POR QUE OS NOSSOS ‘GEORGE FLOYDS’ DIÁRIOS NÃO CAUSAM TANTA COMOÇÃO?
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Não faz muito tempo um negro morreu por asfixia dentro de um supermercado carioca. O assassino também era um segurança branco, que também não atendeu ao apelo de pessoas ao seu redor. Qual a diferença dessa morte para a de George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos, que dura sete dias e já mobilizou 25 estados americanos? A do negro brasileiro também foi filmada e viralizou nas redes sociais.
De lá para cá vários outros negros morreram por motivos fúteis e ninguém foi para as ruas protestar. Os negros são discriminados e morrem diariamente no mundo todo, muitos de fome, como na África. O problema é quando se aproveitam dessas mortes por alguma motivação política e essa é uma especialidade dos brasileiros.
Se elas acontecem perto das eleições presidenciais, melhor ainda para os ativistas de plantão, os oportunistas de sempre, os políticos de esquerda, de direita e do centro, movidos por pesquisas que os orientam a como se comportar. Sempre odiei esse termo “raça” porque as cores não nos diferenciam.
Minha mãe sofreu racismo e senti na pele, literalmente, quando em uma excursão com o Botafogo, pelo Sul do país, liderada pelo vice-presidente do clube, João Citro, vi na porta do Country Clube de Bagé, onde seríamos homenageados, um cartaz avisando que era proibida a entrada de negros. Dói na alma. Mas, nesse dia, os jogadores brancos foram os que mais reclamaram e apoiaram os negros do grupo. Ou seja, o racismo não contaminou a humanidade inteira.
Em uma viagem aos Estados Unidos, também com o Botafogo, conheci os Panteras Negras, que defendiam a resistência armada contra a opressão dos negros, conheci a filósofa Angela Davies, famosa por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação racial e social, e fiquei encantado com o trabalho de Malcolm X, um dos maiores defensores do nacionalismo negro dos Estados Unidos.
Antes de voltar ao Brasil, entrei em um salão de cabeleireiro e pintei meu black power de caju. Também comprei calças bocas de sino. Só não aderi aos cordões grossos que os Panteras usavam. Nunca fui influenciado integralmente pelo pensamento deles, mas todos foram muito importantes na minha formação e talvez, por isso, nunca tenha sido um “nego, sim senhor”.
Sempre contestei meus treinadores e até dirigentes, mesmo em plena ditadura militar. Hoje, me impressiona como os negros brasileiros ainda estão longe da politização dos americanos, principalmente os que tem o poder da comunicação nas mãos, como intelectuais, empresários e esportistas. Não lembro de ter visto algum jogador negro, principalmente os que atuam na Europa, se posicionar sobre esse tema de forma contundente. Há tempos os negros americanos vêm clamando por liberdade e respeito, e a morte de George Floyd foi o estopim que faltava. Vinte e cinco estados participam das manifestações e o desfecho está longe do fim.
No Brasil, essas mortes sempre são usadas politicamente e os veículos de comunicação surfam na mesma onda. Passamos por isso em plena covid-19 com um grupo de políticos nos mandando ficar em casa e o outro sugerindo que saíssemos. Quem realmente estava preocupado conosco? No Brasil, criamos campanhas modinhas, vendemos muitas camisetas com frases de efeito, mas tudo é nuvem passageira, papo de bar.
Precisamos afastar esses joelhos de nossas gargantas e nos livrar, definitivamente, dessa tentativa de asfixia, principalmente dessa desigualdade educacional, afinal quase sessenta anos depois de ser barrado em um clube por ser negro, ainda sigo, sem ar, escrevendo sobre esse tema em busca de uma solução, de um basta.
CARROSSEL CAIPIRA: A MORTE DE VADÃO E O LENDÁRIO TIME DO MOGI-MIRIM
por André Luiz Pereira Nunes
Em 25 de maio faleceu, aos 63 anos, acometido de um tumor no fígado, o treinador Osvaldo Fumeiro Alvarez, o Vadão, notabilizado por haver dirigido grandes times brasileiros, além da Seleção Brasileira Feminina em duas passagens, uma delas nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, quando o escrete nacional ficou na quarta colocação e a um passo da conquista da medalha de bronze.
Há 28 anos Vadão foi o responsável pela formação do inesquecível ‘Carrossel Caipira’, em alusão à inovadora Seleção Holandesa, de Johann Cruijff, que imortalizou o futebol total e encantou o mundo na Copa de 1974. Foi assim que ficou conhecido o Mogi-Mirim, em 1992, cujo esquema tático, o 3-5-2, era bastante similar ao de Rinus Mitchells. Apesar de mal visto após o fracasso do Brasil na Copa de 1990, Vadão não se importou para as críticas, implantando um sistema de jogo com muita velocidade, o qual nenhum atleta guardava posição fixa. No entanto, é importante frisar que ele contou com amplo apoio do então presidente Wilson Fernandes de Barros, que montou uma equipe competitiva reunindo alguns valores da base com destaques de equipes de menor expressão.
No primeiro semestre de 1992, o Mogi, capitaneado pelo magnífico trio composto por Rivaldo, Válber e Leto, conquistou a Copa 90 anos, organizada pela Federação Paulista de Futebol, em decisão contra o Grêmio São Carlense, perdendo apenas uma de onze partidas. No Campeonato Paulista, realizado no segundo semestre, a equipe foi a líder do Grupo B, garantindo uma vaga no quadrangular final, quando ficou na última colocação, feito que não desanimou os jogadores. Válber ainda foi o artilheiro da competição com 17 gols.
No ano seguinte, o Sapão não se classificou para a segunda fase do Campeonato Paulista, apesar de empatar o mesmo número de pontos que o Guarani, quinto colocado, e o Rio Branco, sexto. Foi o time que menos perdeu na competição juntamente com o líder Corinthians. Contudo, no segundo semestre o Carrossel foi extremamente vitorioso. Ao disputar o Torneio João Havelange, uma espécie de Torneio Rio-São Paulo, passou nas semifinais pelo Corinthians, mas acabaria derrotado, na decisão, pelo Vasco, nos pênaltis. Apesar do revés, a reputação do Carrossel Caipira não parava de crescer. No Torneio Ricardo Teixeira, integrado por equipes do Rio e São Paulo, que fornecia uma vaga na Série B do Campeonato Brasileiro de 1994, o Mogi bateu o Bangu, em duas partidas finais, e ficou com a taça após perder apenas um jogo no certame.
Rebaixado no Paulistão, em 1994, o alvirrubro voltaria à Série A1 logo no ano seguinte após obter o título da Série A2. Infelizmente o clube está mergulhado numa crise financeira sem precedentes que o rebaixou à quarta e última divisão do Campeonato Paulista. Em 2019, seus dirigentes retiraram o time das competições, mas com volta programada para este ano. Apesar das atuais desilusões, os fanáticos torcedores da cidade ainda sonham em reviver os agradáveis ares daquela memorável fase em que o Mogi-Mirim era motivo de orgulho para o futebol do interior paulista.
HOMENAGEM AO TIMES DE SP
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Sempre bati de frente com a imprensa paulista e isso não é segredo para ninguém. Bastava descer no Aeroporto de Congonhas para ser vaiado, mas como nunca fui de ouvir calado durante as entrevistas dizia que jamais moraria em São Paulo, um lugar poluído e com cheiro de podre do Rio Tietê. Acabei quebrando a cara porque morei anos nessa cidade, que adoro e fiz muitos amigos. E como nas últimas duas colunas fiz um teste de memória para lembrar alguns craques dos times cariocas, entre os anos 60 e 70, nada mais justo do que fazer o mesmo com os de São Paulo. E sem consultar o Google!
Adorava os torneios Rio-São Paulo, com seis clubes de cada estado! Vou começar pelo São Paulo, onde Gerson Canhotinha de Ouro foi campeão. Mas vou lembrar de um São Paulo um pouco mais antigo, quando eu era apenas um menino, da década de 50. Reforço que não estou consultando nenhuma fonte de pesquisa e pode ter algum erro. Me consertem! Poy, De Sordi, Mauro, Bauer, Noronha, Maurinho, Gino…..um time espetacular! Mas lembro de vários outros craques do tricolor, como Leônidas, Zizinho, Friaça, Jair da Rosa Pinto, que vi fazer dois gols no Manga, Dino Sani e Canhoteiro. E quando penso na Portuguesa a dó que me dá…. como foram deixar que chegasse a esse ponto. Olha só, os que saíram de lá, que me lembro sem pensar muito: Djalma Santos, Servílio, Sílvio, Ivair, Leivinha, Félix, Ditão, Zé Maria, Marinho Peres, Enéas, Basílio, Badeco e anos depois o diamante Dener. O Juventus, dos artilheiros Wilson Buzzone e Ataliba.
E o Santos? Aí teria que ter uma coluna só para esse time espetacular: Pelé, Pepe, Mengálvio, Edu, Coutinho, Djalma Dias, Dalmo, Calvé, Álvaro, Rildo, Ramiro Geraldino, Pagão, Dorval, Toninho Guerreiro, Tite, Abel, Lima, Ramos Delgado, Joel, Oberdan e tantas outros nomes que fizeram o futebol ser mais lindo! E o Palmeiras, a grande Academia: Valdir de Moraes, Leão, Baldocchi, Dudu, Ademir da Guia, Julinho Botelho, Chinesinho, Tupãzinho, Vavá, Ademar Pantera, Rinaldo, entre outros. Na década de 70, lembro de ter jogado contra um timaço da Ponte, com Carlos, Jair Picerni, Oscar, Polozzi, Odirlei, Marco Aurélio, Vanderlei Paiva, Dicá, Lúcio, Manfrini e Tuta, irmão do Zé Maria. O Guarani começa a montar aquele time que encantaria o Brasil, com Zenon, Renato, Careca, Capitão, Bozó, Zé Carlos, Mauro e Wanderley.
E pouca gente sabe, mas tive uma passagem curta pelo Corinthians, assinei contrato e tudo, mas com a morte de minha irmã, devolvi o cheque para o presidente Waldemar Pires e fui para França. Era época da Democracia Corinthiana. Mas, sem dúvida não seria fácil jogar porque metade da torcida era contra a minha contratação. De qualquer forma joguei algumas poucas partidas e até um torneio no México e posso dizer que joguei no time de Gilmar, Claudio, Luizinho, Balthazar, Ado, Olavo, Oreco, Tales, Sócrates, Vladimir e Rivellino e Luiz Carlos. A lista de grandes jogadores é interminável e é uma prova incontestável de como o nível de nosso futebol despencou.
Acho que passei em mais esse teste de memória, mas me surgiu uma dúvida. Como não lembro da escalação do meu Botafogo do ano passado e listo praticamente todo o time da Ponte Preta de 40 anos atrás? Melhor deixar quieto… Em tempo, ouvi ontem no Campeonato Alemão um narrador falar que a estratégia do time era dar a bola para o adversário! Alguém consegue entender? Sem contar com “consistência de jogo”, “orelha da bola” e muito mais!
EU, LAZARONI, A POCHETE E OS PASTORES ALEMÃES | PARTE 3
por Nielsen Elias (@nielsen_elias)
CAPITULO FINAL
No dia seguinte, já estávamos no aeroporto de Lisboa para fazer conexão em Paris.
Iriam começar as nossas viagens aos países comunistas…
Aterrissamos no aeroporto Charles De Gaulle, bem cedinho. E fomos direto buscar nossas malas no serviço de guarda volume.
Malas nas mãos, nos encaminhamos para o balcão da Air France.
Havia uma pequena fila, mas logo nos atenderam.
Laza entregou nossos passaportes, juntos com as passagens. Foi quando tivemos a primeira surpresa dessa viagem ao leste europeu.
Com aquela simpatia, que é bem peculiar dos franceses, ela nos informou:
– Esse voo não parte daqui. Sai do Orly…
Orly é um outro aeroporto de Paris e, surpresos, perguntamos como fazer. Ela disse para descermos e pegar o shuttle; e chamou outra pessoa que estava atrás.
Pensamos “será que dará tempo?”.
Malas nas mãos, descemos para encontrar o ônibus que nos levaria ao aeroporto de Orly. Ufa… encontramos!
Enfiamos as malas no bagageiro e subimos no ônibus, que já estava perto de partir…
Fomos apreciando a beleza da cidade pela grande janela de vidro.
A freada do ônibus, nos confirma que chegamos ao nosso destino.
Pegamos as malas e entramos.
Através das enormes escadas rolantes, chegamos ao balcão da companhia.
Aguardamos a nossa vez e fomos atendidos, com a mesma gentileza.
Os franceses são muito coerentes…
No balcão, nos informaram que o voo para Budapeste é por uma outra companhia, que tinha parceria com a Air France.
Lá fomos para o balcão da companhia, que a princípio não havia ninguém no atendimento.
Aguardamos um pouquinho até chegar uma atendente.
Entregamos os passaportes e as passagens para a mocinha, que já era bem mais simpática.
Ela confere tudo, pois havia a necessidade do visto de entrada, e diz:
– Tudo ok!
E nós perguntamos sobre as malas. Então ela explica que teremos que levar até ao avião e lá o pessoal se encarregaria de colocar na aeronave e finaliza dizendo qual era o portão e a hora de embarcar.
Procuramos ficar em frente ao local de embarque, para não dar qualquer zebra…
Estranhamos que o portão era minúsculo, algo que não correspondia aos outros.
Bem, chegou a hora.
A mesma mocinha que nos atendeu no balcão, é a que conduz um pequeno grupo até aeronave…
Andamos carregando as nossas malas atrás dela.
Chegamos no avião e levamos um susto! Era bem pequeno e bem baixo, quase não havia necessidade de escada para subir.
Nossas malas foram entregues ao responsável, que as levou.
Agora a mesma mocinha está frente das escadas para receber os cartões de embarque.
No avião, havia alguma coisa escrita em letras vermelhas que deveria ser o nome da companhia que nos levaria para Hungria, mas não conseguimos ler. Pelo o número de consoantes que formavam a palavra, deduzimos que era russa.
Dentro da avião, percebemos que estávamos mesmo indo para um país de regime comunista.
As poltronas eram bem desconfortáveis e não reclinavam. Eram duras!!
A capacidade de passageiros era bem pequena. Fez me lembrar o fusca, lançado no Brasil, que era bem mais simples, e foi batizado como “ pé de boi”. Pois bem, aquela era uma boa definição para aquele avião, era um “pé de boi”!
Depois de uma viagem cansativa, chegamos a Budapeste!!
O aspecto do aeroporto nos dizia o que iriamos encontrar naquele país…
Pegamos um táxi e chegamos ao nosso hotel. No meio do caminho, fomos descobrindo, com o auxílio do motorista, que o Rio Danúbio dividia a cidade em duas partes, Buda e Peste, e uma era mais moderna que a outra.
Advinha qual lado do nosso hotel? O que deixou Lazaroni puto da vida com quem tinha traçado aquele roteiro…Haja vista o que aconteceu em Bruxelas…
Como estávamos cansados, fomos dormir um pouco.
O hotel não ajudava muito. As cortinas, em algumas partes, estavam soltas e as colchas de chenile não tinham uma boa aparência. Mas, “o que não tem remédio, remediado está”.
No dia seguinte, fomos até o outro lado do rio. Atravessamos uma ponte e estávamos em Peste. Realmente, havia uma grande diferença entre os dois lados. Peste era bem mais moderna, com bonitos hotéis e lojas, e mais movimentada, para a nossa frustração…
O povo era muito sofrido. Eles adoravam o futebol, e não era pra menos. Um dos maiores jogadores do mundo, Púskas, que depois conquistou a Espanha, era Húngaro.
Mas, era unânime a revolta deles contra o regime que foi implantado, após a guerra, pela União Soviética. Nos poucos contatos que tivemos, eles sempre mencionavam que teriam que ter muito cuidado porque estavam sempre sendo vigiados.
Realmente, eles ainda possuíam um futebol muito técnico e de muita qualidade, como podemos conferir na partida em que assistimos.
Encerramos nossa passagem pela Hungria e viajamos para Bulgária, que era a mesma situação encontrada em Budapeste.
De lá fomos para Tchecoslováquia.
Praga é uma cidade linda!! Com suas igrejas e seus monumentos de uma arquitetura magnifica.
Além dos seus cristais Bohemia, que são muito respeitados em todo mundo.
Tchecoslováquia x Portugal foi o jogo mais violento que assistimos em toda a viagem.
A seleção local bateu muito nos patrícios.
Ficamos impressionados com as entradas desleais dos Thecos e, com a complacência da arbitragem, venceram de 1×0.
Após o jogo, encontramos com alguns jogadores da seleção portuguesa, que só fizeram reclamar da violência do adversário.
No mesmo voo, voltamos a Paris..
Agora, em Paris, iremos pegar o trem que nos levará a Dresden, na Alemanha Oriental.
É sempre bom relembrar que o Muro de Berlim estava prestes a cair, pois a União Soviética com seu regime comunista estava completamente destroçada.
Pois bem, pegamos o trem em Paris.
A viagem levaria de 10 a 12 horas até Dresden.
Teríamos que fazer a troca de linha em Berlim.
Era uma manhã de sol e a viagem prometia muito.
O trem me remeteu aos filmes de Humphrey Bogart, nos anos 40, e me sentia o próprio!
Havia história naquele trem.
Seu interior era de uma madeira muito bonita e dava um toque de romantismo. Era igualzinho ao filme.
A atmosfera era fantástica.
Nos instalamos numa cabine com dois bancos, um de cada lado.
A janela enorme mostrava as plantações que tornava a viagem amena e bucólica.
Nossas malas nos acompanhavam dentro da cabine e serviam para repousar as nossas pernas.
Tiramos um cochilo e fomos acordados com o sino do inspetor do trem, anunciando o almoço.
A viagem seria longa e precisávamos nos alimentar.
Lazaroni e euf omos ao restaurante, que era mais romântico ainda.
Com suas cortinas, as mesinhas e fechando um pequeno abajur na mesa, e pela janela passava uma linda paisagem.
Realmente, parecia que estávamos nos anos 40.
O garçom, bem simpático, se aproximou e nos ofereceu o menu.
Pedido feito, e um bom vinho francês para acompanhar o prato, sugerido pelo garçom. Ele usa gravata borboleta preta, com uma camisa branca e calça da mesma cor da gravata.
Final de almoço, o garçom já a essa altura se tornara mais íntimo e simpático.
E nos perguntou o que fazíamos e para onde estávamos indo.
Naturalmente, falamos…
Ele ficou todo entusiasmado quando soube que o Laza era o técnico da seleção brasileira de futebol, e perguntou:
– Você já possui o marco alemão!?
Laza responde que não. Então ele oferece alguns marcos que possuía no bolso, dizendo que faria um preço bem mais em conta, para em seguida pedir o nosso autógrafo.
Laza acha uma ideia boa, pois poderia precisar quando chegássemos em Berlim. Abre a sua pochete e tira alguns dólares e compra o dinheiro do garçom. Após isso, voltamos a nossa cabine…
Mais algumas horas de viagem, chegaríamos a fronteira da Alemanha Oriental. Recebemos um formulário alfandega para preenchermos como em qualquer país.
Eu preencho o meu e o Laza a dele e, entregamos ao responsável, juntos com os nossos passaportes.
Um pequeno detalhe.
Havia uma pergunta no formulário: Você traz marco alemão? E o Laza, como tinha adquirido do garçom, diz que sim!!! Pra que!?!?
De repente, a porta da nossa cabine é aberta com grande violência e, do nada, aparecem quatros soldados alemães e dentre eles, uma soldada, todos de preto, com três ferozes e enormes pastores alemães, latindo muito alto, que chegam a espumar. querendo nos atacar.
Ficamos sem qualquer ação.
Um grande soldado, com o formulário na mão começa gritar em alemão, enquanto os cães estão quase dentro da cabine.
É um clima de pavor. Parecia que nós estávamos na segunda guerra mundial e éramos os inimigos que tinham sido descobertos.
Não entendíamos o que estava acontecendo, enquanto isso alemaozão gritava, e batia na folha com muita raiva, em alemão.
Nós, acuados, com os pés já recolhidos das malas, que nessa hora virou nossa barreira de proteção, para evitar que os cães nos mordessem e espremidos contra a parede, não sabíamos o que fazer ou que falar…
E o alemão possesso gritava cada vez mais, e essa altura o seu rosto transmitia a sua raiva.
Estava vermelho de tanto ódio e os cães o acompanhavam, estavam cada vez mais perto das malas, que ainda nos protegiam.
O clima e atmosfera era da segunda guerra mundial, essa altura eu só pensava na Gestapo, o Humphrey Bogart tinha ido pra casa do caralho… romantismo era a puta que pariu…
Nós estávamos todos cagados!!! Caralho, que foda!!!
Então, de repente o alemãozão percebe que não falamos alemão, e fecham a porta da cabine, ficando do lado de fora.
Laza me olha e eu olho pra ele, estamos brancos…e uma pergunta no ar, que porra tá acontecendo, caralho?!
O trem parado. Um corre, corre infernal e nós lá dentro trancados…
De novo, a porta abre. E lá vem o alemãozão com uma soldada.
Ela tenta interagir com a gente em inglês, e mostrando o passaporte com o formulário, pergunta a quem pertence?
Laza diz que é dele.
O inglês dela é horrível, mas através de gesto, o Laza vai se entendo…
Até que mostrando o formulário preenchido pelo Laza, finalmente ela aponta para a pergunta que está nele.
Você traz marco alemão!? Laza responde que sim!
Ela pede pra ver. Laza abre a pochete e retira o causador de todo aquele pânico.
Os marcos alemães!!!!
Ela pergunta como ele tinha conseguido aquele dinheiro?
Ele responde que comprou com o garçom, no restaurante.
Pára tudo.
Agora, voltam a trancar a cabine e vão até o restaurante encontrar o garçom.
Surpresaaaaa! O filho da puta tinha descido na ultima parada do trem.
Puta que pariu, porra!! E agora!?
O puto do garçom fodeu a gente!!!
Então, a mulher volta a cabine dizendo que ele tinha ficado na última parada.
E, começa a perguntar o que iríamos fazer na Alemanha?
Santa bola!!!!
O Laza explica que é técnico da seleção brasileira de futebol e que estamos indo assistir em Dresden o jogo da seleção da Alemanha.
O trem continua parado na estação e aí já se vão mais de uma hora…
Saem de novo da cabine com os passaportes confiscados, juntos com a porra dos marcos.
E, pensamos…
Vão verificar se essa informação é verdadeira.
Estamos torcendo que consigam, porque o filho da puta do garçom não poderia confirmar a porra da nossa estória.
Ele se mandou… sabia que iria dar merda… e a gente ali rezando para que a soldada confirmasse o que o Laza tinha dito.
Depois de uma espera interminável, recheada de tensão e pavor, a porta volta a abrir, novamente eles entram.
Ela já mostra no rosto uma expressão mais calma e sem os putos dos cachorros, e diz que está tudo ok e podemos continuar a viagem.
Devolve os passaportes, já com carimbo da entrada. Mas o dinheiro foi confiscado.
Aquela porra daquele dinheiro!!!
Enfim, chegamos em Dresden tarde da noite, porque tivemos que pegar outro trem de Berlim para Dresden.
Chegando em Dresden, um grande busto de Karl Max saltava aos nossos olhos, uma homenagem ao líder do regime.
Se nós tínhamos reclamado dos hotéis anteriores, foi porque ainda não conhecíamos aquele.
Pensa num hotel ruim, agora coloca ele em Dresden! PQP!!!
Após o jogo assistido, tá na hora de irmos embora…graças a Deus!!
No caminho, as ruas estavam cheias daqueles policias de preto, iguais aqueles do trem e com os pastores, também.
Estavam cheias de bloqueios…
Nosso táxi é parado. Olho pro Láza e pergunto:
– De novo?
Os policiais se aproximam e nós olham, mas manda logo o motorista seguir. Ufa!!!!!
Aí, ficamos sabendo que há um grande movimento popular para derrubar o Muro de Berlim.
Pedimos ao motorista andar mais rápido, vai lá que o muro cai em cima de nós…
Dessa maneira, foi a nossa viagem ao leste europeu, nos seus últimos dias do comunismo…
Não poderia ter sido pior…
ufa…
Capítulo 1: https://www.museudapelada.com/resenha/eu-lazaroni-a-pochete-e-os-pastores-alemaes
Capítulo 2: https://www.museudapelada.com/resenha/eu-lazaroni-a-pochete-e-os-pastores-alemaes-parte-2
JOÃO AVELINO, O POPULAR 71
por Valdir Appel
Baixinho, bochechudo, de bigodinho aparado, chapéu de palha para proteger a calvície do sol, e dono de um humor sarcástico e afiado, o treinador João Avelino parecia uma figura chapliniana comandando suas equipes.
Montou o primeiro time do Ceub de Brasília para a disputa do campeonato brasileiro de 1973.
Cabia ao jogador identificar um elogio por trás das palavras duras e das críticas que ele fazia constantemente.
Era dado a comparar de forma pejorativa um atleta seu a outro mais famoso:
– Pelé perde pra você! Se você continuar chutando assim, vai matar o goleiro… de raiva!
– Vaii cabecear assim na casa da mãe Joana!
Suas provocações davam resultado, mexiam com os brios dos jogadores que se superavam.
Quando o estádio Mané Garrincha estava prestes a ser inaugurado e alguns treinos foram permitidos para reconhecimento do gramado, um repórter pouco experiente foi entrevistar João Avelino:
– Seu João, o que o senhor está achando do gramado?
João se abaixou, colheu e mastigou um cadinho de grama, e respondeu:
– Verdinho, macio e azedinho, meu filho!
O mesmo incauto repórter:
– Seu João, como é que o senhor está vendo o jogo?
– Com os olhos, meu filho, com os olhos!
João Avelino Gomes, mais conhecido apenas como João Avelino ou como 71, foi um treinador de futebol brasileiro, que se destacou principalmente por suas passagens em dois clubes da cidade paulista de São José do Rio Preto: o América-SP e o Rio Preto. Wikipédia
Nascimento: 10 de novembro de 1929, Andradas, Minas Gerais
Falecimento: 24 de novembro de 2006