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O GOLEIRO DE INCRÍVEIS MARCAS

por André Luiz Pereira Nunes


O goleiro Carlos Germano, o qual aniversaria hoje, tinha tanta identificação com o Vasco que certa feita proferiu uma declaração que ficou marcada.

– Em todos os outros clubes em que atuei, com exceção do Penafiel, enfrentei o Vasco. Mas vestir rubro-negro nem pensar! – afirmou em referência à contundente antipatia pelo rival Flamengo. 

Com passagem longa e marcante pelo Gigante da Colina na década de 90, o arqueiro, nascido na cidade capixaba de Domingos Martins, em 14 de agosto de 1970, foi mais uma grata revelação de São Januário, fazendo valer a tradição de grandes guarda-metas formados pelo clube. É responsável pela incrível marca de 632 jogos, entre 1990 e 1999, sendo o segundo jogador que mais atuou pelo time, perdendo apenas para o ídolo Roberto Dinamite. Na Colina, o goleiro ainda atingiu o feito histórico de 933 minutos sem tomar gols, entre os dias 24 de novembro de 1991 e 27 de setembro de 1992.

Suas excelentes atuações o levaram à Seleção Brasileira pela qual atuou por 8 jogos. O ápice de sua prestigiosa carreira ocorreu em 1998, quando fez parte do elenco titular que perdeu a final do Mundial Interclubes, no Japão, frente ao Real Madrid. No mesmo ano participara da Copa do Mundo como reserva imediato de Taffarel naquela equipe derrotada na fatídica decisão diante dos anfitriões franceses. Vale ressaltar que no ano anterior havia esbanjado técnica, elasticidade e segurança durante a disputa do Campeonato Brasileiro. Na decisão contra o Palmeiras fechou o gol com defesas magistrais, garantindo o título para São Januário. 

Pelo Vasco ganhou muitos títulos, entre os quais, o Campeonato Estadual em 1992, 1993, 1994 e 1998, o Brasileiro de 1997, a Libertadores de 1998 e o Torneio Rio-São Paulo de 1999. Pela Seleção Brasileira conquistou o Campeonato Sul Americano Sub-20, em 1988, e a Copa América de 1997. 

Deixou o Vasco, em 1999, brigado com a diretoria, após não entrar em acordo no processo de renovação de contrato. Depois da longa estada em São Januário, transitou, já sem o mesmo brilho, por Santos, Portuguesa, Internacional, Botafogo, Paysandu, America-RJ e Madureira, encerrando a carreira, em 2005, no Penafiel, de Portugal. Em 2008, iniciou a trajetória de preparador de goleiros, trabalhando no Vasco durante seis anos.

Em 2001, ainda participou do grupo que disputou a Copa das Confederações dirigido por Émerson Leão. Contudo, quando Luiz Felipe Scolari assumiu o comando técnico da Seleção, Germano ficou de lado e infelizmente acabou vendo o pentacampeonato pela televisão.

O MÉDICO E O MONSTRO

por Valdir Appel


Em 1969, o Vasco abriu as portas para dois jovens talentos: o ex-craque Evaristo Macedo e o ortopedista Arnaldo Santiago.

O técnico Evaristo, culto e educado, fazia questão de passar uma imagem de um sujeito sarcástico e gozador, e usava constantemente palavrões no meio da boleirada. 

Caminho mais curto, segundo ele, para a comunicação com os jogadores.

Em contrapartida, Arnaldo se portava como um gentleman dentro e fora das quatro linhas do gramado e procurava desesperadamente melhorar a educação e o nível cultural da rapaziada. 

Orientava e chamava a atenção dos que falavam palavrões, tarefa nada fácil, já que Evaristo não colaborava, por pura sacanagem.

Evaristo fazia suas preleções colocando-se estrategicamente de costas para a saída do túnel que dava acesso ao campo em São Januário, pedindo que os jogadores o avisassem quando da aproximação do doutor Arnaldo.

Assim que o médico apontava no túnel, um jogador entregava:

– Lá vem o doutor!

Imediatamente, Evaristo aumentava o volume da voz e desfilava todos os palavrões do seu amplo repertório.

O doutor Arnaldo aproveitava o embalo, fazia meia volta e retornava ao departamento médico, com todo mundo caindo na gargalhada.

O HOMEM DE PAPEL QUE DESAFIOU HITLER

por André Luiz Pereira Nunes


A seleção da Áustria não é exatamente uma referência em Copas do Mundo. Seu melhor retrospecto ocorreu em 1954, quando ficou na terceira colocação. Sua participação mais recente foi na Copa da França, em 1998. Mas, mesmo tendo apenas sete presenças em mundiais, o país merece ser lembrado pelo que representou o seu maior astro de todos os tempos, apelidado de “Pelé do Danúbio” e “Homem de Papel”.

Matthias Sindelar, craque da década de 30, era alto, magro e se destacava pela leveza, velocidade e habilidade em campo. Sua presença fora fundamental para que a seleção austríaca ficasse conhecida como “Wunderteam” (time maravilha). Vencedora da Copa Internacional da Europa Central, em 1932, chegava à Copa de 1934 como uma das favoritas, tendo vencido ou empatado 28 das 31 partidas anteriores ao mundial.

Apesar de ter eliminado França e Hungria nas oitavas e quartas de final, respectivamente, os austríacos capitularam diante da anfitriã e futura campeã Itália, na semifinal, cotejo que os especialistas europeus definiram como decisão antecipada. Porém, cabe ressaltar que a seleção italiana era formada por atletas de várias nacionalidades. Além de italianos, contava com quatro argentinos vice-campeões, em 1930, e até um brasileiro: Filó. Benito Mussolini, ditador à época, e anfitrião do torneio, não medira esforços, alguns nem um pouco honestos, diga-se de passagem, para que seu time fosse campeão.

Por ser nascido em 1903, Sindelar provavelmente não teria condições físicas de atuar na Copa de 1938, pois naquela época a carreira de um jogador era extremamente curta. Apesar disso, aos 35 anos, seguira sempre como titular da equipe, sendo imprescindível na campanha do vice-campeonato de seu país nas Olimpíadas de 1936, novamente com derrota para a Itália. 

O próximo desafio seria a Copa de 1938, competição à qual a Áustria havia se classificado. Entretanto, o destino tinha outros desígnios. Em 12 de março, a apenas três meses do início do mundial, Adolf Hitler invadiu a nação para anexá-la à Alemanha nazista. Em um mês a jovem república parlamentarista se transformara em mais uma província do Terceiro Reich. Entre várias das intenções, uma delas era emular Benito Mussolini. Porém, havia uma ressalva. Os alemães não hospedariam a competição, disputada dessa vez na França, e tampouco formavam uma grande seleção. Tendo invadido a Áustria, Hitler pensava em ter resolvido a equação, pois contaria com os austríacos para reforçar a Alemanha. 

Contudo, ao contrário de vários de seus companheiros, Sindelar não só se recusou a ser alemão como ainda rechaçou a ordem do Führer em integrar o time alemão. Provavelmente não existe relato similar no futebol de maior atitude de destemor e fidelidade do que a protagonizada por esse craque, injustamente esquecido nos dias atuais, que pagou com a vida a recusa em cumprir ordens do maior crápula da história da humanidade. 


72 horas após a anexação da Áustria, Hitler solicitara que oito dos principais jogadores da seleção austríaca fossem imediatamente incorporados ao escrete alemão. Ganhar a Copa do Mundo seria uma questão de honra para o fortalecimento do regime nazista, além de igualar o feito protagonizado por Mussolini no mundial anterior. Cabe ressaltar que a Áustria seria candidata favorita ao título máximo, pois vivenciava a sua melhor fase de todos os tempos. Goleara a Alemanha por 5 a 0 e 6 a 0, a Suíça por 6 a 0, a Escócia por 5 a 0, e a grande rival Hungria por 8 a 2, com três gols de Sindelar. A “Escola do Danúbio”parecia mesmo não ter rival à altura. Quiseram todavia os deuses do futebol que a escalada rumo ao topo fosse interrompida ironicamente por um austríaco de nascimento, o qual não costumava se orgulhar de sua origem.

Hitler resolveu então celebrar a incorporação do país vizinho justamente com uma partida de futebol envolvendo a Alemanha nazista e os austríacos, os quais fariam a última partida por sua seleção. Sindelar, não só atuou brilhantemente como ainda comemorou seu gol, o primeiro do jogo, de maneira efusiva e extravagante defronte ao palco das autoridades nazistas numa clara demonstração de deboche e desafio. A derrota por 2 a 0, além da provocação do craque austríaco, foram um verdadeiro acinte para as autoridades invasoras. Sindelar ainda não sabia, mas esta seria a sua última partida oficial. 

Joseph Goebbels, ministro da Propaganda Nazista, ainda acenou com a proposta de que todo o mal-estar seria devidamente esquecido caso Sindelar defendesse a Alemanha na Copa do Mundo de 1938 e o time fosse campeão. O craque recusou a proposta alegando estar “gravemente machucado”. Ainda avisou estar se aposentando dos gramados oficiais. A negativa selara o seu destino. 

A vaga da Áustria não foi preenchida. A FIFA ainda chegou a convidar a Inglaterra para substituí-la, mas os ingleses não aceitaram a proposta. Mesmo contando com alguns austríacos, a Alemanha acabou eliminada de cara no mata-mata pelos suíços. A vergonha fora tamanha que vários amigos de Sindelar foram perseguidos. O craque resolveu então abrir uma cafeteria, mas os nazistas não lhe davam trégua, arrumando problemas todas as semanas. 

Seis meses mais tarde, em 23 de janeiro de 1939, o corpo de Mattias Sindelar foi encontrado por bombeiros de Viena ao lado de sua companheira, a italiana Camilla Castagnola. Contava com apenas 35 anos. A versão oficial apontou a causa da morte como asfixia por vazamento de monóxido de carbono, um acidente relativamente comum naquele tempo. Apesar disso, não faltou quem suspeitasse que se tratasse de suicídio por conta da pressão exercida pelos alemães, ou mesmo de assassinato cometido pelos nazistas. Anos depois, foi revelado que a Gestapo investigou Sindelar por suspeitas de que ele fosse “”pró-judeu” e “social-democrata”.

Sindelar foi enterrado no mesmo cemitério, na capital, onde repousam os restos mortais de Brahms, Beethoven, Strauss e Schubert. A rua na qual o “Pelé do Danúbio” nasceu foi rebatizada com seu nome. Estima-se que o funeral do craque levou de 15 a 20 mil pessoas ao Cemitério Central de Viena. Em 1998, foi eleito o atleta austríaco do século.

E O PONTA ESQUERDA ERA UM TAL DE BIGODE

por Marcio Aurelio Carneiro


(Foto: Custodio Coimbra)

Fomos convidados, um time amador aqui de Barra Mansa-RJ, um dos muitos que existiam na época, para jogar um torneio em Cabuçu-RJ. Daqueles torneios que era no modelo antigo do um contra um e quem ganhasse levava o troféu.

Dois ônibus lotados com a torcida e nós peladeiros que íamos no bolo. Nosso jogo era o principal da tarde ensolarada de Domingo, jogaríamos contra o time principal da localidade. Chegamos depois de 100km e moídos pelo desconforto do buzú, que pelo preço contratado, foi mesmo o que deu pra arranjar.

Chegamos meio em cima da hora e fomos logo trocar de roupa atrás do gol oferecido, campo precário, muita torcida da casa e um “fumacê” suspeitíssimo. Entramos em campo primeiro, sem a menor saudação dos presentes, normal!! 

Logo em seguida entrou nosso adversário com um reluzente uniforme laranja a lá Holanda. Juizão com um comportamento cambaleante, disse que não iria tolerar violência. Tudo certo pra bola rolar, eu na lateral direita, tipo Orlando Lelé, esbravejava pra tentar intimidar o ponta esquerda que tinha um aspecto estranho.

Antes da bola rolar, constatei que o tal atacante era um sapatão, que atendia pelo apelido de Bigode, e era meio xodó da torcida, pensa! Primeira bola que ele veio de graça, mandei-o pra fora do campo com bola e tudo. Foi o bastante pra levar um cartão e uma cusparada da torcida. Lembro que meu capitão pediu pra eu aliviar que o lugar era perigoso.

Bigode se empolgou e vinha cheio de pedaladas, dei no meio de novo e o tempo fechou…me lembro de corrermos pro ônibus e os dois pneus da frente estarem furados.

Graças a valentia dos PM’s que assistiam o jogo, sobrevivi pra contar.

O BRASILEIRÃO SERÁ ESQUISITO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Discussões, debates, análises, esqueçam-se disso tudo quando se trata do amor da torcida pelo seu escudo. O torcedor pode esculhambar o seu clube de coração durante todo o campeonato, reclamar do meio-campo lento e até pedir a demissão do técnico, mas basta o time conquistar o título e a zoação com os adversários é imediata. E isso não pode acabar nunca, mas quando analisamos friamente não temos dúvidas em afirmar que o jogo Palmeiras x Corinthians foi um show de horrores e que o campeonato paulista de 2020 deveria ficar sem campeão. Já elogiei o trabalho de Vanderlei Luxemburgo e Tiago Nunes, mas os dois foram extremamente covardes, retranqueiros e nos proporcionaram o que de pior o futebol pode nos oferecer.

E para piorar o cenário tenebroso, Luxemburgo ainda foi citar o português Jorge Jesus, como se esse título paulista, pífio, magro e feio, o credenciasse para isso. Jorge Jesus realmente não inventou a roda, mas fez a roda girar, remou contra a maré, apostou no jogo ofensivo, uma tradição do futebol brasileiro. Claro que qualquer técnico pode fazer isso, mas qual faz? Jorge Jesus caiu no gosto do torcedor por transmitir emoção. Se era marketing ficar andando de um lado para o outro, gritando e gesticulando enquanto a partida rolava, não importa. O torcedor brasileiro gosta de personagens. Não por acaso Jorge Sampaoli tem a simpatia dos jogadores e da galera. Ambos são eficientes e passam emoção.


O que mais me chamou a atenção no estilo de Domènec Torrent foi seu bloquinho. Já já a torcida vai compará-lo a Joel Santana e sua prancheta! Claro que o Flamengo vai subir de produção, mas não dá para os comentaristas desmerecerem a vitória do Atlético alegando que o rubro-negro estava há 20 dias sem jogar. O time mineiro atua junto há pouquíssimo tempo e o entrosamento deve ser levado em consideração. Mas a grande verdade é que esse Brasileirão vai ser esquisito. Já teve partida suspensa por conta de jogadores contaminados pelo covid-19 e as arquibancadas seguirão com torcedores imaginários.

Buscar inspiração será uma tarefa árdua. Não consigo prever um favorito. Minhas apostas como técnicos não deslancharam e até Roger decepcionou no Bahia, outro torneio que deveria terminar sem vencedor, devido ao baixíssimo nível técnico. A prova disso, sem querer desmerecê-lo, é Magno Alves, do Atlético de Alagoinhas, aos 44 anos, eu falei 44, fez gol na decisão do campeonato baiano. E jogou a partida toda! Futebol é futebol, quem sabe, sabe. Isso é um bom incentivo para Nenê e D´Alessandro, que já já chegam aos 40 anos. Não tem esse papo de futebol moderno, antigo, queremos é um futebol bem jogado, mesmo que seja pela beirinha, jogadores flutuando, marcação alta no último terço do campo, com gol acertando a cara da bola, que vá parar na bochecha da rede, do jeitinho que os comentaristas “modernos” mais desejam.