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RIVALDO, O INJUSTIÇADO

por Luis Filipe Chateaubriand


Rivaldo Vitor Borba Ferreira, o Rivaldo, é um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos.

Um de seus maiores feitos, dentre outros, é o de ter conseguido ser o melhor jogador da Seleção Brasileira em duas Copa do Mundo – as de 1998 e 2002.

Algo que nem Pelé conseguiu.

Então, Rivaldo merece respeito, muito respeito, pela carreira fora de série que construiu.

Infelizmente, não é valorizado como merece.

Em parte, o próprio Rivaldo é responsável por isso.

Tímido, circunspecto, arredio, não fazia e não faz marketing pessoal.

O outro motivo é devido a gente preconceituosa, que não reconhece seu futebol exuberante pelo fato dele ser nordestino.

Ora, o fato de ser nordestino deveria valorizá-lo, ao invés de desmerecê-lo: venceu na vida mesmo vindo de uma região pobre, mas um lugar de gente valente, que vai à luta.

Por isso, é preciso afirmar: Rivaldo é craque para mais de metro, e merece aplausos!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada

UMA FORTALEZA CHAMADA LUÍS ‘CHEVROLET’ PEREIRA

por André Felipe de Lima


 Pisada para dentro, joelhos próximos um do outro. Olhando-o correr, temíamos que caísse a qualquer passo mais largo. Mas isso não acontecia. Permanecia firme, sem tropeços.  Quem imaginaria que um camarada assim, digamos, desengonçado, tornar-se-ia um dos melhores zagueiros de todos os tempos do Palmeiras e do Atlético de Madrid? Falamos do grande Luís Pereira, que comemora nesta segunda-feira (21) mais um aniversário.

O ídolo alviverde nasceu em 1949, em Juazeiro (BA), e começou a carreira no São Bento de Sorocaba. No clube paulista, passou a ser chamado de Luís “Chevrolet”, apelido que perduraria ao longo da carreira. Em 1968, seguiu para o Palmeiras. Foi para o Parque Antarctica, porém contrariado. Não queria deixar a namorada, a Marilu, em Sorocaba. Levou-a junto e com ela se casou. Não demorou muito, no entanto, para ocupar o lugar de Baldocchi, então tricampeão na Copa de 70.

Luisão deixava os treinadores com o cabelo arrepiado. Era um contumaz zagueiro-atacante. Partia desembestado para o ataque, sem mandar recado. E fazia até mesmo uns golzinhos. “Eu ataco porque gosto de ficar perto da bola. É que nunca tive brinquedos quando criança”, dizia o espirituoso Luís Pereira.

O ídolo sempre demonstrou essa bem-humorada característica de sua personalidade. Entre os amigos, companheiros e torcedores. Luís Pereira sempre teve vocação para ídolo. Mas essa nota carismática que sempre o moldou pode ter sido também o bálsamo para os momentos mais difíceis pelos quais passou na vida.


Em março de 1973, Luís Pereira se preparava para estrear pela seleção brasileira. Era um momento especial na vida dele e de Marilu, que esperava um filho do casal. Mas, poucos dias antes do zagueiro se apresentar ao escrete, a esposa perdera o filho durante o parto. O trauma foi intenso e devastador na família. O zagueiro não queria sair do lado da abalada esposa. Marilu, mesmo deprimida, convenceu Luís Pereira a seguir com a seleção. “Você deve ir. Vá e jogue por mim. Jogue muito”, pediu a esposa.

“Eu fui, mas ainda tinha vontade de ver o mundo se desintegrar. Eu queria que tudo sumisse num segundo. Depois de algum tempo fui entendendo melhor a vontade de Deus. Eu tinha que ser duro por fora e mole por dentro. Se eu desmoronasse, levaria tudo comigo. Um médico me ajudou muito a entender as coisas. Ele me mostrou um bebê de 18 meses, morto, e me fez entender que seus pais deviam estar sofrendo mais do que eu. Eles tiveram dezoito meses de convivência e nós tivemos nove meses de expectativa. A gente não esquece, mas tem de se conformar”, recordou o zagueiro, em entrevista concedida ao repórter José Maria de Aquino, um ano após o drama familiar.

Após uma passagem inebriante e recheada de conquistas pelo Verdão — três campeonatos nacionais e dois paulistas —, Luís Pereira rumou, em 1975, para o Atlético de Madrid, onde ficou famoso (e ídolo, claro!) de uma apaixonada torcida que o chamava carinhosamente de “El mago”.

Chevrolet, que foi o zagueiro da seleção na Copa de 74, voltaria o Palmeiras em 1981 sem, contudo, o brilho técnico de outrora, mas com o mesmo ímpeto e determinação marcantes na carreira daquele craque que, quando menino, era muito pobre, mas que jamais se abateu com os dissabores com os quais a vida às vezes nos surpreende. “Eu fui um menino feliz sem ter nada”.  Por ser essa fortaleza, o bravo Luís Edmundo Pereira tornou-se o maior zagueiro da história do Palmeiras, e um dos melhores exemplos de como deve ser um ídolo do futebol.

VEJA ALGUNS GOLS DE LUÍS PEREIRA PELO VERDÃO

#Ídolos&Épocas #Palmeiras #Verdão #LuísPereira

O NOVO PULO DE UM GATO

por Zé Roberto Padilha


Desde cedo me falaram que seria goleiro. Era regra no futebol da minha rua: quem é ruim de bola, vai catar no gol.

Não estavam errados. O esporte é foot, não é hand!

Por ter funções opostas a 92% do elenco, vivemos muitos anos sem um treinador específico.

Nos deixavam tanto tempo pulando de um lado para o outro em caixas de areia emprestadas pelo atletismo, que tivemos sérias luxações e lesões nos braços, pernas e bacias.

Porém, o problema maior sempre foi acertar com o patrocinador. Porque o Fred faz um gol e mostra o logomarca da empresa na camisa para levar um extra. Como não fazemos gol, só nos tornamos heróis nas raríssimas decisões por pênaltis, como atraí-los?

Sendo assim, como atrairíamos os holofotes das jogadas já que na era Guardiola poucos chutam a gol preferindo tocar a bola à exaustão em prol do quesito maior posse de bola?

Até que uma velha raposa guardiã do patrimônio, que se tornou treinador de goleiros, achou o pulo do gato. E virou moda. E as partidas ficaram ainda mais interrompidas do que nas revisões do VAR, no show do intervalo, e muito pouca gente percebeu o ardil.

“Quando vocês fizerem uma grande defesa, caiam machucados. De preferência, se contorcendo. Se levantar rápido o corner é batido e não dá tempo do replay. Se continuarem caídos, o lance vai ser reprisado. Uma grande defesa precisa ser admirada em meio a Brahma na jogada”.

“Mas se falharem, levantem rápido, o corner vai ser logo batido e a falha esquecida!”

Simples assim. Grotesco assim. Mas não fomos nós, goleiros, que nos dirigimos às rádios e televisões para propagar, com um maço de Vila Rica nas mãos, uma frase que marcou geracões: “Nós gostamos de levar vantagem em tudo, certo?”

Quem disse jogou muita bola. E na linha.

São coisas do futebol. E do futebol brasileiro. Daqui a pouco um de nós, goleiros, vai mostrar nas muitas competições como aprendemos a simular, ludibriar, até gemer se for preciso.

Médicos? Coitados, dispensados nos treinamentos, nunca entraram tanto em campo.

Se tocarem na gente, a ordem é fazer de conta que batemos de frente com um caminhão. Ou com o Manoel ou Lucas Claro, que é a mesma coisa.

Certo?

Errado.

O PIONEIRISMO DO VASCO EM FAVOR DOS PEQUENOS CLUBES

por André Luiz Pereira Nunes


A Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), em 1923, não permitia a inscrição de jogadores que exercessem outra função que não fosse a de atletas de times de futebol e isso incluía até mesmo os que recebessem gorjetas ou fossem praças de pré. Para quem não sabe, um praça de pré, referido ocasionalmente pelo termo arcaico praça de pret, ou simplesmente praça, era um militar pertencente à categoria inferior da hierarquia, como soldados ou cabos.

Os empregados de bares ou restaurantes, barbeiros e demais profissões remuneradas não podiam ser inscritos, de modo algum, como jogadores no ambiente da aristocracia da Liga da Primeira Divisão.

A primeira partida disputada pelo Vasco, na Série A da Primeira Divisão da Liga Metropolitana, foi contra o Andaraí, no campo do Botafogo, havendo empate em 1 a 1. Em 1923, a Guarda Civil era uma corporação de elite, a qual prestava serviços até ao Palácio do Catete. E na ponta-direita do Andaraí atuava um guarda civil conhecido como Tupi. O Vasco, no entanto, nada reclamou com relação ao resultado da partida.

Contudo, na reunião para aprovação das partidas, um dos membros do Conselho Divisional da Série B apontou Tupi como praça de pré. Em face da denúncia, foi aberto um inquérito na Liga Metropolitana que atestou a verdade. Tupi foi afastado pela entidade e o Vasco ganhou o outro ponto do empate.

No mesmo ano o Vasco sagrou-se campeão com 24 pontos e o Flamengo vice com 18, cabendo o último lugar ao Botafogo, que marcou apenas 4 pontos, e foi obrigado a jogar uma repescagem contra o Vila Isabel, vencedor da Série B. Saiu-se, entretanto, vencedor o Botafogo pela contagem de 3 a 1.

O time campeão do Vasco era composto por jogadores de origem muito modesta como Nélson da Conceição, oriundo do Engenho de Dentro, Albanito Nascimento (Leitão), procedente do Bangu, Domingos Passinio (Mingote), vindo do Pereira Passos, da Saúde, Claudionor Corrêa (Bolão), centroavante do Bangu, que no Vasco jogou de centro-médio, Artur, oriundo do Helênico, Nicolino, meia que veio do Andaraí, Pascoal Cinelli, ponta-esquerda do Rio de Janeiro FC, que no Vasco jogou na ponta-direita, Torterolli, vindo do Engenho de Dentro, e Arlindo Pacheco, o Lindinho, irmão de Sílvio Pacheco, jogador do Vila Isabel e do America, na ponta-esquerda e das Seleções Carioca e Brasileira. Arlindo, durante um jogo com a Seleção Paulista, no campo do Independência, chocou-se violentamente, na cabeça, com o meia Ítalo, saindo ambos desacordados do gramado. Ele deixou de jogar durante anos até que, em 1923, foi convidado por Antônio Campos para ingressar no Vasco, no qual atuou como centroavante, se tornando um dos maiores goleadores do time.


A partir da queda de produção dos chamados grandes clubes e a evolução dos pequenos, as agremiações aristocráticas pretenderam classificar de profissionais os jogadores dos chamados clubes modestos. Os considerados grandes foram derrotados na Assembléia Geral da Liga Metropolitana graças à habilidade política do representante do SC Mackenzie, Barbosa Júnior, funcionário da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, que provou estarem os chamados grandes fazendo uma campanha racista, pois os jogadores ameaçados de afastamento eram quase todos negros, assim como Tupi. A sindicância sobre a situação social dos jogadores dos pequenos clubes coube a Samuel de Oliveira, do Botafogo.

O fato é que o mal-estar gerou uma cisão no futebol carioca. Ficaram na Série A da Liga Metropolitana os seguintes clubes: Vasco, Andaraí, Ríver, Vila Isabel, Mackenzie, Carioca, Mangueira e Palmeiras de São Cristóvão. Os dissidentes, que formaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), foram Flamengo, Fluminense, São Cristóvão, Botafogo, Bangu, America, Helênico e Sport Club Brasil.

Foi daí que surgiu a fama do Vasco da Gama em relação à luta contra o racismo. Na realidade, a luta era em favor dos clubes modestos poderem inscrever jogadores que trabalhassem em outros ramos de atividade para poder complementar o orçamento familiar.

O CRAQUE DO BRASIL EM 1991

por Luis Filipe Chateaubriand


O ano de 1991 via o surgimento do grande São Paulo de Telê Santana – um dos maiores São Paulo de todos os tempos, se não o maior.

Comandando o time, com a camisa 10, Raí, o irmão mais novo de Sócrates, bom de bola como o mano mais velho.

Raí chutava muito bem, especialmente de longa distância, seja com a bola rolando, seja com a bola parada – batia faltas e pênaltis de forma magistral.

Raí tinha leitura de jogo apurada, sabia o que fazer em campo a partir de como seu time jogava e como o adversário jogava, inteligência admirável.

Raí era líder, orientava os companheiros, dando-lhes aconselhamentos sobre posicionamento em campo e jogadas a executar.

Isso tudo estava latente em 1991, e o resultado foi o título de campeão brasileiro, conquistado pelo São Paulo.

Que teve dois artífices.

Telê Santana, fora de campo.

E Raí, dentro de campo.

E foi assim que Raí se tornou o craque do Brasil em 1991.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!