NOTTINGHAM FOGO
por Wesley Machado

Há um tempo atrás o amigo Felipe Corvino achou engraçado o fato de eu ter ficado em dúvida entre torcer na Inglaterra para o Arsenal ou para o Crystal Palace, este último time que também era de John Textor, assim que o mecenas havia adquirido o meu Botafogo.
Não virei Crystal Palace e continuei torcendo para o Arsenal na Inglaterra. Da mesma forma que não vou passar a torcer para o Nottingham Forest, equipe pela qual simpatiza Corvino.
Explico: o Botafogo tem feito negociações com o Forest, para onde foram jogar primeiro o centroavante Igor Jesus e o zagueiro Jair e, agora, o goleiro John e o lateral esquerdo Cuiabano.
Como se costuma dizer no futebol, o Forest virou uma filial do Botafogo, que trouxe do clube inglês o volante Danilo.
O investidor do Forest é o bilionário grego Evangelos Marinakis, que pode aportar recursos no Botafogo.
EIS A QUESTÃO
por Eliezer Cunha

Já há algum tempo não me pronuncio através deste relevante canal de entretenimento, opiniões, debates e artigos. Venho assistindo e repensando sobre os fatos que tem ocorrido durante a prática dos jogos dos campeonatos regionais e nacionais, porém, com muita descrença sobre a justiça de seus resultados. O advento da inclusão do VAR nas decisões arbitrais durante as partidas são objetos de questionamentos frequentes, porém um detalhe mais notório me chama a atenção, os critérios ou a falta deles utilizados no que tange as marcações dos pênaltis envolvendo os componentes mãos e braços.
Houve ou não intenção de interrupção da jogada? Bola na mão ou mão na bola? A pelota está ou não indo em direção ao gol? O braço está adjacente ou disperso do corpo? Lembro que a regra no passado era clara a respeito desse episódio ficando apenas uma interpretação a cargo do juiz, decidir se foi intencional ou não a interceptação da bola dentro da grande área. Hoje o que vemos nas interpretações e julgamentos? Sinceramente desconheço.
No jogo Flamengo x Grêmio do último domingo uma bola atrasada (passe) por um jogador do grêmio encontrou involuntariamente o braço de um jogador do Flamengo e o entendimento do árbitro foi uma infração, pênalti. Sem apresentar nenhum evidente “perigo” de gol.
O VAR muitas vezes evidencia o fato, notifica, porém não se posiciona gerando uma expectativa geral onde todos são afetados, os jogadores, o árbitro de campo, a torcida e a imprensa, afetando a qualidade do campeonato e a reputação do futebol.
O que falta para as instituições por um ponto final nesta questão? Uma revolta dos jogadores e torcedores? Ações na justiça esportiva? Um colegiado de técnicos prejudicados para discutir a questão, uma interposição dos clubes?
A criação e o uso do VAR ainda não está validado, a sistemática de sua atuação não está clara e eficaz e todo o recurso tecnológico utilizado ainda não nos convenceu quanto às consistências dos fatos e a excelência e precisões das decisões arbitrais.
O FUTEBOL ARTE NÃO MORREU
por Wesley Machado

O pipoqueiro vascaíno decreta: “Empresa não tem amor”. Ele se refere à SAF do Botafogo. No meio da semana passada o Cruzmaltino foi superior ao Glorioso no Clássico da Amizade pela Copa do Brasil que terminou empatado.
Os torcedores passionais botafoguenses criticaram a equipe e para os adversários, amigos, amigos, futebol à parte. Eu, que fui dormir no intervalo, considerei o resultado positivo. Pressenti que não sairia mais gols.
E eis que vem o imprevisível final de semana em que o sofrimento, bem como a alegria são possíveis. O sábado de jogo começa com a triste notícia da partida do escritor Luis Fernando Veríssimo, botafoguense no Rio de Janeiro.
Porém bastaram 5 minutos para a felicidade tomar conta dos alvinegros. Com três gols de fora da área, o Fogão deixou a torcida mais tranquila. Mas que tranquilidade que nada. Com o Botafogo, tudo é mais difícil.
Nem com o placar em 3 a 1? Não, caro leitor. Eu vos digo: o botafoguense é um sofredor. Hoje nem tanto. Dia em que Santi parecia ser a estrela solitária a driblar tal qual Garrincha. Mas o Botafogo também tem Montoro.
O camisa 8 dá dois passes de três dedos a la Didi. O estádio vai a êxtase. Futebol bem jogado e goleada. E o Fogão embala de novo. Para a decepção dos invejosos, o Botafogo prova que o futebol arte não morreu.
GOLAÇO E CASTIGO
por Elso Venâncio

O Flamengo teve uma semana para trabalhar e acabou se desconcentrando. A atuação nos 8 a 0 sobre o Vitória foi mágica e histórica, mas atípica. Ainda estava viva na memória dos rubro-negros, mas tinha que ter sido momentâneamente esquecida. O oba-oba com o milionário patrocinador master precisava ser tratado e comemorado fora do Maracanã, e não em dia de jogo.
Apesar do empate por 1 a 1 com o Grêmio, o gol de placa de Arrascaeta merece ser ressaltado. Tabela com Pedro e conclusão certeira, maliciosa, parecendo fácil, mas que só é possível para quem sabe o caminho do gol. O uruguaio, principal nome rubro-negro na temporada, tem 12 gols só no Campeonato Brasileiro — três a menos que o artilheiro, Kaio Jorge, do Cruzeiro —, além de muitas assistências. No ano, são 17 gols, vários deles os mais bonitos do nosso futebol.
Por outro lado, o Flamengo não teve a intensidade das outras partidas e diminuiu o ritmo após o gol, sofrendo o castigo de um pênalti em que a bola tocou no braço do Ayton Lucas. O goleiro Tiago Volpi empatou, lembrando a forma de cobrar de Jorginho. Aliás, o desfalque desse excelente meio-campo não foi sentido, pois De La Cruz reapareceu bem. Após ter sido acusado de estar com o joelho bichado, foi um dos melhores em campo, pedindo para sair apenas quando se cansou. Já Samuel Lino não se encontrou, ficando aquém do que se espera. Matias Viña merece sua chance na lateral-esquerda, visto que Ayrton Lucas também deixou a desejar.
Por mais que o Flamengo tenha mantido a liderança, com 47 pontos, a diferença para o segundo colocado diminuiu. Hoje, o Cruzeiro tem 44, com um jogo a mais. Já o Palmeiras, terceiro colocado, também empatou na rodada e foi a 43 pontos, mas possui uma partida a menos em relação ao clube da Gávea.
Neste Brasileirão, o Flamengo realizou seu melhor primeiro turno na história dos pontos corridos. Foram 43 pontos conquistados nos 19 primeiros jogos, numa campanha superior até à de 2019, com o português Jorge Jesus, que chegou a 42.
Filipe Luis sabe que não é fácil liderar astros, como afirmam alguns. É preciso dar exemplo, sendo disciplinado e disciplinador. No recente episódio com Pedro, exagerou, levando a público um caso que poderia ser resolvido internamente. Na beira de campo, o treinador já demonstrou sua competência. Os “professores” que se julgam eternos ficam ligados, e ainda há as antigas “viúvas” de Jorge Jesus, que nunca iria repetir o trabalho feito em 13 meses no clube. Vale lembrar que o Flamengo também está vivo na Libertadores!
O CRAQUE DE INCONTÁVEIS GOLS DE LETRA
por Cláudio Lovato Filho

O que dizer de Luis Fernando Verissimo, de sua genialidade, de sua generosidade, que já não tenha sido dito? Meu sentimento e o de muita, muita gente é de profunda tristeza por uma perda que deixa o Brasil culturalmente mais órfão – sentimento só superado por uma imensa gratidão pelo prazer e pela inspiração que a leitura do que ele escreveu nos proporcionou e pelo legado que continuará a encantar e fazer pensar.
De todo modo – como sempre foi e como sempre será – o melhor mesmo é deixar que ele fale. Escolhi o texto que segue – Centroavantes – para esta singela homenagem ao mestre que nos deixou no sábado, 30 de agosto, aos 88 anos, e que era um completo apaixonado pelo futebol e pelo seu Internacional.
CENTROAVANTES
Eles são difíceis, os centroavantes. Reúnem-se em lugares certos, em várias partes do mundo, mas não se olham nos olhos. Trocam lamúrias e reminiscências, como em qualquer confraria de especialistas, mas é como se estivessem sozinhos. De vez em quando levantam a cabeça e olham e volta, à procura de um possível empresário ou de um fã antigo. Mas não se encaram. Sabem que a qualquer momento terão que trair o companheiro ao lado. Se lhes perguntarem: “Conhece um bom centroavante?”, terão que responder:
– Só conheço eu mesmo.
E se insistirem, “Me disseram que o Fulano ainda joga…” responderão:
– Não joga, bebe muito e arrasta uma perna. De centroavante só conheço eu mesmo.
Eles são sombrios e tristes, os centroavantes.
Você os encontrará em velhas tascas do Bairro Gótico em Barcelona depois de se acostumar com a escuridão. Em algumas esquinas de Milão, encolhidos do frio dentro das suas japonas. Em Chacarita. Na Cinelândia. Em Marselha, no restaurante de peixe do velho Renard, um centroavante que desistiu antes dos 36 porque perdeu um joelho.
– E o seu joelho, Renard?
O velho corso toma um gole de “blanc”.
– Ainda está rolando por um campo da Catalunha.
– Como é que foi, Renard?
– Um beque sem mãe.
– E onde está o beque, Renard?
– Junto da sua mãe.
Você os conhece de longe.
Centroavantes, toureadores velhos e mercenários, você os conhece de longe. São sobreviventes de profissão. Estiveram com a morte e voltaram, e têm as cicatrizes para provar. Restam poucos centroavantes no mundo. O jeito desconfiado, os gestos tensos, o cigarro nos dedos nervosos, os olhos cansados, você os conhece.
Os centroavantes só falam nos companheiros mortos ou nos que pararam, os outros são concorrentes. Centroavante bom e vivo só conheço eu mesmo. Eles fumam muito, os centroavantes. Mas cuidam para não tossir na frente do empresário.
– Com quantos anos você está?
– Vinte e sete.
– Você quer dizer trinta e sete.
– A bola não sabe a diferença.
Nos treinos tratam de brigar logo com o treinador, chutar a bola longe e sair de campo, senão não aguentariam. Eles sabem que o treinador os irá procurar depois no quarto do hotel e pedir perdão. São raros, os centroavantes.
– Você me insultou.
– Só disse que você estava muito parado.
– Meu pé conhece mais futebol do que você inteiro.
– Está certo. Volte para o treino.
– Eu não treino. Eu jogo.
– Está certo.
São difíceis, os centroavantes.
Quando se reúnem, falam dos que morreram ou dos que pararam. Sem se olharem nos olhos.
Falam de Carrara, o Italiano Louco, que uma vez comeu um bandeirinha vivo e foi retirado de campo por um batalhão de carabinieri, ainda mastigando o pano da bandeira e ofendendo a arquibancada. Nenhum bandeirinha jamais viu Carrara em impedimento, depois disso.
Falam de Bahal, o Turco de olhos vermelhos, o peito de um touro e um dedão de 10 centímetros em cada pé. Bahal, morto com uma adaga na nuca dentro da pequena área, na cobrança de um córner. Antes de morrer – mas isto já é lenda – teria feito o gol com uma lufada de sangue.
Falam de Lúcio, o Poeta, um brasileiro esguio com pomada no cabelo, outra história trágica. Lúcio tinha um chute mortal. Um dia errou a goleira, a bola subiu, venceu a cerca, venceu a arquibancada de São Januário, caiu na rua, acertou a cabeça de uma moça dentro de um Lincoln conversível – a cantora Rosa de Rose, o Rouxinol Louro – e a matou. Rosa era noiva de Lúcio, o caso emocionou o Brasil. Esperava o fim da partida para levá-lo ao Cassino da Urca. Lúcio enlouqueceu. Nunca mais jogou futebol. Hoje é funcionário do Maracanã e de vez em quando se distrai. Em vez do grande círculo, desenha com cal no gramado o nome de Rosa de Rose.
Falam de Tamul, a Gazela Africana, rápido como o raio, que jogava descalço e mordia a trave sempre que perdia um gol. Tamul tinha os dentes esculpidos. Um era o Taj Mahal. O outro, a Torre Eiffel. Um torto, bem na frente, era a Torre de Pisa. Outro, o Obelisco da Place Vendôme. O Arco de Constantino.
Falam de McMoody, o anão escocês, que batia pênalti de cabeça e tinha placas de aço em vez de canelas.
Falam do argentino Lombroso, que chutou a cabeça do goleiro para dentro do gol. Não teria sido nada se ele não tivesse saído comemorando.
Falam de goleiros com desdém e de beques centrais só antes de cuspir. Os centroavantes tendem a engordar e a emagrecer como os outros respiram. E têm pesadelos. Sonham que a grande área é um pântano, que não conseguem pular, que a bola é de ferro e que o tempo passa.
São raros, os centroavantes.