CONFLITO DE INTERESSES
por Idel Halfen

A expressão que dá título ao artigo é uma das mais negligenciadas e ignoradas no mercado corporativo.
Ainda que negligência e ignorância possam parecer sinônimos, a ideia da utilização de ambas no texto é diferenciar simploriamente algo feito em “não conformidade” com os códigos de ética – um de forma consciente, o outro impensada.
Não saberia dizer qual das situações é mais preocupante, pois, se a negligência atesta negativamente o caráter de quem comete atos imorais de forma proposital, a ignorância evidencia uma sociedade pouco aculturada com princípios e valores dignos.
No que tange à ignorância, é preciso reconhecer que existem linhas tênues de interpretação sobre certas situações, muitas delas “normalizadas” pela frequência com que ocorrem, daí a importância da existência de códigos de conduta bem elaborados, divulgados e acessíveis.
Preâmbulo concluído, lanço a pergunta:
O que vocês acham de um time ter como patrocinador a mesma marca que patrocina o campeonato que ele disputa?
Para evitar elocubrações, rechaço veementemente qualquer “tese” que venha lançar suspeitas sobre influências na arbitragem, elaborações de tabelas mais favoráveis ou quaisquer outras teorias que venham colocar em discussão a lisura da competição. Claro que numa sociedade tolerante a fake news e recheada de teóricos conspiratórios, as postagens sobre fatos que justifiquem as infundadas suspeitas serão, infelizmente, viralizadas, o que é ruim para a marca e para a própria competição, independentemente de as suposições não passarem de mentiras torpes.
Meu ponto é outro, ele diz respeito a um dos conceitos que rege o esporte, no qual se preconiza a igualdade de condições de oportunidades para que as competições sejam mais justas e, consequentemente, mais atrativas.
Evoluindo nessa premissa, quando vemos uma marca patrocinar um clube aportando valores extremamente superiores ao que os concorrentes recebem de seus patrocinadores, poderíamos, de alguma forma, alegar que tal investimento contribui para o desequilíbrio da competição.

Visto de forma isolada, tal alegação não faz o menor sentido, afinal, cabe aos demais clubes desenvolverem estratégias para se tornarem mais valorizados aos olhos dos potenciais patrocinadores.
Evidentemente, essa busca pela “maior atratividade” deveria considerar os benefícios e malefícios em termos de branding da associação da marca do clube com a da empresa patrocinadora, porém, o atual grau de maturidade da indústria do esporte faz com que os clubes foquem principalmente a busca por receitas de curto prazo, enquanto as marcas priorizam a mera exposição.
Há, no entanto, uma faixa que deveria servir de limite para que a busca pela divulgação não venha trazer reflexos negativos à marca, que é o que pode acontecer quando se está em duas propriedades como o patrocínio ao clube e o title sponsor da competição que o clube disputa de forma simultânea.

Então quer dizer que as confederações não deveriam comercializar o title sponsor de suas competições?
Quando se tratar de confederações/ligas com boa saúde financeira, tendo a responder que “não deveriam”, pois, além de dar margem a ataques contra a credibilidade do campeonato, o title sponsor desvaloriza as propriedades patrocináveis dos clubes, vide a desproporção no volume de exposição. Ressalto que a Premier League, desde a temporada 2016-17, não tem patrocinador intitulando seu campeonato, mesmo diante de propostas milionárias para tal.
Responsabilizar os gestores de marcas e das confederações/ligas pelos possíveis conflitos de interesse não me parece o mais adequado. No meu modo de ver, esses problemas poderiam ser mitigados através da adoção de um código de conduta que seja elaborado sob as óticas de compliance, planejamento estratégico e marketing.
Por fim, cabe esclarecer que a coincidência de patrocínios não se dá exclusivamente no Brasil.
NOTTINGHAM FOGO
por Wesley Machado

Há um tempo atrás o amigo Felipe Corvino achou engraçado o fato de eu ter ficado em dúvida entre torcer na Inglaterra para o Arsenal ou para o Crystal Palace, este último time que também era de John Textor, assim que o mecenas havia adquirido o meu Botafogo.
Não virei Crystal Palace e continuei torcendo para o Arsenal na Inglaterra. Da mesma forma que não vou passar a torcer para o Nottingham Forest, equipe pela qual simpatiza Corvino.
Explico: o Botafogo tem feito negociações com o Forest, para onde foram jogar primeiro o centroavante Igor Jesus e o zagueiro Jair e, agora, o goleiro John e o lateral esquerdo Cuiabano.
Como se costuma dizer no futebol, o Forest virou uma filial do Botafogo, que trouxe do clube inglês o volante Danilo.
O investidor do Forest é o bilionário grego Evangelos Marinakis, que pode aportar recursos no Botafogo.
EIS A QUESTÃO
por Eliezer Cunha

Já há algum tempo não me pronuncio através deste relevante canal de entretenimento, opiniões, debates e artigos. Venho assistindo e repensando sobre os fatos que tem ocorrido durante a prática dos jogos dos campeonatos regionais e nacionais, porém, com muita descrença sobre a justiça de seus resultados. O advento da inclusão do VAR nas decisões arbitrais durante as partidas são objetos de questionamentos frequentes, porém um detalhe mais notório me chama a atenção, os critérios ou a falta deles utilizados no que tange as marcações dos pênaltis envolvendo os componentes mãos e braços.
Houve ou não intenção de interrupção da jogada? Bola na mão ou mão na bola? A pelota está ou não indo em direção ao gol? O braço está adjacente ou disperso do corpo? Lembro que a regra no passado era clara a respeito desse episódio ficando apenas uma interpretação a cargo do juiz, decidir se foi intencional ou não a interceptação da bola dentro da grande área. Hoje o que vemos nas interpretações e julgamentos? Sinceramente desconheço.
No jogo Flamengo x Grêmio do último domingo uma bola atrasada (passe) por um jogador do grêmio encontrou involuntariamente o braço de um jogador do Flamengo e o entendimento do árbitro foi uma infração, pênalti. Sem apresentar nenhum evidente “perigo” de gol.
O VAR muitas vezes evidencia o fato, notifica, porém não se posiciona gerando uma expectativa geral onde todos são afetados, os jogadores, o árbitro de campo, a torcida e a imprensa, afetando a qualidade do campeonato e a reputação do futebol.
O que falta para as instituições por um ponto final nesta questão? Uma revolta dos jogadores e torcedores? Ações na justiça esportiva? Um colegiado de técnicos prejudicados para discutir a questão, uma interposição dos clubes?
A criação e o uso do VAR ainda não está validado, a sistemática de sua atuação não está clara e eficaz e todo o recurso tecnológico utilizado ainda não nos convenceu quanto às consistências dos fatos e a excelência e precisões das decisões arbitrais.
O FUTEBOL ARTE NÃO MORREU
por Wesley Machado

O pipoqueiro vascaíno decreta: “Empresa não tem amor”. Ele se refere à SAF do Botafogo. No meio da semana passada o Cruzmaltino foi superior ao Glorioso no Clássico da Amizade pela Copa do Brasil que terminou empatado.
Os torcedores passionais botafoguenses criticaram a equipe e para os adversários, amigos, amigos, futebol à parte. Eu, que fui dormir no intervalo, considerei o resultado positivo. Pressenti que não sairia mais gols.
E eis que vem o imprevisível final de semana em que o sofrimento, bem como a alegria são possíveis. O sábado de jogo começa com a triste notícia da partida do escritor Luis Fernando Veríssimo, botafoguense no Rio de Janeiro.
Porém bastaram 5 minutos para a felicidade tomar conta dos alvinegros. Com três gols de fora da área, o Fogão deixou a torcida mais tranquila. Mas que tranquilidade que nada. Com o Botafogo, tudo é mais difícil.
Nem com o placar em 3 a 1? Não, caro leitor. Eu vos digo: o botafoguense é um sofredor. Hoje nem tanto. Dia em que Santi parecia ser a estrela solitária a driblar tal qual Garrincha. Mas o Botafogo também tem Montoro.
O camisa 8 dá dois passes de três dedos a la Didi. O estádio vai a êxtase. Futebol bem jogado e goleada. E o Fogão embala de novo. Para a decepção dos invejosos, o Botafogo prova que o futebol arte não morreu.
GOLAÇO E CASTIGO
por Elso Venâncio

O Flamengo teve uma semana para trabalhar e acabou se desconcentrando. A atuação nos 8 a 0 sobre o Vitória foi mágica e histórica, mas atípica. Ainda estava viva na memória dos rubro-negros, mas tinha que ter sido momentâneamente esquecida. O oba-oba com o milionário patrocinador master precisava ser tratado e comemorado fora do Maracanã, e não em dia de jogo.
Apesar do empate por 1 a 1 com o Grêmio, o gol de placa de Arrascaeta merece ser ressaltado. Tabela com Pedro e conclusão certeira, maliciosa, parecendo fácil, mas que só é possível para quem sabe o caminho do gol. O uruguaio, principal nome rubro-negro na temporada, tem 12 gols só no Campeonato Brasileiro — três a menos que o artilheiro, Kaio Jorge, do Cruzeiro —, além de muitas assistências. No ano, são 17 gols, vários deles os mais bonitos do nosso futebol.
Por outro lado, o Flamengo não teve a intensidade das outras partidas e diminuiu o ritmo após o gol, sofrendo o castigo de um pênalti em que a bola tocou no braço do Ayton Lucas. O goleiro Tiago Volpi empatou, lembrando a forma de cobrar de Jorginho. Aliás, o desfalque desse excelente meio-campo não foi sentido, pois De La Cruz reapareceu bem. Após ter sido acusado de estar com o joelho bichado, foi um dos melhores em campo, pedindo para sair apenas quando se cansou. Já Samuel Lino não se encontrou, ficando aquém do que se espera. Matias Viña merece sua chance na lateral-esquerda, visto que Ayrton Lucas também deixou a desejar.
Por mais que o Flamengo tenha mantido a liderança, com 47 pontos, a diferença para o segundo colocado diminuiu. Hoje, o Cruzeiro tem 44, com um jogo a mais. Já o Palmeiras, terceiro colocado, também empatou na rodada e foi a 43 pontos, mas possui uma partida a menos em relação ao clube da Gávea.
Neste Brasileirão, o Flamengo realizou seu melhor primeiro turno na história dos pontos corridos. Foram 43 pontos conquistados nos 19 primeiros jogos, numa campanha superior até à de 2019, com o português Jorge Jesus, que chegou a 42.
Filipe Luis sabe que não é fácil liderar astros, como afirmam alguns. É preciso dar exemplo, sendo disciplinado e disciplinador. No recente episódio com Pedro, exagerou, levando a público um caso que poderia ser resolvido internamente. Na beira de campo, o treinador já demonstrou sua competência. Os “professores” que se julgam eternos ficam ligados, e ainda há as antigas “viúvas” de Jorge Jesus, que nunca iria repetir o trabalho feito em 13 meses no clube. Vale lembrar que o Flamengo também está vivo na Libertadores!