Escolha uma Página

os caras do var

por Cláudio Lovato Filho

Os caras do VAR têm cara?

Sei lá, estão sempre de costas.

Nunca dão as caras.

Os árbitros de campo têm cara.

Mas poucos botam a cara pra bater.

Porque existem os caras do VAR.

Está na cara: a melhor política é concordar com os caras do VAR.

Mesmo nos lances de interpretação.

Alguns – isto é raro – discordam.

Hoje em dia, autonomia mesmo não se vê.

Talvez um dia os caras do apito só tenham liberdade para o cara ou coroa.

Ou quem sabe nem isso.  

Porque é possível que os caras do VAR passem a conferir também o toss.

Câmera lenta na moeda caindo no gramado!  

Dezoito câmeras no caraminguá!

Caraca.

Caramba.

BASE DO TETRA

por Elso Venâncio

Um dos grandes times formados pelo Flamengo ficou sem os aplausos e o reconhecimento que merecia, já que uma confusão levou o resultado de campo para os tribunais. Dos 11 titulares rubro-negros, 10 vestiram a camisa da Seleção Brasileira, sendo que nove disputaram Copas do Mundo. Aldair era reserva, e a base da equipe conquistaria o tetracampeonato mundial para o Brasil em 1994, nos Estados Unidos.

O Campeonato Brasileiro de 1987, foi o mais confuso e polêmico da história. Na final, o Flamengo venceu o Internacional de Porto Alegre por 1 a 0, com gol de Bebeto, conquistando o Módulo Verde. Ao mesmo tempo, o Sport Recife levou a melhor no Módulo Amarelo. Previsto no controverso regulamento, o cruzamento Flamengo x Sport não aconteceu, por divergência envolvendo a CBF e o Clube dos 13.

No comando do Flamengo, o excelente técnico Carlinhos Violino lançou jovens craques ao lado de ídolos como Renato Gaúcho e Zico. Era realmente um grande time, com Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Ailton e Zico; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho.

Na recente crise, que culminou na demissão do técnico Tite, o Flamengo estava pressionado e saiu contratando no final da janela de transferência. Trouxe Gonzalo Plata, Alex Sandro, Michael e Alcaraz. Até o último dia permitido, houve novas tentativas de reforços. Cada jogador chegava e, poucos dias depois, era escalado. Com Carlinhos, isso jamais iria acontecer.  Lembro de suas convicções: “O atleta tem que conhecer o Flamengo”. Ele completava “Os formados no clube sabem que, dando o sangue, a arquibancada apoia”.

Em sua segunda passagem pelo Flamengo como treinador, Carlinhos apostou nos campeões da Copa São Paulo de Juniores de 1990. Foi uma decisão acertada, resultando em conquistas como as do Carioca de 1991 e o Brasileiro de 1992. O lema estava vivo: “Craque o Flamengo faz em casa”: Júnior Baiano, Rogério, Pia, Fabinho, Fábio Augusto, Marquinhos, Marcelinho Carioca, Paulo Nunes, Djalminha, Nélio… É uma pena que um desmanche inexplicável tenha atingido a última grande geração de talentos rubro-negros.

O Flamengo de hoje subiu o sarrafo com conquistas, contratações e orçamento perto de R$ 1,5 bilhão. As cobranças e exigências aumentaram. Iniciando a carreira como técnico, Filipe Luis conduziu o time sub-20 ao inédito título mundial da categoria. Apesar disso, desde 2019 foram negociadas mais de 30 joias, com quase R$ 1 bi de faturamento. Com a chegada de Filipe Luis para comandar o time principal, vocês acham que as promessas voltarão a ter chances?

TARDE DE BOLA

por Paulo-Roberto Andel

SEXTA-FEIRA vadia, fria e meio silenciosa, então surge na TV Hungria versus Holanda pela Liga das Nações. Toda hora tem uma competição: Copa do Mundo, Copa América, Eurocopa, Liga das Nações. Bem, acabou a Copa das Confederações.

Jogo na Hungria, estádio lotado. Setenta anos depois de Puskás, Czibor, Hidegukti e Kocsis ainda alimenta sonhos e esperanças, mesmo que vãs. Um time daqueles de novo? Nunca mais. A Hungria fez 10 a 1 em El Salvador na Copa da Espanha, a maior goleada dos Mundiais. E também ganhou do Brasil por 3 a 0 em 1986, com um gol de Détári. Salvo engano, foi a última atuação de Leão como titular da Seleção Brasileira. Minha simpatia pela Hungria, além dos craques do passado, tem a ver com o Fluminense: a semelhança das cores. Ah, em 1982 tinha o goleiro Mészáros, que faleceu ano passado. Uma vez eu fiquei ouvindo pelo radinho Fluminense x Honved, eles ganharam por 2 a 0 no torneio de Córdoba. Não lrmbro se chegou a ter a transmissão ou só as informações da partida. O que sei é que perdemos para o grande Honved dos anos 1950. E o radinho estava colado na minha cara.

O sonho da Holanda não tem setenta anos, mas cinquenta. O que dizer do time de 1974 que, mesmo sem Cruyff, chegou à final do Mundial da Argentina em 1978? Um bando de craques geniais, malucos e humildes: todos atacavam, defendiam e trocavam de posição. Os adversários enlouqueceram. Krol, Neeskens, Rep, Suurbier. Jongbloed, uma legenda. Van era com a Holanda: Van Beveren, Van Breukelen, Van Der Kherkof, Van Basten – e na música, Van Halen. Agora quase não tem. A segunda leva, com a turma do Gullit, foi excelente também. O terceiro vice mundial, conquistado em 2010, serviu para que, apesar da frustração, a Holanda fosse tão grande a ponto de ser a única seleção que não conquistou uma Copa, mas com status como se tivesse conquistado.

[Máquina Tricolor e Laranja Mecânica têm tudo a ver, de ponta a ponta, da costa leste à oeste

A partida acabou sendo divertida, mas não brilhante. Prevaleceu a marcação da Hungria no primeiro tempo, quando a seleção mandante fez um belo gol: cruzamento da esquerda e finalização de primeira no alto à esquerda. No segundo tempo a Holanda predominou, mesmo com um jogador a menos, e acabou empatando no fim com bela cabeçada de Dumfries. Memphis Depay ainda não está por lá. Na hora da comemoração foi fácil ver como o uniforme holandês azul é bonito, embora a eterna camisa laranja seja imbatível.

Ah, no primeiro tempo teve um lance sensacional, que só se compara a uma decisão por pênaltis – sempre corrigida pelo eterno Mário Vianna, com seus dois ênes: “NÃO SÃO PÊNALTIS, MAS TIROS LIVRES DIRETOS DA MARCA PENAL”. Ufa! Vamos ao lance: dois toques dentro da área húngara, dez húngaros debaixo da trave, dez holandeses pensando onde a bola pode chegar ao gol, tensão discussão. A bola parada depois da marca do pênalti. A cobrança é uma bomba, mas o desfecho é improvável: o goleiro defende sem rebote.

No fim, os húngaros – que contaram com a vitória magra em boa parte do tempo – saíram meio decepcionados, mas não deixaram de cantar e gritar para seus jogadores. Foi uma boa partida. Não, não: Czibor, Hidegukti, Puskás e Kocsis, nunca mais. Cruyff e Neeskens, nunca mais. Contudo, toda vez que começa um jogo, todos os torcedores voltam a ter doze ou dez anos de idade – assim, tudo é visto com o amoroso doce licor da infância. Faz muito tempo, mas é impossível para Holanda e Hungria entrarem em campo sem abrir as cortinas do passado, um belo e fascinante passado.

O jogo do radinho. O Honved tinha outro Kocsis. O Fluzão? Paulo Goulart, Marinho, Ademilton, Edinho e Ricardo Longhi; Pintinho, Givanildo e Mário; Osni, Tulica e Zezé. Depois entraram Edevaldo, Rubens Galaxe, Robertinho e Parraro. O Flu vivia tempos de crise e não ganhava nada desde 1977, mas ninguém sabia que, meses depois, com sete desses jogadores que perderam para o Honved, surgiria um grande campeão. Certas coisas a gente só entende depois que o tempo passou.

Aquele radinho me traz muitas coisas.

@p.r.andel

UMA VIAGEM NO TEMPO

por Wesley Machado

Um dos meus filmes preferidos é “De Volta para o Futuro”. E estou me referindo a toda “trilogia”. Até do terceiro filme – que alguns criticam – eu gosto. Recentemente descobri que – paradoxalmente – tem o filme 4 da “trilogia”. No segundo longa da série a história se passa em 2015. Uma produção lançada em 1989, ano do que é considerado pelos torcedores do Botafogo como do maior título até hoje do clube pelo simbolismo que tem.

Se em 1989, quando foi lançado “De Volta para o Futuro 2”, o Botafogo foi campeão carioca depois de quase 20 anos, em 2015, quando se passa “De Volta para o Futuro 2”, o Botafogo foi campeão brasileiro da Série B pela primeira vez – voltou a ganhá-la em 2021. O clube já havia sido rebaixado em 2002 e caiu de divisão de novo em 2014 e 2020. Meu pai diz que espera que não voltemos mais para a Série B.

No entanto, nós torcedores – sou jornalista, mas também sou torcedor – não devemos nos esquecer dos tempos de seca. Agora uma chuva de gols e vitórias – quem sabe títulos? – abençoa a estrela solitária e a faz voltar a brilhar. Como nesta quinta-feira, 10/10/2024, quando dois jogadores do Glorioso garantiram a vitória de 2 a 1 de virada da Seleção Brasileira diante do Chile no Estádio Nacional, em Santiago.

Esta época de glórias me faz voltar a um tempo que não vivi, os anos 1960, de ouro para o Botafogo e de agruras políticas. Década de luta pela liberdade em todo o mundo em meio a guerras sem sentido, como as contemporâneas. Período em que os jovens cantavam MPB nos festivais e muito mais. Que este momento de alegria, alegria, volte – por que não, por que não? – para o Brasil e o Botafogo, que tanto se entrelaçam, porém, entretanto, todavia com general apenas Severiano. Em um cinema novo com Canal 100. É o que sonha um brasileiro botafoguense, que prima pela esperança!

COMO AVALIAR UM LÍDER?

por Idel Halfen

Na semana passada, o Fluminense, atual campeão da Libertadores, teve uma vitória importantíssima contra o Cruzeiro pelo Campeonato Brasileiro de futebol.

Mas fiquem tranquilos, não quero aqui falar de futebol, tampouco ficar exaltando o triunfo, até porque, ganhar de um time que tem como técnico o Fernando Diniz e nas condições atuais, não é tão prazeroso como as demais vitórias sobre rivais e que nos colocam em lutas por títulos.

Prefiro falar sobre liderança, aproveitando as demonstrações de afeto e gratidão por parte dos ex-comandados e demais companheiros de Diniz na ocasião do citado jogo.

Nesse momento me veio à cabeça um vídeo que recebi recentemente mostrando a despedida de um executivo da empresa em que trabalhou durante anos, no qual foi mostrada a comoção e reconhecimento dos colaboradores. Infelizmente não lembro os nomes e detalhes que certamente deixariam o texto mais rico.

Diante dessas duas situações e outras que o espaço não comporta, não tenho dúvidas em afirmar que a melhor forma de se avaliar um profissional se dá através das demonstrações de respeito e admiração por parte de sua equipe.

Óbvio que os resultados obtidos são também fundamentais nesse processo de “julgamento”, porém, pelo fato de a performance sofrer forte influência das expectativas e de fatores exógenos de mercado, há margem para questionamentos.

Já a admiração dos colaboradores, não! Essa é, digamos, mais genuína, pois inclui momentos de cobrança, eventuais cortes, algumas broncas, discordâncias e até fatores externos, afinal todos passam por problemas particulares.

Sair de um lugar que convivemos com pessoas, seja por vontade própria ou não, tem como lado bom a oportunidade de se autoavaliar através da observação das demonstrações de seus colegas, principalmente pares e equipes.

Feliz daquele que tem a oportunidade de viver essa experiência.

Tenho certeza que o artigo ficaria mais elegante e positivo se fosse encerrado por aqui, mas, por outro lado, perderia a oportunidade de mostrar o antiexemplo, uma maneira de reforçar o correto.

Tentando resgatar a elegância perdida ao não ter encerrado o texto anteriormente, não citarei nomes, mas chamo a atenção para uma postagem feita no Instagram, após a vitória citada no primeiro parágrafo, na qual o autor, um tricolor, debochava do Fernando Diniz.

Gostar ou não de alguém, é direito de todos, debochar também, só que nesse caso denotou muito mais recalque do que algum tipo de humor sarcástico e inteligente.

Piora a situação saber que o autor da indelicadeza, além de levar a empresa que dirigiu à beira da falência, não desperta a menor admiração por parte do capital humano que lá deixou. 

Isso talvez explique seu rancor e seu recalque.