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O ARANHA NEGRA

por Israel Cayo Campos

Nunca pensei que gostaria tanto de assistir um filme russo que não fosse sobre a Segunda Guerra mundial, mas Lev Yashin: O Aranha Negra, foi um dos melhores filmes que assisti nesse início de ano.

O filme mostra como o jovem trabalhador soviético de grande estatura para época e braços extremamente largos é designado ao gol do Dynamo de Moscou. O filme começa mostrando que ele ainda era o terceiro goleiro da equipe quando em um clássico contra o Spartak, o goleiro titular, Aleksey Komich, acabou se lesionando, dando a Yashin a oportunidade de entrar em campo (já que o goleiro reserva também estava lesionado). Sabemos que em 1949 (quando se passa tal situação no filme), não existiam substituições permitidas no futebol, portanto, tal acontecimento passa por um conjunto de alegorias que mostram o como o Aranha Negra sofreu até se tornar o número um debaixo das traves do Dynamo.

Nesse clássico (que ocorreu, em 1950), ele chega a entrar, mas acaba tomando um gol a partir de uma falha (que representa muitas que sofreu até se estabelecer no esporte), irritando torcedores e os membros do Comitê Central Soviético que também torciam para o time branco da capital.

Enquanto seu pai sonhava em vê-lo voltar às fábricas soviéticas, onde já tinha sido considerado o funcionário padrão (e quase tido um colapso por isso), Lev não desistia de seu sonho. Viver do futebol!

Após uma rápida passagem pelo Hóquei, Yashin volta ao futebol e assume o lugar de Khomich, que numa reformulação da equipe acaba sendo dispensado do Dynamo. Mesmo assim, o Tigre (como era conhecido Khomich, dado a uma grande defesa feita numa excursão do clube para a Inglaterra), apoia o jovem e promissor garoto que se tornaria uma lenda, deixando claro que ele seria o maior goleiro da União Soviética e que deveria sempre lembrar a importância de estar representando seu povo!

O filme corta para o duelo contra o Torpedo de Moscou, time que seria a terceira ou quarta força da capital soviética. Yashin, já mais maduro e participando do jogo como um jogador de linha, fecha o gol e ainda defende a penalidade marcada para os adversários. Apesar de ser chamado de palhaço por seu jeito espalhafatoso de se posicionar dentro da grande área, sempre longe da pequena área como era comum, Yashin saiu aclamado como herói da partida.

Após cenas de amor e de seu casamento, o filme dá um salto para 1960, quando Yashin já era comparado a figuras como Iuri Gagarin, que um ano antes havia sido o primeiro ser humano a dar uma volta espacial sobre o Planeta Terra. Neste ano, Yashin que já era campeão olímpico com a URSS, ia disputar a Eurocopa com um time favorito à conquista.

Na final contra a Iugoslávia, em um campo encharcado, a partida termina igualada em um a um, o que leva o jogo para a prorrogação. Após uma cobrança de escanteio dos atuais sérvios, Lev sai na cabeça do atacante balcânico e encaixa a bola, algo que hoje pode ser natural, mas que a época era uma revolução para os goleiros. Ao lançar a bola ao ataque, sai a jogada soviética que resulta no gol de Viktor Ponedelnik. A URSS, em pleno Parc Des Princes na França, torna-se o primeira seleção campeã europeia de futebol. E o herói da conquista se torna o Aranha Negra.

Sobre a indumentária toda negra, Yashin em visita ao Rio de Janeiro explicou:
“Eu penso que meu uniforme sombrio e sem atrativos permite ao goleiro ser menos visto pelos atacantes adversários. Mais ainda: acredito que a roupa clara ou mesmo outra cor, até berrante, permite melhor alvo a quem chuta. Em suma: atrai mais a vista dos que nos agridem. Acho que devo ter minha razão na escolha. Depois que passei a me vestir de preto, Beara e Šoškić, da Iugoslávia; Grosics, da Hungria; e Schrojf, da Tchecoslováquia, não quiseram saber de outra cor.”

Uma dica que os goleiros dos anos 1990 não aprenderam, principalmente o baixinho mexicano Jorge Campos que chamava gol não só pela sua baixa estatura, mas pelas cores berrantes de seus uniformes!

Sondado simplesmente por Santiago Bernabéu, presidente do Real Madrid, após o título da Europa, Yashin recebeu um cheque em branco para migrar para o time merengue. Contudo, o coração de Yashin era de outro time branco: O Dynamo de Moscou, o que lhe fez educadamente recusar a oferta! Lev (que em russo quer dizer Leão) demonstrava um dos maiores exemplos de amor à camisa que nos dias de hoje nunca mais veremos.

Em Copas do Mundo, Yashin já havia conhecido o poderio de Mané Garrincha em 1958 nos famosos primeiros três minutos mais incríveis da história das Copas, mas em 1962, com sua seleção campeã europeia, os soviéticos eram os grandes adversários dos brasileiros na conquista do título. Contudo, nas quartas de final contra o anfitrião Chile, após um choque com o atacante chileno, Yashin ficou desacordado, e ao voltar a si, ainda zonzo, acabou falhando nos dois gols chilenos que levaram a eliminação soviética do torneio. Para a imprensa do país não havia dúvidas sobre o culpado pela eliminação da seleção, era o Aranha Negra.

Não tenho relatos soviéticos que comprovem isso exceto o filme, mas após as falhas de 1962, Lev passou por um processo de fritura similar ao que o Barbosa sofreu pós 1950. Como os jogos eram transmitidos via rádio, o torcedor acabou ficando com a versão da imprensa que o acusou de ser o único culpado da eliminação e começou a persegui-lo em sua casa, fazendo pixações ofensivas a ele e a sua família e depredando seus patrimônios como por exemplo seu carro. Mas ao contrário do nosso Barbosa, Yashin teria uma nova chance de dar a volta por cima.

Mesmo no banco de reservas, vaiado por muitos torcedores inclusive do seu time e pensando em encerrar a carreira já aos 34 anos, Yashin recebe a convocação para o jogo comemorativo dos 100 anos do estabelecimento das regras do futebol no estádio de Wembley. No convite, O Aranha Negra é citado como o melhor goleiro do mundo de todos os tempos.

Ele que iria atuar numa seleção de craques contra os inventores do futebol. Entre esses estavam Alfredo Di Stéfano, Gento, Eusébio e o brasileiro Djalma Santos. O combinado da FIFA perdeu por dois gols a um para os ingleses mais entrosados. Contudo, Yashin faz mais uma partida soberba impedindo que os Ingleses goleassem! Além de conhecer a Rainha Elizabeth II, Yashin retorna a Moscou dando a volta por cima. Recuperando seu respeito roubado um ano antes! Um detalhe foi que o Aranha Negra pela primeira e única vez vestiu uma camisa amarela!

Com cinco títulos soviéticos, três Copas da URSS, um título Olímpico, uma Eurocopa e mais um vice em 1964, chegava a hora do velho leão pendurar as luvas, mas não antes de fazer mais um jogo espetacular novamente contra um combinado mundial, só que dessa vez atuando no estádio Lujnik, em Moscou. O único goleiro da história a ganhar o prêmio da Bola de Ouro em 1963 novamente faz uma atuação de gala, fechando a trave contra nomes como Gerd Muller e Bobby Charlton que era campeão do mundo em 1966.

Sendo 1996, um ano que o filme dá pouco enfoque, mas que Yashin faz sua melhor campanha em Copas do Mundo com os soviéticos alcançando o quarto lugar! Muito graças a suas defesas antológicas.

Segundo dados da FIFA e da IFFHS, Yashin tomou 72 gols em 74 partidas com a camisa da Seleção soviética, menos de um gol por jogo! E segundo a FIFA, o goleiro chegou a defender 150 penalidades máximas. Um número espetacular para a história de qualquer arqueiro.

O que pouca gente sabe é que perto dos 41 anos, Yashin ainda foi chamado para a Copa de 1970. Devido a lesão do goleiro titular, Yevgenyi Rudakov, às vésperas do mundial. Embora todos esperassem que ele jogasse, principalmente após as falhas do goleiro principal, o Leão soviético limitou-se apenas a ser uma espécie de interlocutor dos jogadores de seu país nesse mundial… Após vários amistosos contra combinados de todas as partes do mundo, Yashin encerrou de vez a carreira aos 42 anos em 1971.

Contudo, seu legado ficou para sempre: Prêmio do Comitê Olímpico Internacional, prêmios em 1972 e em 1994 dados pela FIFA como o melhor goleiro do século XX, e o famoso Prêmio Lev Yashin, dado pela FIFA ao melhor goleiro do ano, sendo depois rebatizado de Prêmio Luva de Ouro, mas que nunca deixou de ser chamado pela mídia de Prêmio Yashin. Sendo que esse seu nome foi “apoderado” para dar o prêmio o melho goleiro do mundo dessa vez pela France Football em seu prêmio Bola de Ouro. Uma confusão completa! Mas em ambos os casos, o nome do troféu e o homenageado é o Aranha Negra!

O legado de Yashin e suas histórias são gigantescas dentro do futebol. Pelé chegou a dizer que o seu time da URSS nos anos 1950 foi um dos melhores de todos os tempos em uma de suas últimas entrevistas ao Bolívia Talk Show… O Aranha Negra foi de fato o maior goleiro do Século XX.

Particularmente, não me incomoda um adolescente ou alguém que não liga para futebol não conheça a história do goleiro soviético, mas profissionais formados em jornalismo e que se dedicam ao futebol sequer saberem um pouco da história desse gênio, sempre sobre a alegação demagógica de que não o viram jogar, é algo patético! Eu não vi o Pelé jogar e nem por isso diria que ele não foi o maior de todos os tempos! Um pouco de cultura e leitura é fundamental! Eu também não o vi atuar pelo seu amado Dynamo, mas fui buscar um pouco da história desse gênio das traves! Então a esses que só conhecem o presente e mesmo assim vão falar de futebol como se fossem sumidades, desejo mais humildade e leitura sobre os grandes nomes que fizeram esse esporte! Pois com certeza, o ‘’Leão, Aranha Negra’’ está nela!

Yashin nos deixou no ano de 1990, vítima de câncer de estômago em sua querida Moscou.

ELE AINDA ESTÁ AQUI!

por Zé Roberto Padilha

Ao contrário das últimas Copas do Mundo, não iremos mais fazer nossas pré-temporadas na Europa. Aquela preparação longe do carinho do torcedor, que nunca mais levou sua seleção pelos braços até o Galeão, como fez o Fluminense, como fez o Botafogo.

Pátria amada, Brasil.

Da última convocação, para o Catar, 96% dos convocados jogavam longe daqui, atuaram com treinadores que limitavam, como Guardiola, Ancelotti, toda a criação ilimitada do jogador brasileiro.

Muitos nem falavam mais português.

Tic-tac, dois toques, poucos dribles e foram moldando os Meninos da Vila, os Guerreiros de Xerém, os sobreviventes do Ninho em atletas tão previsíveis como os croatas. E os suecos.

Com a volta do nosso camisa 10, a última genialidade produzida pelos laboratórios do país do futebol, estamos recuperando boa parte do nosso acervo esportivo. Não precisaremos mais dar a bola de ouro da revista Placar para um 10 equatoriano (Savarino), um uruguaio (Arrascaeta) um francês (Paye) e um colombiano (Arias).

O do Corinthians também não é o Rivelino. É um outro argentino.

A volta do Neymar é mais do que uma festa bonita que aconteceu na Vila Belmiro. É o reencontro do Brasil com seus meninos que valem ouro. E nos elevaram a alcançar a hegemonia do futebol mundial.

A Libertadores foi apenas um aperitivo. Com Neymar, e tudo que retorna à sua volta, a próxima Copa do Mundo será de novo nossa.

AH! O MARACANÃ…

por Zé Roberto Padilha

Certa tarde, mais precisamente, dia 4 de abril de 1976, Flamengo x Vasco se enfrentavam pela terceira rodada do Campeonato Carioca. Era apenas o primeiro clássico. Nenhum apelo maior.

Era um domingo de praia e, na saída, 174.440 mil pessoas tiveram a mesma ideia: “Vamos ao Maracanã?”

Estava na sala de aquecimento, vestia a 11 rubro-negra e a sala tremia. Algo de estranho deve estar acontecendo do lado de fora, pensamos. Um terremoto?

Aí chegou o trio de arbitragem e pediu para seguramos 10 minutos, para melhor acomodar tanta gente que surgia. Depois, voltaram a nos pedir mais 20 minutos. Tinha gente invadindo o anel superior porque não tinha mais espaço nas arquibancadas, nas cadeiras e na geral.

174.440 pessoas foram nos ver jogar. O terceiro maior público da história do Maracanã e de todos os estádios do mundo. Um barulho ensurdecedor se fez logo aos 4 minutos quando Zico deixou Geraldo na cara do gol e ele rolou para Luizinho abrir a contagem. O jogo acabou 3×1 para o Flamengo.

O Maracanã, antes de se adaptar ao Padrão FIFA, era capaz de proporcionar ao ser humano comum o privilégio de puxar um contra-ataque com a energia de mais de cem mil pessoas. Quem jogou, certas noites acorda assustado e suado.

Viver algo parecido? Só se for marcada uma revanche no Rock in Rio.

Maiores públicos pagantes da história do Maracanã

1 – 183.341 – Brasil 1 x 0 Paraguai – 31/8/1969 (Eliminatórias)

2 – 177.656 – Fluminense 0 x 0 Flamengo – 15/12/1963 (Carioca)

3 – 174.770 – Flamengo 1 x 1 Vasco – 4/4/1976 (Carioca)

4 – 174.599 – Brasil 4 x 1 Paraguai – 21/3/1954 (Eliminatórias)

5 – 173.850– Brasil 1 x 2 Uruguai – 16/7/1950 (Final da Copa do Mundo)

6 – 171.599 – Flamengo 2 x 3 Fluminense – 15/6/1969 (Carioca)

7 – 171.599– Botafogo 0 x 0 Portuguesa-RJ – 15/6/1969 (Carioca)

8 – 165.358 – Flamengo 0 x 0 Vasco – 22/12/1974 (Carioca)

9 – 162.764 – Brasil 6 x 0 Colômbia – 9/3/1977 (Eliminatórias)

10 – 162.506 – Flamengo 2 x 1 Vasco – 17/10/1954 (Carioca)

OS RISCOS DA REJEIÇÃO

por Idel Halfen

Não sei se por “desculpa” ou por falta de conhecimento, muitas propostas de patrocínio esportivo, principalmente no futebol, não “vingam” pelo receio de eventuais rejeições por parte dos torcedores dos times adversários.

Negar que a rejeição pode existir seria leviano, porém, é importante pontuar que da rejeição à efetiva “não compra”, há uma enorme trajetória, ou seja, o fato de não se ser simpático a algo, não necessariamente significa que esse algo não será consumido.

Nesse processo, é preciso considerar algumas variáveis, entre as quais cito:

  • A categoria de produto – seguros, eletrodomésticos, carros e contas bancárias, por exemplo, são mais difíceis de serem trocados do que refrigerantes, detergentes e grande parte dos bens de consumo.
  • O grau de fanatismo do torcedor – há pessoas que, provavelmente, deixarão de consumir produtos dos patrocinadores do rival, porém, esse montante não deve ser muito significativo, da mesma forma que não é o relativo aos que prestigiarão o apoiador do seu time.

Aliás, a própria avaliação sobre o tema fica prejudicada, pois, em nome de uma suposta simplicidade – talvez simploriedade – alguns erros são cometidos, dentre os quais destaco:

  • Comparar as vendas de antes e depois do patrocínio, ignorando que fatores como preço, distribuição e ações da concorrência influenciam esse indicador. Isso sem falar que, dependendo do intervalo de avaliação, o sell-in (vendas para varejistas, distribuidores e atacadistas) pode mascarar o sell-out (vendas ao consumidor final).
  • Focar demais a mídia espontânea, visto usualmente realizarem cálculos que desprezam tanto as negociações entre clientes e veículos, como a assertividade no que tange ao público atingido e à qualidade do que se quer comunicar.
  • Valorizar os números apurados em pesquisas de recall, pouco se importando se a lembrança é positiva ou negativa.

Em resumo, baseado na “simplória” busca pela exposição da marca, abdica-se de incorporar e enaltecer a associação da marca à atividade esportiva, rica em valores que certamente agregariam muito mais benefícios à imagem do que simplesmente estar exposto ou ter o nome repetido tal número de vezes, gerando até eventuais incômodos no receptor da imagem e, quem sabe, aumentando a rejeição.

O futebol e o esporte de modo geral são plataformas poderosíssimas para as marcas e, se bem utilizadas, podem passar longe das eventuais rejeições, basta entender que, por mais que estejam apoiando organizações esportivas, a iniciativa presta um serviço muito maior que é o fomento do esporte e, consequentemente à educação.

As organizações, por sua vez, precisam entender que as rivalidades devem ficar restritas às arenas e que a busca pela vitória não faz do adversário, um inimigo. Nesse processo de conscientização, cabe aos dirigentes manter o respeito e, sobretudo, entenderem que, falando pela organização, reverberam sentimentos e atitudes.

Portanto, ainda que a rejeição possa existir, há como minimizá-las através de atitudes em prol do esporte.

QUE FALTA NOS FAZ A INTELIGÊNCIA

por Zé Roberto Padilha

Inacreditável a falta que um dos últimos pensadores do nosso futebol, Paulo Henrique Ganso, faz ao nosso futebol.

Início de temporada, onde o cérebro precisa trabalhar mais pois as pernas já não ocupam os espaços que o Maricás, que se apresentaram antes, estão dominando, você percebe que não há ninguém pensando algo diferente para furar um bloqueio, deixar um companheiro na cara do gol.

Pode juntar os QI de Bernall, Renato Augusto, Nonato, Isaac, acrescentar as limitações técnicas de Guga e René, adiantar um pouco o que restou de motivação ao Thiago Silva, ao jogar em um estádio vazio depois de anos de casa cheia na Premiere League que..

Rodrigo Lindoso, aquele mesmo que começou no Madureira, foi para o Botafogo na década passada e retornou para se despedir do futebol, acaba tomando conta do meio campo. Ao seu lado, Marcelo, 36 anos, nem precisava de tantos anos para dar ao meio campo do Madureira a maior posse de bola.

Mas como aprendi no mundo do futebol, nunca se perde uma viagem a uma partida de futebol. Um magrinho, hábil e insinuante, Wallace; do Madureira, apresentou um repertório interessante que não nos permitiu trocar de canal.

Porque certamente no Show do Milhão deve ter participantes com respostas mais inteligentes do que as apresentadas pelo meio campo tricolor.