SAUDAÇÕES AO GUERREIRO
por Claudio Lovato Filho
Ele foi um dos heróis que conduziram o Grêmio numa travessia fundamental.
Com ele, enfrentamos a seca de títulos em boa parte dos anos 70, mas também com ele viramos o jogo.
Formou com Victor Hugo e Tadeu Ricci um meio-campo que todo o gremista recita como parte de um poema épico.
Fez o gol mais rápido da história dos Grenais, aos 14 segundos de jogo, em 14 de agosto de 1977. Uma festa inesquecível no Olímpico. Um sinal claro de que as coisas estavam mudando.
Deu o passe para um dos gols mais importantes da história do Grêmio, o gol que decretou o título estadual que abriu caminho para a conquista do país, do continente e do mundo, o gol de André Catimba na final do Gauchão daquele abençoado ano da graça de 1977. Passe de esquerda, que não era a perna de preferência. Passe milimétrico, passe perfeito, passe de quem sabe – porque ele não era apenas raça e coragem; tinha muita bola no pé também.
Defendeu o Grêmio, como jogador, entre 1971 e 1980. Depois virou conselheiro e dirigente, mas tudo isso – jogador, conselheiro, dirigente –, tudo isso sempre esteve subordinado ao torcedor apaixonado que ele sempre foi desde menino. Ele lutou, chorou e sorriu por causa da camisa azul-preta-e-branca. E a honrou de forma exemplar.
Assim foi desde os tempos do bairro Jardim Floresta, na Zona Norte de Porto Alegre, onde foi criado. Filho de imigrantes russos, passou a infância trabalhando na loja de próteses dentárias fundada pelo pai – e jogando bola, claro.
Júlio Titow, o Iúra, o camisa 8 que foi o mesmo guerreiro nos tempos de vento contra e nos tempos de maré a favor, está completando 68 anos hoje.
Salve Iúra! Parabéns, Passarinho! A Nação Tricolor te parabeniza, te abraça e te agradece por tudo, que não foi pouco.
Tu és, dentre os nossos ídolos, um dos que, de maneira mais precisa, personificam a nossa história, a nossa identidade.
SUDERJ INFORMA
por Paulo-Roberto Andel
Às vezes algumas pessoas perguntam porque tantas outras gostam muito de futebol.
Para mim, não é simples explicar porque praticamente já nasci dentro disso. Então faz parte da minha vida.
Tem muita, mas muita coisa dentro e no entorno de uma partida de futebol. Muito além do esporte.
Milhões de pessoas no mundo e bilhões no planeta têm no futebol às vezes a sua única distração, o seu único alívio. O jogo que nunca termina. Você perde hoje, recobra as esperanças para o próximo jogo, o próximo jogo.
Único esporte em que o mais humilde pode derrubar o mais poderoso.
Jogar bola, botão, ver jogos, games, futebol de preguinho, totó.
Quando era criança, frequentei um lugar chamado Maracanã. Estive por lá durante 35 anos consecutivos e vivi tardes e noites da pesada. Certamente essa vivência impactou toda a minha vida para sempre. Eu olhava as pessoas rindo ou chorando, as bandeiras, a bola chutada para o alto que se perdia em meio aos refletores, os garotos feito eu, alguns bem ricos, outros bem pobres, todos juntos vendo o jogo.
Sem o Maracanã eu teria sido outra pessoa, infinitamente pior. Deitei no chão da geral e fiz do desenho da marquise do Maracanã o meu disco voador. Vi partidas no degrau mais alto da arquibancada e me sentia feliz com aquele mar de gente. Ganhei, perdi, aprendi.
Durante oito anos, ser aluno da UERJ me fez passar pelo Maracanã mais de duas mil vezes, afora os dias de jogos. Até hoje, mesmo com tudo mudado, chegando na Praça da Bandeira eu tenho a mesma sensação de quando meu pai me puxava pela mão, há mais de quarenta anos. Anos depois, eu é que puxei a mão do meu irmão.
Nunca vi o jogo como algo entre inimigos. Pelo contrário: futebol não existe sem o outro. No futebol o adversário é tudo. Já vi muitas partidas com amigos que torcem para outros times. Noutras, não teve jeito: cada um luta pelo seu.
Quantas vezes não fui triste para o Maracanã e passei duas horas de alívio? Muitas, nem sei dizer, talvez a maioria delas.
Apesar do futebol brasileiro estar mal dar pernas, ainda gosto muito do jogo. Mesmo com o meu Maracanã assassinado pela ganância corrupta, ainda vou ao novo em busca de vestígios. Às vezes encontro com amigos, noutras fico sozinho do mesmo jeito que fiz muitas vezes quando era garoto.
O tempo passou muito rápido. Se pudesse escolher no que eu gostaria de voltar no tempo, seria em três vértices: ter minha família de volta, voltar a jogar campeonatos de botão e voltar ao Maracanã, o velho Maracanã de jogos abarrotados e outros muito esvaziados. Às vezes ficar uma ou duas horas em silêncio antes do jogo começar.
Podia voltar ainda mais no tempo e escutar Jorge Curi com João Saldanha no velho Telefunken de luzes verdes. Eram tempos de Edinho e Pintinho, Moisés e Renê, Junior e Uri Geller. Mendonça e Ademir Lobo, Luisinho e Silvinho. Jorge Demolidor. O treinador Velha. Zé Duarte no Rio por algum tempo. Oto Glória. Othon Valentim. Jorge Vieira.
Aquelas luzes piscando num placar de lâmpadas que não deve nada a nenhuma tela de computador da última geração, e que os garotos arregalavam os olhos ao ver o desenho do escudo do time do coração, mais a escalação das equipes.
Hoje, alguns dos meus craques e heróis do gramado estão mortos, outros ainda estão por aí. Os grandes locutores e repórteres. Os cronistas. As rádios. Os líderes de arquibancada. Os árbitros. Mas é como se todos estivessem vivos demais. Penso diariamente em muitos deles, é como se continuassem aqui.
É como se eu ainda tivesse dez anos de idade e ficasse louco para saltar do ônibus e ver meu pai comprar nossos ingressos no guichê, porque aquilo era a certeza de que logo estaríamos num espetáculo de luzes e gentes para todo lado. O que me move agora é isso: eu ainda tenho dez anos de idade, mesmo que o corpo e a lógica desmintam. E quero ter dez anos para sempre, até quando o fim vier.
Miranda desarmando Mendonça, Assis e Washington pulando e trocando palmas.
Cuidado com Luizinho das Arábias. Atenção aos cruzamentos de Perivaldo, do Rodrigues Neto, do Capitão Carlos Alberto Torres também. Tobias agarra demais.
Dener é um perigo, senhores!
No placar do Maracanã, uma narração inesquecível: “Suderj informa!”, obra de arte de Victorio Gutemberg.
@pauloandel
SALVE FERNANDO DINIZ
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Vamos falar sinceramente? Então, vamos. Existem os torcedores que debatem o futebol de forma consciente, justa, sem clubismo, e os que gostam de zoar, provocar os rivais, criar polêmicas, incendiar as resenhas. Falo desses que, por exemplo, chamam Zico de pé frio e esculhambam os jogadores, alguns cracaços, que nunca venceram uma Copa. Só posso considerar isso uma piada, afinal Zico foi um dos maiores de todos os tempos. Essa introdução é para falar sobre o trabalho de Fernando Diniz.
Há alguns anos venho destacando isso, mas a imprensa o menospreza e até, em alguns casos, falta com o respeito, o ironiza, alega que seus times não tem consistência e todas essas baboseiras vindas desses comentaristas que nunca chutaram uma bola. Mas, nesse domingo, após a vitória maiúscula do São Paulo por 4×1 no Flamengo, os comentaristas, um em especial, disse que, agora sim, o São Paulo estava credenciando a ser um dos candidatos ao título. Isso é uma grande palhaçada. Isso não é um elogio ao São Paulo, mas ao Flamengo. O rubro-negro já sofreu algumas goleadas exatamente pela forma ofensiva com que joga. Levará outras. O São Paulo também já foi goleado e mesmo assim nunca deixei de elogiar o trabalho do Diniz, assim como exaltava o de Jorge Jesus.
O trabalho que Diniz faz com os jogadores é básico, mas importantíssimo para suas carreiras. Diniz treina exaustivamente os fundamentos, o que, claramente, não vem ocorrendo com o Galo, de Sampaoli, que também gosto. Se o Volpi pegou dois pênaltis é sinal de treinamento. Diniz vive na corda bamba porque arrisca, ousa, totalmente ao contrário de Odair Hellmann, técnico do Fluminense, que vem conseguindo avançar usando a velha e ultrapassada estratégia da escola gaúcha. Me perdoem os tricolores, mas o Fluminense joga feio.
O time do São Paulo não é milionário e alguns garotos já se destacam. Ainda cometem erros primários, mas por conta dessa ousadia vimos surgir Brenner. Por isso, desaconselho que os comentaristas repitam que só agora, após vencer o Flamengo, Diniz surge como candidato ao título. Outro dia, um locutor, que agora também é comentarista _ mas quem não é comentarista? _ afirmou que Pedro já é melhor do que Lewandowski. Como levar a sério essa turma que prefere, a todo custo, ficar bem com os rubro-negros, mesmo que de forma constrangedora, do que debater futebol de forma consciente. Nesta semana, meus ouvidos doeram quando um narrador disse que o jogador “ligou o piloto automático”. Por um segundo achei que estava assistindo Fórmula 1! Pior que até os jogadores estão se contaminando com esse vocabulário e, durante uma entrevista, um deles disparou que “o time joga no X1 e está sem identidade”. Melhor parar por aqui!
DERRUBADA DE ESTÁDIOS REPRESENTA TRISTE LEGADO OLÍMPICO DO RIO
por André Luiz Pereira Nunes
O futebol do Rio de Janeiro é uma das grandes vítimas da especulação imobiliária que impera em um dos metros quadrados mais caros do mundo. A Cidade Maravilhosa cede cada vez mais lugar a grandes empreendimentos, de modo que terrenos baldios, campos e até estádios, nos últimos anos, tenham dado lugar a arranha-céus, shoppings e rodovias.
Um dos mais tristes símbolos do chamado legado olímpico é o antigo estádio Eustáquio Marques. Único em Jacarepaguá e muito utilizado por times para treinamentos e jogos, como Flamengo e Vasco, foi derrubado por determinação do insensível ex-prefeito Eduardo Paes, em 2015, para a passagem da Transolimpíca, corredor expresso que liga Deodoro ao Recreio dos Bandeirantes. Com capacidade aproximada de 5.000 pessoas, foi inclusive cenário da novela Avenida Brasil. Muitos clubes, alguns já extintos, que transitaram pelas divisões profissionais do estado, como Barcelona, Boavista, Barra da Tijuca, Estácio, Internacional, Marinho, Rio-São Paulo, Universal e Villa Rio mandaram partidas nessa praça de esportes.
A recente reapresentação do folhetim global, na sessão Vale a Pena Ver de Novo, fez o país reviver os craques do Divino Futebol Clube, como Jorginho (Cauã Reymond), Adauto (Juliano Cazarré) e Leandro (Thiago Martins), o qual até migra da Terceira Divisão para atuar no Flamengo durante a trama. Isso sem contar o ídolo Jorge Tufão (Murilo Benício). Oito anos depois, o estádio não existe mais, nem na ficção, muito menos na realidade.
O último sacrificado pela sanha destruidora dos políticos é o tradicional Everest, de Inhaúma, fundado a 28 de abril de 1953. A sua sede social, a qual englobava o estádio Ademar Bebiano (foto), foi demolida por ordem do péssimo e incompetente prefeito Marcelo Crivella, que simplesmente deu de ombros aos vários apelos contrários proferidos por inúmeras personalidades ligadas ao desporto como, por exemplo, Zico, cuja história está ligada a esse clube. Foi justamente contra o time inhaumense que o Galinho de Quintino marcou o seu primeiro gol quando ainda atuava pela Escolinha do Flamengo. Os associados garantem que em momento algum houve diálogo da prefeitura com os representantes auri-anis. Segundo eles, não haveria necessidade de derrubar um patrimônio com 67 anos de tradição, visto que existem outras áreas vazias na região disponíveis para a construção de moradias populares, no caso o projeto Minha Casa, Minha Vida. Infelizmente a demolição foi a solução encontrada pelo município para a realocação das famílias da chamada Favela do Parque Everest, que sofrem costumeiramente com enchentes desde as fortes chuvas de fevereiro de 2018.
A Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação, iniciou as obras para uma nova sede para a agremiação despejada. O espaço fica localizado ao lado da Linha Amarela, em Higienópolis. Porém, os dirigentes argumentam que a extensão é muito menor a ponto do campo só poder ser utilizado para jogos de futebol soçaite. E estamos nos referindo a um clube profissional e filiado à Federação, ainda que atualmente licenciado, que sediava partidas do Campeonato Estadual.
A extinção dos espaços destinados às práticas esportivas impacta diretamente no número e, principalmente, na qualidade dos atletas formados. Ao dispormos de menos possibilidades para que os garotos possam mostrar o seu valor, restringimos cada vez mais oportunidades para que surjam novos valores. Infelizmente esse é um dos legados que os Jogos Olímpicos deixaram em nossa cidade e que nos são de triste memória.
DRIBLES E PALMAS DO EVANGELISTA… GOL DO FEITIÇO
por André Felipe de Lima
Foi como guarda aduaneiro que Evangelista ganhou a vida. O futebol amador de sua época não rendeu dividendos para o futuro
Drible para lá, drible para cá, e lá vai o Evangelista rumo ao gol. Pelo que se lê sobre o ponta-esquerda João Evangelista dos Santos, um dos maiores ídolos do Santos F.C. antes da Era Pelé, percebe-se que o jogador era mesmo carne de pescoço. Pará-lo não devia ser fácil para nenhum médio direito ou beque central da remotíssima década de 1920. Um gesto peculiar ajudou a torná-lo uma legenda do futebol paulista naquela época: antes de cruzar a bola na área, batia palmas. Era o já conhecido sinal para que a pelota chegasse precisa na cabeça do centroavante Feitiço ou nos pés do cracaço Araken Patusca. O gol do Santos era a maior das verdades da terra naquele instante sublime de festa da torcidaalvinegra.
Evangelista — o “Buda”, como também erachamado — nunca conseguiu explicar os motivos que o induziram a bater palmas antes dos cruzamentos na área. Dizia apenas que a estranha mania começara ainda nos campos de peladas de Santos. O não menos mítico goleiro Tuffy tentava convencer o ponta a parar com o gesto porque supostamente desconcentrava os atacantes. Que nada. Evangelista não só permaneceu com o incomum hábito como se manteve absoluto na ponta-esquerda do Santos até o fim da carreira.
De 1925 a 1931, período em que jogou somente pelo alvinegro praiano, Evangelista, que nasceu em Mocambo, Sergipe, no dia 28 de dezembro de 1902, construiu uma carreira extraordinária, porém sem conquistar um título expressivo. Deveria ter sido o de campeão paulista de 1927, quando o Santos encarou o Palestra Itália [hoje Palmeiras] em uma das finais mais polêmicas da história da principal competição bandeirante.
Ao lado de Siriri, Camarão, Feitiço e ArakenPatusca, o ponta formou aquela que para muitos foi a linha de ataque mais poderosa da Era do amadorismo do futebol paulista. Talvez mais potente até que a do poderoso Paulistano, do fora de série Friedenreich. Juntos, os cinco craques — além de Hugo, com quem Evangelista disputava a posição — marcaram incríveis 100 gols em apenas 16 jogos — incrível média de 6,25 gols por partida, até hoje insuperável — naquela memorável campanha de 1927, mas o Santosperdeu a decisão para o Palestra pelo placar de 3 a 2, um dos mais questionados até hoje por historiadores e pesquisadores do futebol.
Como informa em uma de suas crônicas o emérito jornalista e, claro!, santista Adriano de Vaney, Evangelista teria começado a carreira nos juvenis da Portuguesa Santista, a “Briosa”, mas atuando pelo quadro B, em 1923. O titular da ponta no time principal da Portuguesa chamava-se Arnaldo, que acabou machucando-se. Foi a chance que o jovem Evangelista esperava. Entrou no time principal e deu verdadeiros shows de bola até 1925, quando seguiu para o Santos levado pelo goleiro santista Alzemiro Ballio, que se tornaria árbitro de futebol e com quem estudara no Externato Santa Cruz, fundado em 1908 e que ficava na rua Senador Feijó, 217, em Santos.Outra fonte, no caso Celso Jatene, autor do livro A história do Santos Futebol Clube (2012), afirma, no entanto, que o começo da carreira de Evangelista foi no Docas F.C.
No América, Evangelista destacou-se na excursão do clube carioca à Argentina em 1929. Além dele, ostros craques santistas foram emprestados ao alvirrubro, como Camarão, Feitiço e Siriri
Independentemente das duas fontes sobre a origem do craque, a informação inequívoca é queEvangelista rumou para o Santos, onde realizou testes e impressionou, de cara, Urbano Caldeira, então presidente do clube, que não teve dúvidas em lançá-lo imediatamente no time principal. Em 15 dias, Evangelista era o titular da ponta canhota do time principal, onde estreou no dia 22 de março de 1925, contra a Associação Atlética das Palmeiras, que saiu de campo derrotada pelo acachapante placar de 5 a 0, com dois gols do arisco ponteiro estreante.
Evangelista disputou o jogo inaugural do estádio de São Januário, contra o Vasco, o dono da casa, no dia 21 de abril de 1927. Um evento tão marcante para a época que contou inclusive com a presença do presidente da República, Washington Luís. No final, deu Santos, 5 a 3, sem a menor chance para o time carioca na contenda, e o primeiro gol do estádio aconteceu aos 20 minutos do primeiro tempo. O iluminado Evangelista foi, claro, o autor dele.
Se o ano de 1927 não foi de títulos, embora aquele timaço do Santos merecesse ao menos uma taça, o ano seguinte foi auspicioso para o Evangelista, que ganhou um dos prêmios da Loteria Federal de Natal. O dinheiro veio em boa hora para o craque, que não ganhava nada com o futebol. Vivia apenas do salário de guarda aduaneiro.
Defendendo o Santos, Evangelista assinalou 54gols em 125 jogos. Foi algumas vezes titular da seleção paulista. Quando abandonou de vez a carreira, dedicou-se integralmente à família e à religião. Evangelista era diácono da Igreja Batista. Teve quatro filhos — João, Miria, Regina e Eli, os dois últimos ainda vivos — com Esmeralda Rocha dos Santos, com quem se casou em 1929 e permaneceu ao lado durante mais de 50 anos, e vários netos e bisnetos. Seu último jogo pelo Santos foi no dia 5 de novembro de 1931. O Alvinegro praiano perdeu de 4 a 0 para o Hespanha F.C., na Vila Belmiro.
A bordo do S.S.Arlanza, o time do Santos. Na foto, em pé, estão o goleiro Athié, Aristides, Feitiço, Evangelista e Araken Patusca; agachado está Osvaldo; sentados estão Camarão (com a criança no colo) Amorim, Julio, Alfredo e Siriri
Além do Santos, Evangelista vestiu a camisa do América do Rio de Janeiro. Ele, Siriri, Camarão e Feitiço foram emprestados ao clube carioca para uma excursão à Argentina, entre fevereiro e março de 1929. O América levou uma tunda da 6a 1 da seleção argentina, empatou em 1 a 1 com o Estudiantes de La Plata, goleou de 5 a 1 o Ferrocarril Oeste e empatou em 1 a 1 com um combinado portenho. O time brasileiro atravessou o Prata e seguiu para Montevidéu, no Uruguai, onde empatou em 1 a 1 com o Peñarol; regressou a Buenos Aires e novamente perdeu para a seleção argentina, agora pelo placar de 2 a 0. Porém a façanha mais emblemática foi mesmo com a camisa santista, na Vila Belmiro, no dia 30 de julho de 1930, mesmo dia em que Uruguai e Argentina decidiam, em Montevidéu, a primeira edição de uma Copa do Mundo. A façanha santista foi uma inapelável goleada de 6 a 1 na seleção francesa. Feitiço marcou quatro gols e Mário Seixas dois. A equipe responsável pelo massacre formou com Athié, Aristides e Meira; Osvaldo, Roberto e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Mario Seixas e Evangelista. O técnico era Ramon Platero. Os franceses entraram em campo com Thepot, Mattler (Capelle) e Andoire; Laurent, Delmer e Chantrel; Liberati, Pinel, Maschinot, Delfour e Villaplane. O treinador eraRaoul Caudron.
Daquele time do Santos que massacrou os franceses pelo menos dois jogadores eram cotados para integrar a seleção brasileira que participou da Copa realizada no Uruguai: Feitiço e próprio Evangelista eram um dos craques de São Paulo que imprensa alardeava. Mas a crise política entre paulistas e cariocas culminou no boicote dos clubes de São Paulo à seleção.
Este timaço dos 100 gols merecia o título paulista. Da esquerda para a direita: Tuffy, Feitiço, Hugo, David Pimenta, Bilu, Alfredo, Júlio, Araken Patusca, Evangelista, Omar e Camarão
Evangelista teve, contudo, uma oportunidade de enfrentar os campeões do mundo. No dia 23 de abril de 1931, na Vila Belmiro, em jogo amistoso, o Santos enfrentou o temido Bella Vista, do Uruguai, cujo time contava com sete jogadores que ergueram a taça Jules Rimet no ano anterior. Eram eles José Nasazzi, o grande capitão da Copa, Ballestero, Mascheroni, Andrade, Dorado, Iriarte e Castro, além de Borja, que esteve em campo na disputa da medalha de ouro do futebol nos Jogos Olímpicos de 1928 conquistada pela Celeste. Com gols de Camarão e Natinho, o Santos derrotou de 2 a 1 a base uruguaia. Doradodescontou para o Bella Vista.
Evangelista não marcou gol naquele jogo, mas é possível imaginar o misto de alegria pela vitória com a frustação por não ter ido à Copa. O futebol a partir dali era passado para ele. O ex-craquepermaneceu acompanhando cada passo do seu querido Santos, mas a prioridade era a família, esempre ao lado da companheira Esmeralda.
Sabiamente, Evangelista defendia a importância dos ponteiros para qualquer esquema tático, algo que hoje, quase 100 anos após a época dourada daquele estupendo time do Santos, um ou outro técnico mais sagaz explora em seus times. Mas longe de qualquer unanimidade.
No América, Evangelista destacou-se na excursão do clube carioca à Argentina em 1929. Além dele, ostros craques santistas foram emprestados ao alvirrubro, como Camarão, Feitiço e Siriri
“O futebol de hoje exige rapidez, mas parece que ninguém entende isso. Notem quantas vezes apenas um toque a mais na bola destrói a jogada”. Evangelista disse isso em 1980, bem antes, portanto, da explosão física e da velocidade que começaram a determinar os esquemas táticos a partir de 1980, com a figura dos pontasdesaparecendo gradativamente das escalações. A escassez de gols era o que mais preocupava o Evangelista. Mas às 19h do dia 13 de janeiro de 1985, na cidade de Santos, um ACV o levava embora.
Evangelista foi um dos mais importantes jogadores do Santos antes do surgimento da geração de craques geniais que moldou a Era Pelé. Não ergueu tantos troféus como Pepe, inegavelmente o mais emblemático ponta-esquerda da história do clube e segundo maior artilheiro santista depois do Pelé, mas não há duvida caso Pepe não existisse: o melhor ponta canhoto do Santos em todos os tempos seria o cidadão João Evangelista dos Santos, o craque que batia palmas para Feitiço ser artilheiro.
Evangelista defendeu a seleção paulista em várias ocasiões nos anos de 1920. Na foto, ele está ao lado do companheiro de Santos, o avante Feitiço. Também na imagem aparecem outros craques que defenderam o alvinegro praiano: o goleiro Tuffy e o meia atacanteCamarão