AOS IDOSOS, RESPEITO
por Rubens Lemos
Foto: Marcelo Tabach
A seleção dos melhores jogadores do Botafogo em todos os tempos conta com 12 integrantes por excesso de talento. No imenso pôster desenhado no mural do clube, está lá o soberbo time: Manga; Carlos Alberto Torres, Sebastião Leônidas, Nilton Santos e Marinho Chagas; Gerson, Didi e Paulo César Caju; Garrincha, Jairzinho, Heleno de Freitas e Amarildo. Cristalina formação.
Destaque para o deslocamento de Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol e melhor lateral-esquerdo da história da bola para a quarta-zaga para que pudesse entrar o maior patrimônio do esporte de Natal, o lugar que menos lhe deu valor: Francisco das Chagas Marinho, morto em 2014 para quem estava e continuará dele esquecido, a imensa maioria.
Esse time do Botafogo só teria concorrente no Santos, de Pelé, Coutinho, Pepe, Zito, Dorval, Clodoaldo, Mauro Ramos de Oliveira, Mengálvio, Gilmar goleiro, Carlos Alberto Torres(entrou ainda na seleção do Fluminense), Ramos Delgado e Dalmo. Seria um clássico digno de encerrar a existência humana passando os bons para o firmamento, os falsos para o inferno acompanhando a corja geral da maldade.
Voltando ao Botafogo. Nascido em Jerônimo Monteiro(ES), Sebastião Leônidas perdeu duas Copas, a de 1966 e a de 1970. Estava em plena forma tanto numa quanto noutra. Na primeira, entrou no corte por miopia sensitiva da comissão técnica do vexame da desclassificação na primeira fase. Na segunda, o técnico Zagallo, baseado em parecer do médico Lídio Toledo, deixou-o de fora por uma suposta contusão.
Negro alto, esguio e imperativo nas imagens hoje guardadas na internet, Leônidas despontou no América do Rio de Janeiro campeão carioca de 1960, último título estadual do clube. O Botafogo foi ágil e comprou seu passe fazendo-o xerife sem violência da defesa que conquistou os campeonatos de 1967 e 1968.
Encerrada a carreira, Leônidas tornou-se técnico e foi vice-campeão brasileiro comandando o Botafogo em 1972. No ano seguinte, veio para Natal tirar o complexo de inferioridade do América sem conquistas no então novo estádio Castelão. Ganhou o Norte/Nordeste que valeu a Taça Almir de melhor campanha das duas regiões para o alvirrubro.
Leônidas é o melhor treinador da história do América de Natal pela Taça Almir e o bicampeonato de 1974 e 1975, revelando jovens como o atacante Reinaldo, o zagueiro Djalma – era titular, mas com Leônidas ganhou moral -, o ponta-direita Ronaldinho, todos vindos das categorias de base. Iguais ao meia-atacante Washington, habilidoso e fulminante artilheiro.
Para entrar no memorial da glória americana, Leônidas trouxe para Natal o lateral-direito Ivan Silva, o volante Edinho, o botinudo Paúra, o ponta Almir, o meia João Daniel. Feito principal: tornou Hélcio Jacaré um armador e atacante nivelado ao abecedista Alberi.
Em 1976, depois de perder o campeonato para o ABC, Leônidas voltou ao Botafogo de onde saía esporadicamente para treinar clubes como o Ceará, no qual também foi campeão. O Botafogo, muito mais do que seu empregador, era sua casa. Que defendia ardorosamente.
Aos 82 anos, Sebastião Leônidas foi demitido pelo Botafogo. Sem piedade. Assim como tem sido o costumeiro tratamento dispensado aos idosos. Leônidas, que jogava mais do que qualquer zagueiro após sua geração, está ferido. Como abalado ficou o ator Flávio Migliaccio, que deu fim à vida após ser demitido, aos 85 anos, da Rede Globo.
Aos idosos, respeito. Aos insensíveis, o tempo. Malandro e paciente, o relógio da vida haverá de provar aos que impõem a inutilidade da experiência, que o maior castigo deles é inexorável: envelhecer.
Ô, TORCEDOR CHATO!
por Valdir Appel
No estádio Durival de Brito e Silva, do Paraná Clube, nada é diferente dos demais estádios de futebol brasileiros. Por exemplo: atrás do banco de reservas do time da Vila Capanema, sempre se posicionam os torcedores mais chatos, são os famosos cornetas que, na falta do que fazer, preferem passar as suas tardes e noites esportivas, xingando o técnico.
O Levir Culpi até que fazia uma boa campanha, dirigindo o Paraná no campeonato estadual, o que não impedia um torcedor de azucriná-lo em todas as partidas disputadas em casa. O cara nem olhava pros lados e pro jogo. Ficava ali, coladinho no alambrado, bem atrás do Levir, repetindo o tempo inteiro:
– Buuuurro! Buuurro! Buuurro!
Levir, equilibradíssimo, fazia de conta que não era com ele.
Outro domingo: mesmo campo, mesmo corneta, mesmo técnico…
O jogo empatado, complicado e chegando ao final. Levir, na dele; o torcedor, também:
– Buuurro! Buuurro!
Aos 40 minutos, Levir ousa uma última cartada, buscando a vitória. Saca um zagueiro e coloca mais um atacante. Aos 46 minutos, já nos acréscimos, uma bola alçada na área encontra a cabeça do centroavante que acabara de entrar.
Golaço!
Vitória suada e de alívio pro Levir, que se vira para trás, buscando o olho do torcedor, seu desafeto.
Antes que Levir possa desabafar, o torcedor emenda:
– Burro!… E com sorte!
“AS MELHORES CABEÇAS”
por José Passarelli
‘O Rio de Janeiro do meu tempo…’
Início dos anos 70, e eu estava em todos os lugares da cidade, ora estudando ora passeando, muito mais passeando do que estudando. Me lembro que o ‘Pasquim’ nasceu com uma proposta bairrista, era para ser um jornal de Ipanema. Acontece que Ipanema foi um conjunto de circunstâncias felizes por que o bairro tinha também uma conotação até mesmo política. Naquele momento tudo era político- aliás ainda é- e Ipanema era uma síntese política, cultural, social, tudo muito entrelaçado. Em quatro números o jornal de Ipanema transformou-se num veículo nacional.
Ele surgiu na hora do sufoco mesmo, seis meses depois do AI-5. A imprensa brasileira estava muito trancada, o ‘Estadão’, a ‘Folha de São Paulo’, o ‘Jornal do Brasil’, ‘O Globo’ estavam dando manchetes absolutamente idiotas e inúteis. Uma porção de coisas fantásticas estavam acontecendo aqui no país e a imprensa não refletia nada disso por que estava muito censurada. e aí, em julho de 69, sai o ‘Pasquim’ com uma tiragem desabrida, publicando o que dava na telha, falando muito, muito. Era uma linguagem muito aberta para a época e que fez muito sucesso. Não era uma forma política de protesto, no sentido direto, mas era sim um protesto como o sufoco. O ‘Pasquim’ virou veículo de todas as pessoas que não estavam suportando aquele estado de coisas , e além disso havia a novidade da linguagem naquela hora em que toda a imprensa estava travada, totalmente travada. Foi um sucesso fantástico e o jornal chegou a vender 226 mil exemplares.
Tiraram 10 mil exemplares do primeiro número para vender no Rio de Janeiro e rodaram mais 20 mil. O segundo número foi distribuído para o Brasil inteiro, e antes mesmo de completar seis meses estava vendendo 226 mil exemplares, o que ainda nos dias de hoje seria uma tiragem fantástica, já que os de hoje não vendem mais nada, estão falidos devido à Internet. O ‘Pasquim’ representava assim um espaço para as pessoas realizarem oposição e a indignação delas. Mas esse espaço não foi meramente político, mexeu também com os costumes, teve a entrevista da musa Leila Diniz, aquela coisa toda…
Foi mais uma revolução de costumes do que uma revolução política. Mas as coisas se confundiam porque a repressão que existia na época pressupunha também uma repressão aos costumes. Aí vem Leila Diniz dizendo que ninguém tem que casar virgem, que a mulher pode ter o homem que quiser, quantos homens quiser, que pode falar da experiência sexual dela. O ator Anselmo Duarte vem e fala o que quer, e tudo isso numa linguagem absolutamente liberada, nessa hora de fechamento. O pessoal ficava fascinado…
De lá para cá muita coisa mudou, eu, era um simples estudante, andava pelas ruas e bairros da imensa cidade com o uniforme do Vasco da Gama-RJ, apostilas de cursinho embaixo dos braços, enfiava a mão no bolso e só tirava 5 dedos, mas era muito feliz, e conheci o Rio de Janeiro todo só andando de ônibus…434, 444, 477, 479, 542, 555, 638, 777, 342, 796,…etc.
O Roubo da Taça
O ROUBO DA TAÇA
Na noite de 19 de dezembro de 1983, dois homens invadiram o prédio da Confederação Brasileira de Futebol, no Centro do Rio de Janeiro, e roubaram a Taça Jules Rimet. Um acontecimento que revelou a negligência com que o troféu mais importante da história do futebol era guardado e mostrou também os métodos com que a polícia da época “solucionava” os crimes.
No cinquentenário do tricampeonato mundial de futebol, um livro conta a história real do roubo da Taça Jules Rimet. Quem planejou o crime? Quem roubou? Quem derreteu a Taça? Quem desvendou o caso? Como foi o trabalho da polícia? Qual o fim dos personagens? “O Roubo da Taça – Preconceito, Tortura, Extorsão”, do jornalista carioca Wilson Aquino, autor de “Acima de Tudo Rubro-Negro, o Álbum de Jayme de Carvalho” (2007) e “Verão da Lata” (2012), narra o lendário roubo da Jules Rimet, episódio que marcou a crônica policial brasileira e se perdeu na memória com o tempo. Uma trama engendrada por mera vingança. Um crime que abalou o Brasil e o mundo.
O livro, de 140 páginas, tem projeto gráfico da maraca.rio.design e é ilustrado com documentos e fotos da época. O impresso está sendo vendido apenas no Brasil. Acesse: https://charlieblackeditora.com.br/ O e-book pode ser adquirido na Amazon do Brasil: https://www.amazon.com.br/dp/B086XKYBY1/ref=sr_1_3?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=O+Roubo+da+Ta%C3%A7a&qid=1586475785&s=books&sr=1-3 Ou na loja Amazon do país em que o leitor reside.
Mais informações: : charlieblack@charlieblackeditora.com.br ou (21) 99634-6246
RARA APARIÇÃO
por André Luiz Pereira Nunes
Os discos voadores parecem mesmo terem voltado à moda. Recentemente causou bastante impacto a notícia acerca de filmagens de um OVNI por parte de caças do Pentágono. E no começo dessa semana as mídias sociais se alvoroçaram com a suposta queda de um objeto espacial desconhecido no município de Magé, na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro. O que pouca gente sabe é que há 38 anos a aparição de um disco voador quase interrompeu uma partida de futebol válida pelo Campeonato Brasileiro.
Na noite de sábado, 6 de março de 1982, o Operário, cinco anos após ser semifinalista do Campeonato Brasileiro, vencia o badalado Vasco, de Roberto Dinamite e companhia, por 2 a 0, com direito a dois gols de Jones, pela abertura da segunda fase da Taça de Ouro, nome pelo qual era chamado o Brasileirão naquela época. Porém, o que mais ficou registrado na memória dos torcedores sul-matogrossenses foi a visão de um estranho objeto cilíndrico que cruzou os céus do estádio Morenão exalando luzes, contudo sem nenhuma emissão de ruído.
Um dos personagens daquela peleja foi o lateral-direito Cocada, eternamente lembrado com muito carinho pela torcida cruzmaltina por ter sido o herói do título carioca de 1988 em cima do Flamengo. Na ocasião, atuando pelo time da casa, participou dos dois gols e ainda foi uma das testemunhas do tal objeto. O árbitro José de Assis Aragão também presenciou o ocorrido, mas não chegou a parar a partida. Já o lateral-direito Pedrinho disse não ter visto nada por estar totalmente concentrado no jogo.
De acordo com o ufólogo Ademar José Gevaerd, um dos mais renomados do país e criador e editor da Revista UFO, não foi feita nenhuma filmagem do ocorrido, uma vez que os cinegrafistas da TV Globo, que transmitiu a partida ao vivo com direito à narração de Galvão Bueno, não tiveram tempo de virar os pesados equipamentos para o céu. Afinal, eram os anos 80. O acontecimento inclusive serviu de inspiração e estímulo para que o jovem Gevaerd, então um mero professor de química, passasse a dedicar a sua vida inteiramente à ufologia.
Vale relembrar que naquele certame ambos os times conseguiram se classificar, chegando à terceira fase, mas foram eliminados no mata-mata. No fim, o Operário ficou na décima-terceira colocação geral e o Vasco na décima.