FINAL DA COPA RS
por Wendell Pivetta
Tupanciretã é um dos tantos municípios pequenos do coração do Rio Grande do Sul, porém se tornou gigante com a camisa de um time. Em sua história recente, o Figueira conseguiu o feito inédito de alcançar duas finais, a da Copa da Federação Gaúcha de Futsal e a Copa celebrativa da federação em seus 65 anos de existência.
Hoje vou escrever sobre Figueira 5×4 BGF. A primeira partida da final da Copa RS, um campeonato importante, pois ao campeão, é permitido o acesso a Copa do Brasil de Futsal. Como jornalista, e atuando como fotógrafo na beira da quadra, definitivamente fazia alguns anos que tamanha emoção esportiva tomava conta, perdendo em alguns momentos, até mesmo o controle da lente perante façanha.
Com os olhos e a lente emaranhados, em uma final inédita para a cidade, os atletas entraram em quadra para o delírio de um ginásio lotado, empurrando o time para o seu maior embate. Alguns jogadores passaram a engolir a saliva em seco, devido ao nervosismo da decisão, outros olhavam compenetrados para o público cantando intensamente. Uma energia única, que na primeira etapa viu seu time sair derrotado pelo placar de 4×1. Mesmo com o saldo alto para o adversário, os atletas saíram se cobrando, e conversando para corrigirem os erros. No futebol de salão, 1 minuto pode se tornar 10 minutos, e em um curto espaço, um chute certeiro é razão para surpreender o adversário.
Nesta máxima do esporte, o 5×4 para os donos da casa aconteceu com os pés de Alan Negão e Jean Ramos (ambos na foto). A atual campeã da Série Ouro não conseguiu segurar um time empurrado pela torcida em busca do feito histórico. Jean a cada gol não conseguia segurar a emoção, que em um misto de riso e choro, pulava, socava o ar, não conseguia gesticular tamanha alegria.
O camisa 10 guardou belíssimos gols e seu feito seria recompensado mais tarde sendo selecionado o craque do campeonato e artilheiro. Filho de Jalma Ramos, a jogadora mais velha do Gauchão Feminino 2021, constrói seu auge no Figueira, na terra da Mãe de Deus, berço de seu aprendizado futebolístico.
Enquanto o atleta não se continha em proporção nas comemorações, Alan driblava e envolvia os adversários marcando belos gols e cruzando os braços, olhava seriamente a torcida, com marra de um verdadeiro 9 decisivo.
O time de Tupanciretã acabou não conquistando o título. O triunfo dos adversários aconteceu no jogo da volta, em Bento Gonçalves. Mas o fervor dentro da cidade do Figueira, alimentando o sonho de inúmeros tupanciretanenses que jamais viram um feito como este no Futebol de Salão, enaltece a necessidade de um título para 2022, pois provaram serem capazes.
Tanto diretoria, como comissão técnica e atletas reergueram um sonho esquecido pelo torcedor, e que deve ser recapitulado no novo ano, com uma pré-temporada ainda mais intensa, atletas focando em seus treinos pessoais em academia e corrida de rua ainda mais cedo, direção reunindo o plantel, e com os erros do passado, reerguer o futuro campeão.
A frase “deixamos a família para nos dedicar aos treinos, e chegar até aqui, já é um feito grandioso” definitivamente só deve ser repetida com o caneco na mão. A cobrança do torcedor, que é uma família, é do título conquistado por aqueles que provaram serem capazes de superarem seus próprios limites.
ENFIM, NA MOSCA
por Zé Roberto Padilha
Finalmente, nada de aventuras Raúl Bobadilla. Apostas vencidas em Cazares. Um empresário a convencer nossa diretoria a trazer Wellington Nem outra vez.
Finalmente, o Fluminense contratou um jogador de futebol de primeiro nível. E que sempre contribuiu positivamente aos elencos que integra. Que luta, faz gols, erra poucos passes e vai pra casa descansar após cada partida.
Willian Bigode é o profissional certo para orientar os meninos que estão se integrando aos profissionais. Tem bagagem, equilíbrio e joga muita bola.
Se temos um elenco que já conquistou a Pré-Libertadores, foi bom eles saberem que chegou um jogador que já passou para a fase de grupos.
Vai puxar a fila rumo a dias melhores que nossa torcida tanto merece.
Parabéns, Abel, pela indicação.
FUTEBOL E DESENHOS ANIMADOS
por Luis Filipe Chateaubriand
Há certos jogadores de futebol que lembram desenhos animados, não é verdade?
O saudoso dr. Sócrates, por exemplo: tinha um modo de andar, elegante, igualzinho ao da Pantera Cor de Rosa.
E o Toninho Cerezo? Suas pernas avantajadas e atuantes não lembravam o Coelho Perna Longa?
O que há, velhinho?
E o Bruno Henrique, do Flamengo, não parece o Papa Léguas?
Bip, bip, bip.
O Michael, também do Flamengo, não parece o Coelho Ricochete?
Bing, bing, bing, bing, Coelho Ricochete!
E finalmente, o caso mais clássico de todos, o Wilsinho, que foi ponta direita do Vasco da Gama, não era a cara do Precioso, o Xodó da Vovó?
É, tem muito jogador por aí que podia cobrar direitos autorais, quando certos desenhos aparecem na televisão…
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
A MÁGOA DE MARCELINHO
por Elso Venâncio
Marcelinho ainda não era chamado de ‘Carioca’ quando estreou pelo Flamengo, aos 16 anos, entrando no lugar de Zico em um Fla-Flu disputado no ano de 1988, no Maracanã. Eram 11 minutos do primeiro tempo. Zico sentiu a coxa, não esperou nem o médico e saiu correndo, evitando a imprensa, rumo ao vestiário.
Mestre Telê Santana, técnico expert em lançar garotos – até porque fazia questão de sempre assistir com atenção aos treinos da categoria de base, pediu para Marcelinho se aquecer. O garoto franzino em campo e os 60 mil torcedores presentes sem saber sequer quem era. Pelo pique, parecia levar jeito. Tinha presença. Logo chamou a atenção de todos.
Na geral, uma cena histórica. Seu Adilson, pai do jogador, estava trabalhando com a roupa abóbora usada pelos garis. Ele parou de varrer, fixou o olhar no gramado e parecia sonhar. Instintivamente, colocou a vassoura por trás da cabeça, em horizontal, e observou um tanto quanto incrédulo à entrada do filho. “Em lugar do Galo…” – tentava compreender enquanto a ficha caía. O futebol brasileiro era apresentado naquele momento a um dos maiores batedores de falta da História.
Seu Adilson foi quem incentivou e determinou que Marcelinho treinasse as batidas. Ele comprou VHS de Zico, Nelinho, Roberto Dinamite, Zenon, fitas de vídeo que eram comuns na época, e durante a madrugada os dois viam e reviam cada cobrança. O pai lembra que Zico estava na Gávea. Falta na entrada da área para ele era pênalti.
Marcelinho passou a treinar muito esse fundamento. Aprimorava a batida e começava, já na base, a fazer gol de tudo quanto era lugar. Perto da meia-lua, do lado esquerdo, pela direita, de longe. Acabou virando o “Pé de Anjo” – afinal, calçava chuteiras tamanho 36.
O menino participou do vitorioso grupo que conquistou a Taça São Paulo de Juniores em 1990. Depois vieram os primeiros títulos pelos profissionais: Copa do Brasil em 1990, Carioca em 1991, Brasileiro de 1992 e, de repente, o inexplicável: mergulhado em dívidas, o clube começou a rifar suas grandes promessas. Nomes como Marcelinho, Djalminha, Júnior Baiano, Marquinhos, Paulo Nunes e outros. Na época em que “Craque o Flamengo faz em casa”, uma geração inteira era desperdiçada.
Marcelinho rodou o mundo. Jogou no Corinthians, no espanhol Valencia, voltou ao Corinthians, passou pelo Santos, Gamboa Osaka, Vasco, etc… Na verdade, teve três passagens pelo Timão: de 1994 a 1997, de 1998 a 2000 e de 2001 a 2006. Ganhou um punhado de títulos: Mundial de Clubes da FIFA em 2000, dois Brasileiros (1998 e 1999), uma Copa do Brasil em 1995 e quatro Paulistas. Obviamente, virou Corinthians de coração. Um dos maiores ídolos da Fiel.
A mágoa que ele tem com o Flamengo é grande. Em 1993, foi considerado um dos melhores jogadores do futebol brasileiro. Em um dia de folga, foi chamado à Gávea. O supervisor Isaías Tinoco, de forma direta, deu a notícia fatal:
– Você está vendido ao Corinthians.”
– Eu… vendido? Tá louco? Você tá de sacanagem, só pode ser! – retrucou, sério.
– Temos que pagar a folha e o décimo terceiro dos jogadores e honrar ainda os contratos do Renato Gaúcho, do Casagrande… – argumentou Tinoco.
– Não vou! Não vou mesmo! – repetia, aos gritos.
Eu presenciei o diálogo e o divulguei em seguida no microfone da Rádio Globo. Imprensa tinha acesso aos ídolos e dirigentes até nos vestiários. Era ordem do presidente rubro-negro, Luiz Augusto Veloso. O prodígio de craque teve que ir, mas saiu zangado.
Anos depois Marcelinho estava no exterior quando recebeu uma ligação de Márcio Braga, reeleito presidente do Flamengo:
– Te peguei no Madureira e quero você de novo aqui. Estou te comprando.
Personalidade forte Marcelinho sempre teve:
– Não vou. Me desculpe, mas vocês me mandaram embora. E por 500 mil dólares.
Tinha feito a promessa de nunca mais pisar no clube do coração de Seu Adilson. Clube esse que tinha sido o do seu coração também. Às vezes, amor e ódio se confundem numa paixão.
Há poucos anos houve uma festa no Ninho do Urubu para comemorar a conquista do Brasileiro de 1992, com direito à presença dos atletas campeões. Marcelinho não compareceu. Essa bronca explica sua vibração no título carioca que deu ao Vasco em 2003. Após empate em 1 a 1 com o Flamengo, comemorava feito louco, alucinando, correndo de um gol ao outro do Maracanã. Na cabeça, uma faixa: ‘Jesus é Fiel!’
O destino, às vezes misterioso, mudou a trajetória e a história desse grande ídolo do nosso futebol. Ces’t la vie…
O 171 DA BOLA
por Marco Antonio Rocha
Estávamos já nos preparando para ir embora do lançamento quando vi de longe o Kaiser. Contei rapidamente a história dele – ao menos parte dela – pro Teteu e pra Mari.
– Vamos lá!! – exclamou o moleque, entusiasmado com a possibilidade de conhecer o maior e mais doce trambiqueiro da história do futebol mundial, uma espécie de CR7 em matéria de picaretagem – ou K171.
– Kaiser, esses aqui são meu filho e minha mulher. Eu estava contando pra eles sua história…
O ídolo se levanta de imediato, parece maior do que é. E me dá um abraço de amigos que não se viam há séculos.
– Tem uma caneta aí? Vou te dar meu autógrafo…
E tome de caçar uma, artigo raro hoje em dia.
– Aqui, consegui! – disse a Mari, ainda incrédula com aquela cena non sense.
– Já dei entrevista pro Museu da Pelada. Abre o livro do Pugliese aí.
Obedeci, já animado com a iminência de ter no livro o autógrafo de uma espécie de Viúva Porcina da bola, a que foi sem nunca ter dado um chute.
Mas até na vida real as novelas têm desdobramentos pouco ortodoxos. Kaiser pega o livro e ordena ao primo:
– Escreve aí… “Ao amigo Marco, um abraço”.
Me senti um zagueiro driblado, bunda no chão e bola na rede:
– Peraí, Kaiser. Você também não dá autógrafo?!?!
– Não, não. Autógrafo eu dou. É que eu operei uma vista e não faço a dedicatória. Só assino.
Não era preciso mais que isso. Àquela altura, o escanteio havia virado gol olímpico. Teria como presente um autógrafo a duas mãos… E uma delas seria do Kaiser! Já estávamos íntimos a ponto de, em poucos minutos, fazer uma graça.
– Olha, eu sou vascaíno, o moleque também. Você não jogou lá, né? – emendei, reforçando a negativa da pergunta.
– Hahaha é verdade! Nem no Flamengo, no Botafogo, no Fluminense… Mas fui campeão algumas vezes! E você, joga bola? – rolou pro meu filho.
– Eu jogo basquete, no mês que vem vou fazer um teste no sub-13 do Fluminense.
– Quem vai te receber lá?
Ali percebi o quanto de malandragem uma pergunta tão curta pode carregar… Uma malandragem sem interesse, quase infantil.
– Se você não passar, liga pra mim!
Aqui é preciso registrar: enquanto a turma catava uma caneta, Kaiser me deu seu número de celular. Já éramos amigos, nada mais justo. No fim, com o moleque apadrinhado pelo homem que enganou um punhado de clubes mundo afora, nos despedimos anunciando que naquela noite mesmo assistiríamos a seu documentário.
– Me manda um zap dizendo o que achou! – gritou ele, enquanto sumíamos entre garçons e fãs do Museu que lotavam a pizzaria.
Na volta para casa, tranquilizei Teteu, nervoso com a peneira:
– Com esse aí do teu lado, daqui a pouco você estará jogando basquete pelo Barcelona…