubes que insistiram no erro estão pagando caro. Trocar Felipão por Mano é como trocar seis por meia dúzia, assim como trocar Mano por Abelão. A mentalidade é exatamente a mesma, a de ter um administrador de egos no vestiário. Isso é velho.

Jorge Jesus tratou é de administrar a ira da torcida e colocou o time para jogar ofensivamente. E olha que o Flamengo abusa das faltas, mas joga para frente e faz os gols necessários. Ninguém suporta mais esses professores medrosos. Eles foram as referências das novas gerações. E quem surgiu de bom? Os meus preferidos desde o início do campeonato continuam remando contra a maré: Roger, Sampaoli, Tiago Nunes, Fernando Diniz e Luxemburgo. Vamos acompanhar o desempenho do Marcão.

O fato é que uma nuvenzinha estacionou na cabeça dos retranqueiros. Mesmo assim, li algumas matérias exaltando a evolução tática da seleção de Tite, Kkkkkk, peraí isso é piada, não? Dois empates melancólicos contra duas seleções que eu adoro, Senegal e Nigéria, mas que pela postura de nosso treinador sabe-tudo era para terem sido goleadas.

Não houve qualquer progresso e muito menos renovação. E o discurso nas coletivas, vocês ouviram? Claro que não! Sabem por que não ouviram? Porque ninguém sabe quando a seleção joga e quando sabe não acorda para ver. Eu acordei porque sempre adorei as seleções africanas, assim como as belgas e holandesas.

Os astros indicam que a única alternativa para os professores, que fazem um golzinho e depois se acovardam atrás das barricadas, é desapegarem-se dos velhos ideais para dar chance a novos resultados. É tempo de transformar! E quem diz isso não sou eu: está escrito nas estrelas, Kkkkk!!!!!

O universo exige menos cursos da CBF e mais lambretas, como a do menino Talles Magno, e mais dribles, como os do ensaboado Michael, do Goiás. Enfim, os astrólogos me confidenciaram que as posições do sol e da lua influenciarão diretamente na retomada de nosso futebol e que é chegada a hora da tão sonhada substituição, nos alto-falantes do Maraca, ser anunciada: a Suderj informa saem os gladiadores e entram os bailarinos.  

NARRANDO O GOL DO INIMIGO


Charge: Eklisleno Ximenes

Final dos anos 50. De férias em Ubá, sua terra natal, Ari Barroso é apresentado a um jovem locutor esportivo de uma cidade vizinha, do qual falavam maravilhas.

Ari, com a experiência de tantos anos, logo se impressionou com a postura e a voz do locutor, que parecia realmente ser muito bom. Resolveu, então, testá-lo,  visando um possível aproveitamento na Rádio Tupi, na qual era uma das estrelas da narração esportiva.

Dias depois, o recebe no Rio, na sede da emissora. Querendo ver a desenvoltura da jovem promessa, pede que ele narre, de improviso, três lances de um hipotético jogo de futebol.

Enquanto o locutor ficou dentro da cabine, Ari permaneceu do lado de fora, fazendo sinais de positivo ou negativo através da divisória de vidros, muito comum nas emissoras de rádio. 

Assim, o narrador descreveu o primeiro lance, de um fictício jogo entre Flamengo x Botafogo:

Avança o Flamengo com o ponteiro Joel pela direita… É barrado por Nilton Santos. 

A enciclopédia do futebol toca com elegância para Didi no meio de campo…

Didi passa a bola entre as pernas de Moacyr e toca para Garrincha na ponta…  

Mané ginga para um lado e pro outro, finta Jordan, invade pela direita, passa por  Jadir e cruza para a área…  Quarentinha emenda de primeira:

 GOOOOOOOOL do Botafogo!   Qua…ren… ti… nha!

Botafogo, um! Flamengo, zero!

Ari faz sinal de positivo, e sem muita euforia manda narrar o segundo lance. E o narrador continua, agora mais vibrante ainda:

Desce novamente o Botafogo para o ataque… 

Zagalo recebe pela esquerda e toca pra Didi… O Príncipe Etíope se livra da marcação e lança para Paulo Valentim. O avante alvinegro passa por Pavão e abre para Garrincha…

O demônio da pernas tortas passa espetacularmente por Jordan… Dequinha vem na cobertura e também é fintado…

Garrincha cruza… Quarentinha entra de bicicleta:

GOOOOOOOOL do Botafogo:    Qua…ren…ti…nha!

Botafogo,  dois! … Flamengo,  zero!   

A torcida Botafoguense delira. Show de bola no Maracanã! 

E, empolgado, começou logo a narrar o terceiro lance: 

Ataca o Botafogo novamente com Garrincha…

Neste instante, Ari Barroso, furibundo, invade a cabine e interrompe o teste:

–  Meu filho! Afinal de contas, você veio aqui para fazer teste ou para me gozar? 

– Vai radiar jogo do “arranca  tôco”,  lá na sua cidade! 

O promissor locutor, que não sabia da paixão do homem da gaita pelo Flamengo, acabou reprovado no teste.

O ALEMÃO BOM DE BOLA

por Luis Filipe Chateaubriand


Quando penso em um jogador de futebol alemão que jogava demais, penso em Karl Heinz Rummenigge.

Uma característica de seu futebol era a altíssima técnica. Executava todos os fundamentos do futebol com perfeição. Isso, sempre, com absoluta inteligência. 

Outra característica do craque era a frieza impressionante. Nos momentos mais difíceis, conseguia manter-se forte, confiante, altivo. 

Outra característica era a força física, o que fazia do craque alguém que costumava levar vantagem nas divididas contra jogadores adversários. 

Fez uma grande carreira, seja no Bayern de Munique, seja na Internazionale de Milão, seja, ainda, na Seleção Alemã. 

Lembro, claramente, da final Argentina x Alemanha, na Copa do Mundo de 1986, no México. Machucado e longe das melhores condições físicas, Rummenigge está na reserva. Mas, como a Argentina ganha de 2 x 0, acaba indo para o jogo. Joga tanto que o time se transfigura e empata o jogo em 2 x 2 (depois, Maradona faria a diferença para a Argentina, mas essa é outra estória). 

Também é inesquecível a semifinal da Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Rummenigge, também fora das melhores condições físicas, está na reserva. O primeiro tempo da prorrogação termina França 3 x 1 Alemanha. Rummenigge vai para o jogo. Em 15 minutos, faz um gol, dá passe para outro e azucrina a defesa francesa. O jogo fica 3 x 3, vai para os pênaltis e, no pênalti decisivo, Rummenigge converte e coloca a Alemanha na final. 

Ainda na Copa do Mundo da Espanha de 1982, jogam Espanha x Alemanha. No final do jogo Rummenigge entra, faz uma jogada genial e manda uma bola por cobertura que… bate caprichosamente no travessão. 

Sérgio Noronha, o Seu Nonô, resume tudo: “Muitos se perguntam se um grande craque de um clube ou seleção em más condições físicas deve ir para os jogos, para que seja utilizado nem que seja em pequena parte destes. Está aí a resposta”.

A resposta é esta: mesmo “baleados”, craques com Karl Heinz Rummenigge fazem o futebol ser mais colorido!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebolhá 40anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email:luisfilipechateaubriand@gmail.com.

ARÃO

por Marcos Vinicius Cabral


“Arão era o Patinho Feio e hoje é um ídolo”, disse o treinador rubro-negro Jorge Jesus após a apoteótica exibição do volante e da equipe na vitória por 3 a 1 contra o Atlético-MG, em pleno Maracanã, na última quinta-feira.

Perseguições, vaias, questionamentos e uma vontade grande de mudar o quadro de sua história.

Tanta vontade de mudar que mesmo estando numa grande vitrine como é o Flamengo, nunca se arriscou a bater faltas em uma partida sequer, desde sua chegada em 2016.

Porém, vem treinando no CT Ninho do Urubu, com aproveitamento convincente.

Bem-humorado, desconversa quando alguém o elogia: “Isso aí a gente deixa pra surpresa. Deixa quieto, a gente vai trabalhando quietinho. Se tiver oportunidade, vou tentar bater ali, mas deixa quieto”, afirmou sacudindo a vasta cabeleira que se tornou sua marca registrada.

E não será surpresa mesmo que numa bola dessas da vida em uma partida, ele bata e converta.

Poderia ser contra o Grêmio ou talvez contra o River ou Boca…vai saber!

O futebol tem muito disso e com Willian Arão não seria diferente.

Titular mas com ressalvas por quase todos os treinadores que trabalharam no Flamengo, ele usou a camisa 5 sem muito brilho desde quando saiu brigado do Botafogo.

Nascido em São Paulo, no terceiro mês do ano – o mesmo em que Zico, Uri Geller e Leandro deram seus primeiros choros em vida – o predestinado Bola de Prata do Campeonato Brasileiro de 2016 vem sendo um trunfo para o esquema de Jorge Jesus.

Cresceu no momento certo junto com a chegada do português e, vestindo a 5, pode fazer história.

Já vestiu a faixa de Campeão Carioca neste ano, pode vestir em dezembro a de Brasileiro e se vencer a Libertadores, pode – e por que não? – reencarnar o futebol produtivo do paraibano Leovegildo Lins Gama Júnior, na reedição da final contra o Liverpool 38 anos depois.

E com esse peso às costas, tem a responsabilidade de vestir um número que no panteão do futebol mundial diz muita coisa.

Sim, estamos lembrando de Zidane e Falcão também.

Tecnicamente ele não chega perto desses figurões da bola, mas com sua intensidade e vontade de superar seus limites, pode ir mais além do que qualquer cético ousaria apostar.

Arão pode surpreender os que nele não confiavam mas pode também – e deve para o bem do futebol – mostrar que nem todo camisa 5 tem apenas a obrigação de marcar.

Arão é uma espécie em extinção no atual cenário do futebol.

ODE A RAUL, O IMPERADOR DO D.E.R

por Marcelo Mendez


Manhãs de inverno são naturalmente belas pela deferência que lhes cabe à existência. Pois senão vejamos como se dá os domingos de várzea no ABCD Paulista…

Não acordo com aquela eletricidade múltipla, o salto da cama não é pirotécnico, furioso e acelerado. Não. Para mais um dia de futebol de várzea, o ato de sair da cama é leve, lento, profundo, não se acorda ao som da ira de um Rolling Stones, mas sim, com um John Coltrane a tocar Naima.

É de introspecção e sonhos que se faz um domingo de inverno. Assim estava eu no caminho do jogo entre D.E.R x Vila Vivaldi, válido pela semifinal do campeonato amador de São Bernardo. Da janela do banco de trás do carro que me levaria para a peleja no Campo do Lavínia, me resignei ao som do silêncio para olhar para o céu de então.

Não havia nele a costumeira resplandecência das manhãs de eterno verão que regem a várzea, mas tinha um encanto igualmente épico. Era de um cinza, de um escuro como os quadros em que Francisco Goya eternizou com suas “Pinturas Negras”. Algo muito forte, denso e vivaz que imaginei que se perpetuaria e até que estava indo bem nesse ínterim.

No entanto, o cinza e o escuro daquela manhã se dissiparam aos exatos 11 minutos do primeiro tempo do jogo em questão. O tempo suficiente que a bola levou para encontrar Raul, o camisa 8 do time do D.E.R…

Vinha ela, a bola, a sofrer. Por entre bicas e chutões, vitimada por esbarrões, cotoveladas, trancos e outras coisas menos nobres, ela, a bola, não se via por nada em um momento de calma e regozijo. Os modos dos homens ludopédicos não eram dos mais refinados. Surge então a dividida:

Uma bola quebrada pela zaga viaja até o meio campo e em meio a tudo isso que havia, ela encontra o peito de Raul. Com a calma de um homem que ama, munido das maiores intenções de versos e odes, o menino dá um salto, enche o peito e a apara. Por entre ventos e tempestades, Raul mantém a bola do seu peito, a protege, com um giro de bailarino do Bolshoi, se livra da marcação, e daí pra frente, com a bola já no gramado, Raul dá um passe preciso e o sol, como por encanto surge no Lavínia:

Até ele, o sol, aparece para ver Raul jogar!

Que coisa bela. Olhando para o campo do Lavínia, inebriado pelo futebol daquele menino de rosto de Rimbaud, me lembrei das coisas mais belas e mais tenras que pode haver na vida. Raul era nada menos que isso.

Com um futebol quase que Imperial, o rapaz eleva aos píncaros da beleza o exercício de se jogar futebol. Com ele nada é feio, nada é tosco, nenhum poema se da pela metade. Raul é intensamente gênio. Tem a primazia de deter todos os minutos, instantes, átimos e segundos dessa coisa bela que é o futebol. O menino que comandava o meio campo do time do DER não era só dono da cancha de jogo:

Raul era dono do tempo.

Quando a bola chegava aos seus pés, como que por encanto, ele, o tempo, parava pra vê-lo jogar. De cabeça erguida coma imponência de um Grande, Raul distribuía muito mais do que passes e lançamentos. Raul esparramava sonhos, versos e odes pelo campo do Lavínia. Ali, nada mais foi meramente comum depois dos seus passos de craque. Seu futebol dignificou até a grama sintética a qual flutuava.

Afinal, quem pisa são os outros que são mortais. Craques flutuam…

Com toda a leveza de um milhão de versos, Raul estufou as redes do Vila Vivaldi com um chute preciso. E o placar de 1×0 se manteve como inevitável. O jogo devia terminar assim por profissão de fé e arte; 1×0 gol de Raul.

Raul o Grande! Eu te louvo!