REFLETORES
por Claudio Lovato Filho
De suas primeiras vezes num estádio de futebol, uma das que ele se recorda com mais nitidez (coisa de memória, coração e, claro, também um tanto de imaginação) foi uma noite de casa cheia, uma noite de arquibancadas e almas iluminadas, com os refletores nas seis torres de iluminação fazendo tudo parecer tão irreal (coisa de sonho) e ao mesmo tempo tão verdadeiro (coisa da vida exatamente como ela é).
Nessa noite (e não haveria de ser diferente, como poderia?), o time, no campo, foi tudo aquilo que ele imaginava e esperava e queria, e deixou a ele e ao pai – que o levara ao estádio – orgulhosos e felizes. Felizes como nunca (como nunca mais, não do mesmo jeito).
A torcida, os cantos da torcida, as faixas e as bandeiras, tudo azul, preto e branco; os vendedores de amendoim, pipoca, uísque e conhaque; o vento e o frio; a narração que vazava dos rádios de pilha… E os refletores. O time saindo do túnel e entrando em campo. E depois a luta, a insistência, os erros, os acertos. E os gols.
Como se tira isso de alguém? Como achar que isso pode ser abandonado ou esquecido em algum ponto da vida? Não, não mesmo. É coisa para a vida toda.
Hoje, mais de 50 anos depois daquela noite iluminada, as imagens e as lembranças e as sensações permanecem, processadas pelo tempo que deixa suas marcas no cabelo grisalho, nas guerras perdidas, nas dores acumuladas – dores do corpo e do espírito –, mas também nas batalhas vencidas e nas conquistas que dão sentido ao que, por vezes, parecia se perder no redemoinho do aleatório, do caótico e do despropositado.
Daquela noite no estádio, de tudo o que viveu e sentiu, ele segue extraindo força e alegria. Aquela noite no estádio – não é exagero dizer – o ajudou a chegar até aqui. Ajudou? Mais que isso: aquela noite, de certa forma, foi exatamente o que o trouxe até aqui como o ser humano que ele é e não o que poderia ser.
Aquela noite no estádio – isto também é certo – o ajudará a seguir em frente, porque faz com que o homem maduro de hoje entenda que também precisa se deixar conduzir pelo menino; o menino que ajuda a iluminar o seu caminho e a fazer com que cada passo simplesmente valha a pena.
SÓ DEUS SABE COMO VEIO O TETRA
por Elso Venâncio
A princípio, pensei que fosse piada de português, mas não é. Depois da enxurrada de portugueses, que chegam com uma gigantesca comissão técnica, há quem aposte que vai ser natural um representante da terra de Camões assumir a Seleção após a Copa.
Dois nomes lembrados: Jorge Jesus, pelo trabalho que fez no Flamengo e é adepto do jogo ofensivo, e Abel Ferreira, bicampeão da Libertadores com o Palmeiras.
Por que o treinador brasileiro ficou tão fragilizado? São eles os verdadeiros culpados?
Ao mesmo tempo que ficamos carentes de grandes jogadores, uma onda de retranca assumiu um protagonismo nunca antes visto no nosso futebol. O importante era vencer, não importava de que forma, e manter o emprego. Demissão? O caminho era justiça, direto! Tem profissional recebendo, simultaneamente e sem trabalhar, de dois ou às vezes três ou mais clubes.
Uma fatalidade tira o título do Brasil em 1982 e, doze anos mais tarde, em 1994, só Deus sabe como nos veio o título mundial. Talvez São Romário explique! A partir de então, o futebol-arte foi colocado para escanteio. O esquema fechado, buscando apenas o resultado, virou moda após a Copa dos Estados Unidos. Os times passaram a ter não dois, mas três cabeças de área.
Alguns técnicos ganharam fama e dinheiro com esse esquema. O camisa 10 foi sepultado. O armador, tipo Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’, foi para o saco. O ponteiro virou jogador de lado, obrigado a recuar para marcar. Ainda assim, fomos penta na Coreia e no Japão, com Felipão, adepto da escola gaúcha, e o seu futebol de força e resultados. O esquema, 3-5-2, mas tendo Ronaldo Fenômeno (três vezes eleito o melhor jogador do mundo), Ronaldinho Gaúcho (duas vezes o astro-rei do Planeta Bola) e Rivaldo (Bola de Ouro em 1999), um trio que, quando a redonda chegava ao ataque, resolvia.
O garoto chega hoje na escolinha e avisa:
– Sou cabeça de área, meia de contenção, meia pelos extremos ou atacante recuado (o famoso falso 9).
Vi muito profissional nas categorias de base buscar títulos a qualquer custo. Ninguém se preocupa mais em formar jogador. Parar uma jogada com falta é mais importante do que tentar roubar a bola e sair jogando com ela.
Nosso futebol sempre foi criativo, com dribles, toque de bola, visando o gol. Vitórias convincentes! Exatamente como a Seleção se comportou contra o Chile e a Bolívia. Será que é tão difícil armar esquemas ofensivos?
FLA x FLU, O JOGO QUE NUNCA TERMINA
por Paulo-Roberto Andel
A peleja que começou trinta minutos antes do nada caminha para 110 anos de disputas. A próxima decisão aí está, em carne viva e tensão flutuante do Rio. Flamengo e Fluminense, Fluminense e Flamengo.
No mundo inteiro, há grandes clássicos que envolvem milhões de torcedores. O que difere o Fla x Flu de todos os outros é a relação de intimidade nas entranhas dos dois clubes. Claro que uma história secular também ajuda e ela não é pouca: de Laranjeiras e Gávea para São Januário e, então, para o Maracanã imortal das duzentas mil pessoas. O jogo dos jogos, com dezenas de recordes de público, decisões inesquecíveis e lances imortais, às vezes disputados em situações até comuns, embora o Fla x Flu jamais seja comum.
Por exemplo, o jogo dos três gols do Zico todo mundo se lembra e parece uma decisão de título, mas não foi nada disso e sim a partida de estreia na Taça Guanabara de 1986. O mesmo vale para os três gols de Super Ézio em 1994, num clássico normal de tabela, mas também inesquecível. E aquele golaço do Leandro em 1985? Era o primeiro jogo do triangular final, mas ficou eterno. E o créu do Thiago Neves? São muitas histórias.
Irmãos Karamazov do futebol brasileiro na concepção do genial Nelson Rodrigues, Flamengo e Fluminense têm papel decisivo num dos momentos mais difíceis da história do futebol brasileiro. Após a Copa de 1950, éramos terra arrasada. Pouco se fala dos suicídios ocorridos no Maracanã e no Distrito Federal após a derrota para o Uruguai. O Maracanã corria risco de se tornar um gigantesco elefante branco. Então o Fluminense ganhou o Carioca de 1951 e o Mundial de 1952, refazendo o colorido das arquibancadas, sucedido pelo tricampeonato rubro-negro de 1953 a 1955, confirmando o estádio como a casa da alegria no futebol brasileiro. Pouco tempo depois, veio 1958 e o resto da história já se sabe.
Num país onde a memória costuma ser desprezada, é fascinante pensar que o Fla x Flu atravessou o século XX no Brasil e segue firme no XXI. Quantos jogos, quantos ídolos, quantas histórias caberiam em livros e mais livros sobre o assunto? Fala-se de Zico, Rivellino, Júnior, Assis, Leandro, Félix. Doval vestiu as duas camisas, Renato Gaúcho também. Carlos Alberto Torres, Edinho, Rodrigues Neto, Paulo Cezar Lima, Moisés, Válber, Branco, o goleiro Renato, Cláudio Adão, Robertinho, o saudoso Zezé, Sérgio Araújo, Renato Carioca. Telê sempre foi Flu e depois treinou o Fla. Evaristo sempre foi Fla e treinou o Flu. A gente pode falar de Tim, de Renganeschi, de Zezé Moreira, de Fleitas Solich. É um universo tão marcante que um gol imortaliza até jogadores de efêmera passagem pelos clubes, tais como Luiz Marcelo, Nildo, Jacozinho e Jefferson.
Até aqui, nem falamos de Carlinhos e Nelsinho, de Flávio e Lula, de Denilson, de Didi, Henrique Frade e Joubert Meira. E Castilho e Pinheiro, Batatais e Chamorro. Nem que o Fluminense costumava prevalecer nos Fla x Flus decisivos – o que não tem acontecido nos últimos tempos -, nem que o Flamengo tinha mais vitórias na história do clássico – o que não tem acontecido nos últimos tempos. Nem falamos das grandes finais de 1941 e 1963, de 1969 e 1973, nem das recentes em 2020 e 2021. Hei, tem gol de barriga!
Tudo começou lá atrás, em 1912. O Flamengo montou um timaço com a cisão no Fluminense e era favorito, mas o Tricolor vestiu a roupa de mosca na sopa e ganhou por 3 a 2, com Barthô marcando o gol decisivo. De lá para cá, o Tricolor e o Rubro-Negro vêm se engalfinhando e escrevendo uma linda história de rivalidade e disputa através das décadas. E agora novos nomes concorrem ao prêmio de imortalidade que um título no Fla x Flu é capaz de oferecer. Vença quem vencer, será lembrado daqui a 50 ou 80 anos – a gente mesmo se lembra ou ouviu falar dos 2 a 2 de 1941, e parece que foi ontem.
Nesta semana o Rio vai assistir a mais um capítulo desta série de gala, cujo desfecho é absolutamente imprevisível, porque no Fla x Flu só existe uma única certeza: é o jogo que nunca termina.
@pauloandel
FALTA CARISMA
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::::
Assisti essa pelada horrível entre Botafogo x Fluminense e tenho alguns pontos a destacar. O primeiro foi minha lembrança da decisão de 71 quando o tricolor venceu com um gol irregular de Lula, após um empurrão escancarado do lateral Marco Antônio no goleiro Ubirajara. Mas naquela época não havia VAR nem segundo, terceiro, décimo árbitro auxiliar.
Obviamente que o Botafogo deveria ter cobrado a falta, mas o juiz preferiu terminar a partida. Vale ressaltar que o Botafogo precisa de jogadores mais experientes se quiser sonhar alto. O juiz só aumentou o tempo de acréscimo, permitindo o gol do Flu, porque os jogadores comemoraram o segundo gol por quase cinco minutos!
O segundo ponto é como um time melhor tecnicamente entra em campo jogando para não perder e leva dois gols? Bastaram alguns minutos de futebol ofensivo para balançarem a rede! Por isso, falam que tem coisas que só acontecem com o Botafogo!
E essa história do novo dono do Botafogo afirmar que o Botafogo terá time A e B? Será que isso dará certo no Brasil? Na Europa, os atletas encaram isso com naturalidade, mas aqui é Brasil e terá muita gente torcendo o nariz por não estar no principal. É bom John Textor investir pesado em psicólogos e naqueles jogadores que não jogam nada, mas são bons de animar vestiário, os “bons de grupo”.
Mas me assusta se a nova comissão técnica considerar esse time que enfrentou o Fluminense como o A. Imaginem o B!!!
E os técnicos portugueses não param de chegar! A onda lusitana está indo tão bem que até a Portuguesa desandou a ganhar! Só sei que os “professores” deveriam fazer o feijão com o arroz. Não insistam para que os goleiros saiam jogando com o pé!!!! Toda a semana algum entrega o ouro. O do São Paulo foi patético. Se nem os jogadores estão conseguindo acertar passes, não serão os goleiros.
Por falar em goleiro, Rogério Ceni vem fazendo um bom trabalho no São Paulo, com futebol ofensivo, e vai enfrentar o Palmeiras de Abel na decisão. A expectativa é de mais um jogo truncado e sem emoção, como vem sendo as finais do Palmeiras. Sigo como fã da Copa do Nordeste, os jogos são mil vezes mais animados do que os grandes centros. Rio, São Paulo e Minas tem os três times de maior investimento financeiro, mas eles estão precisando de uma pitada do tempero nordestino para conquistarem algo além do futebol: o carisma.
Pérola da semana:
Zagueiros em transição que dão fatiadas nas jogadas, com intensidade por dentro ou na diagonal, tentando encontrar um atacante agudo que exerce a função de falso 9 flutuando pelo último terço do gramado.
Entenderam as asneiras das figuras que analisam nosso futebol?
O CRAQUE DO BRASIL EM 2012
por Luis Filipe Chateaubriand
Corria a Copa Libertadores da América de 2012, e Emerson Sheik cumpria atuações apenas regulares.
De repente, não mais que de repente, o mancebo “arrebentou” nas semifinais contra o Santos.
Não bastasse isso, nas finais, contra o Boca Junior, só “faltou fazer chover”, especialmente no segundo jogo, em São Paulo.
Quatro jogos, importantíssimos, foram suficientes para fazer de Emerson Sheik o melhor jogador do Brasil em 2012!