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Deley + PC Caju

ENCONTRO DAS MÁQUINAS

Para nós, poucas coisas são tão prazerosas quanto encontrar um craque do passado e relembrar os áureos tempos do futebol brasileiro! Quando são duas feras juntas, a alegria é em dobro! Tomando todos os cuidados, a equipe do Museu reuniu PC Caju e Deley para uma resenha de primeira, no Leblon!

Para quem não sabe, a trajetória de Deley no Fluminense começou graças a PC Caju! Na época da Máquina Tricolor, enquanto rolava um campeonato de juvenis em Volta Redonda, PC, Rivellino, Gil e Pintinho assistiam uma preliminar da arquibancada e se encantaram com um garoto do Volta Redonda!

– Falamos para o Horta que ele não podia perder aquele moleque!

O resto é história e todos nós sabemos muito bem! Deley honrou a camisa tricolor, girou o mundo e tornou-se Secretário de Esportes em Volta Redonda, onde criou o Estádio da Cidadania e contou com a participação de PC Caju na inauguração!

Assista ao vídeo acima e curta essa resenha de alto nível com quem entende verdadeiramente de bola!
 

 

GERALDO: O TRÁGICO CESSAR DE UM ASSOVIO

por André Luiz Pereira Nunes


A geração que forneceu ao Flamengo os maiores títulos da história começou a florescer durante a década de 70. Foi justamente nesse período que o super elenco que veio a conquistar o mundo começou a ser erigido, obviamente em torno de Zico, um dos maiores craques de todos os tempos do futebol brasileiro. Naquele tempo todos depositavam as fichas no mineiro Geraldo Cleofas Dias Alves, nascido em Barão de Cocais, no interior do estado. Diziam que seria o parceiro ideal do Galinho de Quintino, de quem inclusive tinha apenas um ano a menos. O entrosamento era tal que muitos acreditavam que seria mais uma grande dupla, a exemplo de Coutinho e Pelé.

A breve, mas inesquecível carreira teve início nas divisões de base do Flamengo no fim dos anos sessenta. O craque morava nas dependências do clube, no “Morro da Viúva”. Em um belo dia, o olho clínico de Zagallo apontou para Geraldo durante um dos treinos da equipe juvenil. Percebendo que estava diante de uma promessa, o treinador não titubeou e ordenou que o garoto “assoviador” fosse logo integrado ao elenco principal. Se sagraria campeão da Taça Guanabara de 1973 e campeão estadual de 1974.

Quis infelizmente o destino que a vida, a carreira e o futuro de Geraldo acabassem prematura e repentinamente de forma trágica numa cadeira de dentista. O habilidoso e promissor camisa 8 faleceu de chinelos, calça jeans e sem camisa, aos 22 anos, em agosto de 76, após sofrer uma reação à anestesia, o chamado choque anafilático, por conta de uma simples cirurgia de extração de amígdalas recomendada pelo departamento médico do Flamengo.

A consternação abalou todo o Brasil. Semanas após o incidente foi organizada uma partida beneficente, no Maracanã, com a presença de Pelé com o fim de arrecadar fundos para a família daquele que era nome considerado certo para o Mundial da Argentina.


Convocado por Oswaldo Brandão, estreara na Seleção Brasileira na Copa América de 1975, tendo disputado 7 jogos com a camisa canarinho. Pelo Flamengo atuou em 168 jogos (94 vitórias, 40 empates, 34 derrotas), marcando 13 gols, de acordo com o almanaque de Clóvis Martins e Roberto Assaf.

Para Zico, a precoce partida do amigo e parceiro de meio-campo foi a primeira grande perda de sua vida. De acordo com a sua avaliação, o companheiro de time só pecava em um aspecto. Não gostava de finalizar. 

– Ele (Geraldo) não gostava muito de chutar para o gol. Sempre preferiu fazer as jogadas e tocar para alguém. Teve um dia que ele fez uma fileira de adversários e saiu na cara do gol. O jogo era contra o Olaria. A partida estava empatada, já nos minutos finais. Então, eu tomei a bola dele e fiz o gol! – relatou durante entrevista à série “Encontros para Sempre”, do canal pago SporTV. 

Porém foi ressaltado que possuía um talento acima da média. Uma espécie de requinte tão em falta no futebol brasileiro.

– O Geraldo jogava com a cabeça sempre em pé. Não olhava para a bola. Aliás, parecia até que tinha nojo dela. Era engraçado. Tinha muita habilidade – declara o Galinho.

Carlos Alberto Pintinho, um dos integrantes da inesquecível Máquina Tricolor, até hoje chora a sua perda. Ele ressalta que o principal motivo de ter saído do Brasil para atuar na Espanha foi o de não aceitar a morte do companheiro.

– O relacionamento que nós tínhamos era muito forte. Então, com a perda dele, eu quis ir embora – disse o ex-jogador, antes de interromper uma entrevista emocionado.

Segundo familiares e amigos, Geraldo era tranquilo e agradável com todos. Além da habilidade em campo, tinha um hábito bastante peculiar. Vivia assoviando o tempo todo, inclusive nos jogos, daí a óbvia alcunha de assoviador.


Tudo parecia normal na manhã do dia 26 de agosto de 1976. Geraldo guiou o próprio carro até a clínica Rio Cor, em Ipanema, acompanhado do amigo Serginho, então massagista do Flamengo. O meia adiou o quanto pode o procedimento. Parecia pressentir algo de ruim. A decisão ocorrera por insistência da direção rubro-negra. Naquela época era fato costumeiro a extração das amígdalas para evitar infecções persistentes. Júnior, entre outros atletas do elenco, já haviam se submetido com sucesso à operação. O meia foi internado às 7h da quinta-feira. É relatado que ainda fez questão que o médico do clube, o ortopedista Célio Cotecchia, estivesse presente, mas a cirurgia seria realizada pelo otorrinolaringologista Wilson Junqueira, já falecido. Foi ele quem aplicou a anestesia local

Menos de meia hora após a extração, o jogador começou a se sentir mal e teve uma parada cardíaca. Apesar de algumas tentativas infrutíferas de reanimação, a sua morte foi decretada por volta das 10 horas. O jovem craque veio a falecer em decorrência do choque anafilático causado pela anestesia. Serginho, o massagista que o acompanhava, nunca se recuperou do episódio. É relatado em um vídeo que tentou o suicídio após a morte do amigo.

Chegou a ser aventada a suspeita de erro médico. O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) até abriu uma sindicância interna para investigar o caso. Mas os médicos Wilson Junqueira e Célio Cotecchia foram absolvidos.

Chorou o país a perda de um de seus maiores talentos. Geraldo, o assoviador. Geraldo, o mineirinho de Barão de Cocais. O parceiro perfeito do Galinho de Quintino

SEU CHICO

por Valdir Appel


Por mais de 40 anos, o Vasco teve um mordomo que fez da rouparia o seu santuário.

O presidente João Silva pedia licença e apenas Fontana, Brito e Danilo Menezes eram (eventualmente!) autorizados a entrar naquele recinto. 

Da janelinha daquele escaninho, seu Chico mostrava apenas seu magro rosto, sempre com um cigarro no canto da boca, rosnando em resposta um bom dia mal humorado e ranzinza, àqueles que timidamente o cumprimentavam.

Detestava futebol! Jamais foi visto na saída do túnel dando uma espiadinha no andamento de uma partida. Tomava conhecimento dos resultados apenas para saber se receberia bicho ou não.

Nos vestiários, os jogadores não tinham o que reclamar dos serviços do seu Chico. As cestinhas de material eram entregues por ele de forma impecável. Não cometia erros, não dava oportunidades a reclamações.

O que alegrava os atletas era a chegada de um jogador para testes. Sulista, então, era um prato cheio! Um de nós checava o material do recém-chegado e sugeria que ele fosse pedir atadura para proteger os pés.

– Seu Chico, o senhor poderia me ver uma faixa?

Chico ia até o armário da rouparia e trazia a faixa de campeão de 1958 e a entregava para o jogador:

– Pronto, aqui está a sua faixa.

– Seu Chico, é faixa para os pés!

– Ah, então o senhor quer uma atadura?

– Isso, isso, seu Chico!

Chico então lhe dava uma atadura. O cara dizia que eram duas. Chico replicava:

– Então, o senhor quer um par de ataduras!

Torcedores visitantes também nos deixavam felizes:

– Seu Chico, é uma honra conhecer o roupeiro mais famoso do Brasil! Venho de Itajubá, Minas Gerais, lá só tem vascaíno. Eu, por exemplo, sou doente pelo Vasco!

Chico esticava a mão para fora da rouparia e apontava o dedo:

– Entre na primeira porta a esquerda e procure o doutor Marcozzi. Doente, é com ele.

Chico não gostava do nosso treinador, Célio de Souza, e fazia questão de que todos soubessem. O goleiro reserva, Celso, atendendo a um pedido do Célio, foi ao vestiário pedir que seu Chico enviasse todos as bolas disponíveis para fazer um treinamento diferenciado.

– Pra quê todas as bolas?

– Sei lá, seu Chico!

– Pra quê todas as bolas, se uma já atrapalha vocês?

Novamente o Celso, sempre ele…

– Seu Chico, o seu Célio mandou pedir mais um jogo de camisas.

– Quem é o seu Célio?

– Ora, o seu Célio de Souza, treinador do Vasco!

– Não conheço nenhum Célio de Souza treinador. Volta lá e pede pra ele mandar o diploma!

Por conta do Ademir Menezes, passamos alguns constrangimentos…

Ademir costumava ir ao vestiário, quando o jogo era no Maracanã, para nos visitar. Nestas raras ocasiões, seu Chico saía do seu cubículo, se aproximava do grande Queixada, ajoelhava-se aos seus pés e os beijava, dizendo:

– Este sim, me deu muito bicho! Não estes merdas que estão aí, agora!

ROMÁRIO, ANJO 11

por Rubens Lemos


É passar em frente ao prédio e a angústia é instantânea. Volta como em reprise a agonia das caminhadas noturnas na calçada do Hospital Infantil Varela Santiago em Natal.

Chorava na rua para não assistir ao meu filho, Caio, com um ano e um mês de idade, ser picado por agulhas, amarrado ao berço em intenso tratamento contra uma pneumonia surgida do nada.

Dormíamos no pequeno apartamento do hospital. Ele teve que ser amarrado porque não aguentava de impaciência. E se doía nele, mais ainda em mim. Pai sofre em dose tripla.

Caio já demonstrava a valentia sertaneja lá do Oeste potiguar. Soluçava baixinho. Quase 20 dias de tormenta. Quando o libertaram do soro, Caio quase voou do berço e foi pouco para os milhares de abraços chorões.

No esporte, golpe traiçoeiro. O moleque Denner, que eu tenho certeza faria história bem mais que os Neymares e Robinhos, morria enforcado pelo cinto de segurança do seu carro nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Denner, do Vasco, achava o drible mais belo que o gol. Demais eu chorei por Denner. Desabafar também é arma de pobre. Lembro que usei uma tarjinha preta na camisa para ir trabalhar, igual ao luto estampado nos homens interioranos.

Confesso que não me integrei à comoção pela morte de Ayrton Senna. Se vivo fosse, duvido que Schumacher ganhasse tanto depois. O problema, como nos sonhos delirantes, é um pequenino se.

Caio já estava robusto e nós, felizes em nossa vida simples e assim boa além da conta. Tínhamos o suficiente e ninguém ligava pra gente, o que era melhor, o melhor da história.

Veio a Copa do Mundo. E eu com 100% de fé naquele que jamais me decepcionou em minhas preces: Romário. Gostava mais de Romário do que da própria seleção. Ele levava sem saber a revolta que eu precisava extravasar. Eu tinha de ganhar alguma coisa. Ele correspondeu.

O jogo contra a Holanda pôs meu pulmão de tísico à prova. Na falta cobrada por Branco, a que decidiu a partida (3×2), berrei como um Pavarotti com 50 quilos. Caio assustou-se e chorou o que não pudera quando em seu leito de hospital.

Contra a Suécia, na semifinal, o goleiro deles era chato, Ravelli, que ficava zombando a cada chute pra fora de Mazinho, Bebeto, Zinho, até Mauro Silva arriscou de longe. Aí, Romário subiu como senador romano à tribuna, mandando a empáfia do goleiro direto pra Estocolmo.

Contra a Itália, nos pênaltis, petrificado  fiquei quando Baggio mandou a bola pelos ares. E, sem o vozeirão de Cauby, gritei, gritei até ter dó da garganta. Editava o Bom Dia RN na afiliada Globo em Natal.  Encerrei o telejornal com um clip com a música Brasileirinho na voz de Baby Consuelo. Aquele era o hino. De todos os nós desatados.

Fez 26 anos dia 18 de julho. O amigo piedoso me confessa até hoje ter dó do pobre Baggio e a sua solidão após o fracasso e a nossa vitória. E fica indignado quando digo que ele fuck! Ele esquece da tragédia de Zico em 1986.

Feliz 1994. Caio hoje, 27 anos, casado , é torcedor de Copa do Mundo. Nada é perfeito. E acha exagero quando digo que Romário foi tudo. Ele alcançou os meus milagres. Consumou minhas vinganças.

VALEU, XERIFE

por Marcos Vinicius Cabral 


O ex-jogador de futebol Antônio Carlos Ferreira da Costa, de 58 anos, morreu neste sábado (15), no Hospital das Clínicas, em São Gonçalo, onde estava internado com coronavírus.

Nascido em São Gonçalo, Antônio Carlos era zagueiro e jogou no Flamengo na década de 1970, com Júnior, Tita e Zico.

Nas redes sociais vários amigos fizeram postagens exaltando o caráter de Antônio Carlos e lamentando a sua morte.

– Ele era uma pessoa maravilhosa. Tive a oportunidade de conviver com ele no futebol, jogando nos grupos de pelada aqui de São Gonçalo. É muito triste e não tenho palavras para expressar a minha dor”, afirmou o companheiro de peladas Maurício Pimenta.