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O ARQUITETO DO LÍDER

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Agora, com os estádios vazios fica fácil ouvir as orientações dos treinadores. Durante Corinthians x Bragantino, sem qualquer constrangimento, Maurício Barbieri e Coelho pediam aos jogadores: “Agride a bola!”, “Ataca a bola!”. O resultado foi um dos piores jogos dos últimos tempos. Só não foi pior do que Fluminense x Botafogo, com 170 passes errados. Mas ao fim da partida tanto Odair Helmann quanto Bruno Lazaroni consideraram os desempenhos satisfatórios. Odair poderia ter saído com a vitória, mas, novamente, deu um tiro certeiro e correu para trás das barricadas, buscou abrigo. E, aí, o louco é Jorge Sampaoli, que dispara a metralhadora giratória e salve-se quem puder.

Jogar bonito, ofensivamente, virou sinônimo de loucura e irresponsabilidade. Jorge Jesus fez isso e mudou de patamar, passou de Jesus a Deus. Já falei isso e repito, Sampaoli é aluno de Bielsa. Vejam o Leeds, de Marcelo Bielsa, jogar. Dá gosto! Observem os volantes de Leeds e Atlético mineiro. Nem devem ser chamados de volantes porque não são cães de guarda, distribuidores de pancadas. Sinceramente, tenho dó de certos profissionais que, nota-se, sabem jogar bola, mas por total falta de orientação entram em campo para desarmar, bater e só. Veja o caso de Andrei, do Vasco. É um cartão por jogo, seja vermelho ou amarelo. Hudson, do Flu, é outro. Isso prejudica o time, o grupo, a evolução de um trabalho. Ramon foi um jogador maravilhoso, esbanjava técnica, mas será que está conversando com os jogadores, isoladamente, entendendo os pontos fracos de cada um?

Coelho ficava andando de um lado para o outro, fazendo caras e bocas. Isso não funciona. Não é porque Jorge Jesus e Sampaoli fazem que deva fazer. Isso não é uma modinha. Marcelo Chamusca está há 1 ano no Cuiabá e, não por acaso, o time é o líder da Segunda Divisão e apresenta um conjunto bem interessante. Ganhou de um Cruzeiro, que já teve uma penca de treinadores e está desfigurado. Vocês vão me ver reclamando sempre por aqui porque o que se tem para elogiar é muito pouco. Mas os comentaristas tentam, de forma acadêmica, mostrar que não é bem assim. No domingo, durante a transmissão de um desses shows de horrores, um ex-jogador, que certamente fez o curso para treinadores, e hoje é comentarista, em menos de um minuto falou três vezes “posicional”. Não é pegar no pé, não, mas posicional é o……Kkkkk!!! Jogo ruim é jogo ruim.

Na Rádio Tupi, após Flu x Bota, perguntaram o que Gerson, Canhotinha de Ouro, achara da partida. O Papagaio disse “Boa tarde” e foi embora. Para fechar, vou sugerir aos treinadores que mandam os jogadores agredirem e atacarem a bola, e que não conheceram Armando Nogueira, para lerem um texto seu chamado “A Bola”, que narrado pelo saudoso Paulo José fica mais lindo ainda: “Brincar contigo é descobrir a harmonia e o equilíbrio do Universo. Brincar contigo é brincar com Deus, de cuja plenitude nasce a esfera – a inspiração da bola. Bola é magia, bola é movimento….”.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA FALCÃO


Pegar dois ônibus para chegar no treino não era problema para o filho de seu Bento e de dona Azise, que vendia garrafas vazias para pagar suas passagens. 

Quando não conseguia dinheiro, seu Jofre Funchal, treinador da base do Internacional, financiava.

Certo dia, o pai, um caminhoneiro experiente, e a mãe, uma costureira dedicada, quebraram o ‘porquinho’, pegaram as economias guardadas, e compraram sapatos novos para o filho ir para o treino.

Naquele dia, cerca de trezentos meninos aproximadamente passaram pelo vestiário antes e depois do treino para tentar convencer seu Jofre, de que eram craques.

Na ocasião, um deles surrupiou os sapatos do menino, que ao não encontrá-los começou a chorar.

Ao ver as lágrimas do menino, seu Jofre foi numa loja perto do estádio e comprou um par de tênis brancos, para que ele não voltasse descalço para casa. 

Feliz com o presente, mas temeroso ao chegar em casa com medo de levar uma coça, seu Bento e dona Azise perceberam que os tênis eram maiores que os pés do filho, começaram a rir e o menino, acabou rindo junto.

Mas se o menino franzino e bom de bola deu alegria aos pais na infância, Falcão, jogador consagrado, deu ao Internacional três campeonatos brasileiros, em 1975, 1976 e 1979.

Mas o fim se aproximava de forma lenta, porém, suave como a elegância de um cisne de pernas compridas que caminhava no solo verdejante dos campos no Brasil e mundo afora.

Até o dia em que disse: “Chegou a hora de ir!”.

A frase saiu certeira como flecha da boca de Paulo Roberto Falcão, na sala de José Asmuz (1927-2016), presidente do Internacional, e acertou seu peito.

Durante anos, o dirigente colorado  engoliu a seco por ter vendido o maior craque da história do clube em seus 111 anos.

“Chegou a hora dele ir”, dizia à época, sem revelar a razão do negócio.

No entanto, as cinco palavras que construíram a frase que saiu da boca do maior jogador do Sport Clube Internacional, mudou a sua história e o destino do futebol brasileiro.

Sua coragem em meter a mão na maçaneta da porta de entrada para a Europa e abri-la, foi o suficiente para outros jogadores fazerem o mesmo.

Com um futebol elegante, conquistou o campeonato italiano de 1982/83, as copas da Itália nos anos de 1980/81, 1981/82 e 1983/84, e assim como Nero Cláudio César Augusto Germânico, imperador romano, que acendeu fogo em Roma, ele, Falcão, acendeu a paixão no coração do torcedor romanista e pôs fogo no Estádio Olímpico, na cidade que leva o nome do clube que defendeu e onde se tornou Rei.

Fogo intenso que seria apagado com três baldes de água fria jogados pela Itália em 1982, na Copa do Mundo da Espanha, onde foi destaque da equipe de Telê Santana que encantou o planeta.

O craque que fez história com a camisa 5 do Internacional e do Roma, porém, antes de avisar ao presidente José Asmuz que queria sim, se transferir para a Europa, pediu a opinião de Dona Azise, sua mãe. 

“Vai, meu filho! Vai conquistar o mundo”, ouviu como resposta.

Obediente, ele foi.

O Museu da Pelada entrevistou Paulo Roberto Falcão, o Rei de Roma, que contou um pouco da carreira e do desejo em voltar a ser treinador de futebol, na série Vozes da Bola.

por Marcos Vinicius Cabral

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Sinceramente, eu não lembro em ter uma grande inspiração, mas talvez o Pelé, pela qualidade como atleta de futebol, pela relação que ele tinha com seus fãs e a forma com que ele tratava essas pessoas, então, seguramente, tenha sido ele a minha inspiração.

No último 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que ele representou para o Falcão?

Eu acho que na realidade o futebol acontece todos os dias, não só profissionalmente, mas tem futebol todo dia nas escolas, nas escolinhas de futebol, no meio da rua, futebol está para a gente todos os dias do ano. Então, o Dia Nacional do Futebol é sim, os 365 dias do ano.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?


Em casa e lendo, normalmente coisas do futebol, vendo jogos, analisando alguma coisa interessante que possa ter acontecido no jogo, tipo uma falta ensaiada, procurando prestar atenção em jogadores, fazendo isso basicamente, enfim, pois é o que podemos fazer, né?

Quem foi seu melhor treinador?

Quem foi meu melhor treinador? Olha, eu tive vários treinadores, como por exemplo seu Jofre Funchal, na escolinha do Internacional, que me deu muita força; depois o Ernesto Guedes, que me colocou de segundo jogador de meio-campo de meia esquerda para centro médio; depois Dino Sani, que me tirou das categorias de base faltando um ano para chegar ao profissional e me colocou no time principal do Internacional; o Rubens Minelli, que me ajudou muito quando fui para ser segundo homem no meio-campo, além de sua competência; o Ênio Andrade, três vezes campeão brasileiro, pelo Internacional, Grêmio e Coritiba, uma grande figura e com uma capacidade de leitura de jogo impressionante; tive o Nils Liedholm, na Roma-ITA, me ajudou demais, era sueco e como veio antes para Itália, passou pelo mesmo processo que eu de adaptação. Vale ressaltar que o  Nils Liedholm, além de ser uma figura extraordinária e com um carisma enorme, a nível de conhecimento, para os leitores saberem, jogou na seleção sueca e fez o primeiro gol da Suécia contra o Brasil, na Copa do Mundo de 1958 e a seleção brasileira acabou vencendo por 5 a 2. Portanto, esses foram os meus melhores treinadores.

Podemos dizer que você foi pioneiro em ir jogar no mercado italiano. Depois Zico, Toninho Cerezo, Júnior, Casagrande, Renato Gaúcho e outros craques brasileiros da década de 1980 tiveram passagens, mais ou menos vitoriosas, pelo país. Tudo porque um catarinense de Abelardo Cruz resolveu seguir o conselho da mãe e foi para a Europa tentar conquistar o mundo. Na sua opinião, o que você atribui tamanho sucesso?

Realmente, fui o primeiro a ir para a Itália, o mercado estava fechado, e ao abrir, eu fui. Eu sabia que eu tinha que ir bem, eu me preocupava com isso, embora desde no início a saudade fosse forte, mas eu sabia que estava ali com a responsabilidade de abrir mercado para outros brasileiros. O começo sempre é difícil, mas eu fui muito bem recebido pelos jogadores, pelo próprio treinador Nils Liedholm, e isso me ajudou muito na minha adaptação, até porque na época era um estrangeiro só por clube, então era muito mais difícil a adaptação. Na verdade, eu fui para lá sabendo que as coisas não seriam fáceis, e é bom frisar que eu não fui com o corpo e deixei a cabeça no Brasil, como alguns jogadores fazem, ou seja, eu fui inteiro para lá. E tenha certeza, que só assim, do jeito que te falei, eu poderia me adaptar rapidamente, como aconteceu. Mas minha ida para a Itália, tem muito a ver também com a minha idade, tinha 26 para 27 anos, havia feito muita coisa no Brasil, estava com a cabeça feita, e sempre tive uma boa base familiar. Não cheguei na Itália deslumbrado e isso ajudou bastante. As dificuldade que passei na infância, sempre tive o apoio de meus pais e meus irmãos.

Em 30 de agosto de 1980, você estreou pela Roma, em um amistoso contra o Internacional, jogo disputado no Estádio Olímpico de Roma. O jogo terminou empatado em 2 a 2 e quais as lembranças dessa estreia exatamente contra o clube do seu coração?

Foi um jogo festivo e estava dentro do contrato que ocorreria esse jogo. Foi isso, foi uma festividade apenas.

A Roma foi campeã em 1982/83, com duas rodadas de antecedência e quebrou o jejum de 41 anos sem títulos. Para os torcedores romanos, você sucedeu Tarquínio, o Soberbo, comoa oitavo Rei de Roma. É o título mais importante da sua carreira?

Foi uma grande conquista sim, ser campeão com ap Roma-ITA, depois de tanto tempo, 41 anos. Foi um título fantástico, porque era muito difícil ser campeão jogando no contra os times do Juventus, Internacional, Milan, embora o Milan vivesse uma grande dificuldade naquela época, mas havia a Fiorentina que atravessava um bom momento, mas na realidade foram quatro anos maravilhosos, sendo que no primeiro ano, nós já merecíamos ganhar o campeonato. No campeonato de 1980/81, realmente foi um escândalo o gol que anularam, que era o gol praticamente do campeonato. Se você der uma pesquisada aí, você vai ver que faltando três jogos, um ponto atrás do Juventus, na época se jogava por dois pontos e não três como hoje, e com aquela vitória nós passaríamos à frente deles e com dois jogos teoricamente mais tranquilos: um em casa e um outro fora. Então, certamente aquele gol anulado escandalosamente, nós daria o título, já no primeiro ano, em 1980/81. Aquilo ficou em nós, jogadores, um gosto amargo e dez dias depois, no mesmo ano, ganhamos a semifinal da própria Juventus, na Copa da Itália, e depois vencemos o Torino, e fomos campeões.


Você formou um meio de campo memorável na Seleção Brasileira ao lado de Toninho Cerezzo, Sócrates e Zico na Copa do Mundo de 1982. Foi um pecado aquele time não ter conquistado o título?

É, eu joguei com um meio-campo forte, com Cerezo, Sócrates, Zico, era uma seleção muito forte mesmo. Foi um pecado a gente não ter conquistado, não conquistamos o título sabe, mas seguramente conquistamos o título de encantamento, onde o mundo seleção se encantou com aquela seleção. Até hoje, todo mundo pergunta dessa seleção, quer saber dessa time, até mesmo vocês do Museu da Pelada estão me perguntando sobre essa seleção de 1982. Por quê? Porque 82, estamos falando de 38 anos atrás e que ainda se se fala dessa seleção, significa dizer, que essa equipe jogou bem e emocionou. Não ganhou, é verdade,  mas jogar bem e emocionar, mesmo você não ganhando, você fica na história, que é o caso dessa seleção.

Antes de assumir como treinador a Seleção Brasileira em 1991, você comentou, ao lado de João Saldanha, a Copa do Mundo da Itália pela extinta Rede Manchete. Como foi essa experiência?

Minha convivência foi muito boa, infelizmente o João (Saldanha) acabou falecendo lá na Itália, em 1990, e era uma grande figura, muito divertido, uma pessoa que ficou marcado no futebol brasileiro nessa época de comentarista e no período em que foi técnico da seleção brasileira. Mas foi uma experiência muito boa trabalhar na Manchete, e antes da Copa, eu apresentei o programa chamado ‘Itália de Falcão’, onde eu mostrava para as pessoas de modo geral, em especial para os brasileiros que fossem viajar para a Itália, o que eles poderiam fazer além dos jogos da Copa. Então, foi uma experiência muito importante, inclusive ganhando até prêmio esse programa com o (diretor) Nilton Travesso, uma grande série e que me deixou muito realizado em termos de televisão. Mas foi ali que o (ex-presidente da CBF) Ricardo Teixeira pensou em mim como treinador e depois acabei assumindo a seleção brasileira. Acabei não ficando por enes motivos que nem vale citar no caso, pois faz muito tempo.

Você viveu um hiato de 17 anos, entre 1994 e 2011, sem dirigir uma equipe no futebol. Por que ficou longe da bola esse tempo todo?

Na realidade eu resolvi ficar um pouco mais em Porto Alegre, comecei a pensar em voltar para a televisão e fiz televisão na RBS do Rio Grande do Sul e em seguida fui contratado pela Rede Globo, onde fiquei até 2011. Aí, comecei a pensar em voltar a treinar, dirigir uma equipe, me deu saudades da adrenalina, dos treinamentos, dos coletivos, das jogadas ensaiadas, do papo com os jogadores. Foi quando o Internacional me fez o convite e eu acabei aceitando e voltei aos gramados.

O início de sua carreira como treinador, foi após o fiasco na Copa do Mundo de 1990. Na ocasião, você sofreu uma pressão enorme, decorrente de resultados inexpressivos, combinada a uma forte cobrança por parte da imprensa. O que você atribui o fato de não ter permanecido nem um ano à frente da Seleção?

Eu assumi a seleção em 1990, com o objetivo de nos primeiros quatro meses, observar o que o futebol brasileiro tinha para oferecer em termos de jogadores. Felizmente, deu a possibilidade de surgir Cafu, Leonardo, Mauro Silva, Márcio Santos, que acabaram se tornando importantes na conquista da Copa de 1994, nos Estados Unidos. Isso sem falar dos jogadores que não foram usados na seleção, mas que se destacaram muito em seus clubes, como os casos de Cléber, que saiu do Atlético Mineiro para ser multicampeão no Palmeiras, o Adilson Batista, o Luís Henrique, que era do Bahia e foi jogar na Europa, o Mazinho Oliveira, que saiu do Bragantino e foi para a Europa também, ou seja, muitos jogadores se destacaram porque foi dado a eles a oportunidade de vestirem a camisa da seleção brasileira. Ali, eu como treinador, não pensava muito em resultado e não tinha como pensar nisso, para se ter uma ideia no primeiro jogo contra a Espanha, que vinha de uma Copa do Mundo dois meses antes, e no nosso time, ninguém havia viajado para a Europa. Então, nosso objetivo era esse, dar experiência e conhecer os jogadores para que a gente pudesse utilizar depois na Copa do Mundo de 1994, que foi o que o Parreira fez. E inclusive, lembro até que ele disse em uma entrevista quando reconheceu a importância desse nosso trabalho e que o ajudou muito para ele já saber com quais jogadores poderia contar nesse Mundial, que acabou nos dando o título.


Como treinador do América do México, conquistou a Copa Interamericana em 1991 e a Copa dos Campeões da CONCACAF no ano seguinte. Como foram esses dois títulos como treinador?

Como treinador do América-MEX, eu cheguei à final da Concacaf, campeonato que leva para disputar o Mundial de Clubes, mas não fiz a final, saí antes. Lembro que ganhamos a semifinal, aí saí, depois o América-MEX conseguiu ganhar e ser campeão. Foi fantástico, esse título é difícil, como se fosse ganhar uma Libertadores por aqui. Então, foi uma conquista extremamente relevante.

No comando da Seleção Japonesa entre 1994 e 1995, em 9 jogos, você teve 3 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Por que saiu?

Quando eu fui para a seleção japonesa, era um contrato de oito meses e o objetivo de renovação. Lembro que o Japão não havia se classificado para a Copa dos Estados Unidos de 1994 e vivia um grande momento de desilusão. No entanto, nós fomos para lá, eu, Gilberto Tim, preparador físico, o Abelha, treinador de goleiros que já estava lá e fizemos um ótimo trabalho com esse objetivo. Mas existia lá no Japão, uma necessidade de trocar treinador a cada ano e eu nunca entendia o porquê, pois sempre trocava, trocava e trocava, sem razão de ser. Eu, como treinador, cumpri rigorosamente o meu contrato. Deu para lançar alguns jogadores que depois acabaram de destacando na seleção principal.

Você fez um intercâmbio na Fiorentina-ITA e foi um dos fundadores da Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol (FBTF). Como foi a experiência no clube italiano e qual o propósito da Federação? Ela ainda existe?

Fui um dos que participei da FBTF (Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol) sim. Achei que poderia se ter um pouco mais de força mas não está tendo a força que eu imaginava, pois existem muitos bloqueios e não se consegue fazer aquilo que seria o ideal para o futebol brasileiro em termos de treinadores, assim como para os clubes também. A entidade surgiu com o intuito de representar os interesses da categoria no Brasil, na busca por profissionalizar, regularizar e organizar a categoria no País.O objetivo da FBTF é que a gente tivesse um respeito maior só profissional e que se pudesse estabelecer algumas regras importantes, evitar essa troca-troca dos treinadores em clubes, por exemplo. Às vezes, um clube demite quatro, cinco técnicos por ano e às vezes algum deles ficam sem receber desse determinado clube. Quando você caracteriza que não pode mexer em mais do que dois treinadores no ano, você dá ao clube a opção dele escolher melhor o seu profissional. Isso tem que ser uma relação saudável, de federação, clube e os próprios CEO’s, que são os gestores do futebol. Bom, sobre o intercâmbio, eu sempre fiz essas viagens para conversar com treinadores, tive na Fiorentina-ITA, tive no Centro Técnico de Coverciano, na Itália, e isso é bom, pois você conversa com profissionais de outros países, para se ter esse intercâmbio de diálogos, onde se troca ideias e eles gostam muito do futebol o. Nessas viagens, falei com Vincenzo Montella, treinador da Fiorentina-ITA, com Luciano Spalletti, treinador da Roma-ITA, José Mourinho, atualmente treinador do Tottenham-ING, Carlo Ancelloti, ex-treinador da seleção italiana, Cesare Prandelli, atual treinador do Genoa-ITA… enfim, com vários profissionais do futebol e isso sempre nos enriquece também.

Desde novembro do ano passado, as marcas de seus pés estão na calçada em Mônaco, após ser eleito como Lenda do Esporte Mundial durante a 17ª edição do Prêmio Golden Foot. Você imaginou que o filho de Dona Azise, chegaria tão longe?

Foi um outro grande momento ser colocado como lenda do esporte em sua 17ª edição do Prêmio Golden Foot. Para ser sincero, nunca havia pensado nisso e já haviam me convidado algumas vezes, por meio do Antônio Calino, que é o organizador disso lá em Monte Carlo, em Mônaco, na França, mas nunca dava para ir, ou estava treinando, e a impossibidade por outros motivos e tal, mas resolvi ir nesse e fui muito legal. Na ocasião, o Luka Modrić, jogador do Real Madrid estava lá, e foi muito legal, sem falar que o prêmio é muito importante, pois colocar o pé nessa ‘Calçada da Fama’, foi inesquecível.


Você virou tema de uma exposição na Embaixada do Brasil na capital italiana, ano passado. Amostra “Falcão, Ottavo Re” (em português, “Falcão, Oitavo Rei”), exibiu uniformes históricos usados por você, como um par de chuteiras e mais de 50 fotos e um painel biográfico. Você tem a dimensão do que Paulo Roberto Falcão representa para a Roma?

Foi muito legal, muito legal mesmo, foi mais um momento de satisfação profissional e de muita felicidade. Mas fiquei mesmo impressionado com o número de visitantes em que a exposição ficou lá em Roma. Essas homenagens são mais importantes que um título, que um gol, sabe. O fato do reconhecimento em vida é uma coisa que deveria ser feita com todos os profissionais que assim merecem. Já sobre ser Rei, não sei, eu acho que, ser considerado o Rei é uma brincadeira (risos) que eles fazem, mas eu nunca me considerei Rei, longe disso, apenas é uma maneira muito, muito, vamos dizer muito graciosa que os romanos tinham para dar carinho aos seus jogadores, nesse caso específico, dar carinho ao Falcão.

 Faltou algo na sua carreira?

Sempre falta alguma coisa, mas como treinador, eu posso te assegurar que gostaria de montar um time para poder trabalhar. Eu sempre lembro de uma entrevista do Jürgen Klopp, treinador do Liverpool, que disse: “Sinceramente, eu não entendo como os treinadores brasileiros conseguem montar times, porque são demitidos a cada dois ou três meses, por causa de dois ou três resultados negativos, quando eu, em um ano de trabalho, não consigo montar”, então,  você tem que ter paciência, tem que ter um bom grupo de jogadores com qualidade e enfim… montar um time não é fácil mas também não é muito difícil se você tiver as condições para isso.

Defina Falcão em uma única palavra?

Essa definição eu deixo para você, para os leitores do Museu da Pelada, e para quem for ler a entrevista.

Geovani + Mauricinho + Dinamite

O ARCO E AS FLECHAS

A equipe do Museu marcou presença na inauguração do CT do Vasco e, além de conhecer cada detalhe da estrutura, teve a honra de bater um papo com Dinamite, Geovani, Mauricinho e Donizete Pantera, ídolos que honraram a camisa cruzmaltina!

Mais do que craques em campo, são grandes personagens fora das quatro linhas e esbanjaram humildade durante a resenha:

– Ter esses dois ao meu lado era unir o útil ao agradável! São duas grandes figuras! – disparou Dinamite.

É bem verdade que os marcadores sofriam ao encarar esse trio, que tinha ainda a companhia de ninguém menos que Romário e Tita para completar o pesadelo.

Quando Geovani recebia no meio, Mauricinho disparava pela ponta, fugindo das pancadas, para servir Dinamite ou Romário dentro da área e o resultado final todos já sabem: bola na rede.

– Não era eu que lançava bem, era o Mauricinho que se deslocava com perfeição! – disse o humilde Geovani.

Se não bastasse essa resenha de primeira, ainda fomos brindados com o retorno de Geovani aos gramados e uma troca de passes entre o trio no gramado do CT.

– Se você não tiver um pouco de técnica, não adianta ter velocidade! Aprendi muito com essas feras todas! – revelou Mauricinho.

Poderíamos ficar horas e horas tentando descrever o sentimento de participar desse encontro, mas dificilmente seríamos capazes! Só nos resta agradecer por tudo que essas feras proporcionaram ao nosso futebol!
 

 

DE KISSINGER PARA PELÉ: ‘QUERO VOCÊ AQUI, NO COSMOS’

por André Felipe de Lima


Pelé estava milionário — apesar dos graves problemas financeiros com a Fiolax, indústria de borracha de sua propriedade — e não sabia bem o que fazer na reta final da carreira, ou seja, administraria o tantão de dinheiro que merecidamente conquistou ou permaneceria por mais tempo num gramado jogando bola? Esse dilema pintou na cuca do Rei lá pelos meados de 1975. Já havia se despedido da seleção brasileira e do Santos. Nada mais haveria, em tese, a fazer no futebol. Digo “em tese” porque ao falarmos do “Negão” a saudade da bola era preponderante e vice-versa. Despedir-se dela e ela dele parecia improvável. O fim do Pelé constituía-se em algo que todos neste planeta categoricamente negavam. Afinal, o Rei é eterno e sempre terno com seus súditos. Nunca poderia abandoná-los. Não havia e até hoje não há fronteiras que impeçam de oidolatrarmos. Idiomas, culturas, nuances e salamaleques de cada um em cada canto do mundo jamais impediram que um cidadão — mesmo aquele mais distraído com as coisas do futebol — amasse Pelé. Um destes “distraídos”foi o todo poderoso e não menos controverso Henry Kissinger, então secretário de estado americano naquele ano do dilema “peleniano”, que mandava mais que o próprio presidente dos Estados Unidos, o pouco ou nada carismático Gerald Ford. Kissenger tem em seu currículo um suspeitíssimo Nobel da Paz e a péssima fama de ter idealizado ditaduras na América Latina, no Timor e até o golpe militar no Chile, que matou Salvador Allende. Mas estamos falando do Pelé, e foi por ele que Kissinger clamou. Exatamente no dia 2 de junho de 1975, o chanceler brasileiro Antonio Azeredo da Silveira recebera um telegrama do americano implorando para que convencessem Pelé a aceitar a proposta do New York Cosmos. Kissinger alegava que a permanência de Pelé nos Estados Unidos contribuiria para estreitar as relações entre os dois países, principalmente no campo esportivo. Ele dizia que a ida de Pelé para lá popularizaria o futebol em um país onde reinavam (como é a até hoje) o baseball e o basquete. Um apelo similar de alguém tão poderoso dos Estados Unidos, quase um chefe de estado, para que um jogador estrangeiro defendesse um clube de seu país é algo que, humildemente confesso, ignorava. Kissinger “convocar” Pelé é algo quase inverossímil. Mas Pelé é Rei, é fora de qualquer lógica futebolística. Com ele, tudo poderia acontecer, como guerras cessarem e o relógio parar.

Obviamente, a imagem de mítico jogadorbrasileiro estava sendo explorada por um marketing político descarado. O Brasil vivia um período dos mais dolorosos e cruéis da ditadura militar. O mesmo acontecia no Chile desde 1973 e estava prestes a emergir na Argentina. Para o plano de supremacia americana na América Latina, ter Pelé defendendo um clube de Nova York era perfeito. O fato é que Azeredo tratou de entrar imediatamente em contato com Pelé para comunicar o apelo do secretário de estado americano que mais soaria como ordem:

“Tenho o prazer de comunicar-lhe que recebi mensagem do secretário de estado norte-americano, Henry Kissinger manifestando seu interesse pessoal em que possam chegar a bom termo as tentativas entre o Cosmos Clube e V.Sa. para a sua contratação pela equipe de Nova Iorque. Caso V.Sa. decida firmar aquele contrato, estou seguro de que sua permanência nos Estados Unidos contribuirá de forma muito significativa para uma aproximação brasileiro-norte-americana no campo esportivo. Cordiais saudações. AntonioAzeredo da Silveira, ministro de estado das Relações Exteriores.”

Alguns dias após Kissinger pedir ao Rei para aceitar a proposta do clube americano, o Cosmos, no dia 10 de junho, informou oficialmente que Pelé assinara um contrato de três anos, confirmando as especulações da imprensa e até mesmo por parte de Pelé de que estava tudo certo entre ele o clube antes mesmo do telegrama de Kissinger.


O acordo com os gringos permitiu ao Rei matardois coelhos com uma cajadada só. Ele manteve-se perto da sua bola de futebol, rolando-a nas gramas sintéticas de estádios de basebol adaptados para o bom e violento esporte bretão, e de quebra engordou ainda mais sua já parruda conta bancária com estratosféricos salários em dólares que o tornaram o mais bem pago atleta do planeta na ocasião.

A relação de Pelé com a turma da Casa Branca era mais estreita do que se supõe. Recentemente, a CIA revelou documentos que provam que Kissinger promovera um encontro de Pelé com Ford e o conselheiro de segurança nacional Brent Scowcroft dias após o envio do telex ao chanceler brasileiro. Seria aquela a segunda ida de Pelé ao famoso salão oval da Casa Branca. Richard Nixon, antecessor de Ford, recebera o jogador em 1973.

O marketing politico estava consumado. Pelé e Kissinger se tornaram chapas, como vários registros fotográficos apontam em uma breve pesquisa em algum software de busca na internet. Enquanto isso, por aqui, o país andava para trás, e Kissinger tinha um dos dedos (ou mesmo a mão inteira) nesse plano político sórdido na contramão dos direitos humanos. Seria mera semelhança vivermos resquícios disso hoje no Brasil? A despeito da especulação política o pior de tudo é que não temos sequer um craque com pelo menos um por cento do Pelé para fazer farol no exterior. Vivemos a decadência total. O país, a política e o futebol.

QUANDO PELÉ PAROU

por Centro de Memória do Santos


O jogo com a Ponte Preta, no finalzinho do primeiro turno do Campeonato Paulista de 1974, valia mais para o time de Campinas do que para o Santos. Só o campeão do turno se classificaria para a final e o Santos estava atrás da Ponte na classificação. Enfim, era para ser um daqueles jogos de Vila Belmiro quase vazia. Porém, um público superior a 20 mil pessoas foi ao estádio. Mais para ver Pelé, é verdade, do que o Santos.

Naquela noite de quarta-feira, 2 de outubro, o Rei se despediria do futebol. E quem não gostaria de guardar na memória as jogadas de Pelé no campo em que ele marcou 288 gols, entre eles três gols na goleada de 5 a 1 sobre o Bahia, em 27 de dezembro de 1961, que deu ao Alvinegro o seu primeiro título brasileiro?

Na Vila sempre pareceu muito fácil para Pelé marcar gols. Só em um sábado de 1964 ele fez oito na goleada de 11 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, recorde paulista até hoje.

Mas na noite de despedida, por mais que tentasse, ele não conseguir superar o goleiro Carlos, que anos depois seria o titular da Seleção Brasileira. Pelé chegou a acertar uma boa cabeçada, mas Carlos defendeu. O Menino da Vila Cláudio Adão, aos 44 minutos do primeiro tempo, e Geraldo, contra, aos 10 da segunda etapa marcaram os gols que deram a vitória ao Santos por 2 a 0.

Quando Pelé se ajoelhou no gramado, voltando-se para todos os lados do estádio, agradecendo aos torcedores dali do Urbano Caldeira, e de todo o mundo, os jogadores da Ponte Preta foram os primeiros a cumprimentá-lo. A noite se tornou triste e o futebol brasileiro nunca mais foi o mesmo.


Santos 2 x 0 Ponte Preta
Primeiro turno do Campeonato Paulista de 1974
Vila Belmiro, 2 de outubro de 1974 (quarta-feira)
Público: 20 258 pessoas. Renda: Cr$ 219.371,00
Santos: Cejas, Wilson Campos, Vicente, Bianchi e Zé Carlos; Leo Oliveira e Brecha; Da Silva, Cláudio Adão, Pelé (depois Gilson) e Edu. Técnico; Tim.
Ponte Preta: Carlos, Geraldo, Oscar, Zé Luis e Valter; Serelepe e Serginho; Adilson, Valtinho (Brasinha), Valdomiro e Tuta. Técnico Lilo.
Gols: Claudio Adão aos 44 minutos do primeiro tempo e Geraldo, contra, aos 10 do segundo.
Árbitro: Emídio Marques Mesquita.