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OS CLUBES DE FUTEBOL NO CONTEXTO OLÍMPICO

por Idel Halfen


Os que acompanham as modalidades olímpicas já devem ter notado que os chamados clubes de camisa – clubes notoriamente reconhecidos pela atuação no futebol – estão voltando a ter equipes participando das principais competições nacionais. 

Como já foi escrito no artigo Esportes Olímpicos como extensão de marca–  http://halfen-mktsport.blogspot.com/2013/10/esportes-olimpicos-como-extensao-da.html, tal tipo de iniciativa seria em teoria uma excelente oportunidade para atrair torcedores, pois os clubes se aproveitariam do conceito de extensão da marca para angariar novos simpatizantes. 

A prática, no entanto, não tem correspondido às expectativas citadas no artigo, o que pode ter como causas: (i) as dificuldades de os clubes explorarem todo o potencial das modalidades; (ii) a forte influência do futebol e de seus torcedores apaixonados que acabam não dando espaço para um novo público; (iii) a própria carência de aculturamento da população em relação aos esportes olímpicos; (iv) a pequena divulgação das modalidades; (v) um misto destas opções.

Além disso, é preciso considerar que o futebol é o principal gerador de receitas da instituição, sendo natural que ele venha a demandar maiores investimentos, o que acarreta em menos verbas para as equipes de esportes olímpicos e, consequentemente, desempenhos, na maioria das vezes, mais modestos – fato que gera insatisfação e desinteresse nos potenciais fãs. 

Por outro lado, não podemos esquecer que estes clubes têm forte parcela de participação na formação de atletas.


Todos estes pontos nos levam ao seguinte questionamento: qual deve ser a efetiva participação dos clubes de futebol nos esportes olímpicos coletivos?
De forma proposital todo o racional aqui desenvolvido não abrange os esportes individuais por entendermos que não há grande necessidade de investimentos vultuosos para a formação de uma equipe, mesmo porque não existe geralmente nenhuma obrigatoriedade no que tange à quantidade mínima de atletas. 

A título de provocar uma reflexão sobre o problema seria interessante avaliar a possibilidade destes clubes participarem exclusivamente das competições voltadas às divisões de base, pois o investimento é menor, além de se conseguir manter as tradicionais rivalidades –  vitais ao esporte – em um nível racional e ponderado.

Já as competições nacionais voltadas aos adultos teriam a cidade que sedia as equipes como representante. Exemplificando: o Rio de Janeiro se constituiria como uma entidade esportiva e passaria a ter equipes de algumas modalidades olímpicas, se capacitando assim para atrair patrocinadores – eventualmente a própria prefeitura e, consequentemente, melhores jogadores.

Algo, guardadas as devidas proporções, semelhante ao modelo das ligas americanas, onde as principais cidades costumam sediar franquias que as representam e atraem público para seus jogos. 


Nesse desenho, as próprias instalações erguidas e/ou reformadas para os Jogos de 2016 poderiam ter uma utilização maior e melhor.

O argumento de que haveria uma diminuição no número de equipes disputando os campeonatos nacionais não parece coerente na medida em que essa limitação já existe, visto ser finita a quantidade de times, além do que, poderiam ser criadas ligas intermediárias para o aproveitamento dos atletas que não são demandados naquele momento pelas equipes que disputam as competições principais. 

Se as ideias aqui contidas são viáveis só um estudo mais aprofundado poderá dizer, contudo, creio que valha desenvolver projetos que supram as carências de formação, que não deixem os clubes de futebol distantes dos seus objetivos e que permitam formatar as competições de modalidades olímpicas como um produto desejado e rentável.

DESABAFO DA BOLA

por Rubens Lemos


Ela resolveu desabafar. A gordinha mais desejada do mundo em tempos idos, está sofrendo. Tratada com estilo poético por homens que a correspondiam, hoje sofre pela brutalidade que domina os gramados onde exalava o aroma puro das velhas figueiras. A bola decidiu conversar e demonstrar o quanto guarda de amor para dar, sentimento reprimido em vingança aos mastodontes do futebol. Jogada à linha de fundo de um campo vazio, implora pelo romantismo de velhos parceiros de sexo ardente, dos gênios, peritos em toques eróticos que dominavam uma mulher agora amarga, quase frígida.

RLF – O que a levou à tanta tristeza?

Bola – Meu caro jornalista, que pelo andar vi que nunca jogou nada, vivo de forma vegetativa nos gramados. Há muito tempo, o prazer do sexo em quatro linhas virou pesadelo. Homens brutos, ruins no trato, me espancam no mundo inteiro. O futebol virou um jogo de gladiadores, uma arena romana sem charme. Eu estou no limite de minhas resistências físicas, emocionais e sexuais.

RLF – A senhora está dizendo que não há quem a satisfaça em seus desejos?

Bola – Somente aquele baixinho argentino, o Messi. Fico cheia de tesão só em pronunciar seu nome. Messi me trata com carinho, me seduz com seus truques mágicos, me acolhe, me toca com ternura, demonstra amor a mim. Só existe ele assim no mundo de hoje…

RLF – E Neymar?

Bola – É um pretencioso, um ganancioso, um prepotente, acha que mulher nasceu para ser objeto. Sou uma bola, feminina (cá pra nós, detesto essa onda feminista), e Neymar quer ser meu cafetão, me sequestrando para se exibir com dribles que nunca lembrarão os de Manuel Francisco.

RLF – Como era a relação com Garrincha?

Bola – Que me perdoe a Elza (Soares), mas a mulher da vida dele fui eu. Manuel me cortejava, dizia que durante o baile do jogo, não me deixaria dançar com mais ninguém. Me driblava, me sorria, corríamos juntos naquele voo terrestre de passarinho feliz que ele era. No amor, Manuel me cativava e me levava a espasmos deliciosos.

RLF – E com Pelé?

Bola – Uma longa história, que começa quando ele chega de Bauru para o Santos. Seu apelido era Gasolina. Um menino com olhar de pantera indomável. Me arrepio cada vez que lembro das suas carícias. Me protegia, me fazia apenas dele, humilhava os que vinham tentar me sequestrar. Vivi com ele todas as suas glórias. Até nos Estados Unidos morei. Ele é uma força da natureza, nunca surgirá outro nem parecido. Nem jogando nem me amando.

RLF – Tenho que tocar no que lhe dói. Você se diz maltratada, violentada, não há possibilidade de trégua ou reconciliação com os jogadores atuais?

Bola – Senhor jornalista, deixe de ser ingênuo, o senhor é um crédulo. Não se muda a genética. Nenhuma poção mágica fará Casemiro, um dos agressores, ganhar algo de técnica no meu manejo. Ali, por onde circulam, em vão, Casemiros e Fernandinhos, fui tratada como lady por Paulo Roberto Falcão, Dino Sani, Zito, Clodoaldo, Cerezo (quando não tremia em Copa do Mundo), Carlos Alberto Pintinho, Carpegiani e Andrade. Veja a diferença, jornalista!

RLF – De quem é a culpa por deixá-la tão melancólica?

Bola – Dos dirigentes, que acabaram o futebol nas bases. Gente, menino de 7,8 anos não é para cumprir função tática. É para brincar de jogar até descobrir sua vocação. Os técnicos devem ser ex-jogadores. Como alguém que sequer me domina em dois toques de embaixadinha, pode ensinar a outro?

RLF – Para finalizar, você tem esperança em sair desse banzo?

Bola – Sinceramente, não. Me sinto desprezada, sem importância. Vou atrapalhando ao máximo aqueles sem habilidade, que me machucam nos seus chutões. Aos craques, se houvessem, diria: “a vocês, sou dessas mulheres que só dizem sim. “

A IRRITANTE OBRIGAÇÃO DE DIZER O ÓBVIO

por Israel Cayo Campos


“Se a raça humana sobreviveu até hoje, foi graças a sua ineficiência.” Bertrand Russell. 

É complicado construir um texto sobre algo que me parece óbvio condenar, e se para mim parece óbvio, consequentemente presumo que para todas as sociedades humanas! Entretanto, o racismo e a xenofobia são temas que cada vez mais crescem no mundo inteiro. E consequentemente no futebol! Afinal, jogadores, torcedores e dirigentes não vieram da Lua (frase usada pelo mestre Saldanha) e por isso mesmo são uma parte dessa sociedade cada vez mais corrompida e doentia em que vivemos! 

O caso mais recente ocorreu na rodada do final de semana (dias 09 e 10 de novembro) do possante campeonato ucraniano. Os brasileiros Taison e Dentinho, jogadores do Shakhtar Donetsk sofreram ofensas racistas por parte da torcida do seu arquirrival, o Dynamo de Kiev no clássico disputado entre as duas equipes na casa do Dynamo. 

Taison, já no limite do que um ser humano pode aguentar, chutou a bola contra a torcida do Dynamo e estirou o dedo do meio em riste para a mesma. Acabou sendo expulso de campo! Os dois brasileiros deixaram o estádio em prantos. Na Ucrânia, ninguém parece ter achado nada demais. Afinal, as vítimas foram punidas! 

Franklin Foer em seu famoso livro “Como o futebol explica o mundo” de 2005, conta em seu capítulo intitulado “Os negros dos Cárpatos”, o como incomodam jogadores de pele negra não só os torcedores adversários na Ucrânia. Como também os jogadores dos próprios clubes que contratam esses jogadores! 

Ou seja, não há nada de novo! Talvez o que ocorra é uma potencialização de tais situações devido ao avanço das comunicações e das redes sociais! O que é um papel importante delas. 

Situações como essas vamos cansar de contar na história do futebol brasileiro e mundial: Dos uruguaios bicampeões olímpicos, Do pó de arroz do Fluminense, da luta do Vasco da Gama contra a federação carioca que não queria inserir negros no futebol, passando pela história de Barbosa e os goleiros negros, dos argentinos e uruguaios e suas piadas sobre os brasileiros serem “macaquitos”, do regime nazista e fascista no futebol, dos torcedores europeus imitando som de macacos, de torcedores brasileiros também tendo a mesma atitude para jogadores negros de nosso país… São tantas histórias que simplesmente se cada uma fosse narrada em detalhes dariam um livro de crônicas sobre o racismo no esporte. 

Vale lembrar, que associado ao racismo, as últimas décadas trazem um fenômeno intitulado xenofobia, que nada mais é do que a aversão de um povo nativo, a aquele que passa a conviver consigo em seu território! 

A França multiétnica do “Branco, Negro e Árabe”, que todos aplaudem na vitória, é o maior exemplo desse processo! Principalmente quando o país não vai bem em Copas do Mundo! Os ataques sempre sobram para a parte negra e árabe desse conceito multiétnico! Infelizmente só vemos as notícias boas de determinados locais! E nos alienamos achando que esses são os locais mais democráticos e respeitosos do planeta! 

Aqui já tivemos situações similares, nos anos 1990, vimos um ídolo de um clube ofender os nordestinos com alegações jocosas como “Um paraíba veio nos prejudicar na Paraíba”, sendo que o jogo nem era apitado por um paraibano, nem disputado no estado da Paraíba. Acho que todos sabem de quem estou falando! 

Um dos maiores gênios da humanidade, o renomado físico e astrônomo Carl Sagan entendia que a territorialidade existente nos esportes, era um mecanismo do homem primitivo. Que assim como seus primos genéticos, os chimpanzés, os seres humanos eram dotados de um forte senso territorial, e o esporte era uma forma de extravasar esse senso diante das “tribos inimigas”. 

Com certeza, uma explicação de caráter científico respeitável, mas que descarta o fato que mesmo dotados de tamanha “animalidade”, ainda possuímos a capacidade de refletir sobre nossas atitudes! 

Mas se formos enunciar cada um dos casos de racismo e xenofobia referentes apenas aos últimos 20 anos, dá para fazer um livro, ou até uma coletânea de crônicas. Vamos nos ater a um recorte menor, o ano de 2019! Que ainda não acabou, mas que já passou dos limites no tocante a racismo e xenofobia nos gramados mundiais! 

Separamos cinco casos importantes no Brasil e no exterior:

01 – Balotelli: O maior exemplo de quando racismo e xenofobia se unem! 


Balotelli é um atacante que dispensa apresentações. Quase veio atuar com a camisa do Flamengo este ano. Já figurou pelos grandes clubes da Itália, foi artilheiro, já defendeu a Seleção de seu país, mas parece nunca ter entrado na “goela” dos torcedores italianos. Principalmente aqueles conhecidos como ultras! 

Vale lembrar, que desde os anos 1990, ouvíamos jogadores como Cafú, Marcos Assunção, Aldair e Emerson da Roma, sofrerem injurias raciais na Itália! Principalmente dos torcedores da Lazio. Time que talvez tenha dentre as grandes ligas do planeta, a torcida mais racista! Mas voltemos ao Balotelli. 

Em jogo disputado contra o Verona, pelo campeonato italiano, já no limite de ouvir insultos racistas do adversário, o jogador do Bréscia pegou a bola em campo e chutou contra a torcida, ameaçando sair de campo caso aqueles xingamentos não fossem encerrados! 

Convencido a ficar em campo pelos jogadores aliados e adversários, ainda marcou um gol no jogo. Mas a federação italiana sequer se pronunciou sobre o fato! 

Filho adotivo de italianos, mas com raízes ganesas, Balotelli representa o racismo que a sua pele demonstra aos olhos de qualquer um, mas também a não aceitação por parte dos torcedores de que um estrangeiro possa ser bem-sucedido no país da Bota! Inclusive sendo a esperança de gols daqueles torcedores quando vestia a camisa da Esquadra Azzurra!

Como a fase já não é a do grande centroavante que fora há alguns anos, todos os ataques xenófobos a origem do jogador passa a surgir. Como se o mesmo fosse responsável pelo péssimo momento que a seleção italiana vem tendo! Seja com jogadores nativos, ou naturalizados! 

02 – Malcom e o Zenit:


Ex-jogador do Corinthians, com boa passagem por Bordeaux da França o brasileiro que estava no time do Barcelona, mas não foi muito aproveitado na temporada passada, foi vendido ao Zenit São Petersburgo da Rússia. 

Vale lembrar que o clube situado em uma das mais belas cidades russas não aceitava jogadores negros em seu esquete até o início desse século! Tendo que engolir jogadores estrangeiros, principalmente os de origens africanas, após perder a hegemonia de títulos para times que não tinham essa política! 

Vindo por 40 milhões de euros, em seu primeiro jogo já sofreu ataques por alas mais radicais da torcida do Zenit. Até um manifesto foi assinado para que ele deixasse o clube. Para que as tradições do time de São Petersburgo fossem mantidas! E por incrível que pareça, os diretores do time resolveram minimizar tais declarações da torcida! Como se elas não fossem nada demais! É bem provável que já em janeiro, com apenas seis meses de clube, e vindo a um preço tão alto, Malcom já seja negociado! 

03 – Bulgária e Inglaterra: As lamentáveis cenas dos torcedores.


Jogo em Sófia, os Ingleses golearam a fraca seleção búlgara por seis a zero em jogo válido pelas eliminatórias da Euro 2020! Mas o que chamou atenção foram os torcedores búlgaros, que além de xingarem jogadores negros ingleses de “macacos”, também passaram a fazer gestos nazistas em ataque aos ingleses! Vale lembrar que durante a Segunda Grande Guerra, os búlgaros foram aliados da Alemanha hitlerista, e consequentemente inimigos dos ingleses! 

O jogo foi interrompido duas vezes, e o juiz ameaçou encerrar a partida faltando quatro minutos para o fim do jogo! O zagueiro inglês Mings, foi o mais atacado! Mas os próprios jogadores ingleses decidiram permanecer até o final, mostrando dentro de campo, assim como seus compatriotas mostraram durante o maior conflito armado da história, quem eram os melhores e quem estavam com a razão! 

A Inglaterra se classificou, a Bulgária está praticamente fora, e a discussão foi parar entre os primeiros ministros de ambos os países tendo a UEFA como intermediadora, e lavando as mãos sobre o caso.

Apenas a cabeça do presidente da federação búlgara rolou…, mas nada mais aconteceu no tocante a medidas severas! 

04 – De volta a Itália, quando o seu próprio torcedor justifica o racismo do adversário! 

O jogo é entre Cagliari e Internazionale pelo campeonato italiano. Os torcedores do clube da Sardenha passam a ofender com cânticos racistas, o jogador da Inter, o Belga com raízes congolesas, Lukaku! A Itália está um caso sério! Mas isso não foi o pior! 

O pior foi os torcedores organizados da Inter, defenderem os torcedores do Cagliari em detrimento de seu próprio jogador! Sim, os torcedores da Inter defenderam o racismo contra seu próprio jogador alegando que na Itália atitudes racistas eram apenas para desestabilizar o adversário!

Seria patético se não fosse trágico!

Mas como tudo tem uma intenção, é óbvio que um torcedor que justifica uma atitude desse nível contra seu próprio clube, é porque quer ter o direito a agir da mesma forma com jogadores de outros clubes adversários! 

É a deturpação das palavras de Voltaire. Para esses ultras, eu defendo o direito de meu adversário ser racista com os jogadores do meu time, porque eu quero ter o direito de ser racista com os jogadores de outrem! 

E enquanto isso, a federação italiana de futebol, quando muito, aplica multas irrisórias para esses torcedores! 

05 – Também há no Brasil… 


Se formos citar casos recentes de racismo ocorridos no Brasil, fora os lembrados na introdução, ainda teríamos vários: O caso da torcida do Grêmio contra o então goleiro do Santos Aranha. “O planeta dos macacos”, forma pejorativa e racista com a qual a torcida do Grêmio se referia a torcida do Inter. O caso Grafite x Desabato. Danilo do Palmeiras que xingou Manoel, a época no Atlético Paranaense de Macaco e ainda cuspiu nele! O falecido capitão do tri Carlos Alberto Torres que também chamou em alto e bom som o juiz Paulo César de Oliveira de macaco. O caso Tinga e tantos outros… 

Mas como o recorte é o ano de 2019, vamos a uma bem recente, um dito torcedor do Atlético Mineiro contra os seguranças do estádio Mineirão. No último dia 10 de novembro. 

Revoltado com a atuação dos seguranças, um torcedor do clube Atlético Mineiro xinga o trabalhador de todos palavrões e em seguida dispara para o mesmo: Olha a sua cor? O segurança não se acovardou e começou a chamar o torcedor do Galo de racista. O mínimo, mas que não adiantou nada em mais uma injúria racial em nosso país.

Vale ao menos salientar a bela postura do Clube Atlético Mineiro em condenar a atitude de seu torcedor, e oferecer a justiça qualquer prova que seja necessária para que ele responda pelo crime cometido. 

O guerreiro de fim de semana (música da banda Iron Maiden que fala dos valentões dos estádios de futebol, mas que durante a semana se comportam como cidadãos de bem),  agora vai dizer que estava com a cabeça quente, que não é racista, que não queria ofender ninguém com uma injúria racial! Vai chorar, pedir perdão, é sempre assim… 

Conclusão:

O racismo no mundo todo, associado a xenofobia encontrou nos estádios de futebol uns de seus últimos redutos. Um local onde por trás de outras pessoas escondidas atrás de coros enormes, podem manifestar todo o atraso intelectual que possuem! 

E por mais que seja uma atitude condenável em qualquer cultura, enquanto os nacionalismos existirem, o racismo e ataques xenofóbicos serão justificados por idealismos de um mundo que já não existe mais, a não ser nesses redutos de incoerência. 

Ou seja, esperar que a federação ucraniana vá fazer algo realmente grave ao Dynamo de Kiev pelos torcedores que possui é puro devaneio! Assim como esperar que a Federação Russa puna o Zenit por seus torcedores aceitarem jogadores negros! Ou que a federação italiana puna os clubes do próprio torneio que montou é puro conto de fadas! Essas federações não vão estragar seus próprios campeonatos!  

Os principais responsáveis por atitudes que vão acabar com o racismo nos gramados são as grandes instituições continentais, tais como a UEFA e CONMEBOL, que pouco parecem querer resolver algo, e a FIFA.

Essa última que adora fazer vídeos, e programas contra o racismo no mundo, mas que na hora que encara o problema de frente, simplesmente ignora os fatos! Multinhas e perca de mando de um ou dois jogos de nada adiantam! 

É só lembrar o que a UEFA fez a alguns anos com o Hooliganismo inglês. Tirou todos os clubes de suas competições internacionais até que o problema foi resolvido. E foi! Tirar pontos dos clubes! Eliminá-los de competições de projeção mundial, multas severas aos clubes. Tais atitudes podem ser bem mais úteis do que um vídeo onde um jogador branco dá a mão a um jogador negro! 

Chega de racismo e xenofobia, sejam elas dentro ou fora de campo! Que o futebol pare de ser estragado por esse tipo de pessoas. Que elas voltam a idade média, cronologia que vos pertencem. Infelizmente, sendo realista, essa batalha ainda está muito longe de chegar ao seu final! Mas havemos de vencer!  

 

 

MEDO DE GOLEADA

por Rubens Lemos


Fantasmas me metem medo. Evito andar sozinho em cemitérios, igrejas e teatros antigos, abrigo das almas penadas. Medo eu também tenho do que é vivo. Sobretudo de gente. Gente falsa, dissimulada e puxa-saco.

Sou vascaíno desde 1977, quando Roberto Dinamite bateu o pênalti decisivo certeiro e deu o título carioca ao cruzmaltino, após sete anos de jejum. O Vasco fora campeão em 1970, ano em que nasci e começava a padecer com a geração de Zico!

Mesmo nos meus primeiros tempos amando o Vasco, jogávamos com o esquadrão muito superior do Flamengo. Se eles tinham Andrade, Adílio e Zico, das melhores meiúcas da história da bola, apresentávamos Zandonaide, Peribaldo, Ticão, Paulo Roberto Brasinha e Toninho Vanusa, homens terríveis e incapazes até do brilho efêmero.

Roberto, o artilheiro do sorriso triste, era nossa esperança. Roberto Dinamite sozinho, arrancando de fora da área, fez gols heroicos, assegurando, memória seletiva, uma vitória de 4×2 sobre o Flamengo. Vencemos várias com o timbre de Dinamite.

Tínhamos três jogadores de seleção: Leão no gol, Marco Antônio na lateral-esquerda e Roberto Dinamite. O Flamengo tinha o time todo.

Nos anos 1980, quebramos o tabu de vice em 1982 ganhando deles e apresentando ao país um dos seus estupendos goleiros, Acácio, que defendeu bolas impossíveis em chutes de Zico, fruto de tabelinhas com Adílio ou Tita.

O Vasco recuperou-se quando a diretoria, com o presidente Antônio Soares Calçada e o diretor Eurico Miranda, passou a contratar craques e a promover juvenis talentosos. Geovani, Mazinho, Romário, Bismarck e William ganharam mais títulos que o Flamengo. O Vasco venceu em 1982/87/88 e eles ganharam em 1981 e 1986.

O Vasco transformou-se em timeco no século 2000, com dois rebaixamentos à Série B e glórias de gozo precoce. Deixou de ser tratado como grande para se tornar depósito de pernas de pau.

Quem é o craque do Vasco? A referência? O cara que diz “joga a bola em mim que eu resolvo”? Ninguém. O Vasco está falido financeiramente e perdeu o princípio da honra e do orgulho dos seus milhões de torcedores.

Hoje, quarta-feira, tem Vasco x Flamengo pelo Campeonato Brasileiro. O Vasco, na bacia das almas, chegou a 42 pontos. Revolucionário neste futebol sadomasô do Brasil, o Flamengo vem atropelando quem se apresenta e soma 77 pontos, uma humilhação na vascainada.

No primeiro turno, foi 4×1 para o Flamengo, fora o baile. Agora, engrenado, o rubro-negro é um raro prazer para quem gosta de futebol bonito. No seu meio-campo, um meia extraordinário que faz jus ao nome: Gerson. Sabe tudo.

O Flamengo, se quisesse, venceria a seleção de Tite. É bem superior. Por isso que hoje, macaco velho passado na casca do alho, vou ler e dormir na hora da partida. O fantasma me atormenta e pode botar o Vasco na roda. Eu tenho medo do Flamengo. Do Vasco eu tenho piedade. Sacrifício, sofrimento. É o que espera o Almirante, Heroico Português.

O REI DE TURIM

por Israel Cayo Campos


O dia 9 de novembro é mais do que especial para os torcedores da Juventus de Turim. É o aniversário daquele que eles mesmos dizem ser o maior jogador da história da Velha Senhora, Alessandro Del Piero. 

O garoto técnico, rápido e goleador começou sua carreira pelo pequeno Padova, mas chamou atenção do técnico Giovanni Trapattoni. E logo em seu terceiro ano como profissional, chegou ao maior time da Itália como uma promessa, que iria se cumprir! 

Ótimo cobrador de faltas (foram 53 gols oficiais na carreira), “Ale” já era titular da Juventus em 1994 sob o comando de Marcelo Lippi. Tão jovem e já um dos principais nomes do maior time do país, Del Piero chamou atenção do técnico da Esquadra Azzurra Cesare Maldini. Já em 1995 ele era jogador frequente nas convocações da seleção de seu país. 

Com a saída de Roberto Baggio para o Milan na janela de transferências de 1995, outro sonho de Del Piero se realizava, vestir a camisa 10 da Juventus. A mesma camisa que antes fora usada por Roberto e pelo ídolo francês Michel Platini. E parece que o número deu sorte. Logo na temporada 95/96, Del Piero foi o principal nome da Juventus que conquistou em cima do Ajax o título da Champions League. Ale foi eleito o melhor jogador da competição! 

Contudo, se sua carreira estava em ascensão na Juve, que ainda em 1996 ganhara a Supercopa da UEFA e o Mundial de Clubes sobre o River Plate, ambos os títulos com gols decisivos de Del Piero, a seleção italiana que defendeu na Eurocopa de 1996 fora um fiasco, sequer passando da primeira fase da competição. 

Em 1997, “Ale” teve uma ótima temporada, conquistando seu segundo scudetto com a Juventus, além de levar o time a final da Champions League pelo segundo ano consecutivo. Só que dessa vez vindo de lesão, mesmo marcando um gol na final, Del Piero não conseguiu levar a Juventus ao título, ficando com o vice-campeonato para o Borussia Dortmund, que jogaria o Mundial Interclubes daquele ano contra o Cruzeiro de Minas Gerais. Mas no final, o saldo era mais uma vez positivo. Del Piero aquela altura já fizera os torcedores da Juventus esquecerem Robbie Baggio, e muitos até de Michel Platini. Que para muitos era o maior jogador da Juve em todos os tempos! 


No ano seguinte, Del Piero, também notabilizado por ser um ótimo assistente recebeu a companhia de Zinedine Zidane. Com isso passou a jogar com menos obrigações táticas, como um segundo atacante, e com isso sua média de gols cresceu ainda mais, sendo artilheiro do time e campeão do campeonato italiano e artilheiro máximo da Champions de 1998 com 11 gols. Mas infelizmente, mais uma vez a Juventus ficaria com o vice do torneio continental, dessa vez perdendo a final pelo placar mínimo para o Real Madrid, que enfrentaria o Vasco no Mundial Interclubes daquele ano! 

Além da derrota, a final contra o Real Madrid lhe trouxe uma contusão que o fez ir a Copa do Mundo da França fora de suas condições técnicas ideais. Com isso passou a maior parte do tempo no banco de Roberto Baggio, e quando entrou, mesmo sendo uma das principais expectativas do torneio, não correspondeu. 

Os anos seguintes foram de poucos gols, muitas lesões e muitas críticas por parte da imprensa ao seu futebol. Dada as duas derrotas em finais de Champions seguidas, e a péssima atuação com a Seleção Italiana no Mundial de 1998, “Delpi” começou a ser visto como um jogador pipoqueiro em jogos grandes, principalmente finais! Não é só a imprensa brasileira que gosta de rotular seus atletas! 

Em 2000, Del Piero tinha uma nova chance de calar seus críticos. Recuperado das lesões e cada vez mais livre de obrigações táticas, ele fora convocado para a Euro daquele ano, compondo uma das mais fortes seleções italianas dos últimos 20 anos. 

A Itália fez uma boa campanha chegando até a final, mas o estigma do vice novamente pegou Del Piero e os demais, perdendo o título para os franceses (que eram atuais campeões do mundo!) de virada, com direito a “gol de ouro” de David Trezeguét. Apesar do bom futebol desempenhado no torneio, “Delpi” continuou sendo a “bola da vez” para seus críticos. 

Em 2002, já com Trezeguét ao seu lado, Del Piero recuperou seu bom futebol e conquistou mais um título italiano. Dessa vez um ponto a frente da Roma de Francesco Totti. Sempre com muitas assistências, dribles desconcertantes e belos gols. Quando chegara a hora da Seleção italiana disputar o mundial de 2002, no Japão e na Coréia do Sul, havia um clamor popular para que Totti e Del Piero jogassem juntos no time titular da Azzurra. 

Todavia, o técnico Trapattoni, aquele mesmo que trouxe Del Piero para a Juventus do Padova, acreditava que ambos ocupavam o mesmo espaço no campo, e só um dos dois jogadores poderia ser titular. 

Sua escolha foi por Totti, que assim como o restante de sua equipe, acabou fazendo uma Copa do Mundo irregular. Sendo a Itália eliminada nas oitavas de final para os anfitriões Sul-coreanos! Com direito a expulsão de Totti e erros de arbitragem esdrúxulos!  


Del Piero teve apenas uma participação importante naquela Copa do Mundo, o gol sofrido de cabeça, que deu o empate contra o México e acabou por evitar um vexame ainda maior, a eliminação italiana na fase de grupos daquela Copa! 

No ano seguinte, mais um Scudetto para a Juventus tendo Del Piero como protagonista, mas novamente o time chegava a uma final de Liga dos Campeões e perdia! Dessa vez para o arquirrival Milan. Numa disputa de pênaltis onde se destacou o goleiro brasileiro Dida, que defendia o time vermelho e preto! 

Se a Juventus e Del Piero eram soberanos dentro da Itália, quando o assunto eram torneios continentais, apesar de “Delpi” ter conquistado um, a partida final virou um fantasma em sua carreira, e imprensa se aproveitava desses insucessos para usar o atacante como bode expiatório! 

Após um 2004 ruim, Fábio Capello assumiu a Juventus, trouxe o sueco Ibrahimovic, e passou a colocar Del Piero como um jogador de Segundo tempo. A tática deu certo, com Del Piero fazendo grandes atuações mesmo com menos minutos de partidas, e conquistando os campeonatos italianos de 2005 e 2006. Quando novamente, Del Piero era chamado para uma Copa do Mundo, sua terceira na carreira, que dessa vez seria disputada na Alemanha! 

Lippi, que havia sido seu técnico anterior na Juventus acabou fazendo igual a Capello, e utilizando Del Piero como um décimo segundo jogador. Graças ao forte sistema defensivo da Esquadra Azzurra, aquela Itália chegou as semifinais contra os alemães, onde em um dos jogos mais emocionantes daquele torneio, Fábio Grosso e Del Piero marcaram na prorrogação, o gol de “Ale” foi um dos mais belos do torneio. 


Na final contra a França, que fora algoz dos italianos no fim do século XX, a Itália teve um jogo tenso, empatado em um a um, e enfim vencido em uma disputa de pênaltis por 5 a 3. Com direito a Del Piero convertendo uma das cobranças. A Itália conquistava o tetracampeonato mundial depois de 24 anos e a sombra do vice para Del Piero em competições eliminatórias enfim desaparecia! Mesmo não sendo titular absoluto, o agora camisa 7 da Itália entrava para o panteão dos maiores jogadores italianos de todos os tempos! 

2006 ainda trouxe a Del Piero o gol 185 com a camisa da Juve, superando Boniperti, e se tornando o maior artilheiro da história do clube! Mas nem tudo foram flores naquele ano. Com escândalos de manipulação de resultados, a Juventus, mesmo campeã foi rebaixada a segunda divisão do Calcio. Com isso, a maioria das estrelas do clube saíram. Alguns para rivais diretos! Mas Del Piero resolveu ficar. E no ano seguinte, mesmo começando o torneio com nove pontos a menos, comandou a “Velha Senhora” ao acesso. Sendo o artilheiro da série B com 20 gols. Uma prova de amor ao clube que os torcedores de Turim jamais esquecerão! 

Os anos seguintes foram de vacas magras para a Juventus no tocante a títulos, a hegemonia agora era da Internazionale. Mas Del Piero, bem mais velho continuava a fazer grandes apresentações! 

Em 2012, a Juventus anunciava que seria a última temporada de Del Piero com a camisa do clube. Que já não vencia nada desde 2006. Mas naquela temporada de despedida Del Piero fez seu máximo e a Juventus quebrou o tabu vencendo após um jejum de seis anos mais um campeonato italiano. Em seu último jogo, a faixa de capitão, o erguimento da taça, e a sugestão de aposentadoria da camisa 10. Que o próprio Del Piero recusou que ocorresse! 


Era o coroamento do maior jogador da história da Juventus! O reconhecimento a um jogador que esteve com seu clube do coração, seguindo à risca as falas de um sacerdote no casamento: Na saúde e na doença! Realmente, a simbiose entre Del Piero e Juventus foi um casamento! 

Após sua saída da Juve, Alessandro Del Piero ainda passou, e bem! Em clubes da Austrália e Índia. Fora especulado em clubes brasileiros como Palmeiras e Flamengo, mas não há como dissociar a figura do camisa 10 com a Velha Senhora de Turim. 

Foram 705 jogos, 290 gols, e cerca de duzentas assistências com a camisa do clube de coração! Recordes difíceis de serem batidos! 

Em questão de títulos, foram oito campeonatos italianos, fora uma série B. Uma Copa da Itália, uma Liga dos Campeões, um mundial de Clubes e várias Supercopas… Além é claro da Copa do Mundo da FIFA de 2006 pela seleção italiana! 

Del Piero defendeu a Juventus por 19 anos. Feliz aniversário, REI DE TURIM!