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DOIS DE OURO

por Marcos Vinicius Cabral

Dificilmente irei esquecer a sexta-feira, 22 de agosto de 2025. A data entrou para a minha vida de artista plástico e de escritor. Foi o dia em que eu e Sergio Pugliese, autores do livro sobre o Leandro, estivemos em Cabo Frio para fazer os últimos ajustes com o personagem central da obra literária.

Depois de anos preparando a obra literária, combinamos com o maior lateral-direito do futebol brasileiro que o livro será lançado em dezembro – mês que o Flamengo celebra 44 anos da conquista do Mundial de Clubes – na Gávea, sede do Flamengo.

Em seguida, faremos um outro lançamento na Pousada do Leandro, em Cabo Frio, e por fim nas embaixadas espalhadas pelo país.

Aproveito para convidar os amigos para prestigiarem o lançamento do 2 de Ouro da Nação. Assim que tiver a data, informo por aqui.

Agradeço a Deus em primeiro lugar, aos meus familiares, e aos colegas que nos incentivaram a não desistir. Não foi fácil, mas conseguimos!

OS PENSADORES

por Zé Roberto Padilha

Sei que vocês, das novas gerações, ao ouvirem os surtos nostálgicos de quem testemunhou o passado, devem pensar: lá vem mais uma crônica saudosista. Um personagem que só vive do ontem. Pode ser. Ou não? Sou apenas saudoso, com a memória fixada nas grandes jogadas de Zico, nas canções de Gonzaguinha, nos intensos debates políticos de Ulisses Guimarães com Leonel Brizola. Enfim, em toda a arte que desapareceu, substituída pela mediocridade: no futebol, apenas correr; na música, pancadão; no Congresso, adesivar a boca por falta de argumentos.

No futebol brasileiro, já tivemos vários pensadores, românticos como Arrascaeta — aquele meio-campo de imensa categoria, que não corria, deslizava, sempre com a bola colada aos pés e uma solução criativa para cada jogada. Ademir da Guia, Afonsinho, Didi, Sócrates, Deley, Marco Aurélio, Geraldo, Nei Conceição, Mendonça… meu pai dizia que Zizinho também era assim. Ganso, Ricardinho e Pita também fazem parte dessa linhagem.

Cabeça erguida, jogavam com o freio de mão puxado e a lucidez acelerada. Davam canetas como quem molha plantas, faziam lançamentos precisos e invadiam a área com a sutileza de um amanhecer. Pensavam, logo existiam. Como a bola não pensa, precisavam pensar por ela.

O problema é que faziam tudo parecer tão fácil que, no dia seguinte, as escolinhas lotavam de aspirantes ao estrelato, achando que também poderiam repetir. “Pai, eu também quero jogar bola!”. Foi quando a bola, ferida pelas caneladas, reagiu: “Estudem! Logo existirão!”.

NEYMAR NOVAMENTE CONVOCADO?

por Luis Filipe Chateaubriand

Pelo que consta, Neymar foi pré-convocado para os últimos jogos da Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.

Se o técnico Carlo Ancelotti o convocar de fato, será um grande erro.
A verdade é que Neymar é um “ex-jogador em atividade” há muitos anos — desde 2016, mais precisamente desde a final olímpica no Maracanã, quando brilhou como nunca e garantiu o ouro para o Brasil.

Naquele dia, Neymar teve uma de suas maiores atuações, distribuindo passes decisivos e marcando o gol final nos pênaltis. Porém, depois disso, perdeu o interesse pelo futebol. Os divertimentos e o exibicionismo falaram mais alto que o profissionalismo, e sua carreira entrou em queda livre.

Hoje, Neymar não apresenta nível de performance que justifique uma convocação. O ex-craque, que poderia ter sido o terceiro maior jogador brasileiro de todos os tempos (atrás apenas de Pelé e Garrincha), não merece mais vestir a camisa da Seleção. Ele arrasou a própria carreira — e nada mais o levantará.

Poderia ter sido o terceiro maior jogador brasileiro de todos os tempos, depois de Pelé e Garrincha.
Não quis ser, e não foi!

GEOVANI

por Rubens Lemos

E as palavras? Eu que vivo delas, não as encontro para expressar minha tristeza pelas três paradas cardiorrespiratórias do ídolo Geovani, o maior jogador que vi atuar no meu Vasco da Gama. Entenda-se como meu Vasco da Gama, o clube vencedor da segunda metade dos anos 1980 até o ano 2000. Geovani agora está cumprindo tratamento em casa.

Era uma vez um menino de 12 anos apaixonado por futebol e pelo ABC e o Vasco. Era uma vez um jogador refinado, de toques precisos e gols antológicos, ídolo do menino. Geovani Silva, esteta da bola, foi minha principal razão para amar a arte como norma nos gramados.

O menino de 12 anos tomou-se de fascinação pelo craque de 18 anos jogando como gente grande e abastecendo a entidade chamada Roberto Dinamite com lançamentos precisos, longos ou curtos.

Nascia o meia-armador puro de origem, dono do gramado, senhor das viradas de jogo ou dos dribles secos, homem capaz de desmoralizar qualquer marcador.

Com Geovani, o Vasco não seria mais o sparring do Flamengo de Zico que, não demorou, apontou Geovani como seu sucessor em duas reportagens na Revista Placar dos anos 1980. O menino de 12 anos vibrava sozinho quando no meio dos colegas de rua ou de escola.

Tantas vezes, a zombaria estraçalhada pelo repertório incessante de Geovani na partida de domingo, cuja reprise assistia na minha casa pela TV Educativa, narrada por Januário de Oliveira, ele mesmo um fã confesso do baixinho atarracado e hábil, capaz de enxergar espaços que os normais jamais achariam, capaz de rechear os confrontos com o sabor glacê de sua arte.

O menino de 12 anos, fez 13, 14, 15, 16,17 e 18 anos sempre defendendo Geovani nas discussões sobre sua inexistente lentidão. Fazia a bola correr, a exemplo do Mestre Didi, campeão e melhor jogador da Copa de 1958, que colocou Geovani junto com Andrade do Flamengo e Acácio, goleiro do Vasco como aptos a jogar em sua época.

Didi assistiu a um Vasco 2×1 Flamengo, de virada, em que Geovani enfiou caneta em Renato Gaúcho e, marcado com rigor por Zinho, assinou o lançamento requintado de 30 metros para Bismarck receber e bater sem chances para o goleiro Zé Carlos.

Também foi dele – Geovani -, o passe para Romário, no átimo, tomar a bola de Leandro, gênio e zagueiro do Flamengo, para encobrir Zé Carlos e consolidar o placar de 2×1.

Em 1987 e 1988, Geovani viveu sua melhor fase, embora tenha mostrado muito futebol nos anos de 1991, 1992 e 1993, quando voltou do Bologna da Itália, para onde foi, em 1989, vendido por 9 milhões de dólares, a maior transação da época.

Geovani não teve sorte com os maus avaliadores do seu futebol. O técnico Antônio Lopes, queria vê-lo dando caneladas nos adversários e correndo para marcar. Lopes queria ceifar a capacidade técnica do Pequeno Príncipe, marca registrada de quem nunca abriu mão da classe como figurino.

Sebastião Lazaroni, técnico de Geovani no Vasco durante o bicampeonato 1987/88, enchia-lhe de elogios e o escalou na sua seleção brasileira na qual Geovani, junto ao volante, abusava em passes com a marca da criatividade. Lazaroni deu força a Geovani e o cortou da Copa do Mundo de 1990, um ato falho imperdoável.

O menino de 12 já tinha 26 quando conheceu Geovani em Natal, quando ele veio, em 1996, disputar a Série B, contratado pelo saudoso presidente Leonardo Arruda. Geovani ficou hospedado no demolido Hotel dos Reis Magos na Praia do Meio e ali começava uma das maiores amizades do jovem menino com o craque.

Geovani Silva, sempre com uma palavra de resiliência, ensinou muitas coisas ao jovem de 26 anos, uma delas, a calma para enfrentar crises pessoais.

Geovani Silva veio para o lançamento do livro Memórias Póstumas do Estádio Assassinado em 2017 sendo hóspede do já adulto consolidado de quase 50 anos.

E não parou mais. Sempre por telefonemas ou mensagens, Geovani e o homem de quase 50 anos se falavam e trocavam impressões sobre o mau Vasco dos tempos atuais. Geovani com problemas graves de saúde, sem desanimar.

Felizes sejam os nascidos para alegrar os mais humildes. Geovani, um deles. O menino, adulto e adolescente, que sou eu, encerra o texto em lágrimas.

O TURBULENTO CENTENÁRIO

por Elso Venâncio

Não há na história dos clubes brasileiros um ano tão turbulento quanto o do Flamengo em 1995. Kléber Leite chegou à presidência rubro-negra derrotando Luiz Augusto Veloso, que tentava a reeleição. A promessa de contratar alguns tetracampeões do mundo pela Seleção Brasileira começou a ser cumprida com a repatriação de Romário, então o melhor jogador do mundo. A obsessão por títulos era clara no ano do centenário do clube mais popular do Brasil. O otimismo aumentou com o título da Taça Guanabara, em que o Flamengo venceu o Botafogo por 3 a 2, com show de Romário, que marcou três gols. Esse feito garantiu ao Baixinho a denominação provisória de Rei do Rio, na disputa com Túlio Maravilha e Renato Gaúcho.

Outro grande jogador brasileiro, Edmundo foi contratado junto ao Palmeiras, indicado por Romário, por 5 milhões de dólares. Na chegada ao Rio, desfilou em carro do Corpo de Bombeiros, seguido por animais do Circo Garcia. Com Romário, Edmundo, e já tendo no elenco o talentoso Sávio, o Flamengo ostentava o que muitos chamaram de “melhor ataque do mundo”. Os salários dos atletas e funcionários eram pagos em dia, mas nem sempre o direito de imagem e luvas. Sem dinheiro e com dívidas, a diretoria rubro-negra havia reunido um pool de empresas para ter Romário. Na vinda de Edmundo, o dinheiro foi emprestado pelo Consórcio Plaza, com a promessa de construir um shopping center na Gávea, fato que nunca ocorreu. Após 20 anos, com a dívida beirando R$ 90 milhões, um acordo na Justiça foi feito pelo então presidente Eduardo Bandeira de Mello, e o clube pagou em torno de R$ 60 milhões.

A inesperada derrota no histórico Fla-Flu do gol de barriga de Renato Gaúcho, na decisão do Campeonato Estadual de 1995, trouxe consequências aos bastidores do Flamengo. Atritado com Romário e sem clima, o técnico Vanderlei Luxemburgo pediu para sair. Campeão com o Fluminense, Joel Santana foi convidado para substituí-lo, mas tinha contrato com o tricolor até o fim da temporada. Desta forma, o ex-zagueiro Edinho passou a ser o treinador, mas, com Romário e Edmundo em guerra, não fez um bom trabalho e acabou deixando o cargo precocemente.

Ainda almejado pelo Flamengo, Joel Santana manteve a sua palavra de comandar o Fluminense, mas assinou um contrato para trocar de clube a partir de janeiro de 1996. Enquanto o Flamengo aguardava Joel, quem assumiria o time? Kléber Leite convidou Washington Rodrigues. Antes, ligou para o garotinho José Carlos Araújo, pedindo autorização para contratá-lo, já que o Apolinho era o comentarista titular da Rádio Globo. Na apresentação do novo treinador, Romário caiu desmaiado no gramado e, consequentemente, não foi à Argentina enfrentar o Vélez Sarsfield, pela extinta Supercopa dos Campeões da Libertadores. Mesmo sem Romário, o Flamengo venceu. E continuou bem na competição, alcançando posteriormente a final.

A quatro dias da decisão da Supercopa dos Campeões, Edmundo se envolveu em um grave acidente na Lagoa Rodrigo de Freitas, com três mortes. Em meio ao conturbado cenário, o Flamengo ficou com o vice-campeonato do torneio internacional, mesmo vencendo o Independiente por 1 a 0, no Maracanã, já que havia perdido o jogo de ida por 2 a 0, fora de casa. No banco, Washington Rodrigues vestiu a camisa 7 de Edmundo. A temporada ainda ficou marcada pela luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, que na época tinha 24 clubes. O Flamengo foi o 21º colocado, salvando-se da queda por quatro pontos. De lembrança positiva, só mesmo o título da Taça Guanabara.