O NASCIMENTO DE UMA LENDA
por Jorge Eduardo Antunes
A caminhada épica da maior seleção brasileira de todos os tempos completa meio século em 2020. O tricampeonato mundial valeu a posse definitiva da Taça Jules Rimet – roubada no dia 19 de dezembro de 1983 da antiga sede da CBF, no Centro, e posteriormente derretida. Mas a trajetória daquele time fantástico rumo ao topo do planeta futebol foi acidentada, com percalços e injunções políticas. E é isso que esta série especialmente preparada para o Museu da Pelada pretende mostrar, meio século depois.
Até chegar ao dia 21 de junho de 1970 e aplicar os 4 x 1 na Itália, a seleção passou por tudo – da campanha fulminante nas eliminatórias à queda de João Saldanha, treinador que formou sua base, para chegar ao ápice na Cidade do México. Em capítulos, vamos contar como o imbatível esquadrão tricampeão do mundo tomou forma definitiva. Até hoje na nossa memória, nem todos os 11 titulares – Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino –, ocupavam uma vaga antes da campanha no México.
Como o primeiro jogo da seleção em 1970 só foi disputado em 4 de março de 1970, contra a Argentina, em Porto Alegre, a série começa com uma retrospectiva da chegada de Saldanha ao comando. Para isso, é preciso recuar até 1969, mais precisamente para 4 de fevereiro daquele ano. Naquele dia, João Alves Jobim Saldanha, o gaúcho de Alegrete mais carioca de que se tem notícia, foi anunciado oficialmente como o novo treinador. Uma escolha que pegou muita gente de surpresa.
Saldanha havia sido jogador por breve tempo e treinara o vitorioso Botafogo de 1957, que atropelou o Fluminense com um sonoro 6 x 2 na partida final do Carioca. Jornalista dos bons, entedia de técnica e tática como poucos. E, desde o fiasco na Copa de 1966, quando a seleção brasileira foi eliminada na fase de grupos, reclamava que o torcedor não sabia o time-base canarinho.
E estava certíssimo. Na Copa da Inglaterra, o Brasil experimentara três escalações distintas. Na estreia com vitória (2 x 0) contra a Bulgária jogou com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Denilson e Lima; Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho. Na derrota para os húngaros (1 x 3), Tostão entrou no lugar do contundido Pelé e Gerson fez o meio com Lima. Já no jogo do desespero, contra Portugal (outro 1 x 3), a mexida feita por Vicente Feola, campeão mundial em 1958, fora completa: Manga, Fidélis, Britto, Orlando Peçanha e Rildo; Denílson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná.
Mesmo sendo um celeiro de bons jogadores, essa indefinição do 11 titular perturbava Saldanha e o torcedor brasileiro. Em 1967 e 1968, com a seleção nas mãos de Aymoré Moreira o panorama seguiu inalterado. O ciclo do técnico campeão mundial em 1962, no Chile, chegou ao final após um 3 x 3 com a Iugoslávia, no Maracanã, em 17 de dezembro de 1968. No jogo seguinte, dois dias depois, a seleção já estava sob o comando de Yustrich, que a dirigiu apenas naquela partida.
A chegada de Saldanha acabou com a indefinição. Já na coletiva que confirmou sua contratação, anunciou que tinha um time-base que só seria alterado em caso de contusão – e não o revelou no mesmo dia pois preferiu conversar primeiro com os jogadores. Em 7 de abril daquele ano, o Brasil veria o 11 em ação contra o Peru, com Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Dirceu Lopes, Pelé (Edu) e Tostão. Vitória por 2 x 1 no antigo Beira-Rio, com gols de Jairzinho e Gerson.
Dois dias depois, já no Maracanã, outra vitória sobre os peruanos, desta vez por 3 x 2, gols de Pelé, Tostão e Edu, com o Brasil alinhando Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza e Gérson; Jairzinho, Dirceu Lopes, Pelé e Tostão. Saldanha apenas mexeu diferente no time durante o jogo, colocando Joel Camargo no lugar de Piazza, Edu no de Dirceu Lopes e Paulo Cézar Caju na vaga de Tostão.
Em 12 de junho, contra a campeã mundial Inglaterra, Saldanha mexeu pela primeira vez no seu 11. Escalou Gylmar para sua despedida da seleção ao lado de Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu, com Paulo Cézar Caju substituindo o ponteiro esquerdo. Vitória por 2 x 1 sobre os ingleses, com gols de Jairzinho e Gerson. Do meio para frente, quase todos seriam titulares do time campeão do mundo um ano depois.
Julho de 1969 foi usado por Saldanha para dar polimento ao selecionado. Vitórias tranquilas sobre o Bahia (4 x 0) e sobre as seleções de Sergipe (8 x 2) e Pernambuco (6 x 1). Félix voltou ao gol e Clodoaldo só não jogou contra os pernambucanos, cedendo a vaga a Piazza. Entre os reservas, Saldanha testou o goleiro Cláudio, os laterais Zé Maria (direita) e Everaldo (esquerda), Rivellino como meia e Paulo Borges no ataque, além de Caju, o 12° jogador do time.
O 11 de Saldanha estava na ponta dos cascos para as eliminatórias. Mas isso é assunto para outro texto.
A FALÁCIA DA COPA DO MUNDO DE 1978
por Luis Filipe Chateaubriand
Muitas vezes, o fato de historicamente o futebol brasileiro ser dos melhores do mundo dota a torcida brasileira de uma arrogância que não faz sentido.
É como se tivéssemos saído do “complexo de vira latas” de Nelson Rodrigues para a auto suficiência dos pavões.
Um exemplo disso é nossa justificativa para não termos vencido a Copa do Mundo de 1978: fomos roubados!
O raciocínio é simples, ou melhor, simplista: a Argentina só foi à final de uma Copa do Mundo realizada na Argentina porque meteu 6 x 0 no Peru, que se vendeu.
Não há provas que o Peru se vendeu, mas é provável, com efeito, que tenha se vendido. Mas não foi por isso que a Argentina foi à final da Copa, no lugar do Brasil…
O real motivo que o Brasil deixou de ir à final da Copa foi que, quando jogou com a Argentina, não venceu o jogo.
Tivesse vencido da Argentina, quando jogou com a anfitriã da Copa, iria à final, no lugar desta.
O capitão Cláudio Coutinho, excelente treinador, cometeu o erro de achar que o empate com os argentinos seria bom resultado. E, assim, escalou o defensivo Chicão no lugar do ofensivo Toninho Cerezo.
Conseguiu o empate que queria – e foi exatamente esse empate, e não a pretensa armação de “hermanos” e peruanos, que nos tirou da final.
É bem verdade que o Brasil jogou melhor que a Argentina. Poderia ter vencido, mas o brilhante goleiro Fillol foi extremamente feliz ao defender chutes na cara do gol de “Búfalo” Gil e de Roberto Dinamite (dois, mas um impedido), além de um chute de longe de Zico.
Em resumo, o Brasil não foi à final porque não teve competência para vencer a Argentina. Mas, arrogantes que somos, não admitimos isso, preferimos acreditar que não chegamos à final porque fomos “garfados”.
Como a garotada costuma dizer, é muito mimimi!
Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais 40 anos e é estudioso do calendário do futebol brasileiro e do futebol europeu. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.
CAMISA DO OURO PRETO
por Tazio de Carvalho
Me chamo Tazio de Carvalho e sou filho do Augusto Brandão de Carvalho. Durante muitos anos meu pai foi conhecido nas areais de Copacabana como Gugu ou Brandão. Atuou no Ouro Preto, um dos times mais tradicionais da época de futebol de praia nos anos 50. Mais tarde ele jogou pelo Radar, outro time famoso de Copa.
Pelo Radar, conheci alguns dos amigos dele: Tininho, Cesar Humberto, Paulo Amaral, Sansão, todos do Lido (local de encontro).
Meu pai, meus tios e os amigos dele sempre comentavam a técnica apurada que ele tinha, jogava com as duas pernas e era habilidoso. Meio campista clássico, Camisa 8.
Guardo há mais de 50 anos a camisa que ele vestiu e honrou, pois o Ouro Preto era temido por outros times. Gostavam de brigas. Tininho (jogador), o Paulo Amaral e o Sansão eram os seguranças. Estes viviam brigando. Assim contavam eles.
Guardo até hoje em casa algumas fotos ou notícias da época. Também tenho uma camisa com mais de 60 anos do time TAP 2 (Turma das Antigas do Posto 2), cujo o símbolo é uma garrafa de Pitu (cachaça). O time também era conhecido como “Tomamos Pinga Toda”. São relíquias que guardo para o resto da vida.
No poster do Ouro Preto, o meu pai é o primeiro ao lado esquerdo do Goleiro. Nesta foto, Tininho está em cima (segundo) e o Humberto no meio agachado.
Desde já agradeço a oportunidade de mostrar esta bela camisa.
Muito obrigado!
PUNIÇÃO PELO DESRESPEITO
por Marcos Eduardo Neves
O árbitro francês não puniu Neymar pela lambreta. Nem pelo cabelo ridículo. Puniu pelo desrespeito. Não ao zagueiro que levou o drible. E sim a ele próprio.
Como bem escreveu em seu blog o ex-árbitro Péricles Bassols, a autoridade máxima em campo deve ter percebido nas quatro linhas algo que vai além ao que os espectadores veem. Provavelmente alertou o atacante brasileiro quanto ao que suas atitudes poderiam vir a acarretar.
Óbvio que Neymar recebe muita pancada o jogo todo. Cabe ao árbitro punir os infratores. Assim como cabe a ele conduzir a partida para que ela termine bem. Acredito que o “conselho” que deu a Neymar se encaixe mais por aí.
O fato é que foi graças a esse cartão que Neymar chamou a atenção neste fim de semana. Não foi pela lambreta mal executada. Foi graças à atitude desrespeitosa que ele gerou toda essa mídia novamente em torno do seu nome. E, assim, fez o mundo conhecer seu novo penteado, essa crina estilo “Priscilla, A Rainha do Deserto”. Parabéns, meninão Peter Pan que se recusa a crescer. Você continua o mesmo.
O FUTEBOL VOLTOU PARA CASA
por Serginho 5Bocas
Faço parte, com muita honra, de uma geração de nascidos e crescidos numa época de ouro do futebol brasileiro. Cresci ouvindo os mais velhos falando maravilhas das equipes vencedoras das Copas do Mundo de 58, de 62 e principalmente da seleção de 70, aquela que foi espetacular, por apresentar beleza e eficiência numa rara e talvez única combinação perfeita de futebol arte, comandada tecnicamente pelo Rei do futebol.
Vale destacar nesta introdução, que houve uma importante influência do húngaro Bela Gutman na forma de jogar do esquadrão brasileiro de 1958, que fora comandado pelo seu ex-auxiliar técnico no São Paulo, Vicente Feola, já que juntos venceram o campeonato paulista de 1957, quando introduziu o 4-2-4 no Brasil, que era um esquema altamente ofensivo e que ajudou os brasileiros a abrirem contagem nos títulos mundiais e deu fim em nosso famigerado complexo de “vira-latas”, salve Bela Gutman!
Depois, fui testemunha ocular da mágica seleção de 1982, comandada pelo mestre Telê Santana, que se orientava pela exaustão nos fundamentos e na busca da perfeição técnica dos craques em busca da coletividade e que traduzia com os pés o verdadeiro sentido do futebol arte. Para se ter uma ideia de como aquela banda tocava, Sócrates, que fora capitão daquela turma, dizia que era um tesão jogar com aqueles caras, para todo lado que ele olhava, tinha uma fera para trocar passes e criar coisa boa, muito boa, deixaram saudades com suas cinco partidas de enciclopédia no verão espanhol.
Depois deste breve período de fantasia, o futebol brasileiro começou a passar por uma série de transformações que não fizeram bem para os torcedores, clubes, jogadores e para a nossa própria seleção. Mesmo vencendo dois mundiais (1994 e 2002), não éramos mais os “outliers”, o ponto fora da curva, agora vencíamos de forma diferente do habitual, com muito mais transpiração do que inspiração, parecendo muito com os outros vencedores que a gente tanto desdenhava e que agora, por ironia do destino é nosso “benchmark”.
Passamos a ouvir que esse negócio de futebol arte é utopia da cabeça de um monte de velhos saudosistas. Que jogar com um cabeça-de-área ou volante mais técnico era suicídio, que fazer 1.000 gols na carreira é coisa da época que se amarrava cachorro com linguiça, que dribles eram provocações desnecessárias e a pior de todas, que gol era um detalhe, putz! Tudo passa! O tempo é o melhor remédio, apesar da turma de pessimistas de plantão que adora exaltar o fim do mundo, o futebol nunca deixou de dar algum ar da sua graça isoladamente e foi dando mesmo que a conta gotas.
Maradona genial e a efêmera Dinamáquina marcaram na Copa de 86, Roger Milla comandou uma revolução alegre com a seleção de camarões na Copa de 1990, o São Paulo de Telê recuperou a auto estima do mestre e do nosso futebol de tão belo e vencedor que foi, o Palmeiras de 1996 que apesar de sua passagem fugaz de tão breve que foi, deu show no paulistão daquele ano, fazendo tantos gols com tanta frequência e apetite que lembrou o Santos de Pelé. Romário e Bebeto na Copa de 1994 foi como uma colherzinha de leite num copo de café de tão ralinho, mas bão demais e Ronaldo Fenômeno em 1998 atropelando os holandeses e em 2002, feito uma ave fênix renascendo das cinzas, nos davam bons sinais de vida inteligente. Ronaldinho Gaúcho, o bruxo, brincou de gastar a bola e de se divertir sem deixar de ser vencedor, sobrava na turma, mas ainda faltava alguma coisa e aos poucos o futebol, com a valentia de alguns raros representantes, foram colocando os pingos nos “is”.
Romário fez 1.000 gols ou quase disso, não importa, mostrando que fazer muitos gols não dependia da época, mas sim da capacidade rara de colocar a bola para dentro da rede amiúde. Messi com seus dribles e mudanças inesperadas de rotas em alta velocidade, foram nos anestesiando e mostrando que o drible pode ser lindo, objetivo sem ser desnecessário.
Mas aí veio a cereja do bolo, o Barcelona com o sistema Pep de Guardiola que em 2011 fez uma verdadeira ruptura daquilo que estávamos acostumados a pensar que era futebol. Enterrou as ideias preconizadas de futebol de resultados, propaladas aos quatro cantos do mundo por gente como Bearzot, Billardo, Parreira, Ayme Jacquet, Felipão, Marcelo Lipi e o grande mestre de todos os retranqueiros, o bem arrumado e midiático, mais conhecido como “the special one”, o português José Mourinho, em suma, o ex-jogador espanhol quebrou tudo e fez chover, desmascarando a farsa montada ao longo dos anos por vários campeões mundiais.
Guardiola fez um enorme bem ao futebol. Trouxe de volta a vitória com qualidade, com arte, com posse de bola e beleza. Nos mostrou um meio de campo sem trogloditas, com apenas um cabeça-de-área(Busquet) e 2 baixinhos habilidosos e geniais (Xavi e Iniesta) e um ataque com 3 jogadores que tinha até “pontas” e Messi, arruinando as defesas com suas jogadas e gols extraterrestres, quanta heresia! A marcação foi para o campo do adversário de forma sufocante até a bola ser deles de novo, a zaga saia jogando de pé em pé sem chutão ou ligações diretas com o ataque, o meio pensando o jogo e muitos gols, sim, os gols voltaram a ter importância, que maravilha!
Era o “tik tak” espanhol de Pepe Guardiola e ele fez questão de explicar que na sua origem, havia sementes selecionadas da Holanda de Cruyff e da seleção brasileira de 1982, um espanto para os pessimistas.
O Barcelona fez o mundo repensar o jeito certo de jogar futebol e a Europa quase toda mudou. Quem assiste aos jogos da “Champions League”atualmente, observa que é mandatório jogar do jeito que o Barça jogava.
E o que o Brasil fez para acompanhar este movimento? Nada. Continuamos a jogar nossa bolinha que já vinha murchinha faz tempo. Lento, cheio de brucutus no meio de campo, com jogadores grandões e com seus treinadores com discurso pronto, enfadonho e desalentador, se afastando cada vez mais do futebol de primeiro mundo. Para se ter uma ideia é comum ver nas transmissões da tv do nosso futebol, zagueiros e torcedores vibrando com um carrinho que joga a bola e o jogador pela linha de fundo até o alambrado e deixa pra lá de imundo o calção do marcador, quer mais pobreza do que isso?
Até que o português Jorge Jesus desembarcou por aqui e fez uma revolução sem precedentes. Antes de tudo quero lembrar que fiz críticas a ele quando escalou o Rafinha no meio de campo contra o Emelec e o manteve na partida quando tudo indicava que o melhor seria substitui-lo. Desnecessário e teimoso, mas tenho que reconhecer que o cara abalou a Gávea e o futebol brasileiro, depois deste episódio.
Jorge Jesus não inventou nada do que está nos apresentando, pois como já disse, este jogo intenso, de velocidade, de toque e posse de bola, de marcação no campo de defesa do adversário e de fome de gols, ele aprendeu com a turma de Cruyff e de Guardiola, mas pelo jeito o aluno é dos bons, só faltava os insumos, que possivelmente o Benfica nunca pode fornece-lo.
Jorge Jesus encontrou sua cara metade no Flamengo e está em lua de mel com a torcida. Possivelmente nunca teve nas mãos um elenco com tanta qualidade técnica, altruísmo e sangue nos olhos. O Flamengo em menos de seis meses, mudou da água para o vinho e vai fazer o futebol brasileiro repensar o seu modo de jogar, o cara balançou as estruturas, seus números comprovam.
Os seus críticos mais amargos irão dizer que ele não é essa “coca-cola” toda e que só conseguiu essas proezas porque recebeu nas mãos um elenco recheado de ótimos jogadores, mas como explicar o jogo feio de seus antecessores e até mesmo de seus pares no campeonato em curso, que com raríssimas exceções, não conseguem mostrar a predileção do português pelo futebol intenso, ofensivo e com “fome” de gols, isso ele não recebeu de ninguém.
O DNA do Flamengo é de atacar, sua torcida magnética não aguenta retrancas, mesmo que traga títulos. Jorge Jesus foi muito feliz em encontrar este ambiente favorável e soube como ninguém implantar suas ideias e conceitos.
No brasileiro de 2019 ele venceu e bateu vários recordes históricos de performance, na libertadores da américa que ele conquistou contra o River Plate nos presenteou com outra vertente. O Flamengo teve sérias dificuldades contra um time que marca como se fosse a última partida do mundo. Galhardo deve ter rezado e decorado a cartilha de Simeone do Atlético de Madrid, pois fez seus jogadores se multiplicarem, parecem brotar da grama ou que são 15, 16 jogadores contra os 11 do adversário. Esta filosofia quase anulou o ataque fortíssimo do Flamengo, foi por pouco, para ser mais exato por 6 ou 7 minutos. Somente a persistência, o sangue nos olhos e a qualidade dos atacantes do Flamengo poderiam reverter aquela situação angustiante e o fizeram, da forma mais dramática possível, quase enfartando uma legião de torcedores.
Contra o Liverpool, na final do mundial, foi outro capítulo marcante de sua bela história, pois encontrou pela frente, um time de muita qualidade, força e acostumado a jogos decisivos. Foram eles que contra o Barcelona de Messi na semifinal da “Champions league” do último ano, reverteram uma situação que parecia sem solução, viraram um 3×0 sem a presença de Salah e Firmino, muito parecido com a forma que o Flamengo se comportou e venceu o jogo contra o River Plate.
O placar final foi a vitória do Liverpool por 1×0, que não foi surpresa para ninguém. Surpresa mesmo foi o Flamengo ter chance de vencer o jogo sem ter que prostituir sua forma de jogar, fruto das ideias do português Jorge Jesus que introduziu em apenas 6 meses no clube, uma mentalidade vencedora e ofensiva.
Encarar um time milionário, campeão europeu, recheado de estrelas internacionais, treinado há anos pelo mesmo treinador e estando em final de temporada quando o desgaste dos jogadores é muito grande, não é coisa para amadores. Vale lembrar que foi a reedição da final de 1981, quando eles só tinham ingleses e escoceses em campo, mas já se achavam, pois na versão conhecida agora e pra lá de “interessante” dos ingleses, eles estavam bêbados e sem tesão para jogar. Quem tem dinheiro, também conta história, mas toca o enterro.
Ao término da partida, concluiu-se que qualquer um poderia ter vencido apesar da ligeira vantagem dos ingleses em chances reais de gols e que o bicho papão não era tão feio. A magnética cantou muito a paródia da bela canção de Kiko Zambianki, tentando empurrar seu time, mas faltou gol para vencer, simples assim, pois posse de bola sozinha não ganha jogo.
De Bela Gutman a Jorge Jesus muita coisa mudou, mas não a essência de quem aprecia o bom futebol e tem coragem, pois isto é intrínseco as pessoas inteligentes e de bom gosto, seja lá de qual segmento profissional elas estejam inseridas, o legal desta historia toda é que finalmente o futebol voltou para casa dos brasileiros pelas mãos de um português.
Salve Jesus!
Um forte abraço
Serginho 5Bocas










