PAULINHO CARIOCA -A ARMA SECRETA
por Luis Filipe Chateaubriand

Paulo Roberto Ferreira Primo, o Paulinho Carioca, foi um ponta esquerda hábil e veloz que se destacou no Fluminense e no Corínthians.
Na Seleção Brasileira de Júniores, em 1983, brilhou, compondo uma linha de frente com Mauricinho, Geovani, Bebeto, Gilmar Popoca e ele – foram campeões mundiais.
No Fluminense, sendo reserva de Tato, era uma espécie de “arma secreta”.
O plano era o seguinte: Tato se desdobrava, cansando o lateral-direito adversário, e toda a defesa adversária, no primeiro tempo, para Paulinho Carioca, descansado, entrar no segundo tempo e desgastar ainda mais a zaga do outro time, acabando com o jogo.
Paulinho Carioca, assim como Tato, tinha a ajuda de laterais esquerdos de classe inquestionável, como Branco, Renato e Eduardo.
Foi assim que, nas finais do Campeonato Carioca de 1984, contra o Vasco da Gama, Paulinho decidiu o jogo – decretando os 2 x 0 finais aos 42 minutos do segundo tempo.
Sempre útil e vindo do banco com disposição, Paulinho Carioca decidiu o Campeonato Carioca de 1985.
Com uma cobrança de falta espetacular, quase no final do jogo, fez o gol da vitória Tricolor, 2 x 1 em cima do Bangu – um épico de nosso futebol!
O Fluminense, assim, conquistava o seu terceiro tricampeonato estadual – feito que o clube das três cores que traduzem tradição não mais repetiu.
Depois de ficar na reserva mais constantemente em 1986 e 1987, Paulinho Carioca se transferiu para o Corinthians, em 1988.
Se esperava que fosse reserva novamente – desta vez, de João Paulo, consagrado ponta esquerda.
Só que não.
João Paulo começou a jogar no meio de campo e, com isso, Paulinho Carioca ganhou a titularidade do Timão.
Um achado do ótimo técnico Jair Pereira.
Paulinho Carioca fez um excelente Campeonato Paulista, e o Corínthians se sagrou campeão do certame, depois de cinco anos de espera.
Depois, jogou no Palmeiras, com menos êxito, e também em outros clubes, como o Puebla do México e o Volta Redonda, antes de se aposentar.
O homem saia do banco e decidia partidas importantíssimas.
Ganhou três títulos estaduais (1983, 1984, 1985) e um título brasileiro (1984) pelo Fluminense.
Ganhou um título estadual (1988) pelo Corínthians.
O cara era vencedor, e é ídolo do clube do querido pavilhão até hoje.
EDINHO, 70 ANOS: O ZAGUEIRO QUE FAZIA CHOVER
por Paulo-Roberto Andel

Edino Nazareth Filho, o Edinho, eterno zagueiro do Fluminense, completa 70 anos nesta quinta-feira e isso é inacreditável porque outro dia mesmo ele estava no Maracanã fazendo o impossível no gramado: dribles, passes e gols a granel, tudo isso jogando como defensor.
Desarmava, criava e concluía com a mesma categoria. Era fisicamente um touro. Corria feito um louco. Com suas arrancadas, ele levava o Fluminense a vitórias e a torcida ao delírio. Não aceitava a derrota de jeito nenhum. Craque de garra infinita: depois dele, somente Romerito e Conca chegaram perto em termos de aliar talento e vigor na mesma intensidade.
Numa tarde de 1975, Seu Pinheiro – eterno ídolo tricolor, então maior zagueiro da história do FFC e homem forte das divisões de base, foi à sala do eterno presidente Francisco Horta – que fazia questão de ouvi-lo em tudo:
“Doutor, o menino tem que jogar!”
Dito e feito: entrou e só saiu do time titular sete anos depois, quando foi vendido para a Udinese. Com 20 anos, tornou-se titular da Máquina Tricolor, o mais emblemático time tricolor em todos os tempos. Aos 21, chamava Carlos Alberto Torres e Rodrigues Neto de você. Aos 25 era o líder do maravilhoso Fluminense campeão de 1980. Jogou três Copas do Mundo e foi um monstro no México em 1986.
Depois, como treinador do Flu, levou o clube a duas finais do Campeonato Carioca com times modestos, mostrando a sua vocação para a disputa de títulos.
Os garotos tricolores que hoje têm cerca de sessenta anos de idade ficaram loucos com Edinho em campo. Ele foi uma força da natureza, uma explosão e uma presença que se eternizaram no ideário tricolor. O craque que não aceitava perder, o craque da garra infinita, que salvava um gol certo e cinco segundos depois arrancava para marcar o gol da vitória. Quando perdia um jogo, era aplaudido pelo esforço para tentar impedir o revés. A torcida sabia que ali estava um jogador inigualável. Sim, o Flu teve zagueiros fantásticos e inesquecíveis a seguir, todos no Olimpo de Álvaro Chaves – Ricardo Gomes, Torres, Válber, Thiago Silva e outros – mas coube a Edinho o título de maior zagueiro da história do Fluminense porque só ele encarou de frente a Zico, Mendonça, Adílio, Roberto Dinamite, Arthurzinho, Doval, Reinaldo, Éder, Sócrates, Zenon, Jorge Mendonça, Pita, Tita, Aílton Lira, Falcão, Joãozinho, Uri Geller e Muller sem contar super craques em times estrangeiros.
Edinho é um eterno escudo do Fluzão, conturbado no peito e tatuado no coração. Aqueles garotos sessentões de 1975 carregam o craque consigo há muitos anos e continuarão para sempre.
@p.r.andel
APOSTA NO ANCELOTTI?
por Elso Venâncio

O astral mudou com a chegada de Ancelotti à CBF. Mas, isso só foi possível com a troca de comando no futebol brasileiro. Como num toque de mágica, o ambiente ficou descontraído e confiante. Os colaboradores da entidade viviam acuados, amordaçados, inseguros e espionados. Agora, aguns chegam a postar fotos com o técnico italiano no Instagram, algo antes impensável. Rodrigo Caetano, que nunca esteve à vontade em seu cargo, está com nova postura, a ponto de opinar e influir nas convocações. Até faz lembrar Ricardo Teixeira, que exigia ver a lista de convocados, além de ter poder de veto. Acho saudável ter um dirigente acima do diretor de Seleções, com poderes e decisões que não desgastem o presidente recém-eleito.
Receber Ancelotti de braços abertos é justo, mas não como se ele fosse a nossa última esperança. O treinador tem um excelente currículo em clubes, mas não é nenhum salvador da pátria.
Ancelotti pode dar certo? Dirigiu, sim, brasileiros no exterior, mas não conhece os que atuam hoje no país, nem a nossa cultura. Aqui, o casamento acaba após a lua de mel. Basta haver um ou dois tropeços. Pelo descrédito dos últimos anos, os desmandos e o mais longo período da história sem títulos mundiais, há uma exaltação exacerbada desde a sua chegada.
A relação dos primeiros convocados de Ancelotti repete nomes que vimos com Diniz e Dorival, promove resgate de veteranos que estavam sepultados, e traz poucas novidades. Foi acertada a decisão de não contar com Neymar, que continua sendo uma incógnita. O treinador teve a habilidade de ligar para o atacante, estancando qualquer tipo de crise. Outro fator positivo foi chamar cinco jogadores do Flamengo, que poderia, já há algum tempo, ser a base do time. Antes do contato pessoal com o grupo, o italiano já conheceu a Granja Comary e marcou presença em alguns jogos de clubes brasileiros, indo aos estádios.
Enfim, começa a era Ancelotti. Na próxima quinta-feira (5), o adversário será o Equador, em Guaiaquil, pela 15ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. No dia 10, quando o treinador completa 66 anos, o jogo será contra o Paraguai, na Neo Química Arena, do Corinthians.
As Eliminatórias, terminam em setembro, tendo Chile e Bolívia ainda no caminho do Brasil. Já os amistosos (Datas FIFA) começam em outubro. Serão 10 jogos até a convocação para o Mundial, com mais dois antes do início do Mundial. Por enquanto, além de buscar a classificação, há o desafio de reaproximar o torcedor brasileiro com a sua maior paixão. Você aposta que Carlo Ancelotti terá sucesso, dirigindo a Seleção Pentacampeã do Mundo?
CAMPO VAZIO
por Marcos Vinicius Cabral

No lugar da torcida, a presença visível e invisível da tristeza. Ao invés do goleiro que salva, uma rede viúva. Na falta dos jogadores, um silêncio que faz um barulho que machuca nas profundezas da alma.
Talvez um campo de futebol seja uma das pinturas mais perfeitas que Deus, o Criador, tenha produzido até hoje.
Ausentes do encanto da torcida, da atmosfera futebolística, do craque que encanta o desencanto de quem trabalhou o mês para comprar o ingresso e ver o time de coração jogar… sorriso de vitória, falta dele na derrota!
Embora haja os enganos da bola que, perversa, busca o chute perfeito, a luta do jogador esforçado compensa o gol perdido. Vencer é bom, competir melhor ainda!
Uma das maiores tristezas na vida de um apaixonado por futebol é, sem dúvidas, observar com os olhos congestionados por lágrimas de um choro que não se pode conter.
Futebol é emoção. É um pertencimento nunca visto em outro esporte coletivo!
A bola é protagonista e os jogadores, às vezes, antagonista no tablado verde.
Mas existe esse vazio, sim. E preenchê-lo é o desafio da humanidade. Fim de semana sem futebol é como o pássaro que canta o mais lindo dos cantos mas está enclausurado numa gaiola.
Deus, perdoe-os pela insensatez e insensibilidade, pois não sabem o que fazem!
O futebol aproxima rivais. Reata relacionamentos. Torna inimigos em adversários e na sua complexidade de ser um esporte universal faz com que, muitos de nós – pelo menos uma vez na vida – cometa uma loucura para ver 22 jogadores correndo atrás de uma bola.
Ah, futebol, te amo há 51 anos. Foi por você que me tornei jornalista, criei vínculos de amizades com gente do meio e ganhei o carinho transvestido de reciprocidade de ex-jogadores de vários clubes.
Tudo passa e tudo passará… todavia, o futebol vai ficar para sempre.
TREINAR PELA MANHÃ? PARA QUÊ?
por Cassyus Marcellus

A ciência já provou: o futebol brasileiro precisa mudar
Enquanto a maioria das partidas da Série A, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana acontece no fim da tarde ou à noite, muitos clubes ainda mantêm treinos regulares pela manhã. O que parece hábito, tradição ou disciplina é, na prática, uma decisão técnica desalinhada com as evidências científicas do esporte de alto rendimento.
A fisiologia, a neurociência e a cronobiologia esportiva demonstram, de forma robusta, que o horário de treinamento impacta diretamente o desempenho, a recuperação e a prevenção de lesões.
O corpo humano funciona em ciclos biológicos que regulam variáveis como temperatura corporal, coordenação motora, excitabilidade neuromuscular, potência muscular, tempo de reação e foco cognitivo. Estudos indicam que o desempenho atinge seu pico quando os treinos respeitam o princípio da especificidade, ou seja, estão alinhados com as exigências reais da competição, incluindo o horário dos jogos. Assim, o organismo está em sua máxima capacidade motora, de força e clareza mental, favorecendo a melhor adaptação do treino para o jogo.
Treinar sistematicamente pela manhã, quando o corpo ainda está em fase de ativação, com temperatura mais baixa e menor atividade do sistema nervoso central, fere esse princípio e prejudica a transferência para o contexto competitivo. Quando a rotina ou a logística se sobrepõem à fisiologia, os prejuízos são claros: aumento do risco de lesões, fadiga acumulada e queda de desempenho.
Por outro lado, clubes que estruturaram suas rotinas respeitando a cronobiologia, com treinos intensos no mesmo período das partidas, reportam redução nas taxas de lesão, maior consistência de rendimento e mais longevidade física dos atletas.
A hora certa de treinar: quando o corpo está pronto para render
A performance no futebol depende de variáveis fisiológicas reguladas pelos ritmos circadianos. Por isso, treinar nos mesmos horários dos jogos — geralmente à tarde ou à noite — otimiza a adaptação neuromuscular, a tomada de decisão sob estresse e a transferência do treino para a competição. Além disso, respeita o ciclo natural de ativação fisiológica, maximizando força, potência e clareza mental.
Em contrapartida, sessões pela manhã exigem esforço elevado quando o organismo ainda está em transição, comprometendo rendimento e aumentando o risco de lesões. Adaptar os horários de treino à realidade competitiva não é apenas uma decisão operacional, mas uma estratégia científica para preservar a saúde, aumentar a longevidade e melhorar o desempenho dos atletas.
Treinar bem não é treinar pela manhã: é treinar com inteligência
No alto rendimento, o treinamento deve priorizar a performance e a integridade física, e não se submeter a convenções ou facilidades logísticas. A cultura de treinar cedo precisa ser revista à luz das evidências científicas. Não se trata de treinar mais ou parecer mais disciplinado, mas de treinar com inteligência, especificidade e conexão com as demandas competitivas.
Treinos matinais podem ser utilizados de forma pontual e estratégica — por exemplo, para sessões de recuperação ativa ou reabilitação — mas não devem ser regra para os treinos principais. Alguns clubes já adotam boas práticas, como reservar as manhãs seguintes aos jogos para sessões regenerativas com crioterapia, equipamentos de compressão, contraste térmico, mobilidade, fisioterapia e trabalhos individualizados. Ainda assim, há casos de sessões inadequadas nesse período, com riscos evitáveis.
Futebol melhor e jogadores com carreiras mais longas
O futebol brasileiro precisa de mudanças estruturais, e a adequação do horário de treino é uma delas. Estudos comprovam que alinhar treinos aos horários dos jogos reduz lesões, amplia a longevidade dos jogadores e melhora a qualidade técnica do futebol.
Essa mudança é um dos pilares de um modelo mais moderno e eficaz de desenvolvimento esportivo. Respeitar ritmos biológicos, investir em estratégias de recuperação e aplicar treinamentos baseados em evidências são atitudes indispensáveis para o futuro do futebol nacional.
Está mais do que na hora de o futebol brasileiro ouvir a ciência, abandonar práticas ultrapassadas e investir em um modelo em que rendimento e saúde caminhem juntos. Porque, no fim das contas, o espetáculo dentro de campo começa fora dele — com planejamento, conhecimento e coragem para evoluir.
Cassyus Marcellus
Pós-graduado, Profissional de Educação Física, Curso superior em Treinamento Físico, ex-jogador de Futebol.