Escolha uma Página

VINI JR. MALVADEZA


por Serginho 5Bocas

Em 3 de novembro de 2017, vaticinei aqui neste espaço, que o jovem Vinicius Junior estava pronto para voar. Um menino ainda, idade de juvenil, cara e sorriso de menino, um moleque abusado, que só queria ser feliz jogando bola e que foi vendido por uma fortuna para os nossos padrões.

Realmente foi muito dinheiro, principalmente para nós brasileiros, mas, talvez para os espanhóis, nem tanto, apenas um investimento, entre tantos outros. Se der certo capitalize, caso contrário, passa para frente, sem dramas. Eles fazem isso anualmente, realizando um “turnover” constante de jogadores que são os seus principais ativos.

Se naquela época, parecia uma heresia falar que o garoto da base flamenguista era uma joia, ainda hoje tem muita gente que vira a cara para a realidade e baixa o cacete na fera.

Mas naquele momento, ele já mostrava sua força física acima da média e a sua vocação para o drible em alta velocidade, sem contar a sua frieza de não se intimidar com jogos grandes e torcida adversária, coisa de quem foi criado na “porradaria” de São Gonçalo e dos que passam a infância jogando na pressão que é a base rubro-negra. 

O menino rapidamente se destacou e entrou para o grupo de elite do Real Madrid, que é simplesmente o maior clube do mundo. Assim, foi acumulando minutos em campo, gols e assistências para os companheiros. Quem diria que o “Neguebinha” ia se tornar Vini Malvadeza, calando a boca de muitos críticos.

Hoje ele é o principal parceiro do maior finalizador do time, Benzema, mas nunca foi fácil. Recebeu críticas até mesmo do atacante francês, maior beneficiado pelos seus passes.

Vini Jr. ainda está em processo de construção, mas mesmo falhando em algumas finalizações e em alguns passes, muito por conta de uma certa afobação e pela falta de um trabalho de fundamentos na base, continua a ser titular e temido pelos laterais adversários.

Só para efeito de comparação, assisto semanalmente o centroavante Gabigol perder gols em profusão e fazê-los também, mas não é tão criticado quanto este garoto.

Talvez o fato de ter sido criado na base do Flamengo seja uma das principais razões de ter que carregar este fardo. Se tivesse surgido em um clube com menor rejeição dos outros torcedores, talvez a vida dele fosse mais suave.

Por outro lado, é desses caras que a gente precisa em grandes competições, de jogadores que não sentem pressão, que recebem criticas destrutivas constantemente e sabem lidar com elas sem se abaterem. É esse soldado que o batalhão precisa na guerra.

Espero que a Copa do Mundo de 2022 no Catar seja o palco iluminado para o menino deslanchar. Mas se ainda não for a hora, a joia estará pronta para entrar em campo, quando solicitado. 

Grande Vini Jr Malvadeza! Arrebenta garoto, “tu é nosso”. 

Forte abraço

Serginho 5Bocas

DE ZÉ BAIANO AO DEUS DA RAÇA

por Mauro Ferreira

O sobrenatural comunga com os deuses e, obviamente, há algo de muito sobrenatural naquele gol.

Nascido sob o signo das águas férteis de São José do Rio Pardo, Antônio José Rondinelli Tobias foi para o Flamengo ainda menino. Cunhado pelos jogos de vôlei, a natação no rio e no clube e na colher de pedreiro, chegou àGávea batizado Zé Baiano, apelido de quando recolhia areia da ladeira para que o material não se perdesse durante as chuvas.

Chegou lateral, virou zagueiro e o apelido de menino ficou sob a tutela apenas dos mais íntimos. Por exigência de quem o levou, virou Rondinelli. E só. Das divisões de base ao gol espírita, uma história carregada de emoção. Da fúria ao choro, o rastilho é curto. E a faísca brota dos olhos até hoje, quando o assunto é Flamengo. É certo que usou outras camisas, incluindo a do arquirrival rubro-negro, só que a alma veste as cores do Exu campeão do carnaval carioca.

Antever e antecipar – verbos necessários na linguagem dos zagueiros – eram especialidades da casa. Como um punguista, surrupiava a bola dos atacantes adversários assim, do nada, surgindo das sombras. E, se não desse com os pés, usava qualquer parte do corpo para evitar um gol. Incluindo a cabeça, mesmo se a bola estivesse nos pés do artilheiro, ao feitio do chute. Ainda assim, não se conseguia enxergar a entidade.

O sobrenatural comunga com os deuses e, obviamente, há algo de muito sobrenatural naquele gol.

Até que 1978 chegou. Foi um ano triste. Até o gol. Até os 42 minutos do segundo tempo de um final de ano de final de campeonato carioca. Uma lesão na coxa tirou de Rondinelli uma Copa do Mundo. E por pouco não ficou fora da decisão do carioca daquele ano. Mas, como diz o ditado, enquanto não dá certo, é porque ainda não se chegou ao fim. Ainda haveria um fim. 

Num escanteio cobrado por Zico, a bola subiu muito.Assim como Rondinelli subiu ao ataque contrariando as ordens do capitão Carpegiani para que permanecesse na zaga. Mais uma vez, surgiu do nada para encontrar a bola de Zico no alto do templo, no tempo correto para esmagá-la com a testa e acertar a coruja do gol de Leão.

Fanática e fascinada, a torcida do Flamengo teve, ali mesmo, no templo da bola, uma conversa de pé de ouvido com Zeus, reapelidou Zé Baiano e garantiu ao Olimpo o surgimento de mais um deus.

Rondinelli renascia. Agora, com novo sobrenome: 

O DEUS DA RAÇA

ECOS DE 1982

por Paulo-Roberto Andel


Parece que foi ontem, mas vai fazer quarenta anos. Está fazendo.

Dirigida desde 1980 por Telê Santana, a Seleção Brasileira era a equipe nacional mais respeitada do mundo. Jogando no mínimo uma vez por mês, o Brasil sofreu apenas duas derrotas no período – uma para a URSS no comecinho do trabalho e outra para o Uruguai na final do Mundialito.

Em 1981, a Seleção encantou o mundo definitivamente, ao vencer Inglaterra, Alemanha e França em seus respectivos domínios. A respeito da Alemanha, o Brasil já tinha derrotado os então bicampeões mundiais por 4 a 1 naquele mesmo Mundialito e voltaria a vencer no Maracanã, às vésperas do embarque para a Copa da Espanha. E não foram apenas vitórias, mas shows de bola sobre adversários espetaculares do porte de Keegan, Breitner, Rummenigge, Hansi Muller, Tigana, Tresor, Platini e outras feras.

A Seleção não fazia partidas, mas exibições. Dava gosto em ver. Dribles, passes, tabelas, lançamentos. Naquele tempo se popularizou a expressão futrbol-arte, mas no fundo era apenas o futebol em sua essência, como deveria ser para deixar os torcedores felizes. Futebol de talento, de capacidade e ofensividade, de fazer o adversário se preocupar com o jogo dias e dias antes.

Quando saiu a convocação final, não havia maior prova do grande momento do futebol brasileiro. Ficaram fora da lista final cracaços como Adílio e Mário Sérgio, afora outros nomes que sequer foram cogitados numa lista com 22 convocados – não é exagero dizer que o Brasil poderia colocar 44 jogadores se o regulamento permitisse.

É certo que cada um tem seus gostos e preferências, portanto alguns convocados passaram a ser mais contestados com o tempo. Noutros casos, há quem diga que alguns reservas da Seleção estavam em melhor fase do que os titulares. E o desfecho da Capa de 1982 levou a críticas naturais. Mas nunca é demais lembrar: no início da Copa, o Brasil não era favorito ao título apenas para os brasileiros, mas para o mundo inteiro. Fizemos por merecer com quase dois anos de ótimas partidas, algumas contra as mais poderosas seleções de outros países.

Há quarenta anos, eu era um garoto de treze apaixonado pelo Maracanã, louco para ir às Laranjeiras e fazia de tudo para economizar minha minúscula mesada para ir aos jogos. Fui a muitos, muitos, e em todos eles eu tive a certeza e o orgulho de que jogávamos o melhor futebol do mundo. Quando vejo hoje a reação das pessoas aos jogos da Champions League, lembro que era o que sentíamos pelos nossos jogos locais e os da Seleção Brasileira. Se o desfecho da Copa ficaria longe dos meus sonhos, nada vai tirar o brilho daquelas partidas de 1978 a 1982 na minha memória do Maracanã, nem o início da Era Telê, que começou com o maravilhoso Palmeiras de 1979, que jogava tão bonito a ponto de levar seu treinador à Seleção mesmo sem os títulos paulista e brasileiro.

Ultimamente o que não falta é gente querendo mudar o passado, mas é bom que se diga: a Seleção do Seu Telê jogou demais. Demais.

O VICE-TREINADOR

por Zé Roberto Padilha


O Fluminense acaba de inovar ao criar, no futebol, a figura do vice-treinador. Aquele que como José Sarney, Itamar Franco, Michel Temer, Cláudio Castro, mal figuravam na cédula, ninguém votou, não compareceram aos debates e de repente …assumem o poder.

Sem qualquer responsabilidade, pois se perder não foi culpa sua, foi de quem montou seu ministério. Se empatar está no lucro, se vencer é um salvador da pátria.

No futebol é mais fácil do que na política. Para derrubar Tancredo, bastou uma infecção, Collor, uma Elba e o Eriberto, ao Michel Temer, uma pedalada mal contada, Witzel…bem, este aí todos esperavam.

Para derrubar o Abel, mesmo sendo campeão carioca, ter alcançado recordes de invencibilidade, e olha que ainda nem entramos no mês 5, bastou o Fred desperdiçar um pênalti aos 48 minutos do segundo tempo.

Nem o direito à cobrança o Abel teve para tentar salvar o pobre pescoço. Eles erram, eu caio.

Não precisou de passeatas, greves, de um mau perdedor ,como Aécio Neves, ou o Eduardo Cunha atuando nos bastidores com o Merval Pereira dando cobertura na Globonews.

O presidente do Fluminense, que sabe muito de futebol, se trancou na sala com outra dúzia de dirigentes que também não jogaram nada, e decretou o Impeachment.

Agora, nos resta acompanhar as ações da Petrobrás, se o dólar se estabiliza, se cai o preço do gás de cozinha. Com a palavra, o Congresso Nacional.

Sua próxima reunião é domingo, em Curitiba. Se perder…só o Moraes!

DOIS ÍDOLOS, DUAS ESTÁTUAS E QUASE 2 MIL GOLS

por Elso Venâncio


Romário me disse, quando deixou o Barcelona para jogar no Flamengo, que era muito grato a Roberto Dinamite:

– Esse cara me ajudou muito. Quando subi para os profissionais, ganhei confiança para marcar gols graças aos lançamentos dele.

O ex-zagueiro rubro-negro Mozer gosta de lembrar:

– Eu marcava duramente o Roberto, não dava espaços para ele, até que certa vez ele me provocou: ‘Tá metendo a porrada, né? Vai ver agora… Olha bem pra esse garoto” – disse Roberto, apontando para o Baixinho com o dedo indicador.

Na lateral do campo estava Romário, que tinha acabado de assinar a súmula e se aquecia para entrar, aos 20 minutos do segundo tempo.

Romário foi para o campo a mil. Em pouco tempo, recebeu ótimo passe de Roberto e marcou o gol da vitória.

Quando jogou com Romário, o ídolo Roberto já tinha mais de 30 anos. Passou a atuar mais recuado, metendo toda hora na cara do gol o garoto que surgia feito um furacão, saindo como um raio em diagonal da esquerda para o meio.

Acompanhei os dois de perto durante o bicampeonato carioca que o Vasco conquistou entre 1987 e 1988. O time que levou o primeiro dos dois títulos era surreal: Acácio, Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto e Romário. A equipe que entrou em campo no jogo do bi também deixa saudades: Acácio, Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Zé do Carmo, Henrique e Geovani; Vivinho (Cocada), Bismarck e Romário.

Nessa final, o treinador Sebastião Lazaroni resolveu colocar Cocada no lugar de Vivinho. O lateral entrou aos 41 minutos do segundo tempo, fez o golaço da vitória por 1 a 0 aos 44 e, logo em seguida, foi expulso, aos 45, por debochar do treinador rubro-negro Carlinhos, que o preteriu na Gávea. O Vasco tinha vencido o Flamengo por 2 a 1 no primeiro jogo e precisava apenas empatar. Acabou ganhando, sendo que o Flamengo era o atual campeão brasileiro. O gol que consagrou Cocada é um dos mais marcantes da história do clube.

Na comemoração do título, numa boate em Copacabana – naquela época, os craques e a imprensa conviviam bem de perto –, o “Tremendão” Erasmo Carlos pegou o microfone e, no meio de jogadores, dirigentes e torcedores, cantou com entusiasmo e repetidas vezes, o hino vascaíno.

Essa viagem no tempo, que não espera ninguém e corre cada vez mais veloz, me leva à cidade capixaba de Nova Venécia. Foi lá, no estádio Zenor Pedrosa Rocha, que testemunhei, do gramado, a estreia de Romário pelos profissionais.

Isso faz quase 37 anos. Era agosto de 1985 e a delegação carioca se hospedou no Hotel Hádria, de apenas dois andares e cuja arquitetura era colonial. Pela Rádio Globo, do Rio de Janeiro, eu, como repórter, e os saudosos Antônio Porto – locutor que criou o bordão “Bola pro mato que o jogo é de Campeonato” – e Alberto Rodrigues nos comentários. A população, imagino, não chegava a 40 mil habitantes, sendo que pelo menos metade era formada por gente simples da zona rural.

Foi o técnico Antônio Lopes quem lançou Romário. Ex-delegado, ele tinha moral e coragem para colocar jovens e mudar a equipe na hora que bem entendesse. Maior exemplo disso é o título estadual de 1982, conquistado em cima do Flamengo campeão do mundo. Lopes fez cinco alterações às vésperas da final e faturou o caneco graças a um gol de Marquinhos, um dos titulares barrados, que só entrou no segundo tempo.

Romário, por sua vez, fez logo dois, em sua estreia. O primeiro, aos 38 do segundo tempo – ou seja, com 18 minutos em campo. Outro, dois minutos mais tarde. O Vasco goleou: 6 a 0 no acanhado estádio de gramado irregular. Surgia ali um gênio da bola, um baixinho gigante que se tornaria o melhor jogador do mundo após o tetra que a seleção buscou em gramados norte-americanos, na Copa de 1994.

Curiosamente, Roberto, contundido, não jogou nem a final de 1988, nem a estreia de Romário. Mas isso é o de menos. O que vale é que Roberto Dinamite enfim terá sua estátua inaugurada, atrás do gol à esquerda da tribuna de honra de São Januário. Do outro lado, no gol da capela, eternizado pelo gol 1.000, marcado sobre o Sport em 2007, no mesmo estádio, já está a de Romário.

Os dois ídolos somam a impressionante marca de quase 2 mil gols marcados em suas carreiras. E agora, para a felicidade de toda a imensa torcida bem feliz, ambos os craques estarão novamente juntos, imortalizados na Colina histórica.