MISTER X LUXEMBURGO
por Marcos Vinicius Cabral
O ser humano não consegue elogiar o trabalho de dois profissionais da mesma área sem compará-los.
Isso é inevitável e no país do samba, cerveja e futebol dos 7 a 1, infelizmente é cultural.
Eu gosto de perceber nos times, o dedo do treinador, as mexidas que fazem para mudar os 90 minutos de uma partida, as táticas que utilizam e porque não dizer, a maneira com quem buscam a vitória a qualquer preço.
Vanderlei Luxemburgo é disparado o melhor técnico da história dos Brasileiros e Jorge Jesus é atualmente o melhor do país, mesmo estando há apenas três meses trabalhando aqui.
Na verdade, na verdade, vos digo: são dois baitas técnicos, como ficou provado neste Flamengo e Vasco, da última quarta-feira (13), da 34ª rodada que foi antecipada.
Mas querem colocar um acima do outro.
Por quê?
Luxemburgo fez uma leitura do Flamengo que nenhum outro treinador havia feito ainda, mesmo com equipes melhores que a sua.
Colocou duas linhas de quatro e colocou dois pontas (Rossi e Marrony ) para jogar em cima de Rodrigo Caio e Pablo Marí, pois havia percebido que Willian Arão costuma flutuar entre os dois zagueiros, liberando-os para sair jogando com facilidade.
Jorge Jesus só permite que sua dupla de zaga faça isso, pela qualidade dos dois.
Mas no jogo de quarta-feira, Luxemburgo anulou isso e obrigou Jesus a ter que se “reinventar” no meio do jogo, quando tirou Gabriel de dentro da área na inércia costumeira do centroavante em esperar a bola e fez com que todos os outros jogadores se movimentassem para criar os espaços que o Vasco não permitia ter.
Simplificando: Luxemburgo tirou o líder do campeonato do seu habitual “usual comfort” e encarou de igual pra igual o adversário.
Portanto, forçou Jorge Jesus a fazer uma mudança no estilo de sua equipe atuar e foi obrigado a introduzir no DNA de seus jogadores a velha máxima do clube jogar: com raça, amor e paixão.
Diante de dois grandes estrategistas, o empate acabou sendo justo mas se houvesse um vencedor, não seria nenhuma injustiça para o futebol praticado no Maracanã.
Esse Flamengo 4 x 4 Vasco, entrou para a história e deveria ser emoldurado e colocado na parede da sala da casa de todo rubro-negro e vascaíno, como um dos grandes jogos deste século 21.
Assim como foi aquele Santos 4 x 5 Flamengo, na 12ª rodada do Campeonato Brasileiro em 2011, na Vila Belmiro, considerado por muitos especialistas, torcedores, emissoras, e acompanhantes de futebol como o maior jogo do século.
O que esses dois jogos têm incomum?
Vanderlei Luxemburgo, que era o treinador daquele Flamengo de Ronaldinho Gaúcho & Cia.
Que tenhamos mais Santos x Flamengo e Flamengo x Vasco nos campos nacionais, pois o futebol brasileiro e os torcedores merecem.
Twitter: @ViniciusCharges
Aqui eu expresso minha opinião, e você leitor tem todo o direito de discordar.
Comente, critique sem ofender ou elogie se merecer, mas não deixe de participar.
Betinho Cantor
VELHOS AMIGOS DA BOLA E DO VIOLÃO
“Tá legal (tá legal) / O Rio de Janeiro tá maneiro / Tá macio, o Rio é mundial (mundial) / Tá legal (tá legal)/”. Quem não se lembra dessa canção na voz de Betinho Cantor? O que muitos não sabem é que além do talento musical, Betinho dava aula também nos gramados ou nas areias de Copacabana!
Para contar essa história e relembrar os áureos tempos de música e futebol, a equipe do Museu convidou os craques PC Caju e Carlos Roberto, que nem pensaram duas vezes antes de topar a visita.
Ao chegarmos, fomos recebidos pelo cantor com um largo sorriso e uma bela camisa do Botafogo, de Heleno de Freitas.
– Poucos têm a moral de receber convidados como esse! – disparou Betinho.
Com diversas gravações feitas para trilhas sonoras de novelas produzidas e exibidas pela TV Globo, sobretudo na década de 70, o cantor nunca escondeu sua paixão pela bola. Engana-se, no entanto, quem pensa que tratava-se apenas de mais um peladeiro.
Betinho era um meia habilidoso, que chegou a jogar profissionalmente nos Estados Unidos e contou até com a aprovação de Neca, um dos olheiros mais respeitados da história do futebol brasileiro.
– Não foi fácil! Cheguei para fazer a peneira e tinham uns dez “Pelés” no meio-campo. Quando ele perguntou minha posição, menti e disse que era zagueiro para ter alguma chance! – relembrou para a risada de todos.
Nas areias de Copacabana, também desfilava seu talento no Novo Fiorentina Areia Clube, atual Areia Leme, dos parceiros Dime Cordeiro, Neimar e Neyvaldo.
Botafoguense de carteirinha, o músico costuma ir aos jogos do clube no Maracanã e tinha o privilégio de pegar a carona de volta para casa com ninguém menos que Jairzinho, seu vizinho.
Se hoje a música e o futebol praticado no Brasil não é nem sombra do que vimos naquela época, resenhas como essa nos fazem viajar no tempo e vermos o quanto éramos privilegiados por estarmos rodeados dessa galera!
Viva a música! Viva o futebol arte!
Pintado
O GUARDIÃO DE TELÊ
Em meio à árdua luta para livrar o Figueirense do rebaixamento para a Série C, já com uma ótima recuperação na Série B após a sua chegada, Pintado nos recebeu no estádio Orlando Scarpelli, na manhã de tempo fechado de uma quinta-feira em Florianópolis. Conversamos nos confortáveis bancos de reservas sobre os momentos mais importantes da sua carreira como jogador. Portanto, como não poderia deixar de ser, o São Paulo bicampeão da Libertadores e Mundial, em 92 e 93, foi o principal tema abordado. Embora não tenha participado do Mundial de 93, Pintado fez parte da campanha que levou o Tricolor até lá pela segunda vez consecutiva, igualando-se na época ao feito do Santos de Pelé.
O volante que dava segurança à defesa e ao setor de criação da equipe muito bem armada por Telê Santana contou como era o treinador, a importância dele em sua carreira, a relação entre suas funções em campo e as que passou a exercer quando decidiu se tornar técnico de futebol. E ressaltou a sua amizade com Toninho Cerezo, fazendo um rasgado elogio ao craque, dizendo que foi o mais talentoso com o qual atuou. Destacou também como o ex-palhaço de circo motivou com sua alegria e simplicidade, já beirando os 40 anos, a rapaziada tricolor.
Pintado também relatou as suas experiências no México e no Japão, comentou sobre o vice brasileiro jogando pelo Santos, em 1995, a passagem pelo Atlético-MG e principalmente sobre o seu início no Bragantino. Ele elogiou muito Vanderlei Luxemburgo, que montou aquele que é até hoje o time mais vitorioso da História do clube da cidade natal do ex-goleiro, zagueiro e volante. E, por fim, revelou um desejo seu e da família: morar no Japão. Confira o bate-papo, história não falta,
LEANDRO, O CÚMULO DO FUTEBOL ARTE
por Luis Filipe Chateaubriand
Este texto homenageia o Leandro do Flamengo e da Seleção Brasileira, um dos maiores jogadores de todos os tempos, não só no Brasil, mas no mundo.
Jogador de técnica absurda, era daqueles que aparava uma bola no ar levantando a perna para o alto, interceptando a bola com o pé no alto, fazendo a bola grudar no pé, descendo a perna até o chão com a bola grudada no pé.
Naturalmente canhoto, sabia jogar de tal forma com o pé direito que muito julgavam que fosse destro.
E vice versa.
Consagrado na lateral direita, devido a contusões foi jogar na zaga. Conseguiu o que parecia impossível, jogar ainda mais como zagueiro do que como lateral.
Aliás, polivalente que era, jogava em diversas posições, seja de defesa, seja de ataque.
Ao defender, era um Aldair ou um Baresi. Ao criar, era um Carpegiani ou um Modric. Ao atacar, era um Bebeto ou um Littbarski.
O cara jogava tanto, mas tanto, mas tanto, que a história a seguir é verdadeira.
No segundo jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1982, em Porto Alegre, o Grêmio estava pressionando o Flamengo.
Leandro pedia ao goleiro Raul para sair jogando com ele, mas Raul insistia em dar chutões para a frente.
Leandro encheu tanto a paciência de Raul para este sair jogando com ele que Raul de uma bola toda “quadrada” ao Peixe Frito.
O ponta gremista Odair veio em cima de Leandro e deu carrinho para tomar a bola.
Leandro, tranquilamente, deu um lençol em Odair, saiu jogando e, quando passou a bola, virou-se para Raul e disse: “Velho, eu jogo pra caral…”.
Jogava mesmo. Fato!
Por essas e outras, este escriba afirma que Leandro é o jogador de defesa mais completo que viu em atividade, muito embora no meio e no ataque também “tirasse uma onda” responsa.
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.
O OLHAR DE HUGO
por Sergio Pugliese
No melhor do jogo, o lateral Itiro disparou o famoso petardo e como sempre o destino foi o? Foi o? Foi o? Acertaram!!! O terreno baldio, vizinho ao campo, em Laranjeiras. A bola sumiu no mato, um verdadeiro Triângulo das Bermudas de Adidas, Penaltys, Toppers e Nikes. Uma outra, zero quilômetro, fora zunida por ele mesmo minutos antes. Os dois times se embrenharam no matagal e só faltou levarem cães farejadores. Horas depois, necas de pitibiriba, frustração geral. Anoiteceu, a peleja acabou e a resenha começou mais cedo. Nesse dia, Hugo Aloy, organizador da pelada, não foi. Sua ausência é fato tão raro que teve atleta linguarudo apostando em praga.
– Quando ele não vem ou cai um temporal ou o jogo acaba de forma estranha – reclamou Tico, já na mesa do bar.
Na semana seguinte Hugo quis saber o paradeiro das bolas, não se conformou com o resultado das buscas e muito menos com as desculpas do constrangido Itiro. Eram novinhas e o caixa estava no vermelho. Emburrado, caminhou para os fundos do campo, espremeu o rosto no alambrado, ligou o radar imaginário e fixou o olhar no mato. Ficou estático como os felinos antes do bote.
– Olha o Hugo tentando achar a bola. Pirou! – ironizou Guilherme, o Soninho, de 25 anos.
Era uma missão aparentemente impossível. O mato estava alto e fechado, e o campo ficava uns bons metrinhos acima do terreno abandonado. Mas a rapaziada conhece o cara. Hugo é teimoso e não carrega 73 anos na carcaça em vão. Ficou ali, determinado, por 45 minutos. Com as mãos fixas na grade, mirava cada detalhe, cada fresta. Atirador de elite!!! Ali, sozinho, viu o pensamento distanciar e lembrou-se dos tempos de garoto, no Capri, em Santa Teresa, campinho morto para dar lugar ao Parque das Ruínas. Quantas bolas voaram por cima do telhado do Colégio Machado de Assis! Nenhuma escapou. Corria atrás e resgatava uma a uma! “Bola não é coisa que se perca”, costuma dizer.
– Cara, o Hugo continua lá. Endoidou de vez. – comentou Pedro, o Paçoca, de 26 anos.
Seus olhos buscavam as bolas, mas acabaram funcionando como um liquidificador chacoalhando capítulos de sua vida. Respirou fundo quando lembrou-se da teimosia em trocar a missa de domingo pela bola. O frei João Moreira, da Escola Carmelita Santo Alberto, sofria com as faltas, arrancava os poucos fios de cabelos e na segunda-feira o obrigava a escrever 200 vezes “não devo faltar à missa…”. Para não perder o recreio, apelava para a técnica infalível, nunca descoberta pelos padres: usar dois lápis ao mesmo tempo, um grudadinho ao outro. Após 100 repetições, tchau para o castigo. De repente, um pedaço de gomo branco clareou seus pensamentos. Era uma das bolas presa ao galho de uma mangueira. Guardou para ele a descoberta, afinal ainda faltava a outra.
– Pai, não vai sair daí nunca mais? – provocou o filho Huguinho, de 42 anos.
O moleque cresceu! Quem diria! Outro dia era um pimpolho chutando a Dente de Leite para o paizão agarrar. E não era nem nascido quando Hugo saiu de casa escondido de Dona Edilia, deixou as filhas Monica, de três anos, e Adriana, de dois, nos braços do técnico-babá Roberto Altomar para que ele disputasse, no campo do Olaria, a final do campeonato interno da Petrobras, empresa pela qual trabalhou 30 anos na área de relações internacionais. Marcou três gols, conquistou o título e voltou para a casa correndo. Quando a mulher chegou estavam os três, angelicais, de banho tomado, assistindo tevê. Ninguém sabe, ninguém viu. Na cabeça também veio o primeiro título internacional da história do futebol de salão, disputado no Paraguai, há exatos 50 anos, e vencido pelo seu Fluminense.
– Achei! – gritou.
Aos poucos, todos foram conferir e espantaram-se quando ele apontou as duas redondas, camufladas. “É pegadinha?”, perguntou Camilo. O goleiro Neneca desceu para resgatá-las. Os jovens Soninho e Paçoca, intrigados, encararam-se. Agora entendiam Hugo em campo e sua tal “visão de jogo”. Era um bruxo! Por isso seus passes improváveis e gols inimagináveis para um homem de 73 anos, com os joelhos tomados por artroses que não o deixam dobrá-los. Itiro balançou a cabeça, pasmo. Huguinho estufou o peito de orgulho. As bolas foram arremessadas de volta. No reencontro, Hugo sentiu o mais profundo dos prazeres e com o olhar de uma vida inteira sorriu ao vê-las quicando, felizes, em campo.