VOZES DA BOLA: ENTREVISTA TATO
Acontece que Carlos Alberto Araújo Prestes nasceu em Curitiba.
E, naquele 17 de março de 1961, ao lhe exporem à vida, levou o primeiro tapa na bunda, e chorou.
Uns dizem que as lágrimas eram Coloradas e Tricolores.
Mas naquele instante do seu nascimento o sistema falava como um esforçado lateral-direito: “Bem vindo ao meu mundo, menino talentoso. Aqui quem manda sou eu”.
Mundo insensível esse que expôs às vísceras naquele seu choro.
Foi naquele dia que começou a sua diferença com ele.
O fato é que o tempo foi passando e o menino Carlinhos foi crescendo e quase tudo já estava pronto, menos o seu destino.
Virou Tato, um dos cinco sentidos, mas, diferentemente dos outros quatro, ele não é encontrado em uma região específica do corpo, e sim em todas as regiões da pele.
Sua pele já ia se revestindo de três cores, as mesmas que traduzem tradição.
Mas antes, muito antes, numa infância e adolescência analógicas, haviam no máximo, o controle remoto da televisão, ver seu pai jogar era raro, mas gostava de ouvir os elogios que seu velho recebia.
Mas os seus sonhos eram reais.
Mesmo com essa impossibilidade, era a dificuldade lá e ele cá.
Quando ele e a dificuldade se esbarravam no jogo da vida, o duelo prometia.
E foi assim a carreira toda.
Nada foi fácil para Tato, que driblou diversas vezes as dificuldades na trajetória e mesmo assim elas continuavam lhe dando porradas, chegando em cima, fungando no cangote ou acertando o tornozelo.
Elas lhe faziam desistir, e o troco era sua insistência.
A derrota para ele era iminente mas saber que nenhuma força maior seria capaz de pará-lo, prosseguiu.
Tato era inadministrável, imarcável, imparável.
Contudo, Tato foi o resultado do insulto daquele tapa na bunda (des)necessário, desferido no dia em que eu nasceu.
Começou no Internacional em 79, passou pelo Goiânia antes de chegar no Fluminense onde fez história com a camisa 11, passou no Vasco, Sport e o Santos.
Embora tenha vivido um excelente momento no Fluminense nos anos 80, Tato não conseguiu ter muitas oportunidades de vestir a camisa da Seleção Brasileira.
Se não fossem os olhares argutos de Edu Coimbra e Telê Santana, teria passado em branco com a amarelinha.
Mas Tato jogou, convenceu, venceu e se tornou inesquecível para os amantes da bola, principalmente os Tricolores que conjugam em prosa e verso o time tricampeão carioca em 83/84/85 e Brasileiro de 84.
Mas tudo isso que este belíssimo ponta-esquerda do futebol brasileiro viveu foi por causa de um simples tapa na bunda.
O Museu da Pelada chegou junto, marcou em cima e fez uma entrevista com o ensaboado Tato para a série Vozes da Bola da semana.
Por Marcos Vinicius Cabral
Queria que nos contasse como foi o seu início de carreira?
Faz tempo, viu! Foi no século passado, lá em 1979, quando fui revelado na base do Internacional, clube em que fiquei uns 3 ou 4 anos mais ou menos e logo em seguida fui emprestado para o Goiânia ainda como juvenil e depois, finalmente cheguei no Fluminense.
Como veio parar no Fluminense?
Fui indicado na época pelo Jandir, que jogou comigo na base do Internacional e que estava no Fluminense fazendo um certo sucesso, e também pelo Machado, que hoje é empresário de futebol.
Quem foi o melhor treinador com quem você trabalhou?
Carlos Alberto Parreira. Foi sem dúvida alguma o melhor treinador que eu tive e que passou no Fluminense. Foi ele que conseguiu ajustar o time de uma forma que se tornasse super competitivo a ponto de conquistar o que foi conquistado naquela época, que foi o Brasileiro de 1984, até então, antes de ser homologado os outros títulos lá de trás nunca tinha sido campeão, no Rio só o Vasco em 74 e o Flamengo em 80. Nós conquistamos o título do Brasileiro de 84, graças e muito ao professor Parreira.
Você enfrentou grandes laterais no futebol carioca como Leandro e Jorginho, ambos do Flamengo, Josimar do Botafogo e Paulo Roberto do Vasco, e que eram bons marcadores também. Qual deles era osso duro de roer?
Desses laterais que você citou na pergunta, todos foram grandiosos jogadores e a nível de seleção brasileira. O Leandro foi o melhor lateral-direito que o Brasil já teve e um dos maiores do mundo, já Jorginho, tetracampeão em 94, outro craque, Paulo Roberto, um excelente jogador, mas o mais encardido para enfrentar era o Josimar, muito complicado mesmo.
Sendo curitibano, você fez história no Fluminense. Qual é o sentimento, em saber que você é incontestável ídolo tricolor?
Bom, sem duvida alguma, ser ídolo tricolor é uma coisa que me enche de orgulho, que traz muita satisfação em minha vida e ficar marcado para torcida, como fiquei no Fluminense, isso é um motivo de alegria não só para mim, mas para os meus familiares, meus filhos, amigos, e esse reconhecimento é uma coisa que eu vou levar para o resto da minha vida.
No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que o esporte representou para o Tato?
O esporte sempre esteve marcado em minha vida desde criança, então, representa muita coisa. Ele me trouxe prazer, me proporcionou alegrias, além de ser importante para todas as pessoas que praticam pensando em bem estar e saúde. No meu caso o futebol foi mais importante ainda já que fui atleta profissional e tive a alegria imensa de poder, por meio dessa modalidade esportiva, de ser viitorioso.
Esse ano o Maracanã completou 70 anos. Quais são as suas primeiras lembranças como jogador no estádio?
Sem dúvida, ainda mais para alguém que sempre sonhou em ser jogador de futebol e querer jogar em estádios cheios, o Maracanã foi o templo do futebol brasileiro e mundial. Para mim desde criança sempre foi um sonho poder atuar no Maracanã e eu tive a felicidade de ter ido jogar no Fluminense e tudo a oportunidade de jogar por inúmeras partidas com o estádio lotado com mais de 150 mil pessoas e às vezes, o que era raro, vazio. No entanto, sem dúvida alguma, foi marcante para mim ter fotos, vídeos jogando naquele maravilhoso lugar que na época era considerado o maior do mundo.
Seu pai foi zagueiro do Internacional e depois teve uma pequena passagem pelo Fluminense. Você seguiu o mesmo caminho, passou no Colorado e chegou no Tricolor. Seu irmão, o lateral Paulo Roberto Prestes, marcou o Atlético Mineiro. De uma família de craques, quem foi o melhor?
Difícil te responder isso. Meu pai foi um excelente zagueiro, muito técnico e com muitas qualidades. Te confesso que vi pouco ele jogando, no entanto, as pessoas comentam que na época dele foi um grande jogador, já o meu irmão foi um excelente lateral-esquerdo e ficou muitos anos no Atlético Mineiro, chegando a ser até capitão da equipe, e eu na ponta-esquerda no Fluminense, acredito ter feito história no clube com conquistas, títulos, atuações… enfim, eu acho que cada um na sua posição e daquilo que jogou, teve seus méritos e desempenharam muito bem o papel de jogador de futebol.
Por falar em pandemia, como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?
Trabalhando. Trabalho em um grupo da Unimed todo dia e tomando as precauções devidas que são o afastamento social, usando máscara, evitando aglomerações e essas coisas todas recomendadas. No mais, esperamos que isso passe logo não só para mim mas para toda a humanidade, já que estamos vivendo um momento difícil em que eu nunca pensei que ia passar por um momento desse em minha vida. Mas vamos lá, com fé em Deus, que a gente vai superar tudo isso em breve.
Recentemente você disse numa entrevista concedida à FluTV, que uma das principais virtudes daquele time tricampeão carioca em 83/84/85 e campeão brasileiro em 1984, era a lealdade na briga pela titularidade. Como era essa ‘briga’ entre vocês?
Normal. A briga pela titularidade sempre foi normal em qualquer grande equipe e naquela época não era diferente. Mas todos se respeitavam e procuravam dentro dos treinamentos e dos jogos fazer o melhor para se manter como titular, mas o importante daquele grupo era a união, tanto titulares quanto reservas, a gente se dava muito bem e isso que fez com que a gente conseguisse conquistar o que foi conquistado com a camisa do Fluminense.
O Fluminense, multicampeão, era um grande time e barato, se compararmos ao Flamengo, por exemplo. Quem custou um pouco mais foi Assis e Washington, o saudoso Casal 20 e Romerito. Seja sincero: havia como aquele time dar errado?
Realmente se for comparar aquele time com hoje em dia, foi muito barato mesmo. Por exemplo, eu fui para o Fluminense praticamente de graça, o Jandir idem, o Ricardo Gomes saiu da base e o Branco também, o Aldo e Duílio já estavam no clube e chegou o Romerito, e como você mesmo falou o Assis e o Washington que vieram do Athletico Paranaense que não era o clube que é hoje. Mas sinceramente, tinha tudo para dar certo porque além de serem grandes jogadores a cumplicidade e a vontade de vencer eram enormes e nas mãos certas, acabou a coisa seguindo em frente e conquistamos os títulos que ficaram marcados no clube.
Você chegou no Fluminense e encontrou Paulinho Carioca, também hábil e talentoso ponta esquerda como você. Nessa disputa pela camisa 11, quem ganhou e quem perdeu?
O Paulinho foi um grande jogador, um ponta rápido, extremamente habilidoso que ia para o confronto mesmo e levava para cima. Falar do Paulinho é relembrar da nossa convivência, que aliás era muito boa, e ele acabou sendo importante na minha carreira, pois eu tinha que jogar bola, do contrário, ele poderia tomar meu lugar no time. Mas sou amigo dele até hoje e de vez em quando conversamos pelo Facebook, no entanto, o mais importante é que quem ganhou com tudo isso fui eu, foi o Paulinho, e principalmente o Fluminense.
Mesmo sendo um jogador habilidoso com a perna esquerda, o gol mais importante que fez na carreira foi com pé direito, na vitória por 2 a 0, contra o Corinthians de Carlos, Wladimir, Biro-Biro, Sócrates, Zenon e Casagrande, no primeiro jogo das semifinais do Brasileiro de 1984, no Morumbi. Como foi esse gol?
É, são coisas da vida, né? Sendo canhoto e usando a perna direita apenas para subir em ônibus, acabei fazendo o gol mais importante da minha carreira com o pé direito. Mas foi a única forma que eu tinha ali porque se eu fosse com o pé esquerdo eu não conseguiria fazer o gol. No entanto, aquela grande vitória contra o Corinthians no Morumbi com 100 mil pessoas, que era um grande time e vinha de uma goleada contra o Flamengo por 4 a 1, se não me engano, nos deu uma moral, força e confiança, atributos importantes que um time tem que levar para uma final para enfrentar o Vasco, que era um equipe muito boa. Mas graças a Deus, felizmente, a coisa acabou dando certo.
Quando você fecha os olhos sente muitas saudades da torcida do Fluminense?
Toda hora. Penso em tudo que a gente viveu nas Laranjeiras, pois foi um período vitorioso em seis anos, no qual conviví com os meus companheiros e que se tornaram uma grande família. A saudade bate e lembro de todos, acho que a grande coisa que ficou marcada daquela equipe do Fluminense em qual eu participei foi o legado que a gente deixou com títulos para a grande e imensa torcida tricolor.
Poucos se lembram, mas você teve uma passagem pelo Vasco da Gama, em 1989, onde participou da vitoriosa campanha no Campeonato Brasileiro, ainda que nunca tenha conseguido se firmar como titular em uma super equipe e que contava com inúmeros jogadores de Seleção Brasileira como Acácio, Bebeto, Mazinho, Bismarck, Andrade, Luiz Carlos Winck, entre outros. Como foi essa sua ida para o Gigante da Colina e como lidou com a reserva?
Naquele time do Vasco de 1989, realmente era uma seleção, pois se você pegar todos os jogadores, praticamente jogavam ou jogaram na seleção brasileira. Então é como hoje em dia, você pega aí times que têm um grande elenco e de repente você vê um grande jogador no banco de reservas, como o Flamengo de hoje em dia com o Diego Ribas na reserva, o Everton Ribeiro de vez em quando sai, o Arrascaeta não entra, coisas normais. Assim, é normal você estar no meio de um plantel com grandes jogadores, não pesa tanto, mas claro que você quer jogar, como aconteceu muitas vezes de eu ser titular naquele time do Vasco. Mas o mais importante, eu acho, que fica marcado é ter participado de um grupo como aquele e ter sido campeão, é claro!
Mesmo sendo um ponta muito habilidoso e tendo vivido uma excelente fase no Fluminense, na sua opinião, por que você teve poucas oportunidades na Seleção?
Sinceramente, não sei, pois isso vai de treinador para treinador e se eu fosse contar toda minha história ia demorar para caramba. Mas naquela época no país, poucos jogadores iam para fora do país, então, a competição era enorme. Para se ter uma ideia, a Seleção Brasileira podia ser formada por duas, três grandes equipes, dependendo do treinador. Atualmente cada um tem sua preferência, mas o mais importante é que eu cheguei lá, vesti a camisa e joguei na Seleção e isso fica marcado na minha história e na minha vida.
Quem foi seu ídolo no futebol?
Tive vários ídolos que quando eu era adolescente eu gostava de ver jogar. Me lembro do Rivellino, do Mário Sérgio, todos canhotos como eu e do nosso Rei Pelé, que nem se fala, né? Mas o meu grande ídolo, sem dúvida alguma foi meu pai, pelo grande jogador que foi, o grande ser humano, grande chefe de família e que que inspirou muito, me deu forças no começo da minha carreira, me incentivou a continuar e a não desistir e seguir em frente.
Como vê o Fluminense atualmente?
Com bons olhos, pois o Fluminense tem um bom time, bem treinado, um bom elenco e vem numa luta grande para conquistar algo nesse Campeonato Brasileiro. Eu estou torcendo muito para que tudo dê certo e o nosso Tricolor consiga fazer uma grande campanha.
Defina Tato em uma única palavra?
Em uma única palavra? Do bem. Tato é uma pessoa do bem.
A imensa torcida tricolor quer saber: O que o Tato tem feito da vida? Continua trabalhando com futebol?
Não, eu não trabalho com futebol. Eu trabalho com o grupo Vital, que é Unimed, que é um grupo de saúde e estou muito feliz com o que faço, com as pessoas com quem convivo lá na empresa, e isso é motivo de alegria, de felicidade, de sonhos e esperanças e sem dúvida alguma, realizações. Desde já, um forte abraço a todos do Museu da Pelada e a grande torcida tricolor do nosso querido Fluminense, um abraço!
SHOW DE MEDIOCRIDADE
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Sei que muita gente vai falar que o PC é rabugento, que nunca está satisfeito com nada, que acha que o futebol de verdade acabou na década de 70, blá, blá, blá, mas o que posso falar após Brasil x Venezuela e alguns jogos do Brasileirão? A atuação da seleção foi medíocre e o mais patético foi Everton Ribeiro e um outro jogador tabelando próximo à bandeirinha do corner, fazendo cera. E da beira do campo, Tite berrando “posicional, posicional”. Sem falar em Pedro errando uma bicicleta. Enfim, esse grupo não convence.
O lateral Danilo não pode ser titular de uma seleção brasileira. Na verdade, ele e vários. Infelizmente ainda dependemos de Neymar, mas é bom Tite saber que Neymar não é Maradona, nem Romário, Bebeto, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo. Esses salvaram a pele de seus treinadores. Mas apostar no talento individual é um erro primário. Conjunto não existe e se a renovação vem sendo feita não surtiu efeito e, pior, ainda não deu esperança ao torcedor. A seleção não tem um líder, uma referência, e só lidera as Eliminatórias porque os adversários não existem. Vale lembrar que fomos eliminados por países europeus nas últimas quatro edições da Copa do Mundo e continuamos errando ao não enfrentar essas seleções durante a preparação.
Lembro perfeitamente das excursões que fazíamos na Europa e o resultado vocês já sabem! No Brasileirão, Ceni, a quem sempre elogiei, errou novamente ao abandonar o Fortaleza no meio do caminho. Ah, mas era para o poderoso Flamengo, vão argumentar alguns. E daí? Se tivesse ficado no Fortaleza sairia muito mais valorizado profissionalmente. E se por acaso não der certo? Vai pedir abrigo ao Fortaleza novamente? O Fluminense perdeu duas seguidas e o Vasco voltou a vencer. Dos técnicos estrangeiros, Sá Pinto é o que encarou o maior desafio. Se bem que Ramón Diaz terá muito trabalho pela frente. Teve um piripaque antes mesmo de assumir ou será que viu algum treino e passou mal, Kkkk!
E a Copa do Brasil vem provando o que já sabíamos, os times da Primeira e Segunda Divisão estão no mesmo nível. O VAR não deu um pênalti escandaloso a favor do Galo, beneficiando o Corinthians, que com um futebol horroroso, acabou perdendo mais uma. E vocês ainda esperam elogios da minha parte? Tudo bem, gostei das bermudas de Sá Pinto e Sampaoli. Os gringos encarnam nosso espírito melhor do que nós. Mais bermuda e menos ternos e camisas sociais. Mais molecagem, dribles e menos berros de “posicional”. Não merecemos isso.
INSÓLITAS HISTÓRIAS DE UM REPÓRTER ESPORTIVO (PARTE 1)
por André Luiz Pereira Nunes
Corria o ano de 2011. Esse repórter costumeiramente cobria campeonatos da segunda e terceira divisão do Rio de Janeiro e passou também a acompanhar por um curto período os certames promovidos pela Liga Independente de São João de Meriti, na época presidida pelo então vereador Otojanes Coutinho de Oliveira. Não ganhava absolutamente nada. O único interesse era o de fazer um levantamento histórico das agremiações do município, algumas muito antigas e tradicionais. Realmente adorei promover esse trabalho, o qual me concedeu até um prêmio posterior. Mas o melhor de tudo foi ganhar amigos e vivenciar experiências muito engraçadas como essas que irei discorrer.
O campeonato em disputa era o de veteranos, o chamado Cinquentão ou sub-50. Os participantes eram todos times da cidade, com exceção do Periquitos, de Duque de Caxias. Criado nos anos 60, era treinado e presidido por Paulo Roberto Nascimento (foto). Conhecido popularmente como Muralha, também comandou o extinto Colúmbia, equipe que chegou a disputar certames profissionais da Federação durante os anos 90. Atualmente é o homem-forte da Liga de Duque de Caxias e ainda organiza torneios na sua localidade, Olavo Bilac. Ao assistir a um dos jogos do Periquitos, percebi que os próprios jogadores mencionavam muito um tal de Cacareco. O craque da equipe era um certo Zico. Contudo, ao escrever a minha coluna semanal, não me lembrava direito quais atletas haviam sido destaques e acabei assinalando Zico e Cacareco.
Na rodada seguinte acabei fazendo novamente a cobertura de mais um jogo do Periquitos. Dessa vez o adversário era o Coelho da Rocha, também outro ex-integrante nos anos 80 e 90 do futebol profissional. Ao chegar em campo, percebi que os jogadores de Caxias me olhavam bastante ressabiados. Reparei que o tal Cacareco era extremamente gozado pelos demais, que riam e ainda me apontavam. Eu, sem entender nada do que se passava, me dirigi ao Paulo Roberto Muralha, o qual estava prestes a fazer a preleção. Ele me disse o seguinte:
– André, a sua matéria ficou ótima! Mas ninguém entendeu nada. Você escreveu que um dos destaques do time é o Cacareco. Olha lá, estão todos encarnando nele! O Cacareco não é destaque de nada. O Cacareco é banco!!!
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Sítio alugado em Vassouras para uma festa de final de ano reunindo funcionários de uma empresa. Comida e som rolando soltos. O tranquilo Paulo Roberto Muralha se confraternizava com os amigos quando, de repente, ocorreu um alvoroço. Uma mulher aparentemente estava descontrolada. Parecia ter pego um santo ou, até quem sabe, um encosto. Muitos a cercaram. Tentaram contê-la.
Na mesma hora o intrépido Muralha tentou se assenhorar da situação. Disse logo para todo mundo que iria resolver facilmente a situação da moça. Alegou que sabia como tirar o santo da mulher, pois já vira na TV como se fazia.
– É mole. Sei como se faz. Os pastores fazem isso na televisão. Deixem que resolvo. Vocês cinco, tentem prender as mãos dela para trás que faço o resto, exclamou, confiante.
A situação, porém, não se desenrolou exatamente dessa forma. Ao colocar a mão na testa da mulher e ordenar que o encosto saísse, a mesma deu uma sacudida fenomenal que já jogou, de uma só levada, os cinco que a prendiam ao chão. A moça simplesmente deu um solavanco incomparável com a força habitual de uma pessoa, ainda mais em se tratando do sexo feminino.
Não só o Muralha não conseguiu tirar nenhum santo, como ainda teve que sair correndo, pois a mulher, fula da vida, com encosto e tudo, danou a persegui-lo pela festa.
FAZER O CERTO DÁ TRABALHO
por Bruno Pereira Pinto
Que o Brasil talvez seja o maior centro exportador de mão de obra futebolística, isso não se discute. O país que revelou Arthur Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Pele, PC Caju (não poderia esquecê-lo mestre) Zico, Romário, Ronaldo e mais recentemente Neymar, sem mencionar tantos outros, tem um potencial tremendo de produzir jogadores de alta capacidade técnica.
Mas hoje, vivemos uma crise sem precedentes.
As categorias de base dos clubes Brasileiros, uma vez capazes de nos agraciar com jogadores que nos levavam aos estádios, hoje são um celeiro de negociatas e sua efetividade é discutível.
Antes de fazer um passe no time profissional, garotos já tem empresários, assessores e um staff para cuidar da carreira. Staff esse que nada mais são que paparicadores, incapazes de apontar falhas para o crescimento pessoal e profissional do atleta.
Não só isso, mas as exigências de cartolas e mídia em relação as categorias inferiores são de um nível incompatível para a função da mesma; parece que títulos neste estágio são mandatórios, assim como no profissional. Não há um plano para o desenvolvimento e melhor aproveitamento dos jogadores da base. O Brasil sempre confiou na qualidade inata de seus jogadores. Mas não vemos um projeto sério de desenvolvimento do atleta do momento em que chega ao clube, até o momento em que integra o time profissional. Com isso, a fonte de talentos está secando.
Mas no mundo do futebol, existem aqueles que acreditam em um trabalho quase artesanal na confecção de um grande atleta. Um desses lugares é em Amsterdam, a casa do Ajax.
Quando cursei o Nível 1 do curso de treinadores da Federação Inglesa, comecei a estudar como trabalhar as categorias de base. Em quais os pontos focar para melhor desenvolver atletas. E um dos meus objetos de estudo foi a academia desse grande clube Holandês.
A integração entre os jovens e os profissionais começa no sistema de jogo; desde os tempos de Cruyff, o 4-3-3 é a formação base. O Ajax se prima por jogar de forma criativa e em velocidade, não importando qual o nível. Juvenil ou profissional, todos jogam da mesma forma. Assim, o atleta chega ao profissional já sabendo o que se espera dele taticamente. A ideia é desenvolver jogadores para o clube, com a mentalidade do clube.
Mentalidade essa trabalhada em detalhes. O chefe de desenvolvimento da base, Jan Olde Riekerink diz: “os atletas precisam ser “treináveis” e com vontade de aprender”. Ele continua: “o mais importante fator que podemos ensiná-los é responsabilidade pessoal. Eles podem ir para casa depois do treino ou ir ao Mc Donald’s. São crianças e não vou brigar com eles, mas precisam perceber que ser um profissional significa tomar as decisões corretas”.
A mentalidade trabalhada na base reflete no modo de jogar dos profissionais. Futebol é mais do que correr; todos querem jogar com a bola e não tem medo de fazê-lo. Jogam no mesmo sistema desde que chegam ao clube e, por isso, a adaptação ao time principal é muito mais fácil. Testes psicológicos ajudam a identificar o que precisa ser trabalhado nesta área, para que jogadores tomem melhores decisões durante o jogo.
A preocupação com o atleta se dá nos mínimos detalhes: um garoto que não vive perto de Amsterdam só é trazido quando, depois de um tempo sendo monitorado, o consideram pronto para a mudança e o colocam com uma família adotiva. Manter o máximo de normalidade é prioridade.
Mas o fator que mais chama a atenção é o entendimento no processo de educação do jogador. Não tem como prioridade títulos na categoria de base, mas sim a educação técnica, tática e mental do jogador para que, ao chegar ao primeiro time, possa estar capacitado para aguentar a pressão e desenvolver seu trabalho.
O trabalho é tão compreensivo que todos são submetidos a um programa de habilidades atléticas. Em resumo, o clube desenvolve habilidades motoras que somente os treinamentos de futebol não são suficientes para o desenvolvimento pleno do atleta. A tecnologia de ponta utilizada na avaliação e desenvolvimento do atleta provê as informações necessárias para um trabalho extremamente metódico..
O investimento não e tão grande quanto parece. Os recursos do clube são bem aplicados e o trabalho é medido pelos resultados de longo prazo.
Não é à toa que Ajax revelou, em anos mais recentes, Van Der Vaart, Snejider, Eriksen, Vertonghen, Alderwereild, De Ligt, De Jong and Van Der Beek. Voltando no tempo um pouco mais, Kluivert, Bergkamp, Davids,Frank e Ronald De Boer, para ficar nos mais famosos.
Podemos concluir que, em um mundo onde dinheiro e imediatismo são fatores que regem o futebol, uma constante permanece: o trabalho longevo e frutífero do Ajax.
Fazer o certo leva tempo e dá trabalho. Mas alguém tem prazer de fazê-lo.
QUEM ESCALAVA
por Rubens Lemos
O jeito antipático de Zagallo lhe custou parte do protagonismo que merece na trajetória do futebol brasileiro. Zagallo foi técnico retranqueiro, mas ganhou o Tricampeonato Mundial com uma seleção estupenda no México em 1970. Só comparável a de 1958, onde, por sinal, estava ele jogando na ponta-esquerda e recuando para liberar Pelé às feitiçarias com Garrincha e Vavá.
Na Copa do 1970, o país vivia guerra ideológica pior do que a atual, em razão da luta armada. Direita e Esquerda se matando e gente torturada nos porões do – falo por meu falecido pai – por não concordar com o Regime iniciado em 1964. Deus poupou-me do radicalismo na maturidade. Há uns 20 anos, abomino sectários de qualquer matiz.
Pois em 1970, muita gente torceu contra o Brasil – que pecado pela lindeza do time! – apenas porque o jornalista João Jobim Saldanha, João Saldanha ou João Sem-Medo, havia sido demitido do cargo de técnico do escrete por não concordar (e estava certíssimo), com a convocação do tosco atacante Dadá Maravilha para o lugar de Toninho Guerreiro, sumidade do Santos de Pelé.
João Saldanha, o melhor comentarista de futebol que passou no Brasil, colunista ferino, resolveu, comunista convicto, enfrentar o Presidente Garrastazu Médici.
Menos dócil dos generais pós-1964, Médici não pedia, ordenava e quem não cumpria, bem, leiam os livros para saber. Saldanha disse que quem escalava o time era ele e o Presidente definia o ministério. Foi posto para fora.
Quando Zagallo assumiu, coincidentemente, Dario foi convocado e a antipatia dos jornalistas e de boa parte da torcida aflorou. Zagallo passou a ser o alvo que não poderia ser transferido ao General Garrastazu Médici.
O Brasil ficou com dois centroavantes de força, Roberto Miranda, do Botafogo e Dadá Maravilha, à época no Atlético Mineiro. O luminoso PC Caju conta que cansou de enfiar bolas de curva, antológicas para Dadá Maravilha só para vê-lo tropeçar e cair.
Dadá Maravilha sempre esteve no topo do ranking de goleadores, jogando feio e finalizando de canela. Coração de ingênuo, amável e piadista. Ocorre que, na festa de catedráticos em chuteiras no México, nem na faxina ele ficaria.
Zagallo ganhou o título, pagou por Dadá Maravilha e a eterna lenda de que, com Saldanha, o Brasil teria ganho bonito e, com Saldanha, o time fora de fato montado.
Mais ou menos. No time ungido das Eliminatórias de 1969, tempo da força popular integral de Saldanha, o Brasil jogava com Djalma Dias e Joel Camargo no miolo de zaga, Piazza de volante e Edu, o Urubu Bonito, de artístico ponta-esquerda nato.
Com Zagallo, fez-se justiça a dois santificados e reservas com Saldanha: o camisa 5 Clodoaldo e a Patada Atômica Rivelino, segundo maior ídolo do país, não precisa explicar depois de quem.
O time, na verdade, ficou melhor com Zagallo. Piazza foi recuado para a quarta-zaga formando dupla com o vigoroso Brito. Clodoaldo e Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino, constelação de meio-campistas criativos em intermitente balé após a linha intermediária. m
Zagallo continuou sendo chato. Perseguiu Barbosa, goleiro humilhado de 1950, quando o pobre renegado tentava visitar o número 1 Taffarel na concentração antes do jogo Romário 2×0 Uruguai. Romário foi vítima dele em 1992 e na Copa de 1998, cortado sem estar inutilizado.
Por falar em Uruguai, em 1970, Gérson, muito marcado, inverteu posições com Clodoaldo quando o Brasil perdia por 1×0. Combinou com o capitão Carlos Alberto Torres. O Brasil virou para 3×1 e se mandou para a final contra a Itália(4×1).
Surgiu na peleja contra a Celeste, a maior lenda a respeito de Zagallo, narrada em texto atribuído ao falecido e competente jornalista Oldemário Touguinhó.
O repórter contando um encontro comemorativo do Tri com Pelé e mandando a pergunta:
– Rei! É verdade que você escalava o time ?
– De jeito nenhum! – respondeu Pelé.
– Ah, tá bom, quanta injustiça com Zagallo, teria dito o repórter, sem esperar pelo voleio verbal do monarca da bola:
– Eu não escalava não, Oldemário. Quem escalava era o Gérson!