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Silvinho

A ARTE VESTE A ONZE

Houve um tempo em que os pontas davam um show à parte nos gramados pelo Brasil afora! Como bailarinos, gingavam para lá e para cá, deixando os marcadores para trás com enorme facilidade e velocidade. Se hoje são tão raros, no passado eram incontáveis e para exercer a função tinha que ser muito acima da média!

Por essas e por outras que adoramos as resenhas com os pontas do passado e não pensamos duas vezes antes de atravessar a Ponte Rio-Niterói para encontrar com Silvinho, em Icaraí. Formado nas divisões de base do Fluminense, onde foi campeão carioca juvenil e juniores, e com passagens por Vasco, Botafogo, América-RJ, Portuguesa, Náutico, Joinville, Fortaleza e futebol de Israel, a fera fez sucesso nos áureos tempos do futebol brasileiro.

Com muita generosidade, Silvinho nos recebeu em sua casa e passou a limpo a sua carreira! Vale a pena assistir cada segundo da resenha do vídeo acima!
 

 

Carlos Caszely

quando o craque driblou o ditador

entrevista e texto: Paulo Escobar

Carlos Caszely foi, sem dúvidas, o jogador mais popular da história do futebol chileno. Quantas crianças nas décadas de 70 e 80 do século passado não sonharam em ser Caszely ou comemoraram os gols como ele?

Um dos aprendizados que levou desde muito cedo é que um atleta antes de ser jogador é uma pessoa. Sendo assim, conciliar o lado humano e jogar bem dentro de campo era algo habitual na vida dele. Caszely teve que sustentar suas posições e isso lhe custou muita coisa, mas nunca se arrependeu de estar ao lado dos oprimidos.

Carlos Caszely foi um dos maiores artilheiros do futebol latino, com 805 gols anotados, e seu começo foi no Colo-Colo do Chile, clube no qual foi apelidado de “Rei do metro quadrado”. Foram inúmeros gols deixando goleiros no chão e entrando com bola e tudo.


Geralmente, os jogadores com posições fora de campo que zelam por aqueles que mais sofrem, ou que com suas vozes geram polêmicas, não são bem vistos, pois as entidades do futebol prezam pelo silêncio e bons costumes. Para estes, suas ações fora de campo sempre se amplificam e ficam mais visíveis.

Caszely declarou sua posição politica de esquerda desde muito cedo e isto se deu por ver a situação das pessoas pobres de seu país e por acreditar que Allende poderia levar esperança às classes mais baixas. Por conta disso, Carlos não foi contratado pelo Real Madrid na década de 70 e acabou indo jogar no Levante. Depois de duas belas temporadas, foi comprado pelo Espanyol, chegando a jogar na seleção Catalã.

Uma das jogadas mais difíceis e mais arriscadas não foi feita dentro de um campo de futebol, mas sim do lado de fora, numa época de torturas e desaparecimentos de pessoas no Chile. Em 1973, o ditador Pinochet toma o poder e leva a cabo operações de tortura e massacres. Caszely não fica indiferente e foi justamente neste período que ele faz uma das jogadas mais difíceis.

Após a classificação da seleção chilena para a Copa de 1974, os jogadores que iriam disputar a competição na Alemanha deveriam ir saudar o ditador e foi nesta hora que Caszely deixa Pinochet de mão esticada, se negando a saudar o tirano. Era um gesto necessário para Carlos, pois ao caminhar nas ruas, reparava e sentia o que rolava do lado de fora dos estádios.

Esta jogada fora de campo atinge seu coração, pois quem sofreu a consequência deste ato foi sua mãe, Olga Garrido, que foi torturada e violentada. A pedido de sua mãe, Carlos somente trouxe à luz este fato em 1988, numa propaganda do “Não” que visava o voto contra Pinochet no plebiscito realizado a mando do mesmo para ver se continuava no poder até 1997.

Caszely fazia gols e alegrava o público, mas dentro de si trazia a dor de ter tido uma das pessoas mais amadas ser mutilada em seu íntimo. Não guardou rancor, pois a pedido de sua mãe lhe disse para não guardar mágoas.

As pessoas o saudavam nas ruas e agradeciam sua coragem, baixinho aos ouvidos sussurravam a felicidade, os mineiros lhe diziam que ele era a voz daqueles que sofriam. Caszely sofreu não convocações à seleção chilena. Ter levado o primeiro cartão vermelho da história do futebol lhe custou uma série de críticas, teve que jogar e driblar a vida dentro e fora dos gramados.

Sempre é mais cobrado aquele que se posiciona, aquele que não aceita as palavras de suas assessorias ou que sente a mesma realidade que a maioria dos seus torcedores mais desfavorecidos vivem. Um homem com tantos gols e de uma habilidade incrível, frio dentro da área e de um talento diferenciado fez o que poucos jogadores fazem, uma vida próximo à realidade e não foi indiferente ao sofrimento alheio.
 

 

SANTOS CONQUISTA O BI DA LIBERTADORES NA RAÇA E NO TALENTO

por Gabriel Pierin, do Centro de Memória


La Bombonera estava repleta. Os torcedores do Boca Juniors tinham um bom motivo para lotar o estádio e acreditar no título inédito. No primeiro jogo da decisão da Taça Libertadores de 1963, no Maracanã, o Santos vencia por 3 a 0, com dois gols de Coutinho e um de Lima, mas nos minutos finais Sanfilippo marcou duas vezes e a vitória foi ofuscada. Mais do que isso, a vantagem santista parecia possível de ser mantida com o Boca jogando em casa.

O Santos, campeão da Libertadores de 1962, entrou direto na semifinal da edição de 1963, quando enfrentou o rival brasileiro Botafogo, líder isolado de um grupo que tinha Alianza Lima, do Peru, e Milionários, da Colômbia. Santos e Botafogo formaram a base da Seleção na Copa do Mundo disputada naquele ano e o elenco carioca era o vice-campeão brasileiro, atrás do Peixe.

No primeiro duelo entre ambos, no Pacaembu, o Alvinegro da Vila Belmiro só conseguiu um empate por 1 a 1, e mesmo assim com um gol de Pelé aos 45 minutos do segundo tempo. Porém, no Maracanã, diante de mais de 44 mil espectadores, o Santos despachou o Botafogo por 4 a 0, com três gols de Pelé e um de Lima.

O Boca, por sua vez, era o campeão argentino e participava do torneio sul-americano pela primeira vez. Para chegar à final o time portenho liderou o seu grupo, superando Olimpia do Paraguai e Universidad de Chile, e na semifinal passou com duas vitórias pelo temido Peñarol, campeão uruguaio. A derrota por 3 a 2 para o Santos na primeira partida da final era mais um ingrediente poderoso no caldeirão que se formou para a partida de volta.

Na quarta-feira, 11 de setembro, o Santos entrava no estádio do Boca aos gritos de uma multidão enfurecida de 85 mil fanáticos e novo recorde de renda para partidas de futebol na América (120 000 dólares). A pressão era grande e o gramado estava péssimo. O time da Técnica e da Disciplina precisaria muito mais do que isso para superar as adversidades.

Sem Mengálvio, o técnico Lula trouxe Lima para o meio e colocou Dalmo na lateral-direita, fazendo entrar Geraldino na esquerda. O time ficou com Gylmar, Dalmo, Mauro, Calvet e Geraldino; Lima e Zito; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.

O Boca foi escalado por Aristóbolo Deambrosi com Errea, Magdalena, Orlando Peçanha e Simeone; Rattin e Silveira; Grillo, Menéndez, Rojas, Sanfilippo e González. Para arbitrar a partida foi convidado o francês Marcel Albert Bois.

Precisando da vitória, o time da casa se lançou ao ataque. Gylmar, em grande fase, fez uma série de defesas nos primeiros minutos de jogo. O Santos reagiu e Pelé só não marcou porque foi parado com violência. O árbitro controlou a animosidade, advertindo o infrator. O primeiro tempo terminou assim: o Santos controlando o jogo e o Boca procurando vencer a qualquer custo.

Segundo tempo de grandes emoções

Logo no minuto inicial da etapa complementar, o atacante Grillo cruzou na área. Gylmar e Mauro se atrapalharam ao tentar interceptar a bola e ela sobrou para Sanfilippo, que chutou de pé direito para dentro do gol.

O estádio veio abaixo. A vitória do Boca forçaria a terceira partida. Ao Santos até o empate interessava. Sem se abater com a pressão da torcida, o Alvinegro respondeu rápido ao gol. A alegria dos argentinos durou pouco.
Três minutos depois, Dorval interceptou um tiro de meta mal cobrado por Errea e tocou para Pelé, que imediatamente vislumbrou Coutinho entrando entre os zagueiros. O centroavante bateu seco, rasteiro, no canto. O Santos empatava a partida e assumia o controle do jogo.

Com Mauro seguro na defesa, Lima em uma atuação brilhante na cobertura e os laterais Dalmo e Geraldino recebendo o apoio dos pontas Dorval e Pepe que seguravam as investidas de Grillo e Gonzalez, sobrou para a dupla de ataque Coutinho e Pelé infernizar a defesa adversária.

Aos 37 minutos, deslocado pela ponta esquerda, Coutinho seguiu com a bola, cortou para o meio e serviu Pelé, na entrada da área. O Rei, cercado por três adversários, jogou a bola entre as penas de Orlando e tocou na saída de Errea, marcando o segundo gol do Santos.

Por um momento o estádio emudeceu. Pelé foi abraçado pelos companheiros de equipe e recebeu aplausos de todo o estádio, até da implacável torcida adversária, que se rendia ao talento do Rei do Futebol.

O Santos era mais uma vez campeão da América. A vitória classificou o Peixe para disputar o título mundial com o Milan, o campeão europeu, em uma decisão que ficaria marcada por uma das viradas mais espetaculares do Alvinegro Praiano. Uma história que ainda será contada.

FUTEBOL SE GANHA DENTRO E FORA DE CAMPO

por André Luiz Pereira Nunes


Meu saudoso amigo Walquir Pimentel, ex-árbitro e dirigente, no auge da sagacidade e da experiência vivenciadas em décadas no meio do futebol, sempre me dizia que futebol se ganha dentro e fora de campo. A lição nunca me foi esquecida.

– Como assim? Não basta formar um bom time e bater impiedosamente os adversários? – perguntava.

– Não. Se um time não tem representatividade e influência junto à imprensa e aos órgãos federativos de nada adianta., reiterava.

Tal premissa me faz lembrar o Bangu, de Castor de Andrade. Em 1985, vencia os rivais, mas era extremamente prejudicado pelo juiz em momentos-chave. Tais situações ocorreram duas vezes contra Coritiba e Fluminense, respectivamente, nas finais do Brasileiro e Estadual. Alguns atletas daquela magnífica equipe acreditam que o notório bicheiro se descuidou dos assuntos externos porque confiava plenamente em seu plantel.

Outra agremiação extremamente garfada pela arbitragem foi o America, nas décadas de 70 e 80. Aliás, o ex-locutor da Rádio Globo do Rio de Janeiro, Maurício Menezes, hoje gozando da merecida aposentadoria em Juiz de Fora, declarou recentemente em uma rede social que jamais viu em sua vida equipes tão azaradas como a Portuguesa de Desportos, o America e o seu correlato genérico de Belo Horizonte.

O Botafogo, por exemplo, é o clube que mais empatou no presente Campeonato Brasileiro: seis vezes. Teve somente uma vitória e uma derrota. Tem sofrido com uma incômoda sequência de gols anulados pela arbitragem. Agrava-se ainda mais a questão emocional, pois “O Glorioso” ainda tem  tomado gols nos minutos finais das partidas. A revolta é tanta que o goleiro Gatito Fernández resolveu dar um chute na aparelhagem do VAR após o jogo contra o Internacional, devendo ser julgado e punido pela atitude impensada.

É possível que diante de tantos revezes, seja necessário trabalhar o lado psicológico dos atletas, pois a sucessão de tentos anulados e os gols sofridos ao fim dos jogos certamente afetam o moral do grupo.

Para se ter uma ideia, pela nona rodada do Brasileirão, o Botafogo vencia o Athletico Paranaense, em Curitiba, por 1 a 0, e quase tomou a virada nos 5 minutos finais. A equipe paranaense igualaria o marcador, aos 43 minutos, e só não venceu o rival carioca porque Nikão desperdiçou uma penalidade, batendo para fora. Em seguida, Geuvânio mandou uma bola no travessão. Para piorar, houve um gol de Bruno Nazário, aos 44 minutos da primeira etapa, anulado pelo árbitro, que deu impedimento na jogada.

Na rodada anterior o Clube da Estrela Solitária obteve a sua melhor atuação diante do Corinthians. Só não venceu porque mais uma vez foi vítima da arbitragem, a qual concedeu um penal inexistente para o adversário. Detalhe: o sistema defensivo falhou no final do cotejo, deixando o atacante Jô livre para assinalar o gol de empate.

É certo que Paulo Autuori terá muito trabalho para acertar o time, pois alguns de seus comandados estão em má fase. Honda ainda não rendeu o esperado. Bruno Nazário tem boa técnica, mas é instável. Kalou estreou, demonstrou qualidades, mas precisa melhorar muito a questão física. Mas pesam também as dificuldades extra-campo. Outro dia os torcedores protestaram com faixas contra o VAR em frente à sede da CBF, no Rio. Um dos dizeres era: “Igualdade de critérios para todos os clubes do Brasil.”

O Botafogo, para sair desse rol de dificuldades, precisará mesmo melhorar seu time dentro e fora de campo.

DRIBLANDO ATÉ O ANIVERSÁRIO

por Marcos Eduardo Neves


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Hoje não é aniversário de Renato Gaúcho. Incrível como nem quem trabalha diretamente com isso tem o costume de ler. Assim como boa parte da mídia, cresci acreditando que hoje era o dia do aniversário do ex-craque e hoje técnico de futebol Renato Portaluppi.

Não é. Por meio da falecida Dona Maria, mãe do próprio, soube que em 9 de setembro de 1962 o mais bem sucedido dos Portaluppi foi registrado em cartório, porém, nasceu meses antes. Portanto, bola fora da mídia – principalmente a gaúcha.

Um pouco de leitura não faz mal a ninguém. Compartilho aqui trecho do meu livro “Anjo ou demônio – A polêmica trajetória de Renato Gaúcho” no que diz respeito às circunstâncias do nascimento do meu primeiro biografado:

“Fazia frio em Marco da Pedra, distrito de Guaporé. A tarde coberta de nuvens anunciava a chegada de mais um Portaluppi. Como em dias chuvosos as múltiplas goteiras se manifestavam, inundando o casebre, dona Maria, 38 anos, ao sentir os primeiros sinais, preparou-se para dar a luz ao décimo terceiro rebento na casa dos vizinhos, seu Genuíno e dona Ivete. Foram dois dias e duas noites de sofrimento. Até que por volta das 17h de 22 de janeiro nasceu Renato. Mais um homem a juntar-se a Deoclido, Jaime, Adão, Mauro e Ardiles (Flávio fecharia o time masculino). As mulheres chamam-se Jane, Venulda, Íris, Salete, Inelve e Lurdes.

Ao sair do ventre materno, o pequerrucho pesava cinco quilos e duzentos gramas. Bebê robusto, forte como toda família. E lindo, segundo a “mamma”. Tanto que seria apelidado Rosa. Quando Flávio completou seu primeiro aniversário, Renato já com três, mudaram-se todos, em definitivo. Atravessaram 65 quilômetros para fazer a vida na promissora Bento Gonçalves(…)”