O SONHO DA ARENA PRÓPRIA
por Idel Halfen

O sonho da casa própria é um desejo que ultrapassa gerações e representa mais do que um bem material, simboliza segurança, estabilidade, independência e realização pessoal. No esporte, isso também acontece.
Apesar de tentador, não vamos nesse artigo contemplar especificamente as motivações que muitas vezes norteiam os interesses dos clubes brasileiros, entre os quais está o de proclamar que tem estádio, como se isso fosse um indicador de pujança esportiva. Vamos falar de como a “arena própria” pode contribuir para o aumento da receita e fortalecimento da marca, usando como ilustração o Los Angeles Clippers, equipe de basquete da NBA, que recentemente inaugurou o Intuit Dome, ao custo de dois bilhões de dólares e que será o espaço destinado à modalidade nos Jogos Olímpicos de 2028.
Entre os destaques da instalação em Inglewood, está uma arquibancada batizada de “The Wall” com 4.500 lugares destinados aos torcedores do time, sendo que 300 são em pé. Certamente se inspiraram na famosa “Muralha Amarela” do estádio do Borussia Dortmund.

No que tange às receitas, essas advirão das vendas de ingressos, camarotes e espaços publicitários, além do naming rights – a Intuit pagou US$ 500 milhões – e de acordos como o que fez com a Aspiration, de serviços financeiros que, segundo se especula, equivale a US$ 400 milhões.
Para os que acham que marketing se resume à geração de receitas, o artigo pode se encerrar no parágrafo acima, porém, não aconselho.
Na verdade, a parte relativa ao fortalecimento da imagem também se beneficia sobremaneira, pois, até então, a equipe jogava na Crypto.com – ex-Staples Center -, uma arena em que, mesmo com a customizações na quadra, o roxo e o dourado do Lakers são dominantes nas instalações. Além do rival, os Kings da NHL e o Sparks da WNBA mandam seus jogos lá.
A franquia que começou em Buffalo em 1970 com o nome de Braves, se mudou para San Diego em 1978 – ali passou a se chamar Clippers – e em 1984 foi para Los Angeles.
Embora nunca tenha conquistado o título da NBA, creditar o desempenho esportivo apenas à “falta da arena própria” não parece justo. Por outro lado, não deve ser descartado que uma “instalação própria” que propicie melhores experiências ao torcedor, permite a construção de comunidades e se consegue um engajamento maior, os quais, são capazes de fazer com que bons jogadores vejam a franquia como uma opção atrativa.
Afirmar que o investimento em propriedade individual é uma tendência não é errado. Nos EUA, desde 1990 se vê esse movimento, influenciado também pelo fim de alguns contratos de aluguel que as equipes tinham junto aos proprietários, muitos dos quais, o próprio município. Importante relatar que até equipes universitárias seguem esse caminho.

Contudo, mesmo reconhecendo essa migração, vemos arenas como a American Airlines Center em Dallas ser dividida entre o Mavericks (NBA) e o Stars (NHL) e o Wells Fargo Center na Philadelphia ser compartilhada por 76ers (NBA) e Flyers (NHL). Em New Jersey, o MetLife Stadium recebe os jogos de Giants e Jets, ambos da NFL, enquanto que o SoFi Stadium em Los Angeles é o estádio em que Rams e Charges da NFL, assim como o Bowl da NCAA mandam seus jogos.
Trazendo para o universo brasileiro, vemos, de fato, uma movimentação dos times em busca da “casa própria”, fato que, em tese, pode fazer sentido, desde que haja uma avaliação racional – não passional – e que a conta feche, tanto no que diz respeito às finanças como em relação ao impacto na sociedade, aqui faço menção aos recursos públicos e aos riscos de deixar sem serventia estádios já existentes.
JOGOS INESQUECÍVEIS – FLAMENGO 1 X 1 VASCO DA GAMA, EM 1981
por Luis Filipe Chateuabriand

Naquele domingo de 1981, Flamengo e Vasco da Gama fariam uma partida normal, de turno do Campeonato Carioca.
O Flamengo já tinha um time consagrado, que seria campeão da Copa Libertadores da América e do Campeonato Mundial de Clubes, logo em seguida.
O Vasco da Gama possuía uma equipe em formação, evidentemente mais modesta que a do rival.
Mas, na hora do jogo, os papéis se inverteram…
O ponta-direita vascaíno Wilsinho, também conhecido como “Xodó da Vovó”, estava em jornada excepcional.
Contrariando as expectativas, o Vasco da Gama começou insinuante, ofensivo, dominante na partida.
Foi assim durante todo o primeiro tempo.
Aos 31 minutos da primeira etapa, Wilsinho fez grande jogada pela direita e centrou para Roberto Dinamite.
O eterno Bob Dinamite chegou um pouco depois da bola, e se chocou com o goleiro Raul.
A bola sobrou, na direita, novamente para Wilsinho, que, sem ângulo e de forma absolutamente diagonal, chutou para as redes!
Flamengo 0 x 1 Vasco da Gama.
No início do segundo tempo, logo aos três minutos, Zico, com toda a categoria que Deus lhe deu, empatou o jogo.
Flamengo 1 x 1 Vasco da Gama.
Mas o jogo seguiu, o Vasco da Gama continuou superior, e poderia ter vencido.
Júnior, que estava acostumado a tomar “bailes” de Catinha, ex-ponta-direita vascaíno, tomou um “baile” de Wilsinho, o ponta-direita da ocasião.
Naquela tarde de domingo, o Vasco da Gama foi heroico.
E continuou sendo, uma vez que, na final do Campeonato Carioca, venceu dois dos três jogos decisivos, perdendo o último devido a um ladrilheiro oportunista…
Mas, naquele ano, em que o Flamengo ganhava tudo e ganhava de todos, apenas o Vasco da Gama fez, no ano inteiro, frente àquele time rubro-negro inesquecível!
A VOLTA DO ÍDOLO
por Elso Venâncio

A contratação do Romário, repatriado pelo Flamengo após a conquista do Mundial pela Seleção Brasileira em 1994, nos Estados Unidos, é considerada por muitos jornalistas a maior da história do nosso futebol. No auge, com 28 anos, o Baixinho planejou e trabalhou sua negociação.
Na pequena Los Gatos, uma vila da Califórnia, ao lado de São Francisco, o Brasil se concentrava para tentar o título da Copa do Mundo, que não conquistava havia 24 anos. Num hotel de cinco andares, sendo os três últimos reservados à Seleção, estava hospedado Luiz Augusto Veloso, presidente do Flamengo, que soube dos planos de Romário. Conversou com ele e prometeu que, se fosse reeleito, iria tentar contratá-lo.
— É fácil, presidente! Ambev, a empresa de chuteiras que tenho contrato, o fornecedor de camisas do Flamengo e o Governo do Estado. Cada um dá um milhão — explicou o astro do Barcelona, entusiasmado.
A ousada ideia surgiu num período de força do real, que empatava em valor com o dólar. Após o título mundial, Romário chegou a dar declarações demonstrando o seu desejo de atuar pelo Flamengo. Como parecia apenas um sonho, o fato passou despercebido pela imprensa.
De acordo com o estatuto do Flamengo, as eleições para presidente do clube acontecem no primeiro decênio de dezembro. No pleito de 1994, o empresário e radialista Kleber Leite venceu a disputa com Veloso. No calor das comemorações, foi perguntado se contrataria pelo menos um tetracampeão mundial. “Coloca no plural”, rebateu no ato.
Um pool de empresas se formou. Paralelamente, Romário afirmou que não jogaria mais pelo Barcelona. Estava aberto o caminho para que o Flamengo contratasse o então maior jogador do mundo em 1995, ano do seu centenário. Outro personagem do tetra, o lateral Branco também foi apresentado como reforço.
De uma hora para outra, jornalistas de todo o mundo passaram a desembarcar no Rio. Queriam saber que clube brasileiro era esse, capaz de tirar o craque da Copa do futebol europeu. Nas arquibancadas, um canto mostrava a expectativa pela estreia do Baixinho. O cantor Nelson Gonçalves estava no meio da galera e soltou a voz: “Olê-lê, olá-lá! Romário vem aí e o bicho vai pegar…”. Antes entoada pela Raça Rubro-Negra com o nome da torcida organizada, a música adaptada passou a ser cantada por todos,
Com o Maracanã fechado, o Flamengo atuou por um período na Gávea e também mandava jogos fora do Rio. Era tanta gente da imprensa cercando o Baixinho que surgiu a entrevista coletiva, causando ciúmes no técnico Vanderlei Luxemburgo: “Comigo, agora é só coletiva”.
No ano de 1995, Romário não era só a maior personalidade do futebol, mas sim a maior personalidade do país. O biógrafo rubro-negro Marcos Eduardo Neves assim definiu o retorno do ídolo: “Romário voltou para ser o Chatô, o Rei do Brasil”, numa alusão ao influente Assis Chateaubriand, maior nome da imprensa nacional entre as décadas de 1930 e 1960.
FLUMINENSE 50: MUITOS FLUS
por Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor
Uma pequena brincadeira na madrugada, pra aliviar as atuais tensões do Fluminense.
Que tal montar alguns times imaginários com jogadores tricolores dos últimos 50 anos? E nem todos campeões, mas reconhecidamente talentosos.
Sem o menor objetivo de impor os melhores de todos os tempos, mas apenas lembrar de tantos e tantos nomes que brilharam com a camisa tricolor, independentemente do tempo de atuação.
Vamos lá.
Um time: Felix, Gabriel, Régis, Torres e Branco; Jandir, Deco e Mário; Romerito, Fred e Zezé. Treinador: Mário Travaglini.
Outro: Renato, Aldo, Válber, Luis Eduardo e Lira; Zé Mário, Felipe, Carlos Alberto e Thiago Neves; Romário e Cláudio Adão. Treinador: Nelsinho.
Paulo Goulart, Rubens Galaxe, Gum, Ricardo Gomes e Marinho Chagas; Pintinho, Gilberto e Rivellino; Mário Tilico, Washington e Paulinho. Treinador: Didi.
Wendell, Edevaldo, Nino, Edinho e Eduardo; Deley, Renato e Bobô; Wagner, Ézio e Magno Alves. Treinador: Muricy.
Cavalieri, Ronald, Miguel, Vica e Marco Antônio; Aílton, Djair, Luiz Henrique e Assis; Robertinho e Tato. Treinador: Abel.
Fernando Henrique, Getúlio, Lima, Sorley e Paulo César; Leomir, Cleber e Paulo Cezar Caju; Doval, Dodô e Mário Sérgio. Treinador: Cuca
Quanta gente boa! E quanta gente sensacional ainda ficou de fora? Muitos, muitos e muitos, prova inquestionável da nossa força.
MORTE E ENTERRO
por Rubens Lemos

O rebaixamento do ABC expõe algo de comportamental. Jamais um resultado foi tão cínico quanto o deste ano, posto que a diretoria apoiada pela torcida terminou responsável pelo maior vexame do clube em quase todos os 110 anos de fundação. O ABC passou vergonha, não ganhou uma só partida em casa e cai por absoluto ridículo.
Em 1981, aos 11 anos, vi o ABC fora da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro por conta de uma derrota cabulosa para o Baraúnas de Mossoró por 2×1 quando quase a cidade cai em lágrimas por não saber o destino do time.
Resultado: naquela época os cardeais alvinegros, que pareciam senadores romanos reuniram-se para tirar a diretoria do clube e impor alguma ordem ao que parecia uma desarmonia total. Uma liminar na Justiça manteve os mandatários de então e evitaram o afastamento da diretoria que nada tinha de desonesta, mas de absolutamente amadora diante dos americanos malandros.
Em 1982, essa diretoria continuou e o ABC manteve-se coerente ao não participar sequer da Série C ou Taça de Bronze, vendo de camarote o América sagrar-se tetracampeão invicto com um timaço diante de uma massa lacrimejante. O ABC patinava enquanto o principal adversário explodia em categoria e gols.
O ABC renasceu com o presidente Rui Barbosa em 1983 e, jogado às traças, recuperou-se com o seu melhor time da história moderna conquistando campeonato estadual e readquirindo o sentimento de alma absolutamente resgatada. Ao abecedista, não basta ser torcedor, é preciso ter vibração e fé.
O ABC vingou-se e plantou goleadas no América de 3×0, 4×1 e 4×2 mais de uma vez com três homens absolutamente espetaculares: Dedé de Dora, Marinho Apolônio e Silva, que triangulavam jogadas ancestrais de lançamentos, toques e dribles curtos que sacudiam a estrutura concreta do Estádio Castelão(Machadão).
O ABC, que teve brios para superar os insucessos ridículos, voltou a ser time de verdade com Lulinha; Alexandre Cearense, Joel, Alexandre Mineiro e Dudé; Nicácio, Dedé de Dora e Marinho Apolônio; Curió, Silva e Djalma ou Reinaldo Xavier.
Quem esteve naquele estádio em 1983 vai morrer ou já morreu sabendo que a tocha em preto e branco nunca iria ser apagada por derrotas ou crises ocasionais. Aquele time era uma cachaça para abrandar as crises da vida. O ABC era o time dos pobres, daqueles que filavam uma cana no umbral das gerais.
A lição do time de 1983 para os de antes e para os sucessores foi a de que o ABC é grande e vigoroso. Não adianta usar o seu uniforme, principalmente se for o branco estilo Santos de Pelé, para receber humilhações dentro de casa.
Dos primórdios do Estádio Juvenal Lamartine, de Jorginho, ate o Castelão de Alberi, o ABC enfrentou situações dramáticas e soube ser passional transformando-as em vitórias épicas. Quem já esteve naquele colosso de Lagoa Nova saberá que da grama arrancada restam as poesias feitas por Alberi de 1972 até o ano em que ele usou a camisa pela última vez, 1985 em amistoso sem uma alma viva no templo que lhe consagrou Rei.
O ABC está rebaixado para a Série D sem que lhe fosse imposta uma só desmoralização. O ABC se pintou de ridículo, se travestiu de clube bisonho ao não vencer nenhuma de suas partidas em casa. O ABC está pintado pelas tinturas da vergonha desde que a atual diretoria assumiu, algo que a torcida não pode reclamar porque nela votou em peso, sem prever as consequências.
O ano acaba para o ABC na expectativa de outro cada vez mais pobre, porque está claro que a continuar a forma de administrar de hoje, será difícil recuperar a hegemonia estadual, disputar a Copa do Nordeste e encarar a Copa do Brasil, derrotas anunciadas este ano e que não serviram de alerta para o caos total. O ABC está quase um cadáver. Cabe aos seus homens de boa vontade evitar a morte e o sepultamento.
Texto publicado originalmente no jornal Tribuna do Norte