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SÓCRATES BRASILEIRO

por Elso Venâncio

Na década de 1980, com a liderança de Sócrates e outros jogadores politizados, como Casagrande, Wladimir e Zenon, surgiu a Democracia Corinthiana. Com o fim da era Vicente Matheus em 1982, Waldemar Pires assumiu a presidência do Corinthians e colocou o sociólogo Adilson Monteiro Alves como diretor de futebol. Adilson, com ideias avançadas, revolucionou a forma de administrar, viabilizando que os jogadores opinassem em todas as decisões: contratações, horário dos treinos, concentração, bicho, etc. Os atletas só não escalavam o time, tarefa essa do treinador.

O goleiro Leão, contratado no período da Democracia, reagiu: “Muita gente vota, mas só três decidem: Sócrates, Casagrande e Wladimir”.

Ao entrar em campo, o time levava uma faixa: “Ganhar ou Perder, mas sempre com democracia”. O Corinthians foi bicampeão paulista em 1981/1982, e o movimento ganhou corpo na luta contra a Ditadura Militar, influindo na volta da eleição direta para governador, em 1982. Nomes como Rita Lee, Washington Olivetto e Boni apoiavam publicamente as manifestações.

Um dos líderes da Democracia Corintiana, Sócrates nasceu em Belém/PA e cresceu em Ribeirão Preto/SP, onde estudou medicina e se tornou jogador profissional pelo Botafogo local. Após sua formatura, ele aceitou deixar cidade, sendo comprado pelo Corinthians por 350 mil dólares, numa das mais elevadas transações do futebol na época.

Durante a vitoriosa carreira, Sócrates jogou as Copas do Mundo de 1982 e 1986. Inclusive, foi capitão da famosa Seleção Brasileira de 1982, dirigida por Telê Santana. A equipe entrou para a história ao encantar o mundo na Copa da Espanha, mesmo derrotada nas quartas de final, por 3 a 2, pela Itália, no jogo conhecido como “A tragédia do Sarriá”. Nos clubes, além de Botafogo-SP e Corinthians, o Doutor vestiu também as camisas de Fiorentina, Flamengo e Santos. Ativista político, atuou com destaque nas Diretas Já, movimento para a retomada das eleições pelo voto popular para a presidência da República.

Sócrates sempre disse que queria morrer num domingo e com o Corinthians campeão, o que realmente aconteceu. No dia 4 de dezembro de 2011, o Timão venceu o Palmeiras por 1 a 0 e conquistou o Campeonato o Brasileiro. Na mesma data, o craque faleceu, com 57 anos, lutando contra o alcoolismo.

Após conquistar o Oscar com o filme “Ainda estou Aqui”, em março deste ano, o cineasta Walter Salles anunciou que vai dirigir o documentário “Sócrates Brasileiro”, em quatro episódios. Uma brilhante iniciativa para contar a trajetória do ídolo eterno do Corinthians e um dos maiores do futebol.

ELE VOLTOU!

por Zé Roberto Padilha

Tem horas, na vida de um jogador, diante de uma pesada carga de jogos, viagens e hotéis, que é preciso ter, como treinador, um das últimas espécimes do futebol arte.

E no lugar daquele enfadonho treino tático, interromper a rotina dos gladiadores que exigem o máximo desempenho, e ordenar: hoje vai ser uma pelada. E entregar dois jogos de coletes nas mãos dos jogadores.

E Renato Portaluppi, o mais carioca dos gaúchos, que jogou com Zico, Paulo César e Mário Sérgio, e foi campeão mundial, nacional e local, tem moral para pedir para trazer a arte de volta porque fez da bola seu pincel de Renoir.

Quem não jogou, nem imagina de onde o atleta tira tanta garra para lutar para vencer uma pelada. E olha que apostaram uma caixa num mundo em que ganham tanto quanto quem preside a Ambev.

E na segunda-feira, discípulo de Espinosa que foi, vai organizar um churrasco para unir o elenco. Poder levar a família, os filhos, e por aí iniciar a construção de uma nova família.

O vestiário, no futebol, acreditem, é construído na brasa, não com tijolinhos.

Enfim, nada como recuperar o prestígio, o carisma e o charme do futebol carioca trazendo de volta uma cria de Joel Santana. E que os portugueses, que pela segunda vez nos colonizaram, me perdoem.

Mas nessa praia, Maracanã, com o doce balanço a caminho do mar, o deboche, a ironia, as provocações, no Rio, da sutileza do amanhecer, quem melhor nos representa é Renato Gaúcho.

E a LDU que nos aguarde.

TRAGAM O SANTA CRUZ FC DE VOLTA

por Zé Roberto Padilha

Quando Elias Zacour, o empresário maior do futebol brasileiro, vendeu um pacote com 14 jogos na França. Grécia e Emirados Árabes, em 1979, para o Santa Cruz FC, nós tínhamos feito um grande campeonato brasileiro.

Chegamos às semifinais, mas ele nos negociou como campeões brasileiros. Como não tinha Internet, as informações, quando chegassem tão longe, já estaríamos de volta.

Joel Mendes, Carlos Alberto Barbosa, Lula Pereira (Alfredo Santos), Levir Culpi (Paranhos) e Pedrinho. Givanildo, Wilson Carrasco, Betinho, (Jadir) e Joãozinho. Luiz Fumanchu e Nunes (Volnei). Tecnico: Evaristo Macedo. Eu, contundido, viajei como intérprete.

Bicampeão pernambucano, um time inesquecível, alcançou, àquela época, ao fechar a excursão com um 2×2 diante do Paris St Germain, o recorde de invencibilidade alcançado por um time brasileiro, a Portuguesa de Desportos. Invicta por 11 jogos.

Nós ganhamos dez e empatamos quatro.

Já se vão 46 anos dessa histórica conquista. Está na hora do Mundão do Arruda voltar a se encher de gente e de orgulho por ter o seu time representado, com arte e dignidade, o país e conquistado a admiração por aqueles que amam o futebol pelo mundo.

Tragam o Santa Cruz FC de volta. Ele foi, e sempre será, um dos maiores clubes do futebol brasileiro.

A FINAL FELIZ

por Wesley Machado

Até esqueci da estreia da nova novela das nove. E hoje, quando perguntei se estava passando a novela, minha filha primogênita respondeu: “Já são mais de dez horas”, disse Luiza, assistindo a uma série.

Será o fim da tv aberta? Penso que não, mas o remake de Vale Tudo não me parece ter tanto chamariz assim apesar de tamanha propaganda. 

O final debochado da versão original, com o personagem de Reginaldo Faria dando bananas para o povo ainda está na minha memória e por mais sarcástico que tenha sido não agradou a criança que eu era na época e ainda me soa estranho. Para o remake, devo dizer: ainda não vi e já não gostei.

Talvez porque o que eu quero seja final feliz – nem sei como esta vai terminar, mas nas novelas sobram triunfos do mal, que – na minha opinião  – não deveria vencer.

Uma história diferente, de vitória do bem, aconteceu do Brasileirão de 2024 com o meu Botafogo. Equipe que no ano anterior passou uma das maiores vergonhas da sua história ao despencar do topo como um improvável elefante cai de uma árvore.

E por mais que não queiramos relembrar este malfadado passado, a fama de cavalo paraguaio havia grudado como papagaio de pirata no time da estrela solitária e atormentava a mente e os corações dos torcedores.

Mas eu comentava sobre 2024 – 2023 já passou faz tempo e aprendemos, ok. O destino reservou a decisão para a última rodada do campeonato. Era Dia de Nossa Senhora da Conceição (08/12), a quem o clube foi consagrado. O universo conspirava a favor. O Niltão abarrotado de gente, não tinha nem lugar para sentar.

Mas como sentar em um jogo desses? É uma partida para ficar ligado a cada lance. E se ajoelhar para rezar. Foi assim, de joelhos, que eu ouvi a torcida gritar no gol de Gregore, o gol do título daquele que oito dias antes havia sido expulso com menos de um minuto de jogo. Oito da sorte no Japão e do infinito.

Que agora nossa sorte seja eterna, como foi mais esta glória. Em 2024 – que não está tão longe assim e nunca é tarde para lembrar -, o botafoguense enfim foi feliz. Afinal, os melhores filmes – pelo menos para mim – são aqueles em que as coisas terminam bem. Resta saber para quem.

A PRINCIPAL CAUSA DA SELEÇÃO BRASILEIRA NÃO TER SIDO CAMPEÃ DO MUNDO EM 1982

por Luis Filipe Chateaubriand

Como se sabe, a Seleção Brasileira de 1982, favoritíssima ao título da Copa do Mundo realizada na Espanha, ficou fora da disputa do título após perder para a Itália por 3 x 2, com três gols do excelente Paolo Rossi.
Com a vitória, a Itália seguiu às semifinais, e o Brasil ficou pelo caminho.

Muitos motivos podem ser apontados para nossa Seleção não ter sido campeã, mas, especificamente na derrota para a Itália, um fator foi decisivo, e poucos lembram.

Zico estava machucado e entrou para jogar no sacrifício.
No jogo anterior, contra a Argentina – que o Brasil ganhou de 3 x 1 –, Zico recebeu uma entrada criminosa do grande defensor argentino Passarella.
Definitivamente, Passarella, que era um grande jogador, não precisava fazer aquilo, uma desonra para ele.
Aliás, no mesmo jogo, Maradona também cometeu uma entrada criminosa contra Batista – que, simplesmente, não pôde ficar à disposição para o jogo com a Itália.

Mas, voltando a Zico…
Era o melhor jogador daquela Seleção, o articulador, o artilheiro, a técnica pura e fatal.
Paulo Roberto Falcão era maravilhoso, mas menos decisivo.
Sócrates era espetacular, mas, às vezes, se desligava do jogo.
Leandro era fabuloso, mas, como lateral-direito, não podia colaborar tanto como um meia-atacante.

Zico era o craque do time.
Zico era a alma do time.
Zico era tudo para o time.
Mas, como ressaltado, entrou machucado para enfrentar a Itália.

No primeiro tempo, ainda jogou o “bolão” costumeiro, dando excelente passe para Sócrates fazer o primeiro gol brasileiro e sofrendo pênalti não marcado de Gentile, que até rasgou a camisa do “Galinho de Quintino”.
Porém, no segundo tempo, Zico mal conseguia caminhar e, assim, desapareceu do jogo.

Os mal-intencionados dizem que ele “amarelou” na hora decisiva.
Falso.
Simplesmente, não reunia condições físicas para jogar na plenitude.

Sem poder contar com seu principal jogador no momento decisivo, o segundo tempo do jogo, a Seleção Brasileira não resistiu ao ímpeto do excelente time italiano – que, por sinal, jogou melhor que o Brasil.
Não poder contar com Zico em plenas condições na hora decisiva foi um “baque”.
E, assim, a Seleção Canarinho teve que “enfiar a viola no saco” e voltar para casa derrotada.

Triste, mas verdadeiro.