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TREINADORES TEÓRICOS?

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Semana passada, o técnico português José Mourinho disse orgulhar-se de ter quebrado a barreira de que apenas ex-jogadores poderiam ser bons treinadores. Hoje, segundo ele, qualquer jovem que tenha conhecimento científico, mesmo sem carreira no futebol, pode vencer na profissão. Disso, não tenho a menor dúvida, afinal esse mercado está repleto de professores de Educação Física e de gente que nunca chutou uma bola. Mas também não tenho dúvida que desde que essa turma do conhecimento científico assumiu o poder o nível do futebol despencou, a nível mundial, inclusive.

Mas essa briga é antiga e, em 70, Parreira já começava a surgir no cenário futebolístico. Já cansei de dizer que acho a preparação física importante para o atleta. Se eu não tivesse condicionamento não conseguiria dar dribles longos, me desmarcar, fugir das pancadas. Mas a conversa é outra. Preparador ensina o jogador a correr, mas nunca ensinará a chutar, driblar, cabecear. E o que vejo hoje, rodada após rodada, é o desconhecimento total de fundamentos primários nessa garotada. Por isso, louvo a paciência que Fernando Diniz está tendo com seu time, inclusive com os que não são mais garotos e que só agora estão aprendendo a tabelar, se deslocar, essas coisas. É um trabalho de formiguinha que levará tempo para ser consertado.

Existem comissões técnicas inteiras sem um ex-jogador. Isso é gravíssimo. Muitos jovens talentosos estão perdendo o bonde porque não existem profissionais para lapidá-los. Vejo a torcida crucificando jogadores sem dó nem piedade. E tem que criticar mesmo, afinal o produto tem que ser de qualidade. Não seria importante jogadores, como Roberto Dinamite, Adílio, Andrade, Leandro, Aldair, Mauro Galvão, Geovani, Moreno e sei lá mais quem fazerem oficinas com esses meninos? É importante que eles assistam vídeos exaustivamente desses jogadores. Muitos estão fora do mercado.

Mas eles só não podem ser engolidos pelo sistema, como vem acontecendo com os ex-jogadores comentaristas, que só querem saber do último terço do campo. O que vem acontecendo no futebol é mais ou menos como o estudante que chega ao ensino universitário sem saber escrever direito. Base fraca, futuro incerto. Ou resolvam logo, contratem professores de verdade, ou concluirão que no futebol só teoria tem data de validade. Por falar em teoria e prática, a diretoria do Flamengo tem envergonhado os torcedores com essa história da indenização dos meninos que morreram naquele trágico acidente! Apesar do discurso bonito, acabaram de reduzir pela metade o valor da pensão para as famílias.

ACEITA QUE DÓI MENOS

por Luis Filipe Chateaubriand


Verifica-se que, até os dias atuais, muitos ainda “cantam” a Seleção Brasileira de 1982 em prosa e verso e contestam a “injustiça” dos canarinhos terem perdido aquela Copa do Mundo.

Injustiça?

Sem dúvida, os amarelos eram um excelente time, porém, com falhas relevantes.

Tão relevantes que perderam o jogo para a Itália.

Merecidamente.

Em primeiro lugar, a azurra era um timaço!

Um goleiro como Zoff, um líbero como Scirea, um meia moderno como Tardelli, um goleador como Paulo Rossi, um artista como Antognioni, etc, etc, etc.

É time bom para mais de metro!

Além de bom, time entrosado.

Era praticamente o mesmo time da Copa do Mundo de 1978 – onde, aliás, a Itália já tinha feito uma excelente Copa, esteve a um passo da final, o que só não conseguiu por puro azar.

E, também, cabe ressaltar que a Itália jogou melhor que o Brasil, bem melhor, com mais gana, mais raça, mais vontade.

Inclusive, chegou a fazer o gol que determinaria o 4 x 2, com Antognioni, muito mal anulado, em impedimento inexistente.

Na época do jogo, eu era um menino de 11 anos.

Chorei todas as lágrimas que possuía.

Como virei adulto, parei de chorar, revi o jogo, e constatei o óbvio: mereceu perder.

Então, um conselho às viúvas de 82: cresçam, e parem de dizer asneiras como que aquela foi a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada

O NÚMERO 2, DO ANCHETA, COSTURADO TORTO

por Cláudio Lovato Filho


Era 1974, e o grande zagueiro central Atilio Genaro Ancheta usava a camiseta número 2. O lateral direito, Cláudio Radar, vestia a 4 (Everaldo jogou várias vezes na direita naquele ano, o último de sua carreira); o quarto-zagueiro, Beto Fuscão, a 3, e o lateral esquerdo,  Jorge Tabajara, a 6. Naquele 1974, minha camisa era a 2, do Ancheta. Eram tempos em que o número era costurado na camisa,e o número da minha camisa tinha sido costurado de forma errada: o pé do 2 ficou torto, enviesado para baixo. Aquilo foi motivo de gozação por parte dos meus parceiros de bola na calçada, claro.

Quem costurou o número – uma pessoa muito querida, uma pessoa que estava em nossas vidas já havia muito tempo – não sabia ler nem escrever, nunca tivera a chance de se alfabetizar lá na periferia da cidade de interior (também minha cidade natal) na qual nascera e fora criada. Mas ela costurou o número, porque foi um pedido meu, porque percebeu o quanto aquilo era importante para mim. Tentou do seu jeito. Fez o que podia. E eu fiquei feliz, embora soubesse que, bom, o pé do 2poderia ter ficado mais reto.

Aquele foi o ano da minha primeira Copa do Mundo acompanhada de fio a pavio, o ano de conhecer Johan Cruyff, o ano de pelear mais uma vez com o propósito de voltar a levantar a taça do Campeonato Gaúcho. Era mais um ano de militares no poder e de ver cada vez mais muros no Bom Fim, no Centro e em todos os outros bairros da cidade pichados assim: “Abaixo a Ditadura”.

Eu tinha 9 anos e estudava no à época chamado “Grupo Escolar” Othelo Rosa, na Avenida Independência quase esquina com a Rua Fernandes Vieira, um pequeno colégio público com o retrato de Ernesto Geisel na parede dos corredores, o presidente-general admirado pela diretora, e as fotos estavam com certeza em lugares demais, como se nos vigiando, como se nos dizendo: “Estou de olho em ti”.

Morávamos na Fernandes Vieira, num prediozinhoverde de três andares na quadra entre a Henrique Dias e a Oswaldo Aranha. Era um edifício sem encantos, típica moradia da classe média residente na região central de Porto Alegre, mas havia na entrada um pátio murado, de piso de concreto, e quantas vezes aquele pequeno retângulo tão urbano, tão do Bom Fim, tão porto-alegrense, virou um campo de jogo, um estádio, o meu Olímpico particular. Quantos sonhos vividos ali. 

Não foram tempos fáceis – nem em termos familiares nem nacionais -, mas o quanto isso realmente importava para um menino de 9 anos que andava pelas ruas do Bom Fim com a camisa 2, do Ancheta? 

Pensando em retrospectiva, me lembrando daquele tempo, sou levado a crer que uma das poucas coisas que estavam certas, irretocavelmente certas, era aquele número 2, do Ancheta, costurado torto na minha camisa. Torto e sinuoso como é o caminho de cada um de nós, porque a vida não é exata. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. 

INSÓLITAS HISTÓRIAS DE UM REPÓRTER ESPORTIVO (PARTE 2)

por André Luiz Pereira Nunes


Corria o ano de 2010. Estávamos eu e o saudoso ex-árbitro e dirigente Walquir Pimentel, de carro, a caminho do CFZ, percorrendo a Avenida das Américas, no Recreio do Bandeirantes. Eu ia cobrir a final de um torneio, a Copa Yasmin Verão, da categoria juvenil, promovida pelo então recém-criado Clube Esportivo Yasmin, que posteriormente passaria a se chamar Clube Atlético da Barra da Tijuca. Atualmente integra a terceira divisão do Rio de Janeiro. 

Chegando próximo ao nosso destino, Walquir me alertou para que ficasse atento. A próxima rua à direita possivelmente seria a que deveríamos virar. Era a rua do estádio, segundo ele.

– Preste atenção, André! É a próxima. Não podemos perder. Me avise.

Fiquei bastante atento esperando que a rua chegasse. Estava muito ansioso, pois nunca havia estado no clube do Zico. Quem sabe o encontraria por lá. Também faria contato pela primeira vez com o Yasmin, clube então estreante no profissionalismo. Seria uma ótima oportunidade para fazer umas matérias e também boas fotos.

De repente, surge uma rua. De imediato avisei ao Walquir.

– Olha, é aquela lá. Vamos entrar.

Viramos. A rua era simplesmente a entrada de um supermercado que estava em construção. Fomos parar dentro do estabelecimento.        ___________________________________________

Outra história envolvendo meu saudoso amigo Walquir Pimentel. Tínhamos acabado de sair de um arbitral na Federação de Futebol do Rio. Para quem não sabe, trata-se de uma reunião em que se decidem tabela, regulamento e participantes, antecedendo ao campeonato. Vínhamos conversando, até que ele me perguntou se eu queria carona. Respondi que sim. Morávamos relativamente perto. Eu, em frente ao Colégio Militar, na Tijuca, e ele na Rua Carlos de Vasconcelos, próximo à Praça Saens Pena.

Quando já estávamos no carro, de repente o telefone dele tocou. Era o seu aspone favorito, Orlando Penteado. Foi aí que rolou um dos diálogos mais engraçados que já presenciei na minha vida de repórter esportivo.

– Olá, Orlando, tudo bem? Acabei de sair do arbitral. Você não sabe quem eu encontrei. O Lancetta.

Lancetta, Orlando!!! Lan-cet-ta!!! LAN-CET-TA!!! Tá surdo, Orlando???? Que buceta? Eu falei buceta, Orlando???? Lancetta!!!               ____________________________________

Uma terceira história envolvendo meu saudoso amigo Walquir Pimentel. Dessa vez tínhamos como destino o Clube de Regatas do Flamengo. Haveria por lá algum evento esportivo, o qual já não me lembro. Entramos com o carro e estacionamos na garagem do clube.

Assim que descemos, Walquir me relatou que estava muito apertado. Precisava urinar. Eu, por acaso, também. Foi aí que avistamos um banheiro ainda na garagem da agremiação. Walquir entrou primeiro e começou a se aliviar. O interior estava escuro, não sei se por que não havia luz ou se meu amigo não havia achado o interruptor. Imaginei que o toilette de um clube como o Flamengo, mesmo situado na garagem, deveria ser enorme, daqueles que cabem 10 ou mais pessoas.

Para minha surpresa era apenas um banheirinho. Quando entrei, achando que se tratava de um grande compartimento, vi o Walquir muito irritado, no escuro, tentando mirar o alvo e, ao me ver, ainda reclamou comigo.

– Espera aí, André. Deixa eu mijar em paz. Aqui não dá pra dividir. Se não dá pra esperar, então, mija aí no chão mesmo.             _________________________________________

Caio Júnior, quando era treinador do Flamengo, certa vez proferiu uma declaração que causou uma reação solitária e inusitada. Ele disse, após um período de derrotas que levou a sua permanência no clube a ser muito questionada, “que todo mundo no Flamengo dava palpite, até o diretor da bocha.”

Foi exatamente nessa ocasião que estive no Flamengo para fazer uma matéria, não sobre o Caio, mas sobre a bocha, e lá encontrei o tal diretor, puto da vida, dizendo que gostava do técnico, mas que não dava pitaco no futebol e exigia, portanto, respeito. Porém, ninguém o convencia de que o treinador apenas generalizara a imensa quantidade de corneteiros do clube, o que, cá entre nós, é uma realidade!

Dias depois conversei com o Caio e lhe relatei a indignação do tal diretor. Ele ao ouvir, riu e me falou: – Ah, você está de sacanagem!!!        ________________________________________

Mário Sérgio me contou uma vez que a maior emoção de sua vida foi ter sido aplaudido por um estádio inteiro com torcidas rivais, do Inter e Grêmio.

Era o jogo das faixas do Grêmio, então campeão do mundo em 1983, e ele que jogara no elenco vencedor, acabara de se transferir justo para o Inter. Achou que ia ser vaiado. Acabou aplaudido.

AVALIAÇÃO DE TREINADORES

por Idel Halfen


A todo o momento estamos tomando decisões em nossas vidas. Se pararmos para pensar, já acordamos diante de duas opções: levantamos imediatamente ou ficamos na cama um pouco mais, sendo que até o “pouco mais” carece de decisão.

No caso de um gestor, esse tipo de situação é mais frequente, pois, além das que precisa tomar no âmbito pessoal, ainda há as que lhe são impostas pelo cargo que exerce e, que muitas vezes, envolvem situações bastante delicadas como, por exemplo, a de desligar algum colaborador em função do desempenho.

E como avaliar o desempenho? Nas empresas mais estruturadas, a situação é um pouco menos complexa, pois se costumam estabelecer indicadores e acompanhá-los. Evidentemente que há falhas, visto beirar o impossível expurgar fidedignamente os fatores exógenos à operação, tais como os aspectos macroeconômicos, a agressividade da concorrência, os índices de confiança na economia, entre outros. Além disso, existem as variáveis mais subjetivas que, por mais que se busquem ferramentas de avaliação, são difíceis de apurar de forma que venham a ser determinante em decisões da magnitude de um desligamento, aqui listamos: o relacionamento com pares, superiores e equipe, potencial de desenvolvimento, motivação, etc.

Agora passemos para o esporte, mais especificamente o futebol, onde há uma grande incidência de desligamentos de treinadores ao longo da temporada, o que permite provocar algum tipo de analogia com o ambiente corporativo, o qual, pela maior atenção aos aspectos de gestão de recursos humanos, poderia servir de referencial para a modalidade.

Claro que a pressão externa sofrida pelos gestores corporativos é infinitamente menos agressiva do que a dos esportivos, que têm a torcida como uma espécie de conselho de administração muitas vezes violento acompanhando e cobrando resultados. Mas, independentemente dessas e de algumas outras diferenças, vale buscar a reflexão sobre o processo de avaliação de treinadores.

Estabelecer um percentual de desempenho a ser cumprido, o que já foi até tentado, poderia ser uma solução, contudo, há a influência da sequência de jogos se o período for curto, isto é, dependendo do nível dos adversários a métrica fica comprometida.

Haveria, sem dúvida, mais justiça, se uma meta fosse acertada entre as partes, e essa contemplasse um período maior, porém, dessa forma, as eventuais medidas corretivas estariam sendo relegadas, o que poderia levar a um desfecho irremediável.

Além do desempenho, existem os fatores relacionados ao que no meio chamam de “vestiário”, que nada mais é do que o clima organizacional, o qual acaba tendo também relação com o desempenho. 

Devemos ainda incluir a visão de longo prazo, mais ligada à integração entre a base e o elenco principal. No mundo corporativo, seria algo na linha do planejamento de carreira e sucessões.

Tomar decisões sobre a continuidade ou não de um profissional é realmente bastante difícil, porém, a elaboração de um processo de avaliação – mesmo que não seja garantia de assertividade – ajuda a minimizar os problemas. 

Auxilia a decisão, um cuidado maior com as contratações, pois, assim como os desligamentos, essas ficam mais propositivas se levarem em conta as competências que se buscam para aquele profissional.

Por fim, resta acrescentar que processos de rescisões mais criteriosos contribuem para deixar as empresas e os clubes “mais desejados” por potenciais candidatos, além de proporcionar aos que lá estão uma maior segurança, o que é também um fator que influencia a retenção de bons profissionais.