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ESCOLA DESTRUTIVA

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Santos e Grêmio iniciaram o jogo ocupando a zona de rebaixamento. De um lado, Fábio Carille, do outro Felipão. Qual a emoção de assistir essa tragédia anunciada? Já havia visto o Brasil, de Tite, vencer a Venezuela atuando de forma vergonhosa. Felipão, Tite e Carille são de gerações diferentes, mas da mesma escola, uma escola danosa, destrutiva e que não pode, de forma alguma, ser perpetuada. Santos x Grêmio é um exemplo de tudo de ruim que pode ser oferecido ao torcedor, que voltou aos estádios, paga caro, se desloca, faz PCR, enfim, se arrisca para ver um bom espetáculo.

Os estatísticos anunciaram que o tempo de bola parada era praticamente o mesmo que o de bola rolando. O torcedor deveria sair do estádio e ir a delegacia registrar queixa por propaganda enganosa. O time do professor Carille venceu no último minuto com auxílio do VAR, todos os ingredientes de um jogo pavoroso. No fim, os jogadores do Santos se abraçaram como se comemorassem um título, choravam. O locutor falava em heroísmo, duelo, batalha. Rafinha, o do shortinho levantado, foi expulso no fim do jogo após se desentender com um gandula. Patético.

Santos e Grêmio deveriam seguir, abraçados, na zona de rebaixamento. No meio do tumulto, Ferreirinha se dirigia ao vestiário, invisível. No time de Felipão, Ferreirinha é reserva. Entrou no segundo tempo e em menos de dez minutos deu duas canetas e um lençol. Foi uma espécie de grito de socorro: salvem o futebol!!!! Na noite anterior, um pequenino ponta também infernizou a vida do gigante Leandro Castan, na vitória de 1×0 do Sampaio Correia sobre o Vasco. Era Pimentinha.

Antigamente os diminutivos faziam a alegria da torcida…Mauricinho, Paulinho, Katinha, Djalminha, Robertinho. Ferreirinha e Pimentinha estão sendo soterrados pela mediocridade do tal futebol moderno, carregam uma poesia perdida no tempo, são resistência, representam a saudade de uma época que, perdendo ou ganhando, saíamos felizes do estádio.

Após o apito final, dei mais uma chance para os analistas de computadores, que inventaram a briga pela segunda bola e que o jogador entrou rasgando por dentro da defesa adversária com posicionamento corporal e finalização na bochecha da rede! Teve outro falando que o Uruguai espaçou as linhas no duelo contra a Argentina! Sem comentários…

NETO X DOUGLAS LUIZ: A MAIS RECENTE TRETA DA INTERNET

por André Luiz Pereira Nunes


A rede mundial de computadores, popularmente conhecida como internet, inegavelmente legou inúmeras e incontáveis vantagens. O mundo se tornou mais globalizado, deixando a informação mais disponível.

Porém, como de hábito, o progresso e a tecnologia trazem vantagens e desvantagens. A atual conjuntura, permeada pela cultura da lacração, cancelamento, likes e deslikes nas redes sociais, é por demais fútil, dispensável e desagradável.

A mais recente polêmica nasceu a partir de uma crítica do apresentador e ex-craque do Corinthians e da Seleção Brasileira, José Ferreira Neto, âncora do programa ‘Donos da Bola’, da TV Bandeirantes, à convocação para a Seleção Brasileira do atleta Douglas Luiz, do Aston Villa, da Inglaterra.

O sururu virtual começou quando Neto, no último dia 6, questionou a qualidade do jogador para vestir a Amarelinha. Segundo o ex-célebre meia corinthiano, Danilo, do Palmeiras, ou Willian Arão, do Flamengo, seriam nomes mais qualificados a integrar a lista.

– Quer a maior vergonha do Tite em relação ao jogo contra a Venezuela? Convocou o jogador do Aston Villa. Alguém sabe quem joga no Aston Villa? Alguém nesse país sabe em que lugar da ‘Premier League’ está o Aston Villa?”, detonou o polêmico apresentador.

Quem acompanha a carreira de Neto, sabe bem que nunca teve papas na língua. Como jogador, foi um dos grandes craques do futebol brasileiro na década de 90. A sua ausência entre os selecionáveis à Copa do Mundo da Itália é considerada por muitos analistas uma injustiça. Na ocasião, o técnico Sebastião Lazaroni optou por nomes de menor envergadura como o meia vascaíno Bismarck.

Apesar do longo histórico recheado de confusões, Neto tem se destacado na condução de seu programa esportivo, embora reiteradamente exagere nas críticas e declarações.

Mas, como toda ação tem uma reação, em resposta, Douglas Luiz baixou o nível e chamou o apresentador de “palhaço da TV”.

O ex-jogador então reagiu:

– Tem que falar que o ‘Donos da Bola’ não aparece só em São Paulo. Está aparecendo na Inglaterra. O Douglas Silva, ops, Douglas Luiz, que joga no Aston Villa, a Portuguesa Santista que fala inglês, diz que sou o palhaço da televisão. O último gol dele foi em janeiro de 2020. Você está de brincadeira. Quem é você perto de mim? Se eu sou o palhaço da televisão, você joga bola?”, questionou.

A tréplica de Douglas Luiz, cuja carreira se iniciou no Vasco, foi ainda mais reticente.

– Olhei o currículo dele aqui e não vi nenhum time grande, fora do Brasil. Então, quem é o Neto para falar do Aston Villa, que, na minha concepção, é um gigante europeu? E você, Neto, não jogou em lugar nenhum, entendeu? Você fala muito, não sei quem te deu esse apelido de craque”, reiterou.

De fato, Neto atuou apenas por dois times no exterior, nenhum deles na Europa: o Millionários, da Colômbia, e o Deportivo Itália, da Venezuela, já em final de carreira. Conquistou dois Campeonatos Paulistas, um Campeonato Brasileiro, uma Supercopa do Brasil e um Campeonato Venezuelano, além de outros títulos de menor expressão.

Já o Aston Villa, clube de Douglas Luiz, é um dos mais tradicionais de Londres. Inclusive completará 147 anos em 21 de novembro. A equipe tem três títulos em nível europeu: uma Champions League, uma Supercopa da UEFA e uma Copa Intertoto. Além disso, conta com sete títulos do Campeonato Inglês e mais sete da FA Cup. Não é pouca coisa!

Contudo, vale sempre relembrar que Zico jogou na Udinese. Júnior e Casagrande no Torino. Roberto Dinamite fracassou no Barcelona e Sócrates na Fiorentina. Já Gabigol, colega de Douglas Luiz na Seleção, não obteve qualquer êxito na Inter de Milão.

Para ser craque é preciso ter jogado na Europa? Neto pode ter pego pesado, mas Douglas Luiz parece desconhecer a história e a grandeza do futebol brasileiro.

O VASCO DA GAMA E A ORIGEM DA EXPRESSÃO “FAZER UMA VAQUINHA”

por Victor Kingma


Charge: Eklisleno Ximenez

Charge: Eklisleno Ximenez

Algumas expressões tão utilizadas no nosso dia a dia tiveram suas origens no futebol, o esporte mais praticado no país.

Uma delas é a popular “fazer uma vaquinha”, que consiste em reunir um número de pessoas para arrecadar recursos para uma determinada causa.

Mas como teria surgido essa expressão tão comum na vida dos brasileiros?

Na década de vinte não era comum os times de futebol remunerarem seus jogadores em caso de vitórias. Sendo assim, os torcedores do Vasco da Gama, principalmente os comerciantes portugueses, costumavam se quotizar e arrecadar dinheiro para motivar seus atletas a vencerem as partidas.

O valor a ser arrecadado era sempre baseado em outra febre popular, o jogo do bicho, cujos números vão de 1 a 25.

Assim, o valor a ser distribuído entre os jogadores podia ser um “cachorro”,  “coelho” ou “jacaré”, números 05, 10 e 15 no jogo, o que correspondia a cinco, dez ou quinze mil reis, moeda vigente naquela época. Dependendo da importância da partida.

O valor mais cobiçado pelos atletas, no caso de partidas decisivas, claro, era o número da vaca, o 25 – o maior do jogo do bicho.

Nessas ocasiões, os torcedores costumavam ser mais generosos e diziam: dessa vez precisamos fazer “uma vaquinha!”

Ou seja, arrecadar vinte e cinco mil reis.

Daí surgiu a expressão, que foi se popularizando!

A LENDA DA FOLHA SECA

por Péris Ribeiro


Em um belo dia de certezas, quando pedi-lhe uma definição que me soasse especial sobre o seu misterioso chute – bem mais famoso, por sinal, por criarem em torno dele toda uma aura de sedução e glamour -, Mestre Didi apenas fitou-me bem nos olhos. Para relatar-me em seguida, compassando suavemente as palavras:

– Era como se fosse uma folha de outono, sabe? Descaindo ao sabor do vento. Desgarrada; destino incerto …

Ante tal definição – um tanto poética, outro quê com acentuado tom filosofal -, o que pude fazer foi viajar no tempo. E, só então, consegui reciclar aquela época. A época, e a própria história. E, mais um pouco: como a lenda, de repente se iniciou.

Hoje, há bem pouca gente que se lembre. Mas, tudo começou em um Fluminense x América, pelo Campeonato Carioca de 1955. Numa disputa de bola com Ivan – centro-médio clássico, mas viril no combate direto. E campeão do Torneio Rio-São Paulo, dois anos depois, como jogador do próprio Fluminense -, Didi acabou levando a pior. Saldo do lance: tornozelo direito avariado.

Como consequência, o nosso Didi acabou por se ver obrigado a curtir o estaleiro por um bom tempo. Tempo exato, no entanto, para que, entre o tratamento na enfermaria das Laranjeiras e a volta progressiva aos treinos, acabasse por descobrir uma maneira diferente no ato de chutar a bola. Um jeito que não sacrificasse a sua recuperação, numa região ainda magoada pelo bico da chuteira do centro-médio americano.

Observador engenhoso, que gostava de estudar os fatos até nos mínimos detalhes, o que Didi sacou logo é que poderia estar realmente criando um chute diferente. Na verdade, um estilo revolucionário de bater na bola. Ainda mais, porque tal chute era executado com a parte externa do pé direito – em torno da chamada linha dos três dedos. Mas  o que o deixava empolgado de verdade, era o trajeto que havia conseguido conceber, tão logo detonava o chute.

É que a bola, como que encantada, desandava a descrever curvas e rotações diferentes em pleno ar. Para, logo em seguida, desenhar uma semi-paráboladescaindo com força, incerta e cheia de graxa, num dos ângulos do gol, bem junto às traves. Tudo isso para desespero de Castilho, Veludo, Adalberto e Jairo – justo a fina-flor, em termos de goleiros, lá no Fluminense. E que se revezavam, treino após treino, na ingrata tarefa de testar aquela típica invenção made in Didi.

Finalmente, já tida como pronta e acabada, eis que a grande novidade acabou por ser testada oficialmente diante do pobre Julião, jovem goleiro do Bonsucesso. Um crioulo imenso, que ora fechava o gol; noutro dia, era capaz de papar os frangos mais inacreditáveis. Homéricos mesmo. E que naquela tarde, no estadinho da rua Teixeira de Castro, pensava, a cada chute de Didi, estar vendo coisas do outro mundo. Ou, no mínimo, “que andava variando da cabeça”, debaixo de um sol de mais de 40 graus que latejava em sua moleira. Ainda mais naquele caldeirão de fogo, que atendia por Zona da Leopoldina do Rio de Janeiro.

Um pouco mais de tempo passado, e eis que lá estava a estranha novidade a ganhar notoriedade de vez. Até mesmo, como arma mortal. Só que acabou por visar o seu passaporte, rumo ao sucesso internacional, em duas vias distintas. Em 1957, quando garantiu a ida do Brasil à Copa do Mundo da Suécia, no 1 a 0 diante do Peru, em um Maracanã superlotado. E em 1958, já em gramados escandinavos, quando provocou o desempate em 2 a 1, na eletrizante semifinal diante da França – que vencemos por 5 a 2.

Quatro dias depois, com o Brasil campeão do mundo pela primeira vez, e com o próprio Didi, majestoso, consagrado com todas as honras como o inspirado maestro do nosso time e o Maior Jogador daquela Copa inesquecível, era da vertiginosa Folha -Seca que ele voltaria a falar com imenso carinho.

E, talvez em pleno transe da grande festa, até se lembrasse em detalhes de como tudo havia começado.

Por exemplo: daquele Fluminense x América, e do tornozelo direito avariado na disputa de bola com Ivan; do espanto do pobre Julião, a ver coisas do outro mundo, no acanhado estadinho da rua Teixeira de Castro, a cada Folha – Seca que descaía no seu gol; e, finalmente, de Abbes, goleiro da França, quatro dias antes. A testar, sem sucesso, o poder de fogo de um chute que questionaria a física e a lógica, na intricada geometria do futebol.

O CRAQUE DO BRASIL EM 2001

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 2001, o futebol brasileiro vivenciou uma de suas maiores surpresas, ao ver o Athletico Paranaense se sagrar campeão brasileiro.

Hoje, o Athletico Paranaense é uma potência!

Em 2001, não passava de um clube médio.

Pois o então clube médio foi campeão.

E o craque do time era Kleberson – o cara que sabia ser volante e meia ao mesmo tempo.

Kleberson tinha uma noção de posicionamento perfeita, seja para defender ou para atacar.

Kleberson tinha um passe preciso, suas bolas alcançavam colegas de meio campo e atacantes em posições privilegiadas.

Kleberson possuía inteligência tática, raciocinava a jogada antes de executá-la.

Estas virtudes estavam exacerbadas em 2001, e fizeram de Kleberson o maior artífice do título memorável do Furacão, o que o levou à titularidade da Seleção Brasileira penta campeã de 2002.  

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!