ELE MERECE!
por Zé Roberto Padilha

Fernando Diniz chega ao comando da seleção por méritos próprios. Nunca teve padrinhos. Sempre teve padrão de jogo. Em meio a mesmice tática que impera no futebol brasileiro, responsável pela abertura dos cargos às nações amigas, inovou e insistiu com uma nova concepção de jogo que elimina os chutões. E prioriza o toque de bola.
O que faltava para sua receita eram ingredientes à altura. Se por um lado treinava à exaustão o Fábio sair jogando com o Manoel, o Lucas Claro, e o perigo rondava a área tricolor, agora vai poder escolher o goleiro mais habilidoso com os pés e um Thiago Silva para sair envolvendo o adversário junto ao André e ao Casemiro.
Sempre teve a receita de um bolo bonito de se ver jogar. Mas que não alcançava a conquista do Master Chef porque não tinha uma farinha de trigo à altura, ovos de granja e manteigas nobres porque recebia, das despesas de Xerém, das mãos de chefes de cozinha sub-15 e sub-17, ingredientes diferentes do sabor que buscava.
Agora, Fernando Diniz vai deixar a Rua da Alfândega, Travessa do Ouvidor e 1o de Março, onde recebia seus trajes, e vai buscar seu terno novo no BarraShopping. O Fashion Mall está ali do lado e pode ajudar.
Sua posse, e sua merecida indicação, precisam estar à altura do futebol que todo mundo anda com saudades de ver desfilar pelos gramados de todo o mundo.
A ESTRELA CADA VEZ MAIS SOLITÁRIA
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Embora Botafogo e Vasco estivessem em cenários opostos, clássico é clássico e imaginava um jogo mais disputado. O cenário até poderia ter sido outro se Alex Teixeira não desperdiçasse aquela chance claríssima, mas o Botafogo, como de costume, aproveitou as oportunidades que teve e saiu vitorioso do Estádio Nilton Santos.
Muita gente ainda não acredita na liderança do Alvinegro, mas fato é que a estrela solitária está cada vez mais solitária na liderança e o próximo jogo é contra o Grêmio, vice-líder, no Sul. Claro que será um jogo duríssimo, mas não dá para negar que o Botafogo está com a confiança lá no céu e tudo pode acontecer.
“PC, você não achou que o Luis Castro foi mercenário?”, indagou um amigo botafoguense. Claro que não! Sabemos como é ser treinador no Brasil e bastava duas ou três derrotas para a torcida chamá-lo de burro e pedir sua cabeça.
Evidentemente que a saída do treinador sempre dá uma abalada, até porque os jogadores adoravam ele e, mais do que isso, corriam por ele, mas gostei da estreia do Claudio Caçapa e tenho boas referências. Espero que não tente inventar a roda e mantenha esse time organizado e seguro na defesa para seguir derrubando os adversários. Caso contrário, o clima pode pesar e, com propriedade no assunto, sei como é fácil jogador derrubar técnico.
Por falar nisso, não sei até que ponto os jogadores do Flamengo estão gostando dessa estratégia do Sampaoli de revezar os titulares. A realidade é que ninguém gosta de ficar no banco e o treinador ainda não me convenceu, apesar da vitória contra o Fortaleza no último sábado.
Na parte inferior da tabela, Santos e Corinthians têm brigado para ver quem apresenta o futebol mais feio. No último fim de semana, o Timão perdeu para o Bragantino em casa e o Santos tomou de três do Cuiabá. É nítida a falta de confiança dos jogadores e não dá para negar que o plantel não condiz com a história dos dois clubes. É preciso abrir o olho e se reforçar para evitarem sustos no fim do ano.
Quem também precisa abrir o olho é a federação para aplicar punições severas. Seguindo a escola de Abel Ferreira, seu auxiliar disse que “é ruim para o sistema o Palmeiras conquistar duas vezes seguidas o título brasileiro”. Prefiro nem comentar…
Em Minas, agora temos que aguentar Hulk e Felipão dando show de reclamações. Sou do tempo em que a única preocupação era a bola na rede e nada mais!
Alô, geraldinos! Olhem as “pérolas da semana”:
“Utiliza ferramentas para deixar o adversário desconfortável e proporcionar uma marcação baixa, tornando o time vertical, com intensidade na diagonal, na última linha do segundo terço”.
“Com dinâmica e consistência orgânica, o ala agudo encorpado faz a transição da bola viva, conectando a transição e dando uma condição coletiva, para fazer a leitura de jogo na horizontal”.
O PODEROSO CHEFÃO
por Elso Venâncio, o repórter Elso

Castor de Andrade era poderoso, influente em todas as áreas. Temido, amado por muitos e odiado por outros, mandava no futebol, no samba e na cidade. Generoso, era também querido por grandes nomes da imprensa, sobretudo pelos mandachuvas da TV Globo, aos quais sempre agradava:
“Comunicador famoso da Rádio Globo aniversariando? Festa na Casa da Suíça, então!”
No evento, apenas convidados VIPs, top de linha mesmo, selecionados por um discreto colaborador. No meio do banquete, o ‘Poderoso Chefão’ aparecia sorridente:
“Surpresa agradável…”, brincava, descontraindo o ambiente.
No Carnaval, saía sambando à frente da Mocidade Independente de Padre Miguel. Uma câmera de televisão o acompanhava sistematicamente. Chegou a discursar atacando o Judiciário, antes da sua Escola entrar na Sapucaí.
No seu tempo, a FFerj, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro, não sabia o que era dívida. A CBF era outra protegida. Na eleição de Octávio Pinto Guimarães, em 1986, Castor de Andrade determinou a Eduardo Viana que os Presidentes de Federações aliadas deveriam ficar no Copacabana Palace, sem direito a deixar o hotel. Seriam regiamente remunerados, de acordo com o voto. Ele apoiou também Ricardo Teixeira a pedido do sogro dele, João Havelange, então Presidente da FIFA.
“Xerife, xerife! O Doutor chegou! – esbaforia o supervisou Neco, avisando ao técnico Moisés que, naquele instante, encontrava-se sentado no banco, cercado por jornalistas, contando suas aventuras e desventuras na noite anterior, que o ‘homem’ tinha estacionado o carro.
De imediato, Moisés levantou-se. Tacou fora o cigarro ainda aceso, interrompeu a algazarra em campo e berrou, com firmeza ímpar:
“Treino tático!!! Marinho, Marinho… entre em diagonal! Marinho é o nosso Gil. Mário, você é o Rivellino. Quero agora lançamento facão…”
Nisso, surge Castor. O homem-forte do clube entra no gramado cercado por seus capangas, de chapéu. Sob o sol forte, reluz o revólver que trazia na cintura. O ‘Capo’ olha para Moisés com entusiasmo e um carinho paternal. O ‘xerife’ era querido por todos. Impagável contador de histórias, espirituoso, extrovertido, enfim, um bom sujeito, esperto e malandro, mas de ótimo papo. Impossível imaginar que foi o mais violento zagueiro do futebol brasileiro da sua geração.
Em Moça Bonita, a presença de Castor misturava alegria e tensão. Alegria por causa da pasta recheada de grana, blindada por seu fiel escudeiro Miúdo, que assustava pelo porte físico e os dois metros de altura bem distribuídos em músculos. Tensão? Explico o porquê.
Certa vez, o lateral-esquerdo Marco Antônio, tricampeão do mundo na Copa de 1970, foi acordado dormindo no carro. No campo, sentou-se em uma das traves e cochilou. Ao vê-lo, Castor sacou o revólver e deu dois tiros na baliza.
Sem o óculos de grau que usava, Moisés reuniu o grupo no centro do gramado para anunciar a escalação do time:
“Gilmar no gol. Gilmar e… poxa… coloca o papel mais perto da vista, que essa letra aqui do Doutor parece até letra de médico…”
Impossível conter a risada geral.
Da prisão Castor ligava para os amigos:
“Vamos ao show no Canecão?”
Entrava na casa noturna de peruca e bigode postiço, com o show em andamento. Sagaz, deixava o local incólume, antes do bis.
No estacionamento, os flanelinhas vibravam:
“Obrigado, Doutor Castor! Obrigado!”
“Seus moleques… como sabem que sou eu?”
“Só o senhor dá 50 reais pra gente!”
Cobri o Bangu, como setorista da Rádio Globo, quando o time, em 1985, disputou as finais do Carioca e do Brasileirão. Na decisão estadual, diante do Fluminense, o árbitro José Roberto Wright não apitou um pênalti claro, ao fim do jogo, do zagueiro Vica no artilheiro Cláudio Adão. No túnel, Castor mandou os seguranças surrarem o juiz. Bom de briga, Wright, faixa preta de judô, enfileirou um por um os capangas, derrubando todos. O último a apanhar foi Walter, um veterano lutador de boxe amador. A polícia era lenta e cuidadosa na hora de apartar as brigas do grupo que trabalhava para o homem que fundou a Liga das Escolas de Samba do Rio.
Cheguei com o Bangu no Aeroporto do Galeão, após a vitória de 1 a 0 sobre o Brasil de Pelotas no Estádio Olímpico. Era importante entrevistá-lo. Dois dias depois, se daria a grande decisão do campeonato nacional, contra o Coritiba, no Maracanã. Sem olhar para mim, ao sair do avião Castor me deu o papo:
“Amanhã, cinco da tarde, na Avenida Atlântica, no Leme.”
Assim que cheguei ao local vi uns 40 telefones pretos, com placas de discagem, que não paravam de tocar. Na entrevista, ele fez um apelo:
“Você que é Fla, Flu, Vasco ou Botafogo… o Bangu precisa de todos vocês no domingo!”
“Essa parte ficaria legal na chamada do jogo”, comentei.
“OK, mas não tenho dinheiro,” – gritou comigo, de forma grosseira.
“Dinheiro? Não estou aqui pedindo dinheiro, não. Quer saber, essa entrevista nem vai mais ao ar!”
Comuniquei o fato a dois diretores da Rádio e, na frente deles, apaguei a fita logo em seguida. Confesso que me senti meio ridículo, afinal, quando Castor queria, ligava direto para a Globo. Ou se dirigia pessoalmente até os estúdios.
Na quarta à noite, reencontrei ele no saguão do Maraca, antes do jogo:
“Garoto, tudo bem?”
Me surpreendi, ao receber um beijo dele no rosto. Depois, com mais de dez seguranças a tiracolo, caminhou tranquilo rumo ao vestiário.
Castor de Andrade faleceu, vítima de ataque cardíaco, aos 71 anos. A disputa por seus negócios e a fortuna que acumulou causou mortes na família. A Justiça ainda está para decidir quem vai herdar uma propriedade do bicheiro na Ilha Grande, avaliada em mais de 40 milhões de reais.
OUTROS TEMPOS
por Sérgio Luiz Monteiro

Sou do tempo em que jogar contra o clube de São Januário era um verdadeiro trabalho de Hércules. Talvez o 13º…
Por mais que dominássemos a contenda, bolas batiam teimosamente nas traves, perdíamos gols e muitas vezes a cabeça, que saía quase sempre inchada, do estádio.
O Vasco era um algoz implacável e a considerável diferença de vitórias é fruto dessa história que começou há 100 anos, em 1923 — só fomos vencer pela primeira vez em 28!
Mesmo com grandes times que tivemos nas décadas de 40, 50 e 60, sempre foi “osso” vencê-los.
Quando comecei a frequentar o ex-Maracanã, tive um amargo batismo: escrita de 76 a 81 sem vitórias contra o clube da Cruz de Malta. Estava lá em 81, num 3×1 que findou o martírio, e em que jogamos supersticiosamente todo de branco. Nada tão Botafogo.
Foi o ídolo Túlio, o “artilheiro marqueteiro” que começou, em meados dos anos 90, a mudar a marcha do histórico, que ainda hoje é bem desfavorável, mas que já pode ser considerado um “jogo normal” — e não o terrível estigma de outrora…
Eis então porque os jovens alvinegros de hoje, não temem o ex-expresso são vitória. Várias tundas alvinegras depois e — mesmo perdendo ineditamente duas decisões cariocas seguidas 2015/16 — Botafogo x Vasco é um clássico equilibrado.
Mas o de hoje colocou o líder — já sem o gajo e de técnico novo (e foi bola na Caçapa!) — contra um dos últimos colocados, e a essa altura, numa já sem graça luta contra o rebaixamento.
Na última semana, jogamos um futebol “estreito de Magallanes” num pífio empate e o clube da colina venceu o verdão do agronegócio, o Cuiabá.
O clube da capa-e-espada teve mais um belo capítulo de sua gloriosa história: manteve a liderança, com uma nova comissão técnica, enfrentando um tradicional, aplicado e desesperado rival.
Mais uma vitória e a estranha sensação de solidão (ou seria solitude) na liderança: nós, botafoguenses, não estamos conseguindo ver ninguém por perto…
P.S. Longo é o caminho, mas a sensação é que falta só um Tiquinho.
Saudações Alvinegras!
HOKA – UMA ESTRATÉGIA DE SUCESSO
por Idel Halfen

Alguém já ouviu falar na marca de calçados esportivos Hoka? Provavelmente poucos, mas vale conhecer a respeito, principalmente em função da estratégia mercadológica utilizada, a qual reputo como excelente.
Criada em 2009 por Jean-Luc Diard e Nicolas Mermoud, a Hoka surgiu em função do entendimento de que os aspectos tecnológicos não eram explorados em sua plenitude pelas marcas de calçados esportivos.
A partir dessa identificação de oportunidade, os dois fundadores buscaram desenvolver um produto investindo fortemente em inovação e abrindo mão até da estética.
Embora a trajetória da marca traga inúmeros fatos interessantes, vamos pular para 2012, quando a Deckers comprou a Hoka.
Os valores envolvidos na aquisição não foram divulgados, mas sabe-se que a Hoka tinha na época um faturamento anual de US$ 3 milhões.
Ao contrário do que costuma acontecer nas operações de M&A (fusões e aquisições) que envolvem marcas com elevado potencial de crescimento, a Deckers conseguiu resistir à tentação de promover um processo de expansão veloz, optando por um desenvolvimento planejado.
A possibilidade de uma distribuição mais agressiva foi descartada, o que deixou o produto, evidentemente, fora dos grandes varejistas.
Ilustra essa condição, o fato de a empresa antes da pandemia ter recusado a oportunidade de estar nas lojas da Foot Locker, uma referência no setor. Situação similar aconteceu na Dick’s Sporting Goods, onde, a Hoka, antes de estar presente em 100% das lojas da rede, executa testes em poucas lojas para entender o comportamento da demanda e, dessa forma, não “queimar” a marca.
Ao invés de estar acessível a todos, a marca optou por estar nos locais voltados ao que entendia ser seu público-alvo, processo no qual as vendas diretas tiveram substancial importância.
Entre as razões que levaram a essa estratégia, destacamos:
- criar a sensação de ser um produto para poucos. Para isso se utilizou do conceito que chamamos de marketing de escassez, no qual, no caso da Hoka, mais do que provocar o senso de urgência e incentivar a compra imediata, fez com que a marca ficasse associada a algo com o cunho de “exclusivo”.
- ter um melhor controle sobre os preços praticados, visto que a baixa disponibilidade/oferta propicia melhores condições para se estabelecer um posicionamento premium com reduzido risco de eventuais promoções por parte do varejo.
- fortalecer a identidade da marca, proporcionando condições de se criar uma liderança de conceito na mente do seu público-alvo, liderança que, naturalmente, chegará a uma gama maior de pessoas, principalmente através do boca a boca.
Evidentemente, como citamos no início, há uma preocupação grande com o desenvolvimento do produto e seus aspectos tecnológicos , afinal de contas, a busca por um crescimento sustentável carece de um bom marketing, o qual se beneficia quando lida com bons produtos/serviços.
Desse modo, podemos concluir que a estratégia da Hoka nos fornece um excelente benchmark ao mostrar que a visão de longo prazo é fundamental para uma boa gestão.
Corrobora para essa conclusão a evolução das receitas da marca: em 2017, cinco anos após a aquisição pela Deckers o faturamento ultrapassou os US$ 100 milhões, já no último ano fiscal, finalizado em 31 de março de 2023, atingiu US$ 1,4 bilhão.