Jogos Inesquecíveis – Palmeiras 2 x 3 Internacional Pelo Campeonato Brasileiro de 1979
por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1979, o Campeonato Brasileiro de Futebol teve, como semifinais, os confrontos entre Vasco da Gama x Coritiba e Internacional x Palmeiras. O Vasco da Gama se classificou para a final ao superar o Coritiba.
O primeiro jogo entre Palmeiras e Internacional foi realizado no Estádio do Morumbi. O Palmeiras saiu na frente aos 34 minutos do primeiro tempo, quando o goleiro Benitez rebateu mal uma bola alçada na área e Baroninho, de fora da área, chutou aproveitando que o goleiro colorado estava adiantado e fora da meta: Palmeiras 1 x 0 Internacional.
No entanto, o Internacional empatou aos cinco minutos do segundo tempo, quando Jair chutou de fora da área e o goleiro Gilmar falhou: Palmeiras 1 x 1 Internacional. Aos dez minutos, Jorge Mendonça, com imensa categoria, recebeu a bola na área, adiantou-a passando pelo zagueiro, girou e, já de frente, concluiu com êxito: Palmeiras 2 x 1 Internacional.
A alegria alviverde, porém, duraria pouco. Aos 19 minutos do segundo tempo, um cruzamento da direita encontrou a cabeça de Paulo Roberto Falcão, que subiu mais do que todo mundo e colocou a bola à esquerda do goleiro Gilmar: Palmeiras 2 x 2 Internacional. E, aos 25 minutos, novo cruzamento na área palmeirense resultou num bate-rebate danado. A bola sobrou novamente para Falcão, que, na parte direita da área, emendou um sem pulo sensacional: Palmeiras 2 x 3 Internacional.
O lance mais bonito do jogo, no entanto, aconteceu aos 44 minutos do primeiro tempo, quando Paulo Roberto Falcão acertou uma bicicleta maravilhosa que passou raspando o travessão. Bicicleta, gol de cabeça, gol de sem pulo. Jogava pouco, o rapaz?
A vitória colorada levou a decisão da vaga para o Gigante da Beira-Rio, onde o empate em 1 x 1 classificou o time sulino, muito bem comandado pelo brilhante técnico Ênio Andrade, para a grande final. E o Colorado levou seu terceiro título brasileiro para sua gigantesca taça de troféus ao superar o Vasco da Gama.
MANGA
por Marcos Vinicius Cabral

“O que leva um menino a ser goleiro?”, foi o questionamento que fiz quando passei pelo portão principal do Retiro dos Artistas, na Pechincha, Zona Oeste do Rio, naquela manhã de domingo. O dia guardo comigo até hoje: 23 de fevereiro de 2021, data da primeira entrevista presencial para a série Vozes da Bola, criada em parceria com Fabio Lacerda. O amigo Beethoven nos acompanhou.
Apesar da restrição em razão da Covid-19, o encontro, marcado pelo afastamento das pessoas que participaram da entrevista com o rosto coberto por máscara e álcool em gel sendo passado nas mãos a todos instante, foi inesquecível.
Ao avistar Manga – que ganhou o apelido por sempre pedir as mangas maduras que caíam de uma mangueira próxima ao centro de treinamento do Sport – comecei a entender o que faz um menino trocar o encanto do drible, a euforia do gol, e a chance de ser herói de uma partida de futebol.
Entendi também o quão difícil é a tarefa de guardar a meta para evitar o gol de quem atua no limite da área, espaço que não nasce grama de tão amaldiçoado que é.
Ser goleiro, para mim, passou a ter um novo significado após essa entrevista que fizemos com o Manga. Ainda mais sabendo que ele não usava luvas para proteger os dedos, maltratados pelos chutes violentíssimos de Rivellino e Nelinho, por exemplo.
Nascido no dia 26 de abril de 1937 e registrado Hailton Corrêa de Arruda, o maior goleiro da história do Botafogo começou a jogar bola nos campos de pelada do Recife.
Herói alvinegro, de 59 a 68, Manga foi o maior campeão da história do clube: 442 jogos e 20 títulos. Para muitos botafoguenses, as maiores conquistas foram as vitórias em cima do Flamengo que, como o próprio Manga dizia, “garantiram as feiras do fim de semana”.
Alto e imponente, Manga, com sua camisa preta, jogando sem luvas e exibindo os dedos tortos, resultado das defesas acrobáticos que resultaram em múltiplas fraturas, chegou à seleção brasileira.
Diferente de Castilho, que tendo contundido o dedo mínimo esquerdo pela quinta vez, decidiu amputá-lo para retornar o mais rápido aos jogos pelo Fluminense, em 1957, Manga foi na contramão.
Conviveu até a morte com eles tortos.
A entrevista já havia terminado e nas fotos que tiramos com Manga, na minha vez, ele sussurrou:
“Era preciso ser um pouco maluco para jogar no gol”, confessou. Ri. Achei curioso a frase dita pelo ex-goleiro que, por causa do camisa 1 alvinegro, passou a existir o Dia do Goleiro, tamanha representatividade dele para a posição.
Enquanto Manga considera sua defesa mais difícil da carreira um chute do lateral-direito Nelinho, do Cruzeiro, na final do Brasileirão de 1975, como bem disse em off, fora de campo enfrentou terríveis adversários. Um foi a fama que não lhe garantiu uma vida financeira boa. A outra se estendeu aos problemas de saúde.
Trazidos do Uruguai ao Rio de Janeiro pela ESPN em 2020, Manga e a esposa Maria Cecília Cisneros passaram a viver no Retiro dos Artistas, presidida por Stepan Nercessian. Foi ele, inclusive, o primeiro ex-jogador a morar na instituição sem fins lucrativos.
Na manhã dessa quarta-feira (9), dezenas de torcedores e amigos compareceram ao velório de Manga, realizado na sede social do Botafogo, em General Severiano.
O ex-jogador morreu na manhã da terça-feira, aos 87 anos, em um hospital na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Manga lutava contra um câncer de próstata. O corpo do ex-camisa 1 foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, às 11h.
Torcedores do Sport, Botafogo, Nacional (URU), Internacional, Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona de Guayaquil vão guardar os títulos, as defesas difíceis e as atuações heróicas de um dos maiores goleiros do futebol mundial.
Prefiro não esquecer das fotos que tirei ao lado da lenda e da conversa que tive com ele depois que Sergio Pugliese informou ao cinegrafista que “rendeu”.
Longe de todos e das câmeras, Manga demostrou ser um homem simples, educado e afetuoso”.
PIADAS ADIADAS
por Wesley Machado

O Botafogo empatava em 0 a 0 com o Carabobo da Venezuela pela Libertadores nesta terça-feira no Nilton Santos e as piadas já estavam prontas. Não “há coisas que só acontecem com o Botafogo”? O jornal engraçadinho de boas manchetes preparava a zoação. Mais eis que de repente: “Parem as máquinas”!
Dois jogadores criticados, Patrick de Paula e Matheus Martins, marcaram no finzinho derradeiro do jogo os gols da vitória de 2 a 0 do Glorioso e calaram os críticos. Frustraram também os do contra, que já se atiçavam para mandar memes nos grupos do Zap. O atual campeão das Américas tem sido alvo fácil neste 2025 ainda muito abaixo.
O mesmo poderia acontecer com o Vasco, que enfrentou o Puerto Cabello, também da Venezuela, pela Sul-Americana. Ah, como sofrem os vascaínos na boca dos adversários, que não respeitam a história e as glórias do Cruzmaltino. Tanta decepção nos últimos anos e até um lance clássico de perda de gol do Vasco foi parar em um comercial.
Mas o Gigante tem o “Pirata da Colina”! Ele, o veterano com físico de garoto, argentino Pablo Vegetti, que com seus olhos claros ilumina o verdadeiro time do povo carioca. Segundo o narrador de ontem, Vegetti é “o melhor cabeceador da América do Sul”! O gol da vitória de 1 a 0 saiu no final do primeiro tempo.
Para o torcedor cruzmaltino, Vegetti é “o melhor cabeceador do mundo”, comenta o narrador. Vegetti é isso tudo e mais um pouco. No tento que garantiu os três pontos ontem, o argentino cabeceou uma bola improvável, de longe, que foi no cantinho do goleiro. Parecido com a falta batida por Patrick de Paula do Botafogo que contou com o desvio artilheiro.
Assim, Botafogo e Vasco vão seguindo seus caminhos. Meus primeiro e segundo times na capital do Rio de Janeiro, por mais que possa parecer pejorativo chamar o Cruzmaltino de segundo time. Mas assim o considero. Tanto que o Sérgio Pugliese achava que eu era Vasco.
AGARRA, MANGA!
por Luiz Cláudio Latgé

Por que um menino resolve ser goleiro? O que faz com que troque o encanto do drible, a euforia do gol pela difícil tarefa de guardar a meta, de jogar no limite conflagrado da área, o lugar onde segundo os cronistas não cresce grama? Fiz algumas vezes esta pergunta, enquanto vestia a camisa preta nos campos de pelada. A resposta ainda não é fácil, mas passa pelo goleiro Manga.
A história de Manga começa nos campos de pelada do Recife. É um dos heróis do Botafogo, de 59 a 68, o maior campeão da história do clube, 442 jogos e 20 títulos, num tempo em que, dizia, enfrentar o Flamengo era bicho certo. Imponente, com sua camisa preta, jogando sem luvas e exibindo os dedos tortos, de muitas fraturas, chegou à Seleção brasileira.
O goleiro nesta é época não era uma estrela, não era disputado no mercado do futebol, isso só iria acontecer mais tarde, a partir de Júlio Cesar. Mas, daquele tempo, o Brasil se lembrará de Castilho, Gilmar, Dida, Leão… E Barbosa, eternamente marcado pela derrota na copa de 50. Este é o problema: jogar numa posição que você será lembrado pelo que não fez, pela bola que não defendeu.
Era preciso ser um pouco maluco para jogar no gol, dizia-se. A posição impunha coragem para levar bolada, se atirar aos pé do centroavante, comer areia, porque nem sempre havia grama por ali, já falamos disso. Muita força física, e explosão muscular para reagir no reflexo a um chute à queima roupa. Ao mesmo tempo, cobrava técnica, para encontrar o melhor posicionamento a cada lance. Manga tinha todas estas qualidades.
Na pelada, a gente costumava jogar e narrar os lances como um locutor. ‘Atira no canto, é gol.’ Mas a frase que ficou na minha lembrança era outra: ‘a bola vai entrando e … espalma, Manga.’
Manga era o salvador da pátria, o último homem. Capaz de voar. Se esticava para tocar a bola com a ponta dos dedos, evitando o gol. E a ponte do goleiro talvez seja uma das jogadas mais plásticas do futebol.
Manga teve uma carreira longa. Jogou no Nacional do Uruguai e foi campeão da Libertadores. Jogou no time memorável do Internacional, bicampeão brasileiro, em 75 e 76, já perto dos 40 anos. Se aposentou em 82, aos 45 anos, jogando pelo Barcelona de Guayaquil, no Equador, campeão até o final.
Uma carreira tão completa que o dia em que nasceu, o 26 de abril, é lembrado no esporte como o dia do goleiro, em sua homenagem.
A fama, no entanto, não lhe garantiu boa vida. Teve problemas de saúde e dificuldades financeiras e foi resgatado pelo jornalista Sérgio Pugliese, do Museu da Pelada, há alguns anos e passou a viver no Retiro dos Artistas.
Pode parecer que o goleiro está ali para fechar o gol. Mas Manga fez mais do que isto. Em cada defesa, tocou muito mais que a bola para escanteio. Obrigado, Manga.
FORAM TANTAS AS EMOÇÕES
por Zé Roberto Padilha

Fiz as contas. A última vez que a vesti, tinha 19 anos. E lá se foram 54 anos e ela se encontra bem mais conservada que seu dono. Também, guardada a sete chaves, três ou quatro saídas para nossas palestras, duas temporadas nos cofres da Caixa Econômica Federal…
O ano em que conquistei sua posse e guarda, 1971, tinha 19 anos. E era ponta-esquerda do time Sub-20 do Fluminense, campeão carioca de 1970.
Após o sucesso alcançado mundialmente pela conquista do tricampeonato, a CBD recebeu um convite da FIFA para, pela primeira vez, participar de uma competição nas divisões de base.
O treinador convidado, Antôninho, pegou a nossa base. Nielsen Elias, Rubens Galaxe, Abel Braga, Marinho, Marco Aurélio e eu, acrescentou um zagueiro, Mário, do São Paulo, um meia-esquerda, Ângelo, do Atlético-MG, e fechou com Jorginho Carvoeiro, Vasco, Nilson Dias, Botafogo, e Clayton, Santos.
No segundo tempo, Enéias, da Portuguesa, entrava para dirimir qualquer dúvida.
Vai perder de quem? E ganhamos invictos o primeiro Torneio de Cannes, ao vencer, na final, a França, com Lacombe e Girése, por 2×0.
E a guarda dessa camisa foi redobrada quando uma Pesquisa da Revista Times, publicada em O Globo, a elegeu como a camisa mais bonita de todos os tempos. Foram usadas por Pelé e Cia. um ano antes e a CBD, então pobre toda vida, guardou um lote pra gente.
As razões alegadas: a primeira Copa do Mundo em cores e o verde amarelo das camisas, o azul dos shorts e o branco das meias se colou ao imaginário dos amantes do futebol em todo o mundo.
Confeccionadas pela Athleta, escudo costurado às mãos, daqui a pouco vai voltar para o esconderijo. Mas, apesar de entrar com dificuldades, pois naquela época não bebia um chope da Brahma, um vinho na faixa dos 55 reais, foi muito bom vesti-la.
Afinal, não é todo dia que você reencontra o manto sagrado que lhe tornou um campeão mundial.