OS 3×1 DE 21 E OS 2×0 DE 89
por Leymir Moraes
A supremacia técnica ante o embate de Camisas centenárias só é observada se houver humildade do time momentaneamente superior, regra 00 do futebol entre grandes Clubes e digna de menção em manuais sobre o jogo.
Exemplos temos muitos, mas hoje focaremos em duas Camisas que rivalizam em terra e mar e se harmonizam em suas grandezas, a do Flamengo de José Agostinho Pereira da Cunha, Nestor de Barros, Mário Spínola e Augusto Lopes da Silveira e a do Vasco de Gaspar de Castro, Virgílio Carvalho do Amaral e Henrique Ferreira.
A do Vasco, que antes do primeiro título mundial da seleção já vestia orgulhosa de si mesma:
Barbosa, Barcheta, Augusto, Wilson, Rafagnelli, Ely, Danilo, Jorge, Moacir, Djalma, Nestor, Maneca, Ademir, Dimas, Lelé, Friaça, Ismael e Chico.
A do Flamengo, que cobria o time do primeiro tri carioca com um esquadrão de rivalizar com o Reich:
Jurandir, Nilton Canegal e Domingos da Guia; Biguá, Volante e Jaime de Almeida; Valido, Zizinho, Perácio, Pirilo e Vevé.
As Camisas dos grandes Clubes estão campos astrais acima da frivolidade e possessividade de nossas paixões, elas falam através de gestos técnicos apurados como de Leônidas e Ipojucan e correntes de amor desenfreado dos bons e milhões de anônimos que as trajam como sua segunda pele.
A camisa do Flamengo reconhece os excelentes Ademir e Danilo, e não deixa de se comover com o amor de Alfredo Segundo pelas vestes vascaínas. A camisa do Vasco da Gama reconhece os grandes Zizinho e Perillo, e não deixa de se comover com a entrega e devoção de Biguá com o manto rubro-negro.
A Camisa do Vasco não é menor quando admira Dida, a Camisa do Flamengo não se apequena quando se encanta com Roberto.
As Camisas são cientes que ciclos vitoriosos vêm e vão e que suas belezas e eternidades transcendem a isso, elas são lindas por si mesmas e por seus sonhos, pelo que representam e pelo que deixam em terra e mar, pela maneira que decididamente colorem nossas vidas.
Em 1989 o Flamengo vivia um ano de luto, o maior entre todos os defensores de seu manto anunciava o fim do seu reinado, seu possível sucessor se transferia para o maior rival aonde seria ainda neste ano campeão brasileiro.
66 anos se passaram e restava ao Flamengo o mesmo que sobrou em 1923, tentar equiparar forças ao Vasco ainda que para o campeonato nada significasse.
O Vasco de 89 era um verdadeiro esquadrão e contava em sua linha com Tita, Andrade e Bebeto, que haviam conquistado Carioca, Brasileiro, Libertadores e Mundial pelo clube da Gávea, além de Mazinho, Acácio, Bismarck , Winck, Wiliam e Sorato.
O Flamengo tinha um Zico que já se despedia, o retorno de Junior, e as perdas do primeiro semestre de Jorginho, Aldair e sobretudo Bebeto.
O clima na cidade e também em São Januário era de uma vitória Vascaína, as disparidades técnica e anímica eram flagrantes e o resultado do Brasileiro de 1989 confirmaria a previsão. Os torcedores do Flamengo se sentiam diminuídos perante o poderio cruzmaltino e depositavam em Junior e principalmente Zico, um pingo de alegria naquele ano cinza.
Invariavelmente as preces rubro-negras terminavam com “e se perder, que não seja com gol de Bebeto, amém!”
Era necessário mais uma vez que a camisa resolvesse, na preleção só Zico que é a mais perfeita semelhança da camisa do Flamengo falou, só Arthur Antunes Coimbra e mais ninguém.
Dentro de campo o jogo não foi decidido pela genialidade de Zico ou Junior, a Camisa queria ser explícita e escolheu como seu cavalo o menino Bujica que marcou os dois gols de sua vida naquela tarde de domingo.
Para todo o rubro-negro vivo em 89, o sentimento foi: “que eles se contentem com o Brasileiro, a vitória é nossa” exatamente como fora em 1923.
Em 2021, acabamos de testemunhar o mesmo, em demonstração soberba o Flamengo anuncia que faria um teste contra o Vasco em um Campeonato Carioca que busca mais um tri, o Flamengo de uma só vez diminuía o rival, como também um campeonato que entregou o seu exato tamanho e sua justa alcunha de mais querido!
Os dirigentes do Flamengo ainda não entenderam que diminuir o rival é diminuir a si mesmo, e diminuir o Carioca é sangrar e apequenar suas maiores glorias.
Afinal os grandes Filipe Luis, Gabigol, Arrascaeta e Bruno Henrique seriam maiores que Junior, Dida, Zico e Zizinho e que se orgulham por demais de seus respectivos tris carioca?
Alguém tinha dúvida que a camisa Vascaína se levantaria? O Vasco que tem um time em 21 ainda mais fraco que o Flamengo do segundo semestre de 89, o Flamengo de 21 que tem ainda um time mais forte que o Vasco de 89. O Flamengo cai incontestavelmente, mas não aos pés de Leo Matos, Cano e Morato e sim tomba face a sua arrogância frente a camisa Vascaína que manteve a maior invencibilidade do clássico conquistado pelo Expresso da Vitória.
Não fora o Vasco rebaixado e maltratado que enfrentou o Flamengo em 21, não fora o Flamengo de 89 enlutado que enfrentou o Vasco campeão brasileiro, havia muito mais dentro de campo e só aqueles que nada sentem podem a isso ignorar.
Em campo Cano foi Ademir, Morato foi Ipojucan e Leo Matos foi Danilo, todos encantados pelo manto vascaíno.
Se em 1989 pouco importava ao Flamengo o título brasileiro vascaíno, em 2021 pouco importará ao Vasco o que Flamengo já conquistou e conquistará.
Que as Camisas sempre se imponham quando necessário, e após a partida partam juntas para seus lares após as doces resenhas que já se sucedem há mais de século.
Salve o Clube de Regatas do Flamengo, Salve o Clube de Regatas Vasco da Gama!
FUTEBOL & CINEMA
Coprodução de A Fábrica e WarnerMedia é estrelada por Maicon Rodrigues, Dadá Coelho e grande elenco e teve consultoria do Museu da Pelada.
No auge da carreira como superestrela do futebol mundial, Elton Jr. (Maicon Rodrigues), decide deixar os campos e pendurar as chuteiras. Mas nada será tão fácil como ele imagina. Isso porque sua mãe Idalice (Dadá Coelho), seu agente Julio Lobo (Flavio Pardal) e seus “parças”, Pança (Leo Bahia) e Truco(Bernardo Marinho), vão fazer de tudo para impedi-lo. Essa é premissa de ‘Galera FC’, série original dirigida por Luiz Noronha e Claudia Castro, produzida por A Fábrica em parceria com WarnerMedia, que estreia no dia 10 de maio, às 21h30, na tela da TNT .
Criada por Luiz Noronha, João Paulo Horta e Renato Fagundes, a série é uma comédia de alta voltagem, que transita pelo universo das celebridades e pela vida em família, enquanto mostra a história desse jogador em crise de identidade, que vai tentar sabotar a própria carreira, criando situações, nem sempre bem-sucedidas, para vai forçar o rompimento de seu contrato milionário no futebol europeu. Tentando descobrir se tem outros talentos escondidos, Elton conhece e se interessa pela repórter Carolina (Carol Garcia), encarregada de cobrir a rotina do craque. O elenco também é formado por Kaysar Dadour, interpretando o treinador físico e “espião”, Malakl. A atrizNatalia Rosa interpreta a digital influencer enamorada de Elton Jr, Sara Jane.
A série tem oito episódios de 30 minutos, que serão exibidos todas as segundas na TNT, e contou com a consultoria do Museu da Pelada:
“A assessoria da equipe do Museu foi importante para o nosso processo criativo e para a produção de uma cena emocionante em que o protagonista encontra craques do passado, como Macula e Carlos Roberto”, conta Luiz Noronha.
MARROM DA COR
por Idel Halfen
Não lembro de nenhum time que traga o marrom na camisa. Pode ser falta de memória ou de conhecimento, mas ainda assim vale observar que essa cor se faz muito presente na imprensa. Aqui peço licença para sair da esfera esportiva, mas não totalmente.
Nos últimos dias, li uma nota questionando o Jockey Club Brasileiro por ter quebrado uma tradição ao admitir para o seu quadro de sócios um jogador de futebol.
A nota não disfarça o seu preconceito, mas como o clube tem em seu quadro social atletas que se destacaram em diversas modalidades esportivas, como voleibol, natação, triathlon e tênis, fica explícito que o ataque é direcionado, única e exclusivamente, ao futebol.
Seria simplório concluir que o futebol sofre preconceito. Na verdade, o futebol em função de seu aspecto democrático é capaz de atrair praticantes de diversas camadas sociais, credos e cores e isso, infelizmente, ainda incomoda muita gente.
O fato de o Jockey ter aprovado a associação de pessoas baseado no caráter e não na profissão é, sem dúvida, um fato a ser valorizado e divulgado de forma elogiosa, pois denota que para sua diretoria e maioria esmagadora dos associados, todos são iguais independentemente de segmentações que a sociedade venha impor
GERALDO, O CRAQUE QUE JOGAVA E ASSOBIAVA
Se fosse vivo, Geraldo Cleofas Dias Alves, mais conhecido como Geraldo Assobiador, completaria hoje, dia 16 de abril de 2021, 67 anos. Geraldo, nascido em Barão de Cocais, Minas Gerais, faleceu aos 22 anos em 26 de agosto de 1976. Uma das maiores revelações do futebol brasileiro nos anos 70, vestia a camisa 8 do Clube de Regatas do Flamengo e jogava ao lado de grandes craques como Zico, Junior, Andrade, Adilio, etc…
Conheci Geraldo porque ele é amigo do meu amigo Carlos Alberto Pintinho, a quem conheço desde 1973. Assim como eu, Geraldo morava no Leblon (na rua Juquiá, paralela à rua Conde Bernardote). No dia da sua morte eu já havia mudado para a capital da República (cheguei em julho de 1975), trabalhava na editoria de esportes do Correio Braziliense e estava neste dia na redação da Tv Brasília – canal 6 negociando a minha contratação pela emissora. Levei um susto com a notícia. Pintinho estava inconsolável e até hoje sente a partida prematura do amigo. Mesmo morando em Sevilha, na Espanha, Pintinho quando vem ao Brasil vai a Barão de Cocais colocar flores no túmulo do amigo que era conhecido pelo seu excepcional controle de bola, visão de jogo e o futebol alegre.
Com acompanhamento médico regular, como é comum aos atletas profissionais, descobriu-se que Geraldo tinha inflamações crônicas na garganta e o departamento médico do clube recomendou a retirada das amígdalas. Sua operação foi agendada para o dia 25 de agosto de 1976. Porém, por questões burocráticas, Geraldo só foi internado no dia seguinte, desfalcando a equipe que jogara no dia anterior em Fortaleza contra o Ceará. Geraldo deu entrada no Hospital Rio-Cor, em Ipanema, para retirar as amigdalas quando o relógio marcava 7h da manhã do dia 26. Pouco tempo depois, o médico otorrinolaringologista Wilson Junqueira iniciou os procedimentos e aplicou o anestésico local.
Vinte minutos após o início da cirurgia, Geraldo se sentiu mal e seu coração parou. A equipe médica tentou reanimá-lo com injeções e choques elétricos. Às 10h30, Geraldo sofreu uma segunda parada cardíaca e faleceu vitimado por um choque anafilático causado pela anestesia.
Geraldo disputou 168 jogos com a camisa rubro-negra (94 vitórias, 40 empates, 34 derrotas) e marcou 13 gols. Foi campeão da Taça Guanabara de 1973 e campeão carioca de 1974. Na Seleção Brasileira, Geraldo estreou na Copa América de 1975. Ao todo, fez sete jogos pela Seleção Brasileira.
Obs: mensagem que recebi do meu amigo Carlos Alberto Pintinho, direto de Sevilha, na Espanha, onde reside hà 40 anos:
“Gracias por el reportaje del hermano Gera. Eles un craque”
O QUE NELSON RODRIGUES DIRIA DESSE BOTAFOGO?
por Rodrigo Ancillotti
“Não, senhores!! Não foi Gilvan que marcou o gol de empate e deu sobrevida de alguns instantes ao Botafogo na Copa do Brasil. Se dependesse dele e de sua falta de categoria, ou da ruindade dos seus companheiros com a bola nos pés, aquela bola passaria incólume pela área e morreria tristemente pela lateral do campo. Quem empatou o jogo foi a Estrela Solitária!! Sim, foi Ela que subiu, praticamente carregando o zagueiro alvinegro contra sua vontade e obrigando-o a cabecear a pelota para as redes!! Ela, e somente Ela, honra a camisa alvinegra e não perde nunca sua magia!! Infelizmente, a Gloriosa Estrela Solitária não é capaz de milagres, pois só um milagre daqueles dignos de almanaque seria capaz de salvar o Botafogo da desclassificação na Copa do Brasil. A ruindade do time, do presidente ao porteiro do clube, impede que o Clube mais tradicional do nosso país almeje algo além da permanência na Série B para o ano que vem. Isso, por si só, já será motivo de alívio para a sua torcida.”
Peço licença aos amigos do Museu da Pelada para essa pequena homenagem ao maior cronista/escritor de nosso jornalismo esportivo: o grande Nelson Rodrigues!! Claro que ele escreveria com muitíssimo mais brilho e competência, mas imaginaria um texto semelhante para falar de mais uma eliminação vergonhosa do outrora Glorioso Botafogo na Copa do Brasil. Mais uma humilhação que expõe fortemente que, ao Botafogo, só resta lembrar de seu passado, pois o presente é vergonhoso e o futuro… Que futuro??
Até quando, Botafogo?? :’(