ACEITA-SE CURRÍCULO
por Eliezer Cunha
“Passado, Presente, Futuro”. Confesso que relutei por alguns dias em escrever sobre o assunto, até mesmo em respeito ao tema, mas, como a mim nada ainda foi censurado por esse canal de comunicação e entretenimento, irei expor minhas considerações, vamos lá.
Recentemente no futebol brasileiro tem-se adotado a prática de contratações de treinadores estrangeiros. Tudo bem, afinal o futebol é praticado em vários países tomado por regras universais. Essas contratações me parece ter incomodado alguns técnicos brasileiros, até mesmo pelo atual sucesso destes treinadores em seus times.
Estamos ás vésperas, pelo que tudo indica, da troca do atual treinador da seleção brasileira. Os resultados da nossa seleção na última Copa foram pífios e os atuais resultados dos amistosos nada convenceram. Olhando internamente hoje para os trabalhos de nossos técnicos não enxergamos nenhum nome que inspire confiança para assumir o comando da nossa seleção. Percebo que nossas esperanças de voltar a sonhar com títulos e ter uma seleção competitiva é uma luz cada vez mais afastada do final do túnel.
Temos um personagem que pelos últimos trabalhos tem nos chamado atenção: Renato Gaúcho. Apesar de ser seu admirador como jogador, pela sua passagem pelo Flamengo e pelos outros títulos conquistados, confesso que a mim não agrada, ainda não o vejo maduro para o cargo maior de treinador, a seleção. Seus depoimentos em relação aos colegas de profissão como aos dirigidos ao treinador Jorge Jesus, sua recusa em participar do encontro dos principais técnicos nacionais no início do ano, suas entrevistas, os altos e baixos do seu time no Campeonato Brasileiro e até as suas atitudes e comportamentos nada exemplares de quando era jogador, que inclusive o afastou da Copa de 1986, sendo ele uma peça fundamental no elenco.
Estamos perdidos sem saber para aonde atirar e, isso faz com que o atual treinador da seleção Tite se prolongue no cargo até que chegue a um momento em que optar por ‘A’; “B” ou “C” já não resolva mais. O tempo corre. O Presente se faz e o Futuro chega.
Os comandantes do nosso futebol tem que agir rápido.
DE VOLTA ÀS ORIGENS
A equipe do Museu da Pelada reuniu Fred Marinho, PC Caju e Carlos Roberto, pegou a estrada e participou de um encontro bacana da Paracambi Fogo, com direito à pelada, churrasco, resenha e muita emoção! Para quem não sabe, Paracambi foi a cidade em que Marinho, pai de PC e Fred, deu seus primeiros passos no futebol, mais precisamente no Tupy de Paracambi.
Por isso, ao serem convidados pelo Museu, PC e Fred nem pensaram duas vezes antes de topar. Mais do que participar da festa, era a oportunidade de reencontrar familiares que não viam há muito tempo.
– Vai ser bacana! Eu nunca fui a Paracambi! – confessou PC!
Tradicional clube da cidade, o Tupy abriu as portas para o evento do grupo alvinegro e, assim que os craques desceram do carro, tiveram uma recepção calorosa de fãs e familiares:
– Uma honra muito grande conhecer o PC e o Fred! – disparou um deles.
Primo da dupla, Fernando revelou que o último encontro havia sido há mais de 40 anos. Além disso, fez questão de relembrar a trajetória de Marinho:
– Tudo começou aqui no Tupy de Paracambi! Depois ele seguiu a trajetória dele por Bangu, Botafogo, foi jogar na Colômbia e retornou para o Flamengo!
Quem também não escondia a felicidade pelo encontro era Eridan, atual presidente do grupo e um dos grandes responsáveis pela festa.
– O trabalho de vocês é lindo e vocês conseguiram trazer dois filhos da cidade para nos prestigiar!
Para abrilhantar o encontro, ainda encontramos um sósia do craque Afonsinho, que, sem modéstia alguma, disparou:
– Se tiver outro, é falso!
Outra fera que marcou presença foi Jarbas, responsável por confeccionar belíssimos troféus. Se toda aquela resenha e emoção já não fossem o bastante, tivemos a honra de ser presenteados pelo amigo com uma caixa de troféus e uma linda tábua personalizada para churrasco.
A nossa vontade era permanecer até o fim da resenha, mas prometemos voltar na próxima com a presença da dupla!
Valeu, rapaziada!
Sérgio Ramírez
UMA CORRIDA, UM VIOLÃO
entrevista e texto: Eduardo Lamas | vídeo: Fernando Gustav | edição de vídeo: Daniel Planel
Salve simpatia! Tomo emprestada a saudação musical de Jorge Ben (para mim vai ser sempre sem o “jor” no fim) para abrir esse texto de apresentação da entrevista que fiz com Ramírez. Por algumas razões. Para começar, o sorriso largo permanente no rosto do uruguaio e a mistura de futebol e música que o caracteriza também tão bem. E pode-se acrescentar o fato de o ex-lateral do Flamengo, clube do coração do consagrado cantor e compositor e com o qual Ramírez mais se identifica, ter revelado como nasceu uma das muitas músicas do Benjor (vá lá, sem radicalismos!). Para um pesquisador de músicas de futebol que criou um projeto multifacetado sobre tema é uma preciosidade.
Mas eu vestia a camisa do Museu da Pelada e este foi apenas um dos presentes que ele ofereceu no nosso bate-papo em sua casa, em Palhoça, município da região metropolitana de Florianópolis. Outro motivo ele nem precisou me contar, só cantar depois. Ao entrar em sua sala logo vi uma série de violões, cavaquinho, teclado. Ficou clara a sua intimidade com a música, o que os fãs do Museu da Pelada poderão constatar.
Ramírez não se opôs a contar sorrindo o episódio de sua breve loucura que entrou para a eternidade futebolística. Quem se lembra, vê a corrida enfurecida atrás de Rivellino, mas quase todos se esquecem do seu quase linchamento perante milhares de olhares sedentos de vingança e de bocas gritando “porrada, porrada”. Ele não se esqueceu, nem da sua loucura, nem da dos brasileiros que o espancaram. Muito menos de ter milagrosamente escapado. E só quem não o conheceu, mesmo que por instantes, e nunca jogou sequer uma reles pelada não o perdoaria. Rivellino teve mais esta grandeza. São amigos.
Quem nunca enlouqueceu num campo de futebol que atire o primeiro radinho de pilha da geral. Isso em outros tempos, claro. Atualizando: quem nunca… que atire o primeiro celular das cadeiras de qualquer arena ou da arquibancada de qualquer campinho. Posso dizer que, embora tenha encontrado naquela tarde de quarta-feira o Ramírez pela primeira vez em minha vida (embora tenha visto o cara com sua garra jogar no Maracanã e provo, vocês vão ver), conversamos como amigos de longa data. Não à toa, ele contou muitas histórias dos bastidores e soltou seu vozeirão, ao violão.
Peço por fim permissão para uma indiscrição e contar que foi tudo tão bom que terminou em pizza. E cerveja. Literalmente. Gracias, Ramírez. Muchas gracias.
MASOQUISMO
por Rubens Lemos
Jogo e treino de seleção brasileira – de qualquer categoria – são atividades decisivas para o currículo de qualquer masoquista juramentado. É assistir, se irritar, chamar palavrão, desligar e ligar de novo a televisão para ver nulidades sem recurso e passeando lerdas pelo gramado.
Em especial o Brasil de Tite, conseguiu construir uma ponte imaginária entre defesa e ataque. A bola só sai de um setor até o outro na base do chutão e na canelada. É que mataram deixando em decúbito dorsal o meio-campo, área nobre de uma peleja, onde pontificaram craques e monstros sagrados.
É masoquismo olhar para Casemiro, pobrezinho, o camisa 5 atual e lembrar Clodoaldo de 1970 ou Paulo Roberto Falcão, dominando a bola do alto até o chão no biquinho da chuteira, sem fazer força, a bola querendo ficar e os craques desejando o fluir do ataque.
A gente olha para a camisa 8 de Arthur e é uma tremenda sacanagem com: Zizinho, Didi, Jair Rosa Pinto, Gerson, Sócrates, Geovani, Adílio, Silas, Paulo Isidoro, Mendonça, Pita, Jorge Mendonça e Jair, do Internacional tricampeão com Falcão.
Arthur foi escolhido após pesquisas científicas. Em busca da mediocridade imbatível, estudaram, colheram dados físicos e traços de personalidade até que o bicho deu em Arthur.
Arthur é a negação dos talentosos natos. Erra o passe a 1 metro de distância do companheiro e é figura proeminente do recurso mais em voga no Sul do país: o carrinho, pela frente ou por trás, para derrubar com dor o adversário de categoria superior.
Philippe Coutinho, mais para chatinho, sujeito emergente que ficou irritadinho, todo fresquinho, não-me-toques, é um abuso à história de Rivelino, Jairzinho, Paulo César Caju, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Zico, Alex, Djalminha, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, enfim, um atentado ao bom senso e um reforço a quem sofre por convicção e navega nas agonias mais nefandas.
Bem, chegamos ao ataque. Se vocês me dão licença estou rindo alto e sem conseguir chegar ao teclado do computador. Só de pensar que caindo pela direita está Roberto Firmino, o alagoano casado com uma linda loiraça, prova do amor Real $. Roberto Firmino percorrendo caminhos que já foram de Mané Garrincha.
Imaginemos o diálogo fictício:
Mané: É fácil, garoto, parte pra cima “dos” homem e é “só” driblar um a um.
Firmino: Mas seu Mané, não dá para alguém me ajudar não a fazer o dois toques?
Mané(moleque): Quem? (apontando para Casemiro), aquele gordinho é o maior grosso, um passe dele desemprega atacante. Faz o seguinte, pra te ajudar. Corre em linha reta, sem marcação, corta para o meio e bate para o gol, aproveita que está sem goleiro…
Compenetrado diante do alto grau de dificuldade, Firmino, aos tropeços na bola, consegue chegar à marca do pênalti e chuta de joanete, longe da trave nua. Garrincha desiste e volta para a nuvem que ocupa nos céus de Pau Grande (RJ).
É a vez de Neymar, ou “Júnior”. Com cara de quem está querendo urinar ou levou um beliscão, o camisa 10 vai pedalando sobre a bola desde a intermediária, xingando beques que só ele vê.
Chega na área, levanta a bola e solta o voleio. Berra, esperneia, chora, grita “Eu sou melhor que Pelé, eu sou melhor que ele”. Surgem dois gigantes enfermeiros. Aplicam sedativos no rapaz que vai apagando não sem antes suplicar: “Eu quero a camisa 1000, a 10000, a 1 milhão. Eu sou o melhor. O melhor do mundo.“ Ri agora um sorriso abobalhado, patético, de fim de carreira.
A EXCEÇÃO FOI MESMO O LEANDRO
por Zé Roberto Padilha
O calcanhar dos que ocupam a lateral direita, tal como o de Aquiles, tem se mostrado o ponto fraco dos que atuam no futebol brasileiro e mundial. Tão frágil tem se portado seus ocupantes em relação ao resto do time, que Djalma Santos foi eleito o melhor lateral da Copa do Mundo, disputada na Suécia, jogando apenas a partida final. Fico a imaginar a ruindade dos que defenderam seu país, em 1958, atuando naquela posição e perderam a indicação por quem entrou em campo apenas uma vez.
Tão incapaz nosso futebol de revelar um craque por ali que nossos Fagner, com todo respeito, tem cantado melhor do que tem jogado. Fagner, do Corinthians, é triste lembrar, foi nosso titular na última Copa do Mundo. E o Fagner, cantor, que fez 70 anos, encantou outra vez um Viva Rio lotado de fãs. E o tiro de misericórdia na fragilidade da posição acaba de ser dado pelo Tite ao convocar, para os amistosos da seleção, em total desespero, Marcinho, do Botafogo.
Assisto, como todos vocês, filhos, netos que votam no Cartola, quem anda se destacando no atual Campeonato Brasileiro. Muriel, Gerson, Gabigol, Michael, o canhotinho diferente do Atlético Paranaense, tudo bem. Suas atuações saltam aos olhos e todos apostam neles. Mas que jogo foi este do Marcinho que seduziu o Tite que nem meu filho botafoguense, o Guilherme, assistiu? Pelo contrário, já ouvi ecos de “Fora, Marcinho!” aqui em casa e no Engenhão, tão previsíveis tem sido suas exibições.
Carlos Alberto Torres, que era zagueiro, ocupou aquela posição no México porque João Saldanha, em 1969, inovou ao convocar “suas feras”. Pouco importava em que posição atuassem, chamou os melhores e disse que “craques não sentam num banco de reservas”. E se os melhores vestiam a 10, escalou um ataque com os do Santos (Pelé), Cruzeiro (Tostão), Corinthians (Rivelino) e os dois do Botafogo (Gérson e Jairzinho). Era o sistema tático que tinha que se adaptar à genialidade, não o talento se curvar ao 4-3-3 ou 4-2-2.
Deu tão certo que nunca mais tivemos uma seleção tão boa quanto aquela. O capitão até que se saiu bem, deu o tiro de misericórdia na Itália, levantou a taça mas não foi o destaque da posição na competição.
Depois veio o Cafu, que correu muito por aquele setor, fez da lateral direita uma pista de atletismo com barreiras humanas que superava com sua disposição carregando a bola nos pés. Teve seus méritos, bem como Daniel Alves, que veio a seguir mas não resiste quando lhe oferecem uma camisa 10. Que lhe conceda mais liberdade e menos responsabilidade de marcar por aquele setor. A exceção nesta história toda foi mesmo o Leandro.
Ninguém dominou as atribuições ofensivas e defensivas daquele setor como ele. Em 415 jogos pelo Flamengo, onde marcou 14 gols, demonstrou saber marcar com eficiência e atacar com extrema categoria. Convocado por Telê Santana para disputar duas Copas do Mundo, no seu auge, em 1986, foi conhecer a noite mineira com Renato Gaúcho. E chegou tarde à concentração. E o calcanhar direito, seu forte, que deveria lhe ajudar a pular o muro da concentração, falhou e ficou do lado de fora da Toca da Raposa. E ambos foram cortados da seleção.
Com Edson na lateral direita, um outro Fagner tão fiel às suas limitações, não passamos das quartas de final eliminados pela França. A história, implacável, diz que Aquiles, e quem mais fosse vestir a camisa 2, seriam banhados e protegidos pela Deusa Tétis nas água do rio Etige. E apenas o calcanhar direito, e os ocupantes da lateral direita, ficariam do lado de fora.
Agora, só nos resta marcar um amistoso contra a Grécia. E banhar a cabeça do Tite que também esqueceram do lado de fora.