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ADO – O INJUSTIÇADO

por Luis Filipe Chateaubriand

Eis que, há 40 anos, Bangu e Coritiba decidiam o título do Campeonato Brasileiro daquele ano, no Maracanã, em jogo único.

No tempo normal, apesar de o Bangu ter jogado melhor, o jogo ficou empatado em 1 x 1.

A decisão foi para as cobranças de pênaltis.

E, para o desgosto dos banguenses, o ponta esquerda Ado desperdiçou sua cobrança e o título foi para Curitiba.

Injustamente, Ado ficou marcado com o fato, mas o Bangu não perdeu o campeonato por causa dele.

Em primeiro lugar, Índio, do Coritiba, fez um golaço de falta – em lance de extrema felicidade, que jamais deve ter repetido.

Ado não tem culpa disso.

Em segundo lugar, o goleiro do Coritiba, Rafael, agarrou muito e foi o melhor jogador da partida.

Ado não tem culpa disso.

Em terceiro lugar, Marinho fez um gol legítimo, mas que foi anulado pelo juiz.

Ado não tem culpa disso.

Em quarto lugar, Marinho fez grande jogada pela direita, cruzou, a bola foi tangenciando a linha de gol, e não apareceu um pé para jogá-la para dentro.

Ado não tem culpa disso.

Em quinto lugar, o Bangu dominou o jogo, mas não soube traduzir em gols seu domínio.

Ado não tem culpa disso.

Então, por gentileza

Deixem Ado em paz!

Ado que é devotado ao Bangu até hoje, um banguense de verdade, não merece ser importunado por polêmicas desnecessárias.

UM DIA DE CABAÇUDO

por Zé Roberto Padilha

Corinthians x Fluminense, ano de 1974. Fora de casa, mesmo com três tricampeões mundiais, Felix, Gerson e Marco Antônio, atuamos fechadinhos a buscar o contra-ataque. Não havia como sair nos expondo porque eles, além da maciça presença da Fiel, também tinham três: Ado, Zé Maria e Rivelino.

Eu e Rubens Galaxe éramos dois meninos em meio a tantas cobras criadas, e quem nos deu essa chance, como titulares, foi Pinheiro. Ele nos formou e quando teve sua oportunidade, como interino, deu essa moral pra gente.

Jair, na foto ao meu lado e do Didi, abriu a contagem e administramos esse 1×0 até 43 minutos do segundo tempo. Foi quando Félix resolver saiu jogando comigo, com as mãos, em nossa intermediária.

E quando fui dominar no peito, e ela subiu um pouco, Zé Maria, o “Super Zé”, me deu um chega pra lá, roubou a bola, deu no Vaguinho, recebeu na linha de fundo e cruzou de volta pro mesmo Vaguinho empatar a partida.

Como um atropelamento, uma queda em um piso liso e molhado, tudo é tão rápido quando lhe roubam uma bola daquele jeito, e você sabe que isto vai atrapalhar sua recuperação no conceito de manutenção e subida pro andar de cima, que você entra completamente sem graça no vestiário.

Se sentindo o pior homem do mundo.

Já nos chuveiros, deu para ouvir o tiro de misericórdia. No boxe ao lado, deu para ouvir parte de uma discussão entre o Gerson, capitão do time, com o Félix.

– Porra, Papel! Com tantas opções de sair jogando, e você se acha no direito de sair jogando com um “cabaçudo” desses? Dá um chute pra frente que dá menos prejuízo!

Para a línguagem do Futebol, “Cabaçudo” se trata de um inexperiente jogador, que precisaria amadurecer bastante para um dia jamais tentar dominar uma bola, no peito e próximo a um precipício, quando você enfrenta um tanque fora dos seus domínios.

Hoje, subir para o profissional é como passar da sala de jantar para a varanda. Antigamente, você tinha que superar mais de mil e oitocentas colinas.

LENDA DO SALÃO

por Rico

Como descrever Ney Pereira?

Ele era raio, trovão, fogo, tempestade… ou talvez tudo isso ao mesmo tempo. Parecia o homem elétrico: dava choque nos adversários, colocava fogo no jogo, passava pelos oponentes como um raio, e era tempestade que só se acalmava quando o jogo terminava.

Ney conquistou inúmeros títulos, vestiu a camisa da seleção brasileira e levava em si a alma das duas maiores torcidas do país: Flamengo e Corinthians. Imagine só a força e a garra que esse jogador carregava em quadra.

Habilidoso, rápido, ligeiro — quando Ney estava em ação, não havia espaço para calmaria. Para o torcedor, vê-lo jogar era como assistir a um gladiador na arena de Roma, enfrentando diversos oponentes e, mesmo com alguns arranhões ou derrotas, sempre resistindo.

E como se não bastasse, ele ainda conseguiu a proeza de se tornar treinador da seleção brasileira de futsal. Sorte? Nada disso.
Com Ney, era pura competência. Chegar onde ele chegou não é para qualquer um. Exige talento, força, determinação — e isso, o nosso “tempestade”, tinha de sobra.

VEXAMES EM CASA

por Elso Venâncio

Duas Copas do Mundo disputadas em casa e dois vexames históricos. Esse é o saldo da Seleção nos Mundiais de 1950 e 2014, os únicos disputados em solo brasileiro.

Em 50, a política já interferia no futebol. Na véspera da final contra o Uruguai, trocaram a paz de uma casa no Joá, local de difícil acesso na época, por São Januário, símbolo da história social e cultural do país, onde Getúlio Vargas promovia e anunciava medidas populares no feriado de 1º de maio (Dia do Trabalhador). Eleito pelos jornalistas o melhor jogador daquela Copa, o ídolo Zizinho era um dos que repetiam: “Políticos invadiram a concentração, tirando o nosso foco”.

Incrédulo, o técnico brasileiro, Flávio Costa, viu Obdulio Varela dar um “chega pra lá” em Bigode. Bastou esse empurrão para que se criasse a lenda de que houve um “tapa na cara” do lateral-esquerdo, que no ano anterior havia trocado o Fluminense pelo Flamengo. Bigode não levava desaforo para casa, mas parecia assustado com a pressão dos mais de 200 mil torcedores presentes no recém-inaugurado Maracanã, então o maior estádio do mundo. Acostumado que era a dar carrinhos sem fazer falta, acabou se omitindo no gol da vitória uruguaia, marcado pelo ponta Ghiggia.

Na época com 25 anos, Nilton Santos resmungava pelo fato de ser reserva. A Enciclopédia do Futebol Brasileiro se tornou voz isolada contra um treinador sem diálogo e habituado a chamar quem se rebelasse para brigar na mão. No Vasco, Heleno de Freitas chegou a puxar um revólver para atirar em Flávio Costa, que tinha o apelido de Ditador.

Mais de seis décadas depois do Maracanazo, a Seleção conquistou a Copa das Confederações em casa, em 2023. O título ocorreu em meio ao movimento “FIFA go home”, marcado por manifestações populares contra os altos gastos governamentais antes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

Felipão foi o treinador escolhido pela dupla de trapalhões Del Nero e Marin. O aposentado Parreira, por sua vez, recebeu o convite para ser o coordenador, cargo de Zagallo no tetracampeonato mundial, em 1994, quando o próprio Parreira era o técnico. Após o fracasso no Mundial de 2014, Parreira acabou marcado por ler, numa coletiva de imprensa, a enigmática carta de Dona Lúcia, torcedora que apoiava a comissão técnica.

Nas quartas de final, já havia dado para sentir a fragilidade da equipe brasileira, que precisou de prorrogação e pênaltis para passar pelo Chile, no Mineirão. Não teve a mesma sorte na semifinal, no mesmo estádio, levando 7 a 1 da Alemanha, com direito a cinco gols num intervalo de 29 minutos.

Ao escalar o ponta Bernard na vaga do lesionado Neymar, Felipão deu espaço para a Alemanha dominar o meio-campo. Até hoje, há torcedores que choram revivendo a tragédia do “Mineirazo”. Para piorar, na disputa pelo terceiro lugar, o Brasil perdeu por 3 a 0 para a Holanda, chegando à marca de 10 gols sofridos e apenas um marcado em duas derrotas seguidas.

Qual foi a maior decepção? Uruguai 2 a 1, no Maracanã, ou Alemanha 7 a 1, no Mineirão?

ARTILHEIRO, CONSAGRADO, REVERENCIADO E INJUSTIÇADO (SELEÇÃO BRASILEIRA)

por Fabio Lacerda

Aniversariante do dia, Roberto é o unico artilheiro e campeão brasileiro aos 20 anos; ele tem 81 gols a mais que a somatória de Romário e Ademir Menezes no Vasco da Gama

Artilharia pesada! Importante em todos os momentos quando vestiu por 22 anos a mesma farda com a faixa diagonal preta ou branca na diagonal. Nascido na cidade ‘esquina do Brasil’ que homenageia seu filho ilustre, Luis Alves de Lima e Silva, nome de registro do militar e político, Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro, Roberto é outro filho da terra na história do Brasil. Na história de vitórias e superações de adversidades. Assim como um dos mais ilustres brasileiros nos campos da Política e batalhas, Roberto Dinamite deixou sua marca nos gramados onde desfilou sua força de uma Cavalaria, e a habilidade de uma Infantaria, sabendo e confiando em quem estavam nas trincheiras consigo.

Hoje é dia da explosão! Hoje é o dia da camisa 10 que tinha o cheiro de gol. Hoje é aniversário, nada mais, nada menos, de Roberto Dinamite, um atleta exponencial, e um ser humano colossal, um artilheiro sem igual. Se uma vez, o ex-craque, Pepê, do Santos, disse em tom de brincadeira que ele era o maior artilheiro da história do Santos, porque o Pelé não poderia participar da contagem, o mesmo poderia aplicar ao futebol brasileiro como um todo. Sem contar o Rei do Futebol, Roberto é o maior artilheiro do futebol brasileiro.

Roberto desperdiçando uma chance na pequena área contra o Fluminense na final do Brasileiro de 1984 que custou o título; um ano complicado na vida pessoal que refletiu na hora da decisão

Analogias à parte, falar de Roberto é mostrar semelhanças com outros artilheiros do Campeonato Brasileiro, mas um detalhe o difere dos demais – ele é o único que conseguiu levantar o caneco, aos 20 anos, e sendo o artilheiro. Pode ser que nossos queridos leitores e comentaristas do Museu da Pelada tenham recebido uma bola cheia de azeite (efeito) e não consigam a dominar. Ao considerar que o Campeonato Brasileiro iniciou, em 1971, apenas seis jogadores atingiram a proeza de se tornar artilheiro aos 20 anos. O primeiro da lista é o próprio. Roberto Dinamite, em 1974. Passados três anos, outro craque chega à honraria individual de maior feitor – não é fazedor, não gente, não me matem de vergonha! – de gols. Reinaldo, do Atlético-MG no ano que quem vos escreve nasceu. O maior ídolo do Galo ficou fora da final contra o São Paulo, o time mineiro perdeu, ele não conseguiu atingir o feito de Roberto conquistar o segundo título do Atlético-MG aos 20 anos quando assinalou, assustadoramente, 28 gols. 

Outro artilheiro aos 20 anos foi Paulinho, companheiro de Roberto no Vasco da Gama, quando o clube foi eliminado na semifinal pelo Guarani, em 1978. No ano seguinte, aos 21 anos, Paulinho foi à final com o Vasco. Mas o Internacional sagrou-se tricampeão (invicto e único time a não perder em uma edição do certame), e a partir daí, o time Colorado nunca mais foi campeão brasileiro. 

A breve passagem pelo Camp Nou vestindo a camisa do Barcelona quando estreou fazendo dois gols, e abrindo o placar no segundo jogo da decisão da Supercopa da Europa contra o Notthingam Forest que ficou com o título

Artilheiro do Brasil por três ocasiões, em 1989, quando o Vasco da Gama faz as pazes com o Brasileiro, surge Túlio, no Goiás. Um jogador que também merece ter o apelido dado ao Roberto pelo icônico mestre do radiojornalismo esportivo, Waldir Amaral – a camisa com cheiro de gol. Em 1994, o ano do título da Copa do Mundo, em Campinas, o carioca Amoroso surpreendeu pelo Guarani. O atacante, assim como Roberto, foi injustiçado na seleção. Poderia estar no plantel de Carlos Alberto Parreira, mas foi preterido. 

Artilheiro do Brasil na Copa do Mundo de 1978, quando o escrete foi eliminado invicto graças à marmelada argentina, Roberto ficou no banco na Espanha (Copa do Mundo anterior). E muitos apontam o fato como uma falha abissal do mestre Telê Santana, que não deu um fio de esperança ao artilheiro que vivia grande fase balizada pela performance na Copa da Argentina. E ao ignorar, novamente o artilheiro, na Copa do Mundo do México (1986), Telê ficou pelo caminho diante da França.  Nem mesmo o entrosamento e o entendimento com seu fiel amigo e rival, Zico, que disse uma vez ter tido o Roberto como o melhor companheiro de ataque vestindo a ‘amarelinha’, foi capaz de mexer com as convicções do técnico em duas Copas do Mundo consecutivas em um ciclo de oito anos. 

Roberto, na Portuguesa, onde fez 18 jogos e nove gols no Brasileiro de 1989, cumprimenta seu amigo Zico, antes da partida no Morumbi

Nove anos depois foi a vez de Dimba, pelo Goiás, assim como Túlio, ser o artilheiro do Campeonato Brasileiro. E por fim, o último a conseguir balançar mais as redes adversárias aos 20 anos foi Keirrisson, um furacão do Coritiba que despertou o interesse do Barcelona, foi à capital da Catalunha, seguindo os passos de Roberto, mas não teve sucesso assim como o ídolo vascaíno, apesar de ter chegado à final da Supercopa da Europa fazendo gol em um dos jogos contra o Notthingam Forest na temporada 1979-1980. 

Não há no Brasil um jogador que tenha defendido um clube por tempo equivalente. Roberto vestiu a camisa do Vasco da Gama por 1.110 vezes ao longo de 22 anos. Não há maior artilheiro nas edições do Campeonato Brasileiro, do Estadual do Rio de Janeiro e dos grandes derbys disputados no Maracanã. Não há um jogador que assinalou mais gols em uma partida única o Maracanã. Não há um gol mais bonito no Maracanã que se compare ao feito contra o Botafogo levando em consideração a importância da partida. Não há outro artilheiro de Campeonato Brasileiro, aos 20 anos, que se sagrou campeão. Ele é único. Ele é Roberto Dinamite, o jogador que, após um hiato de títulos do Vasco da Gama, na década de 1960, colocou o clube novamente nos trilhos das conquistas. 

Parabéns, Roberto, pelos 71 anos. Nos corações, nas emoções e nos gritos de campeões da torcida cruzmaltina. 

Juntamente do vascaíno Dirceu, Roberto liderou a seleção de Claudio Coutinho sendo efetivo com gols e passes como a abertura de jogada para Nelinho empatar contra a Itália naquele gol que nem a Física é capaz de explicar na disputa pelo terceiro lugar