O MARACANÃ DOS SONS INCONFUNDÍVEIS
por Paulo-Roberto Andel
Para quem viveu o que foi o Maracanã entre 1950 e 2010, e mais especialmente entre os anos 1970 e 1980, as emoções não se limitavam ao verdadeiro carnaval de imagens fantásticas, que iam desde o colorido das torcidas até às maravilhosas jogadas que ficaram na memória, mas também passavam por uma experiência sonora fascinante.
Tudo começava bem antes de um clássico, por exemplo. Se você chegasse mais cedo e ficasse no corredor das arquibancadas, ali por volta das 14h, podia ouvir em intervalos regulares os gritos da multidão que chegava nos trens, desembarcando na estação Derby Club e formando um maravilhoso desenho de gente vindo e cantando, gritando, assobiando, fazendo da chegada ao estádio imortal uma verdadeira catarse.
Já nas arquibancadas, muitas vezes lotadas a partir das 15h, o espetáculo musical ficava por conta do samba. Muito samba, às vezes com a participação de baterias de escolas consagradas. Era a pulsante trilha sonora do pré-jogo e das preliminares, também acompanhada de gritos de guerra (pacífica) das torcidas.
Chegando às 16h45, tudo mudava: o Maracanã era tomado por certo silêncio de expectativa enquanto dezenas de bandeiras se alinhavam nas arquibancadas, tudo no aguardo da entrada dos times em campo. De repente, com a subida dos craques ao gramado, precedidos pela garotada correndo e se empilhando na entrada dos túneis, a arquibancada explodia: cantos, percussões, fogos, luzes, papel picado, papel higiênico, pó de arroz, fumaça colorida, balões e o ruído ensurdecedor de festa.
Durante o jogo, um barulho era inconfundível: “UUUUUUUHHHHHHH”, quando um chute de fora da área passava perto do gol ou era espalmado pelo goleiro para escanteio. A onomatopeia coletiva ia com toda força na cobertura de concreto no Maracanã e voltava, fazendo um eco inesquecível. Se saísse gol, bem, não precisava nem falar: era o orgasmo do futebol, exceto para o time que o levasse.
Durante muitos anos, o som abafado dos alto-falantes teve uma assinatura infalível, a do locutor oficial do Maracanã Victorio Gutemberg. Era dele o bordão “SU-DERJ IN-FORMA” com as substituições em campo, renda, público e jogos relevantes disputados noutros lugares. No intervalo, ele vinha com “LO-TE-RIA”, passando os resultados de momento das partidas da Loteria Esportiva, até então o jogo mais popular do país. Gutemberg sabia dar o tom exato das partidas: certa vez, num Vasco x Fluminense de 1980 no primeiro turno, ao mesmo tempo o Flamengo jogava contra o Bangu em Moça no Bonita. O Flu vencia o Vasco por 2 a 1, enquanto o jogo do Flamengo interessava a ambos os times. Perto do fim da partida, Victorio Gutemberg entrou com “SU-DERJ IN-FORMA: em Moça Bonita…”, fez alguns segundos em silêncio e anunciou “Mi-ran-di-nha” para depois explodir “BAN-GU 1, Fla-mengo 0”, com tricolores e vascaínos se esquecendo do próprio clássico para comemorar o gol alvirrubro.
E justamente nos finais dos clássicos é que surgia uma das maiores experiências sonoras do Maracanã: todo mundo ia com seus radinhos de pilha e cada rádio tinha uma vinheta de minutagem, geralmente usada nas transmissões de cinco em cinco minutos, mas executada a cada 60 segundos depois dos 40 minutos do segundo tempo. Imagine mais de cem mil pessoas com a massa sonora das rádios Globo, Tupi e Nacional também batendo na cobertura de concreto e reverberando em toda a arquibancada? Uma mistura de samba potente, Kraftwerk e Azymuth que só o maior estádio do mundo sabia proporcionar.
Outro ruído sempre presente, mas perceptível apenas nos jogos mais vazios, não vinha das arquibancadas mas da parte de baixo: a velha e saudosa geral, que já gerou estudos, documentários e celebrou o espaço mais popular do Maracanã. Mas isso fica para outra história; afinal, o eco fortíssimo dos sinalzões das rádios, bem descrito no penúltimo parágrafo, ainda está ecoando nestas linhas com força. E os geraldinos merecem uma coluna só para eles.
DE VEXAME EM VEXAME, O SÃO PAULO APRENDE A SER PEQUENO
por Israel Cayo Campos
Desprezando fases pré-classificatórias, o São Paulo não era eliminado de uma fase de grupos da Libertadores desde o longínquo ano de 1987, por sinal, ano em que esse que vos escreve nasceu!
Era uma época em que os times brasileiros davam pouca ou nenhuma importância a competição. A viam como um festival de pontapés adversários e preferiam até ganhar um campeonato paulista a serem campeões da América. Paulista que por sinal naquele ano o tricolor conquistou! Outros tempos…
O próprio São Paulo contribuiu para que esse então desprezado torneio fosse levado a sério pelos demais clubes brasileiros após seu bicampeonato em 1992 e 1993.
Mesmo com o Telê a princípio escalando jogadores reservas contra o Criciúma de Felipão, antes de o São Paulo ganhar, o próprio Telê considerava aquele um torneio desleal, o qual não tinha prazer de disputar pra vencer! Mas o São Paulo foi o grande responsável por criar esse desejo nos demais clubes brasileiros após essas conquistas.
Aos torcedores do Santos, Cruzeiro, Flamengo e Grêmio que venceram antes e que possam se sentir ofendidos, foram conquistas esporádicas. O próprio Santos abriu mão de várias Libertadores pra ir disputar torneios amistosos na Europa! Quem de fato criou a gana em ser campeão da Libertadores e em seguida do Mundo nos clubes brasileiros foi o São Paulo de Raí, Cerezo, Zetti e Muller.
O mundo se globalizou. As situações como ditas antes se inverteram. Os regionais não valem grande coisa, e o grande alvo dos clubes brasileiros passou a ser o torneio sul-americano. Desde então, o São Paulo não só não fora mais eliminado em fases de grupos, como disputou cinco finais sendo três consecutivas e mais duas semifinais…
Mas desde 2012 o time foi se apequenando. Sendo eliminado de tudo que disputou. Muitas vezes da maneira mais vergonhosa possível, como pra times de quarta divisão do futebol nacional. E até a Libertadores, que era o torneio com o qual a torcida do São Paulo mais se identificava – era o seu xodó, não escapou de tal situação. Os vexames vieram de maneira absurda!
Mas vamos dar um salto ao problemático ano de 2020 (caso contrário, escrevo um livro). E a partir daí, me perdoem pela abnegação da racionalidade. Sou humano, sou torcedor. E não dá pra ver um time tão sem sangue atuar com a camisa do São Paulo no torneio que a torcida mais cobra e gosta!
Quando saiu a chave de grupos inclusive, não me assustei. A LDU só iria dar trabalho na altitude. Mas temer o Binacional? Um time semiamador? E temer o River Plate, que era nosso freguês? Que em cinco jogos até então em Libertadores nunca havia nos vencido? No máximo um empate lá e uma vitória aqui e estaríamos classificados a próxima fase da competição. Ledo engano de um estudioso da história do futebol. Aquele São Paulo já não existe mais!
Foi a derrota pra LDU esperada, ok. O troco veio no Morumbi. Mas uma derrota para o Binacional? Sinceramente, poderia estar na altitude do Everest que o São Paulo tinha que ter vencido um time desse nível! Mas aí veio nosso “freguês” River, dentro do Morumbi, sem jogar após a pandemia. Agora o São Paulo vai tirar o pé da lama! Mais uma vez quebrada a cara. Um empate em casa graças a dois gols contras do River Plate e a situação foi para Buenos Aires já com ares de eliminação, pois ao River só bastava um empate.
E ontem (30/09/2020), o ótimo time de Marcelo Gallardo, que desde 2015 vem sendo o melhor time da América, com 3 finais e uma semifinal em 5 anos, fechou o caixão do apático e vergonhoso time tricolor com direito a dois gols da jovem promessa do futebol argentino Julián Álvarez (Abre o olho com ele Seleção Olímpica). Mas o pior de tudo é ver que a própria torcida já não acreditava mais no time! Que já esperava de maneira conformada mais uma derrota e eliminação. Que já vê, por mais que não admita, que o São Paulo time (não clube ou instituição) é pequeno e fraco. E aí não dá pra aceitar!
Agora restou disputar em casa contra o Binacional uma vaga para a Copa Sulamericana. Se não conseguir só precisando de um empate, é melhor parar com futebol e migrar pra outro esporte.
Mas voltando a Libertadores, realmente fui um utópico. Como um time desses pode achar que vai longe no torneio? Com um goleiro que chamam de substituto do Rogério Ceni, mas só sabe chamar gol. Nem lembro o último jogo em que o São Paulo não tomou um! Um lateral espanhol aposentado! Já deveria ter ido ao INSS com o pedido pra receber sua aposentadoria e não ficar tomando grana do São Paulo.
Por sinal, o único que se salva na defesa é o menino da base Diego Costa. E não só pelo gol, mas por ter que fazer o trabalho de toda a defesa São Paulina! Inclusive tomando cartão amarelo por fazer a cobertura do Juanfran toda hora! Só que aí me vem a dúvida. Se o Juanfran não avança pra abrir essas lacunas que o Diego tem que cobrir, o que diabos esse cara faz em campo? Eu mandava embora hoje mesmo!
Continuando na zaga, um Léo Pelé improvisado como zagueiro. Se já era ruim como lateral, imagina improvisado. Isso tendo o Bruno Alves e o Arboleda, zagueiros de ofício no banco! Se sou eu, peço pra jogar em outro clube!
Na lateral esquerda, falem o que quiser! Não vou contar os laterais que passaram lá por menos de um ano. Mas Reinaldo é o pior lateral esquerdo que já vi vestindo a camisa do São Paulo nesse século por mais de um ano… Só acerta quando erra, como foi com o escorregão no escanteio que mandou a bola na cabeça do Diego. Se ele batesse sem errar, ou escorregar, a bola teria ido pra o outro lado da bandeirinha de corner! Sem contar as brigas em campo, os passes errados. Enfim… Pra mim, o Reinaldo ser o camisa 6 de um time que já teve Richarlyson, Júnior, Fábio Aurélio, Serginho e tantos outros só na história recente do clube é uma ABERRAÇÃO!
Luan, que é o melhor volante e é da base, nunca joga com esse atual treinador (jajá chego nele), mas o Tchê Tchê, que só toca a bola de lado, está em todos os jogos. Deve ser amor demais do Diniz pelo meia que começou com ele lá no Audax!
Hernanes é um ídolo, mas não dá mais! É outro aposentado em campo! Só sabe prender a bola no campo de defesa, não acerta um drible e não cria um lance de perigo! Agradecemos os serviços prestados, mas já deu! Que vá jogar lá na segunda divisão italiana no time do Berlusconi! Aqui não dá mais! A torcida é agradecida a ele com certeza, mas uma placa, um busto, ou um pé na calçada da fama já servem de pagamento. Vê-lo atuar com a camisa tricolor hoje em dia é um suplício.
Continuando no meio, mas que devia ser lateral… Daniel Alves. O cara é lateral, passou a vida toda sendo campeão como lateral, chega aos 38 anos de vida no São Paulo e baixa a regra: vou ser meia e camisa 10. Os bovinos dirigentes São Paulinos aceitam. O que foi contra, o Cuca, que hoje faz bom trabalho no Santos, é mandado embora semanas depois!
E no meio o que o Daniel faz? Não marca, não cria, não abre pela direita onde poderia ajudar! Pagar um salário de mais de meio milhão de reais (segundo fontes) para o cara ficar ditando onde quer jogar? E mal? Há, vão a aquele lugarzinho, Diniz, Raí, Pássaro e Leco. Se quiser jogar no São Paulo vai pra lateral direita que foi onde se consagrou em sua carreira. Não me lembro de nenhum time onde se destacou jogando no meio campo. Aí quer fazer essa esculhambação com aval de todos logo no São Paulo? Virou esbórnia mesmo!
O Igor Gomes quero poupar, pois é da base e está jogando em posição totalmente errada! Ele é um meia de armação e de infiltração, como quarto homem de ataque. O Diniz insiste com ele pelas pontas e o pior, o coloca pra começar o jogo lá da defesa! Quando o mesmo chega ao ataque já perdeu o fôlego. Se for pra botar um ponta, escala o Paulinho Boia, o Toró e para de inventar moda de querer sair jogando da meta com um ponta como o Igor Gomes, que nem é ponta! É um absurdo as invenções do “Professor Pardal” Fernando Diniz…
O Vítor Bueno é um morto em campo. Jogador sem alma, sem sangue! Outro que rescindiria contrato pra ontem! Se é pra perder, que se perca com a base, não gastando milhões em salário com jogadores que não sabem nem o significado de vestir a camisa desse clube!
No ataque, o Luciano que é o único que parece saber fazer gol no clube, mas infelizmente estava suspenso! Por incrível que pareça, o Tréllez, com toda sua limitação técnica, conseguiu ontem ter mais raça que os outros jogadores de ataque. Tem o Brenner também, que é bom jogador, e que vou poupar pois é mais um da base.
Mas quem de fato joga com a camisa nove do tricolor é o Pablo. Um cara que foi a maior contratação da história do São Paulo em custos, para não fazer um gol! Pouco participar do jogo em si… Os Chulapas, Careca, Muller, França, Amoroso, Luís Fabiano e tantos outros caras que vestiram essa camisa devem se sentir envergonhados de terem custado menos ao clube que esse cara. Até o Leônidas da Silva deve se remexer no túmulo!
E o técnico… Fernando Diniz. Se esse cara não for demitido depois de ontem, eu em particular paro com o São Paulo até ele sair! Não é possível que nenhum dirigente veja que em mais de um ano de trabalho que o time não joga nada! Quando vence é de maneira apertada, toma gols todos os jogos, tem um meio campo que não marca ninguém, nem cria lances de perigo (gols só de bola parada ou de bate e rebate), e só tem uma jogada que já é manjada por todos os adversários: Sair tocando bola da defesa em transição até ao ataque, só que a bola nunca chega ao ataque! A essa jogadinha malhada, a LDU agradece! E o River em várias situações quase agradeceu nos dois jogos!
Qual a vantagem que o São Paulo tem de jogar num esquema tático onde ele corre riscos em uma zona do campo em que não vai ter vantagem alguma? O Fernando Diniz é um amador. Nem para o meu querido ABC de Natal serve! Foi mandado embora de todos os times de primeira divisão nas primeiras rodadas, aí ganha como prêmio dirigir o São Paulo. Chega a ser absurdo! Diniz é uma piada, um estagiário fingindo ser técnico!
Agora a culpada principal é a diretoria. Lugano e Raí. Pra que vocês precisam dessas vergonhas em seus currículos com a camisa tricolor? Não sujem seus nomes no clube para salvar a cabeça de um dirigente despreparado (o termo que queria usar era outro bem pior) como o Leco! Nenhum dos dois precisa disso!
Tirando os garotos da base, do goleiro ao presidente, nenhum sequer deveria passar na frente dos portões do clube, quanto mais vestir ou administrar um time da grandeza do São Paulo.
Desculpem os que não gostarem do desabafo, mas dessa vez vesti o clubismo e tirei a frieza do analista para desabafar algo que venho há tempos vendo calado, mas muito irritado! Já chega de ver o maior time do país (pois história ainda conta) ser destruído por essa escumalha! Que contrata jogadores que, com todo o respeito que devo a profissão, nem para limpadores da piscina do clube servem! Por sinal, esses fazem seu trabalho dignissimamente bem, já os jogadores nem fazem bem o que lhes cabe, mesmo ganhando fortunas, muito menos fariam bem o trabalho dos limpadores das piscinas do clube!
Respeitem o time que vestem a camisa. O ainda único tricampeão do mundo do futebol brasileiro! Mas que a cada dia está vivendo de glórias do passado como canta seu hino… E nem é pela derrota contra o River apenas, pois reitero que é o melhor time do continente nos últimos cinco anos. Mas o desabafo é pela desgraça que há anos (já são oito e contando…) vejo esses amadores travestidos de amantes do clube fazem no São Paulo. Cansei!
O ÚLTIMO VOO DE CASTILHO
por André Luiz Pereira Nunes
Em 2 de fevereiro de 1987 faleceria aos 59 anos, Carlos José Castilho. O inesquecível goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, vítima da depressão, atirou-se da cobertura do prédio de número 383, da Rua Bonsucesso, vindo a cair na área interna do edifício. Teve morte instantânea. Na ocasião, era treinador do selecionado da Arábia Saudita e se encontrava de férias no Rio. A esposa Vilma Lopes Castilho ainda tentaria evitar o trágico desfecho, mas não teve forças para segurá-lo. O incidente aconteceu por volta das 16h e a família não quis dar declarações à imprensa. Segundo alguns amigos, Castilho desejava rescindir o contrato com os árabes e voltar para o Brasil, mas teria que pagar uma alta rescisão em dólares, algo impraticável mesmo para ele, que vivia com absoluto conforto e tinha a vida, sob o ponto de vista financeiro, realizada.
Nascido em 27 de novembro de 1927, começou jogando peladas em São Cristóvão. Em 1945, começou a treinar no Olaria, o qual defendeu no campeonato da categoria juvenil. No ano seguinte, o pai do artilheiro Ademir Menezes o convidou para o Fluminense, comandado pelo folclórico Gentil Cardoso. Finalmente, em 1947, assinaria o seu primeiro contrato profissional. Daí para o estrelato não tardaria muito, pois em 1950 já fazia parte do elenco vice-campeão mundial da Seleção Brasileira que capitulou em pleno Maracanã diante do Uruguai na tragédia que ficou conhecida como “Maracanazo”. Como se sabe, Barbosa fora o goleiro titular. Muitos se perguntavam do porquê de Castilho, em pleno início de carreira, já ter sido chamado a uma Copa do Mundo. O motivo é claro. Ele simplesmente fechara o gol durante o Campeonato Carioca, de modo que o técnico Flávio Costa não teve como deixá-lo fora de sua lista.
Se sagraria campeão na temporada seguinte pelo Tricolor das Laranjeiras, então comandado por Zezé Moreira, o qual implantara na equipe um polêmico sistema de marcação por zona. O time marcava um gol e depois recuava, de maneira que o adversário pressionava e chutava inúmeras vezes. A torcida sofria horrores, mas debaixo das traves estava um arqueiro seguro, bem colocado e que ainda contava com a sorte, esse diferencial tão importante em uma partida de futebol. Treinava sempre com afinco. Não podia vacilar, pois o seu reserva era o excelente Veludo, também goleiro da Seleção Brasileira. Em 1952, defendeu pênaltis em oito partidas. Certa vez, por conta de uma atrofia no dedo mínimo da mão esquerda, teve que tomar uma difícil decisão. Ou engessava e ficava fora dos gramados por um ano ou se submetia a uma cirurgia para extrair o membro. Optou pelo mais prático, passando a preencher o vazio por dentro da luva com algodão.
Pelo Fluminense foi ainda campeão carioca em 1959 e 1964, além de vencedor do Torneio Rio-São Paulo, em 1960. Participou de quatro Copas do Mundo: 1950, no Brasil (vice-campeão), 1954, na Suíça (como titular), 1958, na Suécia (campeão), e em 1962, no Chile (bicampeão). Foi ainda campeão panamericano, em 1952. Vestiria no total a camisa da Seleção por 31 oportunidades.
Após encerrar a carreira, em 1966, passou logo a treinador. No ano seguinte já se sagraria campeão paraense pelo Paysandu. Teve uma breve passagem pelo Olaria e voltou a ser campeão, em 1969, pelo Paysandu. Dirigiu o Sport, Fortaleza e o Tiradentes. Em 1974, classificou o Vitória para o Campeonato Brasileiro. A seguir, foi campeão invicto pelo Tiradentes, voltando para o Paysandu. Em 1976, conduziu o Operário ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, maior feito da equipe alvinegra de Campo Grande. Esteve no Internacional, no ano seguinte, retornando ao Operário, onde ficou até 1982, quando passaria a treinar o Grêmio. Mais uma vez foi para o Operário e, em 1984, se sagrou campeão paulista pelo Santos. Ainda pelo time da Vila Belmiro conquistaria seu último título, o do Torneio Início, em 1986. Transferira-se no mesmo ano para o Palmeiras e, em seguida, por indicação do amigo Telê Santana, ao futebol árabe.
Para se livrar da depressão, a última e enganosa bola da vida, Castilho deu o seu último mergulho. Provavelmente o grande árbitro deve ter levado em conta o dedo perdido, o intenso esforço a favor do esporte e o talento e a dedicação dentro e fora das quatro linhas.
A SORTE DE TER SORTE
por Idel Halfen
Quando alguém vai participar de algum evento, seja uma competição, uma entrevista de emprego, ou qualquer outra atividade na qual os resultados dependam de variáveis que fujam ao domínio do participante, é comum ouvir: “boa sorte”!
Por entender que existam inúmeros questionamentos quanto à efetiva necessidade de se ter sorte, aproveitaremos esse artigo para abordar o tema, ilustrando-o com um caso que consegue abordar tanto o lado do esporte como o de um “processo seletivo”: o início da carreira do técnico alemão Roger Schmidt, atual treinador do PSV Eindhoven da Holanda.
Em 2003, Schmidt jogava no futebol alemão pelo SC Padermon e foi por lazer assistir a um jogo do Delbrücker SC, clube vizinho que disputava a liga correspondente a uma espécie de 5ª divisão. No estádio, conversando com seus amigos, chamou a atenção do presidente e principal patrocinador da equipe – uma padaria – em função dos seus comentários inteligentes e simples. Foi o que bastou para que o presidente passasse a convidá-lo insistentemente para ser o técnico de sua equipe, até que um ano e meio depois Schmidt aceitou, ainda assim dividindo o tempo com sua profissão de engenheiro.
Sua atuação como treinador levou a equipe à conquista do campeonato e lá permaneceu por três anos, indo depois para equipes que disputavam ligas mais qualificadas, até que em 2012 passou a dirigir o Red Bull Salzburg, transferindo-se em 2014 para o Bayer Leverkusen, em 2017 para a China, até assumir o PSV Eindhoven em 2020.
Diante dessa evolução não há como negar sua capacidade, porém, se retrocedermos ao início, veremos que a sorte de estar no estádio perto do presidente/patrocinador de um time e conversando com seus amigos, foi fator fundamental para um novo direcionamento de carreira, a qual que ele sequer pretendia seguir.
É fato que o sucesso é um somatório de talento, trabalho árduo e sorte, pouco adianta ser extremamente competente e preparado se não houver uma posição/vaga em dado momento para o profissional, assim como também de nada adiantará estar no local certo, na hora certa, se faltar a competência. Vale salientar que o conceito “competência” é bastante subjetivo e volátil, o fato de ser “melhor” não significa ser o melhor para aquele cargo ou para aquela competição naquele momento.
Em ambientes altamente competitivos, então, a sorte tem uma importância ainda maior, corrobora para essa tese o conteúdo do livro Success and Luck, onde o economista Robert Frank se utiliza de estudos para mostrar que o melhor candidato em processos seletivos vence em um número reduzido de casos. Na mesma linha de raciocínio, dispõe que numa economia muito competitiva o “acaso” é determinante para o sucesso.
Conclusões que, no meu modo de ver, fazem total sentido, pois, na medida em que a preparação e o talento estejam praticamente equiparados, restará a sorte como um instrumento decisivo. Não se pode desprezar aqui a influência da autoconfiança como fator de atratividade para a sorte, ou seja, estar bem preparado costuma ajudar a ser mais confiante nos desafios e, dessa forma, aparentemente trazer a sorte como aliada.
Inúmeros eventos corroboram para as teses que reconhecem a influência da sorte, no entanto, há também os negacionistas, geralmente pessoas que obtiveram sucesso através de muito esforço e que preferem negligenciar a participação da sorte. Compreensível. Uma analogia oriunda do ciclismo e do atletismo nos mostra que é fácil perceber as situações em que o vento sopra contra, o mesmo não ocorre quando é a favor, assim a acontece com a sorte.
O tema é bastante rico, mas para sumarizá-lo finalizamos com uma frase do tricolor Nelson Rodrigues: “Sem sorte não se come nem um Chicabon. Você pode engasgar-se com o palito ou ser atropelado pela carrocinha.”
TELÊ, LEÃO E A COPA DE 82
por Luis Filipe Chateaubriand
Algo que, há mais de 35 anos, não se entende no futebol brasileiro é o motivo de Telê Santana, ao assumir a Seleção Brasileira em 1980, e até a Copa do Mundo de 1982, nunca ter convocado Émerson Leão, indiscutivelmente o melhor goleiro do Brasil na época.
Uma especulação sobre o que teria acontecido leva ao seguinte raciocínio: Leão tinha personalidade forte, era um líder; e Telê Santana não queria esse tipo de liderança em seu grupo; afinal, ele queria ser a personalidade forte do grupo.
É inegável que, posta sua carreira até 1982, Leão exerceu papel de liderança, seja no Palmeiras, seja no Vasco da Gama, seja no Grêmio de Porto Alegre, seja ainda na própria Seleção Brasileira.
Também é muito claro que, em sua carreira de treinador, até chegar à Seleção Brasileira, Telê não estava acostumado a lidar com fortes lideranças, nem no Fluminense, nem no Atlético Mineiro, nem no São Paulo, nem no Botafogo, nem no Grêmio, nem no Palmeiras.
Telê deve ter apostado que, sem um grande líder, a Seleção teria um espírito coletivo maior, se unindo em torno de sua liderança.
Só pode ser isso… não era possível enxergar outro motivo para deixar Leão de fora.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!