SHOW DE MEDIOCRIDADE
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Sei que muita gente vai falar que o PC é rabugento, que nunca está satisfeito com nada, que acha que o futebol de verdade acabou na década de 70, blá, blá, blá, mas o que posso falar após Brasil x Venezuela e alguns jogos do Brasileirão? A atuação da seleção foi medíocre e o mais patético foi Everton Ribeiro e um outro jogador tabelando próximo à bandeirinha do corner, fazendo cera. E da beira do campo, Tite berrando “posicional, posicional”. Sem falar em Pedro errando uma bicicleta. Enfim, esse grupo não convence.
O lateral Danilo não pode ser titular de uma seleção brasileira. Na verdade, ele e vários. Infelizmente ainda dependemos de Neymar, mas é bom Tite saber que Neymar não é Maradona, nem Romário, Bebeto, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo. Esses salvaram a pele de seus treinadores. Mas apostar no talento individual é um erro primário. Conjunto não existe e se a renovação vem sendo feita não surtiu efeito e, pior, ainda não deu esperança ao torcedor. A seleção não tem um líder, uma referência, e só lidera as Eliminatórias porque os adversários não existem. Vale lembrar que fomos eliminados por países europeus nas últimas quatro edições da Copa do Mundo e continuamos errando ao não enfrentar essas seleções durante a preparação.
Lembro perfeitamente das excursões que fazíamos na Europa e o resultado vocês já sabem! No Brasileirão, Ceni, a quem sempre elogiei, errou novamente ao abandonar o Fortaleza no meio do caminho. Ah, mas era para o poderoso Flamengo, vão argumentar alguns. E daí? Se tivesse ficado no Fortaleza sairia muito mais valorizado profissionalmente. E se por acaso não der certo? Vai pedir abrigo ao Fortaleza novamente? O Fluminense perdeu duas seguidas e o Vasco voltou a vencer. Dos técnicos estrangeiros, Sá Pinto é o que encarou o maior desafio. Se bem que Ramón Diaz terá muito trabalho pela frente. Teve um piripaque antes mesmo de assumir ou será que viu algum treino e passou mal, Kkkk!
E a Copa do Brasil vem provando o que já sabíamos, os times da Primeira e Segunda Divisão estão no mesmo nível. O VAR não deu um pênalti escandaloso a favor do Galo, beneficiando o Corinthians, que com um futebol horroroso, acabou perdendo mais uma. E vocês ainda esperam elogios da minha parte? Tudo bem, gostei das bermudas de Sá Pinto e Sampaoli. Os gringos encarnam nosso espírito melhor do que nós. Mais bermuda e menos ternos e camisas sociais. Mais molecagem, dribles e menos berros de “posicional”. Não merecemos isso.
INSÓLITAS HISTÓRIAS DE UM REPÓRTER ESPORTIVO (PARTE 1)
por André Luiz Pereira Nunes
Corria o ano de 2011. Esse repórter costumeiramente cobria campeonatos da segunda e terceira divisão do Rio de Janeiro e passou também a acompanhar por um curto período os certames promovidos pela Liga Independente de São João de Meriti, na época presidida pelo então vereador Otojanes Coutinho de Oliveira. Não ganhava absolutamente nada. O único interesse era o de fazer um levantamento histórico das agremiações do município, algumas muito antigas e tradicionais. Realmente adorei promover esse trabalho, o qual me concedeu até um prêmio posterior. Mas o melhor de tudo foi ganhar amigos e vivenciar experiências muito engraçadas como essas que irei discorrer.
O campeonato em disputa era o de veteranos, o chamado Cinquentão ou sub-50. Os participantes eram todos times da cidade, com exceção do Periquitos, de Duque de Caxias. Criado nos anos 60, era treinado e presidido por Paulo Roberto Nascimento (foto). Conhecido popularmente como Muralha, também comandou o extinto Colúmbia, equipe que chegou a disputar certames profissionais da Federação durante os anos 90. Atualmente é o homem-forte da Liga de Duque de Caxias e ainda organiza torneios na sua localidade, Olavo Bilac. Ao assistir a um dos jogos do Periquitos, percebi que os próprios jogadores mencionavam muito um tal de Cacareco. O craque da equipe era um certo Zico. Contudo, ao escrever a minha coluna semanal, não me lembrava direito quais atletas haviam sido destaques e acabei assinalando Zico e Cacareco.
Na rodada seguinte acabei fazendo novamente a cobertura de mais um jogo do Periquitos. Dessa vez o adversário era o Coelho da Rocha, também outro ex-integrante nos anos 80 e 90 do futebol profissional. Ao chegar em campo, percebi que os jogadores de Caxias me olhavam bastante ressabiados. Reparei que o tal Cacareco era extremamente gozado pelos demais, que riam e ainda me apontavam. Eu, sem entender nada do que se passava, me dirigi ao Paulo Roberto Muralha, o qual estava prestes a fazer a preleção. Ele me disse o seguinte:
– André, a sua matéria ficou ótima! Mas ninguém entendeu nada. Você escreveu que um dos destaques do time é o Cacareco. Olha lá, estão todos encarnando nele! O Cacareco não é destaque de nada. O Cacareco é banco!!!
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Sítio alugado em Vassouras para uma festa de final de ano reunindo funcionários de uma empresa. Comida e som rolando soltos. O tranquilo Paulo Roberto Muralha se confraternizava com os amigos quando, de repente, ocorreu um alvoroço. Uma mulher aparentemente estava descontrolada. Parecia ter pego um santo ou, até quem sabe, um encosto. Muitos a cercaram. Tentaram contê-la.
Na mesma hora o intrépido Muralha tentou se assenhorar da situação. Disse logo para todo mundo que iria resolver facilmente a situação da moça. Alegou que sabia como tirar o santo da mulher, pois já vira na TV como se fazia.
– É mole. Sei como se faz. Os pastores fazem isso na televisão. Deixem que resolvo. Vocês cinco, tentem prender as mãos dela para trás que faço o resto, exclamou, confiante.
A situação, porém, não se desenrolou exatamente dessa forma. Ao colocar a mão na testa da mulher e ordenar que o encosto saísse, a mesma deu uma sacudida fenomenal que já jogou, de uma só levada, os cinco que a prendiam ao chão. A moça simplesmente deu um solavanco incomparável com a força habitual de uma pessoa, ainda mais em se tratando do sexo feminino.
Não só o Muralha não conseguiu tirar nenhum santo, como ainda teve que sair correndo, pois a mulher, fula da vida, com encosto e tudo, danou a persegui-lo pela festa.
FAZER O CERTO DÁ TRABALHO
por Bruno Pereira Pinto
Que o Brasil talvez seja o maior centro exportador de mão de obra futebolística, isso não se discute. O país que revelou Arthur Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Pele, PC Caju (não poderia esquecê-lo mestre) Zico, Romário, Ronaldo e mais recentemente Neymar, sem mencionar tantos outros, tem um potencial tremendo de produzir jogadores de alta capacidade técnica.
Mas hoje, vivemos uma crise sem precedentes.
As categorias de base dos clubes Brasileiros, uma vez capazes de nos agraciar com jogadores que nos levavam aos estádios, hoje são um celeiro de negociatas e sua efetividade é discutível.
Antes de fazer um passe no time profissional, garotos já tem empresários, assessores e um staff para cuidar da carreira. Staff esse que nada mais são que paparicadores, incapazes de apontar falhas para o crescimento pessoal e profissional do atleta.
Não só isso, mas as exigências de cartolas e mídia em relação as categorias inferiores são de um nível incompatível para a função da mesma; parece que títulos neste estágio são mandatórios, assim como no profissional. Não há um plano para o desenvolvimento e melhor aproveitamento dos jogadores da base. O Brasil sempre confiou na qualidade inata de seus jogadores. Mas não vemos um projeto sério de desenvolvimento do atleta do momento em que chega ao clube, até o momento em que integra o time profissional. Com isso, a fonte de talentos está secando.
Mas no mundo do futebol, existem aqueles que acreditam em um trabalho quase artesanal na confecção de um grande atleta. Um desses lugares é em Amsterdam, a casa do Ajax.
Quando cursei o Nível 1 do curso de treinadores da Federação Inglesa, comecei a estudar como trabalhar as categorias de base. Em quais os pontos focar para melhor desenvolver atletas. E um dos meus objetos de estudo foi a academia desse grande clube Holandês.
A integração entre os jovens e os profissionais começa no sistema de jogo; desde os tempos de Cruyff, o 4-3-3 é a formação base. O Ajax se prima por jogar de forma criativa e em velocidade, não importando qual o nível. Juvenil ou profissional, todos jogam da mesma forma. Assim, o atleta chega ao profissional já sabendo o que se espera dele taticamente. A ideia é desenvolver jogadores para o clube, com a mentalidade do clube.
Mentalidade essa trabalhada em detalhes. O chefe de desenvolvimento da base, Jan Olde Riekerink diz: “os atletas precisam ser “treináveis” e com vontade de aprender”. Ele continua: “o mais importante fator que podemos ensiná-los é responsabilidade pessoal. Eles podem ir para casa depois do treino ou ir ao Mc Donald’s. São crianças e não vou brigar com eles, mas precisam perceber que ser um profissional significa tomar as decisões corretas”.
A mentalidade trabalhada na base reflete no modo de jogar dos profissionais. Futebol é mais do que correr; todos querem jogar com a bola e não tem medo de fazê-lo. Jogam no mesmo sistema desde que chegam ao clube e, por isso, a adaptação ao time principal é muito mais fácil. Testes psicológicos ajudam a identificar o que precisa ser trabalhado nesta área, para que jogadores tomem melhores decisões durante o jogo.
A preocupação com o atleta se dá nos mínimos detalhes: um garoto que não vive perto de Amsterdam só é trazido quando, depois de um tempo sendo monitorado, o consideram pronto para a mudança e o colocam com uma família adotiva. Manter o máximo de normalidade é prioridade.
Mas o fator que mais chama a atenção é o entendimento no processo de educação do jogador. Não tem como prioridade títulos na categoria de base, mas sim a educação técnica, tática e mental do jogador para que, ao chegar ao primeiro time, possa estar capacitado para aguentar a pressão e desenvolver seu trabalho.
O trabalho é tão compreensivo que todos são submetidos a um programa de habilidades atléticas. Em resumo, o clube desenvolve habilidades motoras que somente os treinamentos de futebol não são suficientes para o desenvolvimento pleno do atleta. A tecnologia de ponta utilizada na avaliação e desenvolvimento do atleta provê as informações necessárias para um trabalho extremamente metódico..
O investimento não e tão grande quanto parece. Os recursos do clube são bem aplicados e o trabalho é medido pelos resultados de longo prazo.
Não é à toa que Ajax revelou, em anos mais recentes, Van Der Vaart, Snejider, Eriksen, Vertonghen, Alderwereild, De Ligt, De Jong and Van Der Beek. Voltando no tempo um pouco mais, Kluivert, Bergkamp, Davids,Frank e Ronald De Boer, para ficar nos mais famosos.
Podemos concluir que, em um mundo onde dinheiro e imediatismo são fatores que regem o futebol, uma constante permanece: o trabalho longevo e frutífero do Ajax.
Fazer o certo leva tempo e dá trabalho. Mas alguém tem prazer de fazê-lo.
QUEM ESCALAVA
por Rubens Lemos
O jeito antipático de Zagallo lhe custou parte do protagonismo que merece na trajetória do futebol brasileiro. Zagallo foi técnico retranqueiro, mas ganhou o Tricampeonato Mundial com uma seleção estupenda no México em 1970. Só comparável a de 1958, onde, por sinal, estava ele jogando na ponta-esquerda e recuando para liberar Pelé às feitiçarias com Garrincha e Vavá.
Na Copa do 1970, o país vivia guerra ideológica pior do que a atual, em razão da luta armada. Direita e Esquerda se matando e gente torturada nos porões do – falo por meu falecido pai – por não concordar com o Regime iniciado em 1964. Deus poupou-me do radicalismo na maturidade. Há uns 20 anos, abomino sectários de qualquer matiz.
Pois em 1970, muita gente torceu contra o Brasil – que pecado pela lindeza do time! – apenas porque o jornalista João Jobim Saldanha, João Saldanha ou João Sem-Medo, havia sido demitido do cargo de técnico do escrete por não concordar (e estava certíssimo), com a convocação do tosco atacante Dadá Maravilha para o lugar de Toninho Guerreiro, sumidade do Santos de Pelé.
João Saldanha, o melhor comentarista de futebol que passou no Brasil, colunista ferino, resolveu, comunista convicto, enfrentar o Presidente Garrastazu Médici.
Menos dócil dos generais pós-1964, Médici não pedia, ordenava e quem não cumpria, bem, leiam os livros para saber. Saldanha disse que quem escalava o time era ele e o Presidente definia o ministério. Foi posto para fora.
Quando Zagallo assumiu, coincidentemente, Dario foi convocado e a antipatia dos jornalistas e de boa parte da torcida aflorou. Zagallo passou a ser o alvo que não poderia ser transferido ao General Garrastazu Médici.
O Brasil ficou com dois centroavantes de força, Roberto Miranda, do Botafogo e Dadá Maravilha, à época no Atlético Mineiro. O luminoso PC Caju conta que cansou de enfiar bolas de curva, antológicas para Dadá Maravilha só para vê-lo tropeçar e cair.
Dadá Maravilha sempre esteve no topo do ranking de goleadores, jogando feio e finalizando de canela. Coração de ingênuo, amável e piadista. Ocorre que, na festa de catedráticos em chuteiras no México, nem na faxina ele ficaria.
Zagallo ganhou o título, pagou por Dadá Maravilha e a eterna lenda de que, com Saldanha, o Brasil teria ganho bonito e, com Saldanha, o time fora de fato montado.
Mais ou menos. No time ungido das Eliminatórias de 1969, tempo da força popular integral de Saldanha, o Brasil jogava com Djalma Dias e Joel Camargo no miolo de zaga, Piazza de volante e Edu, o Urubu Bonito, de artístico ponta-esquerda nato.
Com Zagallo, fez-se justiça a dois santificados e reservas com Saldanha: o camisa 5 Clodoaldo e a Patada Atômica Rivelino, segundo maior ídolo do país, não precisa explicar depois de quem.
O time, na verdade, ficou melhor com Zagallo. Piazza foi recuado para a quarta-zaga formando dupla com o vigoroso Brito. Clodoaldo e Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino, constelação de meio-campistas criativos em intermitente balé após a linha intermediária. m
Zagallo continuou sendo chato. Perseguiu Barbosa, goleiro humilhado de 1950, quando o pobre renegado tentava visitar o número 1 Taffarel na concentração antes do jogo Romário 2×0 Uruguai. Romário foi vítima dele em 1992 e na Copa de 1998, cortado sem estar inutilizado.
Por falar em Uruguai, em 1970, Gérson, muito marcado, inverteu posições com Clodoaldo quando o Brasil perdia por 1×0. Combinou com o capitão Carlos Alberto Torres. O Brasil virou para 3×1 e se mandou para a final contra a Itália(4×1).
Surgiu na peleja contra a Celeste, a maior lenda a respeito de Zagallo, narrada em texto atribuído ao falecido e competente jornalista Oldemário Touguinhó.
O repórter contando um encontro comemorativo do Tri com Pelé e mandando a pergunta:
– Rei! É verdade que você escalava o time ?
– De jeito nenhum! – respondeu Pelé.
– Ah, tá bom, quanta injustiça com Zagallo, teria dito o repórter, sem esperar pelo voleio verbal do monarca da bola:
– Eu não escalava não, Oldemário. Quem escalava era o Gérson!
SEJA BEM-VINDO, MEU ÍDOLO
por Zé Roberto Padilha
Fiquei deveras emocionado. Se me tornei ponta esquerda e torcedor admirador dos canhotos argentinos, os melhores do mundo, como Maradona, Messi, Passarela, Sorin, Conca, D’Alessandro, Di Maria, Dátalo, Dybala, Mario Kempes, entre tantos, um fenômeno mundial que ainda não foi investigado, foi por causa de Ramon Diaz.
Tão forte essa idolatria que ela se expandiu além das quatro linhas. Pegamos as bandeiras azuis e brancas e fomos para a Bombera torcer contra a Inglaterra pela posse e guarda das Malvinas. Depois, demos as mãos às mães da Praça de Maio e caminhamos juntos para depor a ditadura do General Videla.
No Brasil, na época em que buscava inspiração nos juvenis, tinha o Abel, Pepe e Edu, no Santos, Escurinho no Fluminense e Zagalo no Botafogo. Quando as imagens vinham da Argentina, Ramon Diaz era todos eles em alta velocidade.
O mundo deixava o futebol arte, de 1970, para ingressar no futebol moderno, em 1974, quando a Alemanha levantou o cetro.
Enquanto o nosso país tentava ganhar força e velocidade, com a importação de máquinas apolos, testes de cooper, treinamento alemão, nós, pontas esquerdas que o cultuavam, já sabíamos o que fazer.
Raça, velocidade, garra e habilidade. Se tornar um Ramon Diaz já nos bastava para se espelhar. E sobreviver na malha fina do futebol, como sobrevivi.
Seja bem-vindo, meu ídolo. Meu filho, Botafoguense, vai ter seu pai tricolor ao lado quando seu time entrar em campo. Ele, torcendo pela estrela solitária, eu, para dizer muito obrigado.
Seja bem-vindo, meu ídolo.