DEFENSOR DE UMA ESTIRPE LEGENDÁRIA
por Claudio Lovato Filho
Ele formou com Airton Ferreira da Silva, o Pavilhão, uma histórica dupla de zaga do Grêmio entre 1955 e 1960. Defensor de estilo clássico, foi um dos principais líderes do time montado por Oswaldo Rolla, o Foguinho, que conquistou o pentacampeonato gaúcho entre 1956 e 1960, a série de cinco títulos que, com um intervalo de um ano, foi procedida pelo heptacampeonato de 1962 a 1968, totalizando 12 campeonatos em 13 disputados.
Ênio Antônio Rodrigues da Silva nasceu em 10 de novembro de 1930, em uma família de apaixonados gremistas, na Baixada, atual bairro Moinhos de Vento, onde o Grêmio ergueu seu primeiro estádio, o Fortim da Baixada. Por obra do destino, 24 anos depois ele viria a participar da partida inaugural do Estádio Olímpico, em 19 de setembro de 1954, quando o Tricolor venceu o Nacional, do Uruguai por 2 x 0.
Em 1956, ele foi o capitão da Seleção Brasileira formada por um combinado de jogadores gaúchos que trouxe para o país a taça do Torneio Pan-Americano no México.
Herói como jogador , herói como técnico. Em 1961, depois de sofrer grave lesão, tornou-se treinador do Tricolor, e, no ano seguinte, conduziu o time na vitoriosa campanha do Campeonato Sul-Brasileiro de Clubes, a Taça da Legalidade, superando na final o arquirrival que ele tantas vezes havia enfrentado e vencido como jogador. Foi ele também quem encaminhou a conquista do Campeonato Gaúcho de 1962, campanha concluída com Sérgio Moacyr Torres Nunes no comando técnico da equipe.
Homenageado em 1999 na Calçada da Fama do Grêmiojunto com outro monstro sagrado da história do clube, Milton Kuelle, Ênio Rodrigues morreu em 2 de fevereiro de 2001, aos 70 anos, na Porto Alegre onde nasceu e que amou incondicionalmente, da mesma forma como foi com o clube do qual se tornou um dos maiores ídolos.
As grandes duplas de zaga que o clube formou ao longo de sua história são um dos maiores motivos de orgulho do torcedor gremista.
Os lendários Airton e Ênio Rodrigues, nos anos 50 e 60, tiveram antecessores que para sempre serão lembrados pela nação tricolor, como os pioneiros Martau e Deppermann, na década de 1900, Schuback e Mohrdieck, a “Dupla Hamburguesa”, nos anos 1910, e depois Dario e Luiz Luz, nos anos 30, para citar exemplos especialmente simbólicos numa história repleta de personagens legendários.
Pavilhão e Ênio fizeram sua parte e deram sequência com brilho a uma estirpe de duplas de zagueiros que teve sequência com Ancheta e Oberdan, Baidek e De León, Rivarola e Adilson (parceria que mais adiante recebeu o luxuoso reforço de Mauro Galvão) e que hoje prossegue com Pedro Geromel e Walter Kannemann. São patrimônios cultuados por todos que levam as cores azul, preta e branca no coração.
Salve Ênio Rodrigues e todos os grandes zagueiros gremistas que, mais que uma cidadela, defenderam uma História do qual se tornaram protagonistas.
GERAL
por Paulo Roberto Melo
A primeira vez em que fui ao novo Maracanã, foi no dia 24 de outubro de 2013 – novo Maracanã, novo normal, acho que eu é que estou ficando velho. O estádio havia ficado pronto para a Copa do Mundo de 2014, de triste lembrança para todos nós, e, os jogos estavam servindo de teste para o evento. Vasco x Goiás se enfrentavam naquela noite no jogo de volta pelas quartas de final da Copa do Brasil. O Vasco havia perdido o jogo de ida no Serra Dourada, por 2×1, portanto precisava ganhar por uma diferença de dois gols.
Meu irmão, Carlos Eduardo e eu, chegamos e nos colocamos nas arquibancadas superiores, e só esse nome já dá uma pista do que aconteceu com o bom e velho Maracanã. Tudo era muito diferente. Um estádio bonito, confortável, padrão FIFA, com o mesmo nome, estádio Mário Filho, mas não, não era mais o nosso Maracanã!
Não tinha mais a dimensão gigantesca do antigo templo sagrado do futebol, onde, num silêncio mortal, o grande Barbosa buscou aquela bola no fundo da rede na Copa de 1950; onde o Ademir Queixada dava aquelas suas arrancadas que enloqueciam o meu pai; onde o Garrincha corria e driblava e parava e corria e driblava de novo e cruzava e fazia gols que o levaram a ser eleito pela torcida como melhor do que Pelé; onde o Pelé fez fila, driblando meio time do Fluminense e cunhou a expressão gol de placa; onde, no mesmo ano, carimbou o passaporte para a Copa de 1970, com uma bomba, aproveitando uma rebatida do goleiro do Paraguai, fazendo estremecer as arquibancadas apinhadas de gente e ainda fez o milésimo gol, contra o Vasco, numa data que antes era conhecida como Dia da Bandeira (19 de novembro), mas acabou virando Dia do Milésimo Gol do Rei Pelé; onde o PC Caju fez embaixadinha na frente do Moisés e foi premiado com um pontapé, que zagueiro que se preza não recebe Belfort Duarte; onde o Gérson calibrou a canhotinha para depois encantar o mundo no México; onde o Rivelino inventou o elástico; onde o rei Zico nasceu, cresceu e se imortalizou, batendo faltas como se jogasse a bola com as mãos, deslocando os goleiros nas cobranças de pênalti e invadindo a área adversária com a bola dominada para fazer gols lindos e alguns… dolorosos; onde o Roberto Dinamite deu aquele chapéu no zagueiro Osmar e fuzilou o Wendel com um tiro de voleio; onde o Maradona, na Copa América de 1989, quase fez do meio de campo aquele gol que o Pelé não fez, mas a bola, prudente, se lembrou da placa, da rivalidade e de tudo mais e preferiu quicar no travessão e ir para fora; onde também nasceram para o futebol o Romário, o Bebeto, o Edmundo, o Felipe e o Pedrinho; onde tantas vezes eu, meu pai e meus irmãos rimos e choramos as alegrias e as dores de tantas vitórias e derrotas. Não, não era mais o Maracanã.
Sei que muitos vão ler estas linhas e me achar um saudosista chato e certamente vão dizer que – “o estádio precisava se modernizar.”; “os tempos são outros.”; “está tudo mais limpo e mais seguro.” Sou obrigado a concordar. Afinal, confesso que uma impressão que eu tinha quando ia aos jogos no antigo Maracanã, era que o estádio nunca tinha ficado pronto de verdade, tantos eram os entulhos pelos corredores internos, as colunas com ferragens à mostra, sem falar dos banheiros, queinvariavelmente estavam alagados, não extamente de água.
É verdade. Tudo isso fazia parte do antigo Maracanã. Mesmo assim, antes de começar aquele jogo, no novo Maracanã, eu e meu irmão sentíamos uma saudade imensa pulsando dentro do nosso peito. Parecia que faltava alguma coisa, e não era o cimento incômodo dos degraus que antes sujavam os fundilhos das calças, nem o torcedor mais humilde, impedido de frequentar o novo estádio por causa dos novos preços e nem o vendedor de amendoim torrado. Nós olhamos em volta com atenção, como se estivéssemos conferindo um jogo de sete erros. Não demorou para que chegássemos à resposta. Aquele estádio novo não tinha a geral!
Mandatária suprema dos que ganham dinheiro com jogos de futebol, Dona Fifa não queria mais que seus súditos cariocas assistissem aos jogos em pé. Ela queria todo mundo sentado em lugares marcados, com todo o conforto que um bom punhado a mais de reais certamente podia comprar. Talvez ela quisesse também, que, assim como europeus, nós, selvagens pela própria natureza, comemorássemos os gols apenas com aplausos, mas acho que isso ela nunca vai conseguir.
Dona Fifa nos impôs um estádio novo, e alguns governantes ávidos por obras e comissões rapidamente disseram que sim. Mas a minha memória de torcedor, por enquanto, ainda é livre. É uma memória afetiva que envolve sentimentos, aromas, pessoas e acontecimentos. Hoje, quero falar da saudade que eu sinto da geral do Maracanã.
Saudade da entrada
O corredor que dava acesso à geral, era escuro, iluminado apenas por lâmpadas fracas que pendiam do teto, que era bem alto. Confesso que percorrer esse trajeto nunca foi muito agradável. Uma das paredes do corredor tinha tijolos vazados, e, por eles, víamos uma outra parte das entranhas do estádio, onde havia carros estacionados no meio do nada. Um ambiente bem sombrio. Uma vez eu estava chegando à geral por esse caminho com meu pai e meus irmãos quando surgiu alguém e se agarrou ao meu pescoço. Meu irmão José Gulherme partiu logo para encaçapar o agressor, mas, antes que ele desferisse o primeiro sopapo eu descobri que o ataque era uma brincadeira sem graça de um colega de escola.
Ao chegar à geral, a imensidão do estádio que se apresentava diante dos olhos, proporcionava uma sensação fantástica. Estar em um nível abaixo da arquibancada, ouvindo o barulho das torcidas, a música tocada pelas charangas e vendo a nossa volta, acima de nossas cabeças, o colorido das bandeiras e faixas, depois de ter deixado para trás aquele corredor sombrio, sempre mexia comigo.
Saudade dos aromas
Na geral e, só na geral, conseguíamos sentir o aroma fresco do gramado. Era um aroma que me levava à infância, quando descia rolando a ladeira de grama da Quinta da Boa Vista. Ali, na geral do Maracanã, experimentávamos uma ilha de natureza, cercada de concreto por todos os lados.
Havia outros aromas. Mais de uma vez, fui alvejado por saquinhos ou respingos de um certo líquido cuja a cor e a origem eram pra lá de duvidosas. A tarefa de cheirar a roupa ou a parte do corpo atingida, para tentar identificar a procedência do líquido às vezes confirmava terríveis suspeitas. Algumas vezes, senti alívio ao constatar que era apenas água, outras, o melhor era ter a certeza de um bom banho assim que chegasse em casa.
Não posso deixar de falar do aroma delicioso do cachorro quente da Geneal, que invadia minhas narinasassim que o vendedor abria a caixa. Havia o aroma dos leitinhos da CCPL, vendidos em uma embalagem triangular, com vários sabores: chocolate, caramelo, morango. E havia também o cheiro inconfundível de cerveja que pairava no ar, vindo dos copos de papelão, dos hálitos e das roupas das pessoas que estavam em volta. Sim, porque muitas vezes o líquido amarelo e espumante que vinha do céu era apenas… Brahma na jogada.
Pode parecer piegas dizer isso, mas a geral do Maracanã tinha aroma de povo. Nada a ver com o que disse, há muito tempo, um ex-presidente da República em relação a odores humanos e equinos. Era um cheiro de gente, de igualdade social, de transpiração, desodorante barato e sabonete; cheiro de corpos, de pessoas jovens, adultas e idosas, movidas pela paixão pela bola, convivendo a céu aberto em um mesmo espaço e isso só acontecia porque o ingresso era barato, menos da metade do da arquibancada.
Saudade do contato
Aqui, a saudade se me apresenta de duas formas:
A primeira, no contato com o povo. Em tempos de poucos jogos televisionados, o acesso ao Maracanã era bem mais fácil. Desse modo, os torcedores folclóricos, muitas vezes fantasiados, faziam da geral o seu palco.
Tinha o torcedor do Flamengo que dava instruções, orientando a defesa do seu time, grudado na grade, próxima ao campo. Tinha o torcedor que também era vendedor de amendoim e que, com um fôlego absurdo, dava sequências de assobios tão fortes, durante o jogo todo, que se podia escutar sua série de apitos mesmo que ele estivesse do outro lado da geral e, às vezes, até nas transmissões pela TV. Torcedores dos dois times que estavam em campo, assistiam ao jogo juntos, muitas vezes lado a lado um suportando a alegria do outro. Essa convivência, lógico, nem sempre era tão romântica epacífica. Também era comum quando alguns clarões se abriam no meio da massa, como indício de que estava acontecendo aquilo que cantaram Aldir Blanc e João Bosco: um pega na geral.
A segunda forma de saudade diz respeito, como dizia Jorge Cury, aos “artistas do espetáculo”. Na geral, a proximidade com o campo era tanta, que era como se o geraldino estivesse na beira do gramado. Assim, eu pude testemunhar alguns fatos bem bacanas.
Uma vez, um amigo tricolor, em um jogo do Fluminense, gritou quando o ponta esquerda Tato ia bater um escanteio: “Tato, bota na cabeça do Washington!” O ponta virou para a geral e fez um sinal de positivo com o polegar. O escanteio foi cobrado na cabeça do Washington e… gol!
Teve o dia em que o meu velho pai se esqueceu da discrição que o caracterizava e saiu do sério com o polêmico árbitro José Roberto Wright, Depois de um primeiro tempo com muitas marcações duvidosas contra o Vasco, o juizão vinha saindo do campo e começava a descer as escadas do túnel do vestiário dos árbitros. A gritaria e os xingamentos na sua direção eram a prova clara de que a sua habitual necessidade de querer aparecer mais do que os jogadores tinha sido cumprida. No primeiro degrau, atraído pelos apupos que vinham da geral, o árbitro, todo orgulhoso, olhou para o povo enfurecido. Meu pai e eu estávamos bem em frente ao túnel. Dessa vez o seu Zé não se controlou, esqueceu os bons modos e gritou a plenos pulmões na cara do homem de preto: “Filho da p*#*!” Até o fim de sua vida, meu pai dizia com imensa satisfação que o Wright tinha visto ele o xingar.
Aliás, nada mais gostoso do que, ao final de uma partida, ficar em frente ao túnel que dava acesso aos vestiários dos jogadores, para aplaudir os heróis e xingar os vilões do jogo. Os aplausos eram retribuídos com acenos agradecidos e os xingamentos eram a trilha sonora fúnebre da saída de alguns jogadores.
Claro, era maravilhoso também quando os jogadores vinham comemorar os seus gols perto dos torcedores da geral. O Luisinho Tombo gostava de subir no murinho, ainda quando jogava pelo América e depois no Flamengo, acompanhado do Zico e do Doval. Todos os artilheiros sempre corriam em direção à torcida, ao marcarem seus gols. Parecia que recarregavam suas forças com a energia que vinha dos geraldinos.
Saudade da liberdade
Na geral, por estar de pé, o torcedor tinha mais liberdade. Quando alguma bola vinha do campo, alguns até arriscavam umas embaixadinhas, mas tinha que ser rápido, pois a PM chegava logo.
Muitos geraldinos gostavam de ficar no trecho embaixo das cabines de rádio, bem no meio do campo. A localização era triplamente estratégica: permitia uma visão mais ampla do gramado; protegia dos arremessos de saquinhos contendo líquidos suspeitos, e, permitia e ver os craques da informação nas cabines de rádio: Jorge Cury, Waldir Amaral, José Carlos Araújo, Washington Rodrigues, João Saldanha, Luiz Mendes, Sérgio Noronha, Gérson e outros.
Uma outra parte de torcedores, preferia acompanhar o ataque do seu time. Era muito bom também, em cobranças de pênaltis, correr para se colocar atrás das balizas e ver abola entrando. Numa época, o Roberto Dinamite cobrava faltas com uma precisão tão grande, que a torcida fazia a mesma coisa, corria para trás do gol, como se fosse um pênalti. Ah, que saudade do Dinamite. Que saudade de ver da geral um gol do Dinamite..
Saudade… Palavra estranha essa, que, dizem, só existe na língua portuguesa. Sentimento arrebatador, ora de alegria, ora de tristeza.
Sentados em nossos lugares marcados da arquibancada superior, meu irmão e eu olhávamos o novo Maracanã, tentando resgatar o antigo. O velho campo só está vivo agora nas lembranças, de jogos memoráveis vistos da arquibancada ou da geral. Sensações, aromas, vitórias, derrotas, pessoas amadas que se foram, gente desconhecida que já conhecíamos tão bem, povão, família, radialistas, craques…
A propósito, naquela noite o Vasco ganhou do Goiás por 3×2, e acabou eliminado da Copa do Brasil
VIROU BAGUNÇA
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Não sei para onde caminha o nosso futebol, mas rodada após rodada do Brasileirão e convocação após convocação para a seleção, imagino que seja um poço sem fundo. A seleção é uma depressão completa. Paquetá, Vinícius Júnior, Gabriel Jesus… sinceramente, para vencer essas Eliminatórias basta fazer um cata-cata de peladeiros que eles dão conta. A impressão que me dá é que virou bagunça. Jogadores medianos fazem dois, três gols e viram craques. Parece nossa cidade desgovernada, com bares loteando as calçadas com mesas e cadeiras, ruas esburacadas e sujas, carros estacionando em fila dupla, ciclistas na contramão.
Todos sabem que sou totalmente favorável ao intercâmbio no futebol, mas que seja com qualidade. Nunca vi tantos argentinos, colombianos, venezuelanos, angolanos e até japoneses sendo contratados, todos de nível baixíssimo. Claro que há exceções. Outra coisa, Honda, Luan, do Corinthians, e Ganso se arrastam em campo. Já fui fã dos três, mas não dá mais para defender. Não precisam ser velocistas, mas devem ser competitivos. Para andar em campo é preciso ser genial.
E também não dá para trazermos um caminhão de técnicos estrangeiros de gosto duvidoso. Por que não formamos técnicos? Também acho que muitos dos nossos treinadores estão desgastados, mas não temos capacidade de formarmos novos profissionais, que resgatem nossa forma de jogar? Está tudo errado! Já falei isso mil vezes, se não investirmos pesado na base vamos enxugar gelo.
Vejam o Tales Magno, do Vasco, sobe da base sem saber chutar e cabecear. Conhece de bola, mas ninguém o lapidou. Por isso, muitos vão para a Europa e voltam. O jogo inverteu e há anos são os europeus que dão as cartas. Compram e devolvem sem a menor cerimônia, como fizeram, por exemplo, com Gabigol, Gerson e Pedro, do Flamengo. Aqui deitam e rolam porque nosso campeonato é de quinta categoria. Já já Everton Cebolinha está de volta. E os que ficam por lá são meros figurantes. A verdade é essa, aceite quem quiser.
Chorei vendo Botafogo x Bahia! E Vasco x Palmeiras? E Inter x Coritiba? Os jogadores não sabem dominar uma bola. E esse Hudson, do Fluminense, um gladiador que deveria ser expulso no primeiro minuto de jogo. Já falam que Tiago Galhardo merece uma vaga na seleção. Devo estar ficando maluco. Se bem que nessa que está aí pode até ser. Mudo de canal e vejo que o Real Madrid também perdeu de quatro e Zidane, assim como Domènec Torrent, do Flamengo, também está sendo pressionado pela torcida.
É, talvez o mundo esteja de cabeça para baixo. Para não perder o costume, seguem as pérolas da semana disparadas pelos comentaristas: “jogador que joga por dentro ou por fora” e “escalar um jogador para chegar na rebentação”. Que onda!!
OBRIGADO, ENTRERRIENSE
por Zé Roberto Padilha
Acabo de chegar do Colônia FC onde o Entrerriense FC, que completa 95 anos, fez uma festa cujo maior homenageado foi o meu irmão Flavinho, o Brasa.
Quis o destino que o melhor jogador de futebol da família Lopes e Padilha não fosse o mais conhecido. Jogou igual ao meu pai e mais do que eu e o Mauro. Chutava como Nelinho e tinha a raça do Edmundo, mas o seu joelho não resistiu a tantas preciosas repetições.
Operou 4 vezes e se prepara para a quinta. E isso reduziu seus caminhos. Fez do Departamento Médico seu gramado e que as luzes dos refletores se confundissem com as de ondas curtas aplicadas pelos massagistas. Não havia fisioterapeutas nem fisiatras pelos clubes que passamos.
Voltei de lá gratificado ao receber, em seu nome, a mais justas das homenagens. Meu avó João Pereira Lopes foi um símbolo carijó, e meu tio Remo Righi um fenômeno como diretor do clube. Uma pena não terem visto você defender suas cores. E o fez com extrema categoria.
Então, meu irmão, força aí nesta próxima intervenção. Eu sei quanto é duro um pianista sofrer uma lesão nos dedos, um tenista padecer por uma artrose na clavícula. Deus concedeu um dom a cada um e em cada apresentação desta dádiva nos sentimos recompensados.
E quando ficamos impossibilitados de exercê-la, um vazio percorre nossa autoestima. E nos deixa bem pra baixo.
Mesmo assim, pode carregar uma certeza: você conquistou respeito, admiração e amigos. Todos o admiram. Pelo atleta que foi e pelo tamanho do coração que não cabe em seu peito.
E no dia em que você colocou um escudo do Entrerriense sobre ele, não faltaram testemunhas. Elas estiveram todas comigo e foi emocionante constatar o quanto você é querido por tudo que seu talento e carisma alcançaram por aqui.
Nós amamos você. E a história do futebol trirriense, ficou provado hoje, jamais o irá esquecer.
VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ALEMÃO
Muito antes de receber o apelido de ‘Alemão’ e se consagrar no futebol mundial, o menino Ricardo Rogério de Brito, veio ao mundo naquele 22 de novembro de 1961, para lutar bravamente pela sobrevivência.
De família humilde e quase beirando a pobreza, dividia o casebre com mais quatros irmãos, que se viravam como podiam para ajudar o pai nas despesas de casa.
Muito antes de ser exímio marcador no meio de campo com as camisas do Botafogo, Atlético de Madrid, Napoli e São Paulo, o tradicional ‘carregador de pianos’ foi ajudante de pintor, e explorado, buscou pintar em cores as paredes de um mundo em preto e branco no qual vivia.
A vida era dura mas o pequeno Ricardo não era mole.
Virou engraxate e por muitas vezes chegava em casa com o dinheirinho do pão com o suor de seu rosto.
Resiliente, passou uma fase da vida sendo garçom e servindo em bandeja bebidas e comidas que matavam a fome e a sede de muita gente.
Eram muitos em um e seu destino seria outro quando arrumou suas coisas e partiu.
“Minha mãe, estou indo para o Rio de Janeiro jogar bola, ganhar dinheiro e comprar uma casa para a senhora”, disse ao pegar suas coisas e ir tentar a sorte no Botafogo já como Alemão, apelidado dado pelo pai.
A bola, ah, sempre ela, seria a tentativa para aquele sujeitinho de fala mansa chegar a Marechal Hermes e ficar por lá durante quinze dias treinando.
Era hora de pôr em prática tudo o que aprendera na cidade de Lavras, em Minas Gerais, ou seja, fazer jogadas consideradas pinturas, dar um brilho na bola como fazia nas ruas da cidade mineira em vários sapatos dos lavrenses e servindo como garçom com passes para os atacantes saciarem a fome e a sede por gols.
Se viveu os infortúnios no Botafogo antes da profissionalização, a glória maior foi estrear em 1981 em um amistoso contra o Fluminense de Feira de Santana, substituindo o habilidoso Mendonça, estrela maior da constelação que levava no peito uma estrela, a Estrela Solitária.
Com um futebol eficiente e produtivo, se tornou o preferido de um conterrâneo exigente e não menos famoso chamado Telê Santana (1931-2006), com quem jogou a Copa do Mundo em 1986, no México e no São Paulo, em 1994.
Evangélico, há 26 anos, mantém em sua terra natal um trabalho social importante chamado ‘Casa de Transformação Betânia’, que atende dependentes químicos em seu sítio.
O Museu da Pelada entrevistou Alemão, nosso personagem da semana na série Vozes da Bola.
Por Marcos Vinicius Cabral
Pobres, você e seus quatro irmãos, ajudavam a família da forma que podiam. Você, por exemplo, foi engraxate, garçom, além de pintor. Como surgiu o futebol na sua vida?
O futebol entrou na minha vida por acaso. Eu não sonhava em ser um jogador de futebol, porque eu não pensava que isso poderia acontecer. Eu jogava em um time que na época ainda era amador, chamado Fabril Esporte Clube e não almejava realmente ter essa carreira no futebol. Mas acabou que aconteceu, foi um convite de um amigo que jogava no Botafogo nessa época e ele era conhecido aqui em Lavras-MG, pelo apelido de Mulato. Já no Botafogo, ele era chamado de Alemão, porque era namorado de uma menina suíça e em virtude disso era chamado por esse apelido. Coincidentemente, eu já tinha esse apelido também e assim ele me convidou e eu fui fazer um teste de vinte dias. Foi dessa forma que o futebol entrou e a partir desse teste, fez parte da minha vida.
Você foi revelado pelo Fabril, time de Lavras, em Minas Gerais, sua cidade natal. Como foi esse começo de carreira?
Muito complicado. Eu nunca havia saído da minha cidade para tão longe. E numa quinta-feira após o carnaval, acabei indo e conheci um Rio de Janeiro muito legal com aquela festa toda. Mas na segunda-feira me apresentei em Marechal Hermes, onde já dava início aos treinamentos para poder ser aprovado nesse teste. Dedicado, lembro que foram quinze dias de muitas lutas, muitas dificuldades e não existia uma boa estrutura naquela época no Botafogo. Então, posso afirmar que a fase de juniores foi uma das melhores que vivi no clube, sem dúvida nenhuma.
De onde vem o apelido Alemão?
Esse apelido foi colocado por meu pai quando eu tinha 5 anos de idade. Ele era ferroviário e vieram uns alemães e montaram algumas máquinas aqui na cidade de Lavras-MG e eles tinham o cabelo bem loiro, assim como o meu quando criança. E certo dia, meu pai chegou em casa e me chamou de Alemão, aí o apelido ficou e poucas pessoas hoje me chamam pelo meu verdadeiro nome.
Você foi tesoureiro dos Atletas de Cristo, grupo de jogadores evangélicos que fez sucesso no Brasil durante a década de 1980 e 1990. Como foi essa fase?
Essa informação de tesoureiro não procede, pois eu apenas fazia parte do grupo dos Atletas de Cristo, já que eu tive um encontro com o Senhor e a partir desse momento, passei a frequentar o grupo dos atletas cristãos.
Na sua passagem pelo Botafogo, faltou título. O que você atribui a isso?
Nessa época o Botafogo vivia um momento financeiro muito difícil. Havia perdido os direitos de continuar em General Severiano e estava se transferindo para Marechal Hermes e as coisas eram complicadas. A questão do título está ligada à questão econômica, e acho que o Botafogo tentava montar grandes times, porém, faltavam recursos para isso. Mas naquela época, o Rio de Janeiro tinha o melhor futebol do país com Flamengo, Vasco e Fluminense, em evidência, enquanto o Botafogo vinha em quarto lutando para sobreviver. Mas não foi uma fase fácil, foi uma período onde a gente enfrentava excelentes times com grandes jogadores e vencê-los era difícil.
Em 1985, a Bola de Prata, prêmio concedido pela revista Placar, foi parar em suas mãos como o melhor volante do Campeonato Brasileiro daquele ano. Qual foi a emoção em receber um prêmio como esse?
Olha, na verdade, foi um dos momentos mais inesquecíveis e emocionantes da minha carreira. Ganhar uma Bola de Prata no futebol carioca, jogando pelo Botafogo, que estava passando por dificuldades financeiras como falei anteriormente, naquela época e sem conquistar um título há muito tempo, não era tão simples assim. Tínhamos grandes jogadores na posição, tanto no Fluminense, no Vasco e no Flamengo, e eu fui premiado com a Bola de Prata. Até hoje eu tenho ela aqui em casa e é uma recordação muito especial para mim.
Qual derrota em Copas do Mundo doeu mais no Alemão: a de 1986, para a França de Michael Platini ou a de 1990 para a Argentina de Diego Maradona?
Sem dúvidas, que a derrota mais dolorida foi na Copa do Mundo do México em 1986, nos pênaltis contra a França. E o motivo é simples: em 1990, nós éramos uma seleção totalmente desorganizada, bagunçada, sem nenhum tipo de recurso e uma falta de liderança absurda! Então, em 1990, nós lutávamos para chegar longe naquela Copa do Mundo, mas era tanta confusão, tanto problema, que aquilo para quem jogava há um bom tempo, e no meu caso, eu já havia disputado um Mundial, e vi como foi bacana essa experiência. Mas na verdade, nada daquilo estava acontecendo lá em 1990, e mais cedo ou mais tarde, aconteceria a eliminação. Eu acho que a organização faz parte de um planejamento para se conquistar um título e se você não for organizado ou preparado, suas chances diminuem. E foi o que aconteceu conosco!
No Atlético de Madrid, da Espanha, você fez uma temporada de estreia tão boa que ganhou o prêmio Don Balón de melhor estrangeiro do campeonato e ainda convenceu os colchoneros a contratarem seu compatriota Baltazar, ex-parceiro no Botafogo, que vinha se destacando pelo Celta de Vigo. Mesmo com moral, por que não renovaram com você?
Como você mesmo disse na pergunta, no Atlético de Madrid, da Espanha, talvez tenha sido o melhor momento da minha carreira, tecnicamente falando. Ganhei o prêmio de melhor estrangeiro realmente, algo sensacional, mas o clube vivia um momento político conturbado. Para se ter uma ideia, o presidente eleito na época, não queria nenhum estrangeiro e não me queria por esse motivo, não foi nada pessoal. No entanto, ele teve bastante dificuldade para me vender, pois mesmo ele tendo contratado Paulo Futre, a maior transferência do futebol português à época, eu fui o melhor jogador estrangeiro e isso dificultava me vender. Todavia, o Napoli apareceu e a gente decidiu em conjunto, que era a hora de sair. Eu entendo que era uma opção política dele, tanto que depois disso estivemos juntos e nos encontramos algumas vezes e mantivemos um bom relacionamento. Na verdade, foi bom também, porque eu acabei indo para um grande clube e o Baltazar veio para o meu lugar como estrangeiro.
Em 1988, você foi contratado pelo ambicioso Napoli-ITA do presidente Corrado Ferlaino e do diretor geral Luciano Moggi. Foi o maior desafio na sua vida como atleta profissional?
É verdade, foi o maior desafio, porque eu estava indo para um clube que almejava realmente conquistar títulos importantes e jogar com o maior jogador do mundo, no caso o Maradona, eu teria que manter um nível de excelência que não seria fácil. E, para complicar mais ainda, logo na minha chegada, eu peguei uma hepatite B, no qual acabei ficando cinco meses parado. Em virtude dessa doença, as coisas ficaram difíceis, perdi 10 kg e para recuperar não foi fácil, no entanto, com muita luta e força de vontade, recuperei em 30 dias e voltei em uma Copa UEFA, fazendo grandes partidas e podendo dar continuidade nesse desafio.
E o gol na final da Copa Uefa de 1989, contra o Stuttgart-ALE. Quais são suas recordações daquele jogo no belíssimo Estádio de Niedersachsenstadion, em Hannover, na Alemanha, tomado por 67 mil pessoas?
Realmente, esse jogo foi marcante na minha carreira, porque era um título muito importante para mim. Lembro que eu tinha acabado de me lesionar alguns minutos, tipo um ou dois minutos antes, e aquela jogada foi o último esforço que eu poderia fazer na partida. Então, foi naquela arrancada que acabei chegando até o gol, bati na bola, ela pegou um efeito, bateu no goleiro e acabou entrando. Posso afirmar que foi um gol importante no qual nós acabamos saindo na frente e isso aumentou consideravelmente a chance de vitória. Esse gol na verdade foi muito, mas muito importante mesmo.
Como foi jogar com Careca e Maradona? Eram realmente jogadores diferenciados?
Sem dúvida. Tive a felicidade de jogar com dois fenômenos do futebol mundial: Maradona e Careca. A velocidade de raciocínio dos dois era uma coisa absurda e para nós, que jogávamos atrás, era divertido vê-los trocando passes, fazendo jogadas maravilhosas e gols espetaculares. Foi um privilégio enorme para mim e ter jogado com eles foi algo sensacional. Mas era uma época de grandíssimos jogadores, como Van Basten, atacante do Milan-ITA e que era um fenômeno também.
Em quatro anos pelo Napoli, você fez 93 jogos e 9 gols pela Série A, e entrou para a história com a conquista do segundo campeonato italiano azzurro (1990). Foi a melhor fase que você viveu em quinze anos como jogador?
Foi sim. Foi uma fase de realizações, onde estava realizando o sonho de conquistar campeonatos e jogar num nível muito alto, jogando na Champions League e Copa UEFA, por exemplo. Realmente foi uma fase maravilhosa e acho que qualquer jogador que não jogou ou conquistou tais competições, gostaria de ter vivido tudo isso aí que eu vivi.
Maradona foi um divisor de águas na sua carreira: com ele, você conheceu o céu em títulos conquistados no Napoli-ITA e viu o inferno de perto ao ser considerado um dos principais culpados da derrota brasileira para a Argentina, na Copa do Mundo de 1990. O que tem a dizer sobre isso?
Na verdade, eu não me sinto nem um pouco culpado pela derrota da seleção. Quem assistiu aquele jogo e que seja uma pessoa séria e sensata, vai fazer a mesma análise que eu faço, que é dizer que eu tomei o drible do Maradona no meio de campo e depois disso ele passou por mais quatro ou cinco jogadores, ou seja, são jogadas normais de um gênio que conquistou um espaço e acabou na finalização do Caniggia. Aquela Copa do Mundo, na verdade, estava complicada, porém, antes daquele jogo, já estava comprometida e ali, naquele lance específico, foi uma gota d’água em um oceano de problemas a seleção. Mas vale frisar, que me sinto honrado em ter participado daquele mundial, porque foram duas Copas do Mundo no qual fui agraciado por Deus, não é simples e nem para qualquer um, jogar duas Copas do Mundo como titular. Na verdade, é um feito bem difícil.
Ainda sobre 1990, sua última partida pela Seleção Brasileira foi na Copa do Mundo da Itália, no qual a Argentina venceu por 1 a 0, gol de Caniggia. Você fez parte de um time que ficou marcado como a ‘Era Dunga’. Alguns deram a volta por cima em 1994, sendo campeões mundiais, como Taffarel, Jorginho, Branco, Muller e o próprio Dunga. Por que o Alemão não fez parte do time tetracampeão?
Aquela Copa do Mundo de 1990, na Itália, foi um mundial que marcou a vida de muita gente, inclusive a minha. Disputar um torneio da relevância de uma Copa do Mundo é o auge na carreira de qualquer atleta de futebol e comigo não seria diferente, já que eu estava esperando muito por aquela Copa e ela acabou sendo desorganizada e complicada para nós. Digo isso em todos os sentidos e obviamente, o final da seleção não poderia ser diferente, ou seja, nós saímos da maneira que saímos, jogando um futebol muito melhor que a Argentina e perdendo de 1 a 0, numa partida que merecíamos ganhar de 3 ou 4. Infelizmente, foi uma decepção para todo mundo e a CBF deveria fazer mudanças, que pediam atitude, liderança e foi o que ela fez trazendo Carlos Alberto Parreira como técnico e escolhendo outros jogadores para poder fazer parte do mundial seguinte, o de 1994. Ali, seria a grande mudança no futebol brasileiro, seria a reviravolta de tudo de errado, pois há mais de 20 anos que o Brasil não ganhava. Eu acho inclusive, de verdade, que o ciclo do Alemão terminou em 1990, confesso que houve desgaste, já que eu mesmo tive um pequeno problema com o presidente da CBF, e enfim, não dava mesmo para prosseguir. Acho que assim como eu, outros jogadores tinham condições de estar em 1994 nos Estados Unidos e não foram chamados, no entanto, acho que foi uma experiência bacana ter jogado duas Copas do Mundo.Sem demagogia, sou muito feliz por isso.
Em 1992, você foi vendido ao Atalanta-ITA, na qual jogou por dois anos. Por qual razão o Napoli-ITA te vendeu?
O meu contrato havia terminado e eu acabei sendo contratado pelo Atalanta-ITA, no qual passei dois anos bem diferentes da experiência em Nápoles em tudo, cidade, torcedor, time, e joguei em uma equipe bem modesta. Hoje é uma equipe com uma força incrível, mas na época, não era assim. Mas foram dois anos de experiência e mesmo sem títulos, foi importante na carreira.
No meio do ano foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que esse esporte representou para o Alemão?
Na minha vida profissional o futebol representou absolutamente tudo. Foi um esporte que me levou a um lugar que eu jamais chegaria se não tivesse sido jogador. Foi sacrificante? Claro que foi, pois nada é fácil na vida, mas o sacrifício valeu a pena, porque eu joguei em lugares especiais na carreira, como no Fabril, Botafogo, Atlético de Madrid, Seleção Brasileira, Napoli, Atalanta, São Paulo e Volta Redonda, onde todos os jogadores gostariam de ter jogado. Então, eu acho que o futebol foi realmente muito importante na minha vida.
Você voltou ao Brasil em 1994, então com 33 anos, e passou duas temporadas pelo São Paulo, que tinha Telê Santana como técnico. Por que o São Paulo e por que Telê Santana?
Sempre tive um excelente relacionamento com Tele Santana. Na Copa do Mundo de 1986, ele optou por mim, como titular, dez dias antes de começar o mundial, já que eu vinha fazendo uma pré-temporada excelente, tanto na questão física como na tática e do esquema que ele queria implantar na seleção. A gente estabeleceu ali, naquela competição, um relacionamento de profissionalismo que foi muito bom e criamos um laço de amizade. Quando eu estava para voltar ao Brasil, ele era treinador no São Paulo, acabei sendo convidado para jogar no time comandado por ele. Foi uma experiência muito boa, em um time organizado, com profissionais do mais alto gabarito.
Quem foi seu ídolo do futebol?
Difícil responder essa pergunta e mais difícil ainda é falar de um ídolo apenas. Muito difícil. Eu joguei com jogadores que passaram a ser meus ídolos devido as experiências que tivemos juntos, devido ao tempo que vivemos juntos, mas o que eu presenciei tanto como caráter e como jogador foi o Zico. Ele foi um um ídolo incomparável, sem dúvida! Mas antes dele, eu conheci o Mendonça, que também foi um cara sensacional e um cracaço de bola. Ah, não posso deixar de falar de outros, que foram o Júnior na seleção brasileira, o Maradona e Careca, ambos no Napoli, e o Platini. Então, não dá para falar de um apenas. Talvez o Zico seria ao lado de Maradona, os meus maiores ídolos, porque eu me relacionei com eles e conheci o Zico, um cara que aprendi a gostar não só pelo jogador que foi mas pelo caráter, pelo homem, pelo ser humano e amigo de todos, uma pessoa séria e um profissional dedicado. Falar dele é difícil, pois era uma pessoa de bem e a gente se tornou amigos e hoje posso te assegurar que fui privilegiado em ter o Zico, Júnior, Maradona, Platini e Careca, como amigos. São esses que marcaram minha carreira e se tornaram meus ídolos de verdade.
Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?
Eu moro na cidade de Lavras, em Minas Gerais, que tem uma população estimada em 110 mil habitantes, onde tenho um trabalho social em um sítio a 7 km próximo do Centro da cidade. Ultimamente minha vida tem sido de casa para o trabalho e do trabalho para casa e é claro, saio para fazer algumas coisas, mas com o devido controle. Mas graças a Deus eu tenho muito cuidado e não tem sido fácil enfrentar essa pandemia que não é agradável. Mas ter que ficar a maior parte do tempo em casa não é muito agradável, mas é um momento e a gente vai superar isso. Acredito que vamos sair dessa e se Deus quiser, em breve vai sair essa vacina.
Você pendurou as chuteiras em 1996, pelo modesto Volta Redonda, não foi?
O término da minha carreira aconteceu inesperadamente. Lembro que eu havia terminado um contrato com São Paulo, na verdade nem terminou, pois a gente rescindiu antes e eu fiquei aguardando o contato por parte de alguns clubes, pois a intenção era poder jogar um ou dois anos. Mas esse clube não apareceu e surgiu na minha vida a oportunidade de conhecer o ex-prefeito Neto, à época, ligado ao futebol do Volta Redonda. Fui convidado para jogar o campeonato carioca de 1996, aceitei e foi uma experiência maravilhosa, no qual conheci amigos maravilhosos e uma cidade encantadora.
Defina Alemão em uma única palavra?
O Alemão é uma pessoa que procura viver uma vida simples, tranquila e não tem ligação com a fama. Confesso, que nunca me relacionei bem com essa questão de ser um cara conhecido e procuro viver dentro das minhas raízes. Valorizo pessoas que são meus amigos de infância, as que conheço desde pequeno e sei quem são. Gosto de assistir futebol, apesar de ter pouco tempo para ver, jogo um tênis de vez em quando, e tenho alguns objetivos e um deles é esse trabalho que venho fazendo há 26 anos, que é tentar ajudar pessoas com problemas de dependência química. É isso, sou uma pessoa bem normal e isso me define, acho eu, bem.
Que legal! Nos conte um pouco desse seu trabalho social. Onde funciona e qual o propósito dele?
Esse trabalho social existe há 26 anos e foi iniciado quando eu jogava no São Paulo, em 1994. Na verdade, começou nas marquises debaixo dos viadutos da cidade paulista e foi estendido para Lavras, em Minas Gerais, onde eu tinha um sítio que recebia pessoas para serem cuidadas com a finalidade de deixarem o vício da dependência química. Desde então, são 26 anos em que trabalhamos na vida das pessoas pregando a palavra do Senhor para que eles possam ter um encontro pessoal e verdadeiro com Deus, libertando-os desse vício terrível da dependência química. Eu tenho um prazer enorme em fazer isso, é uma coisa que eu gosto muito, me envolve bastante e dedico a maior parte do meu tempo fazendo esse trabalho. Na ‘Casa de Transformação Betânia’, eu conto com pessoas maravilhosas que me ajudam, como a Socorro, que é a minha parceira desde a época da fundação, assim como os outros parceiros como o Dr. Ranieli, que é o cirurgião dentista que nos dá uma mão muito grande, o Dr. Acácio, Dr. Rubens e o Dr. Sebastião, outros que nos dão uma força enorme e se juntam a nós, para ajudar pessoas necessitadas de apoio e que estão próximas da morte. Vale ressaltar que a gente passa o dia praticamente todo lá, conversando, aconselhando, orando e pregando, para que eles possam ter essa chance de mudar.