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O ADEUS DO GUERREIRO DA CAMISA 5

por Cláudio Lovato Filho

Camisa 5 clássico, centromédio raiz, ele formou com Tadeu Ricci e Iúra um meio-campo histórico do Grêmio.

Ele era um dos jogadores daquele time cuja escalação os torcedores recitam como um poema: Corbo; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu e Iúra; Tarciso, André e Éder.

O time que, treinado por Telê Santana, conquistou o Campeonato Gaúcho de 1977. O título que colocou fim à indigesta série de estaduais vencidos pelo nosso arquirrival. O título que abriu caminho para a conquista nacional de 1981, para a Libertadores e o Mundial de 1983 e para tudo o que veio depois.

Meio-campista discreto, eficiente e taticamente disciplinado, dedicava-se a proteger a zaga e a iniciar as jogadas com o bom passe que tinha – e cumpria essas atribuições como um guerreiro incansável .  

Jogador de poucos gols, ele fez o seu primeiro pelo Grêmio (e talvez o primeiro como profissional, confesso que não tenho certeza) em 1978, numa cobrança de pênalti, a pedido da torcida, no Olímpico. O estádio inteiro gritando o nome ele, os companheiros de time incentivando. Eu estava lá.

Marcador duro mas leal, foi elogiado por Maradona depois de um amistoso entre Grêmio e Argentinos Juniors, no Olímpico, em 1980. O jovem Dieguito foi anulado.

Vitor Hugo Barros faleceu na terça-feira, 19 de agosto, aos 73 anos, em João Pessoa, onde residia. Jamais será esquecido. Terá para sempre seu nome lembrado em verso e prosa pela nação azul, preta e branca.

THE LAST DANCE

por Marcos Vinicius Cabral

A primeira vez que vi Junior em campo, foi com a camisa da seleção brasileira. Não recordo-me em que jogo foi e em qual estádio, pois ainda era criança. Mas suponho que tenha sido um amistoso preparativo para a Copa do Mundo na Espanha, em 1982.

No entanto, até hoje lembro do lance. Foi um cruzamento na área do Brasil e naquela bola perigosa, no meio de tantos jogadores adversários, Junior sobe e com a categoria que Deus lhe deu, mata a bola no peito e recua para as mãos de Waldir Peres. Vibrei como se fosse um gol dele.

Anos depois, já como fã do jogador, passei a acompanhar a carreira do senhor Leovegildo Lins Gama Junior, tanto no Flamengo e na seleção brasileira.

Recordista de partidas com o Manto Rubro-Negro, Junior — sem acento, é bom que se diga — teve uma carreira privilegiada e sem contusões graves. O fato em si, já o torna vitorioso pela própria natureza, já que contou com as areias das praias cariocas na prevenção de lesões podendo manter o equilíbrio e a coordenação, o que fortaleceu os músculos e articulações, tornando-os mais resistentes.

E convenhamos, ninguém melhor definiu a palavra resistência como Junior. Tanto que foi campeão carioca e brasileiro em um time de garotos e ele, merecidamente, recebeu os apelidos de Maestro e Vovô. Isso em 1992, no pentacampeão, competição que comeu a bola.

Mas Junior tornou-se um querido amigo. Um ser humano incrível e apreciador do meu trabalho de artista plástico. Já ilustrei um livro do Maurício Neves de Jesus que foi lançado na Gávea, na pandemia. Agora, o mesmo Maurício, me pediu autorização para publicar na biografia do Maestro o The Last Dance, nome sugerido pelo autor da obra literária.

Muito honrado em poder contribuir com a minha arte e aguardo ansiosamente a oportunidade de entregar ao Junior.

O desejo do meu coração é dar o quadro, um forte abraço e dizer para um dos meus ídolos no futebol: “Junior, obrigado por forjar o meu caráter rubro-negro!”.

ZAGALLO X ROMÁRIO

por Elso Venâncio

Zagallo e Parreira estão no quarto do Romário, em dezembro de 1992, antes de um amistoso da Seleção Brasileira com a Alemanha, em Porto Alegre. Goleador do PSV, o Baixinho jogou por cinco temporadas no futebol holandês antes de se transferir para o Barcelona, da Espanha. Preterido por Bebeto, do La Coruña, e Careca, do Napoli, deu declarações de que não faria sentido sair da Europa para ser reserva na Seleção, que na época se preparava para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. A insatisfação foi confirmada por Romário aos treinadores, lembrando que nunca havia esquentado banco na carreira. Os novos comandantes da Seleção nunca esqueceriam a sinceridade do marrento atacante.

Alguns fatos ajudaram a mudar a história do Baixinho com a camisa brasileira. Em julho de 1993, o Brasil estreou nas Eliminatórias da Copa perdendo por 2 a 0 para a Bolívia, em La Paz. Um resultado surpreendente, pois aquela foi a primeira derrota do país na história da competição. Em seguida, veio o empate por 0 a 0 com o Equador. Acuado com as críticas e sem contar com Romário, que já era ídolo no Barcelona, Parreira resolveu entregar o cargo de treinador. Só permaneceu após ser convencido pelo coordenador, Zagallo, e pelos jogadores mais experientes do grupo, como Dunga e Ricardo Rocha.

Mais longevo técnico do Barcelona, Johan Cruijff considerava Romário o maior talento que comandou. “Gênio na grande área”, dizia o treinador, que comandou o clube catalão por oito temporadas. No período pré-Copa, havia um clamor nacional para o Baixinho ser convocado ao último jogo das Eliminatórias, contra o Uruguai, em que só a vitória classificaria o Brasil. Após uma contusão de Müller, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, interferiu e foi o responsável pela convocação de Romário.

No domingo, dia 19 de setembro de 1993, Romário fez o melhor jogo de toda a sua carreira e uma das melhores apresentações individuais de um atleta no Maracanã. Foi o autor dos dois gols na vitória brasileira por 2 a 0 — o primeiro, de cabeça, e o segundo, driblando o goleiro Siboldi antes de concluir. A atuação lhe garantiu o status de astro da Seleção Brasileira.

Nos Estados Unidos, Romário e Bebeto fizeram oito dos 11 gols marcados pelo Brasil na Copa, comprovando que eram os grandes atacantes do futebol mundial. O Baixinho balançou a rede cinco vezes naquele Mundial, conduzindo a Seleção ao tetracampeonato.

Após a conquista, Zagallo assumiu a função de técnico e convocou Romário, o melhor jogador do mundo, para um amistoso com a Eslováquia, em Fortaleza. Repatriado pelo Flamengo, o craque se esquivou. “Só voltarei à Seleção na Olimpíada de 1996”, disse. Foi motivo suficiente para o retorno das desavenças com Zagallo, que ficou insatisfeito. Nesse período, Romário deixou de jogar uma Copa América, amistosos e um torneio dos Estados Unidos. Quando decidiu mudar de ideia e pediu para ser convocado, foi ignorado por Zagallo, que o manteve de fora por um ano, dois, dois e meio…

Num belo dia, o “Jornal do Brasil” estampou a seguinte manchete: “Romário está de volta à Seleção”, matéria do saudoso Oldemário Touguinhó. Os concorrentes, por sua vez, garantiam o contrário: “Romário continua fora”. Quem acabou com o mistério foi Zagallo, anunciando Romário como o primeiro nome para o amistoso com a Polônia, em Goiânia. Ao chegar à redação do “JB”, Oldemário foi aplaudido de pé. “O que é isso? Por que isso?”, perguntou, antes de chorar copiosamente. Uma emoção marcante para o jornalista, já reconhecido com dois prêmios Esso.

Zagallo não levou Romário aos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e apoiou seu corte por contusão na Copa do Mundo da França, em 1998. O jogador, que apostava na recuperação, colocou no banheiro da sua boate Café do Gol, na Barra, caricaturas de Zagallo sentado no vaso sanitário, e de Zico, coordenador do Brasil na Copa, com um rolo de papel higiênico nas mãos.

Vanderlei Luxemburgo, o técnico na Olimpíada de Sidney, em 2000, foi outro a deixar Romário de fora da convocação, assim como Felipão também não o levou à Copa de 2002, no Japão e na Coreia do Sul. O que ficou para a história foi mesmo o protagonismo no Mundial de 1994, em que o Baixinho foi verdadeiramente o cara.

DOIS DE OURO

por Marcos Vinicius Cabral

Dificilmente irei esquecer a sexta-feira, 22 de agosto de 2025. A data entrou para a minha vida de artista plástico e de escritor. Foi o dia em que eu e Sergio Pugliese, autores do livro sobre o Leandro, estivemos em Cabo Frio para fazer os últimos ajustes com o personagem central da obra literária.

Depois de anos preparando a obra literária, combinamos com o maior lateral-direito do futebol brasileiro que o livro será lançado em dezembro – mês que o Flamengo celebra 44 anos da conquista do Mundial de Clubes – na Gávea, sede do Flamengo.

Em seguida, faremos um outro lançamento na Pousada do Leandro, em Cabo Frio, e por fim nas embaixadas espalhadas pelo país.

Aproveito para convidar os amigos para prestigiarem o lançamento do 2 de Ouro da Nação. Assim que tiver a data, informo por aqui.

Agradeço a Deus em primeiro lugar, aos meus familiares, e aos colegas que nos incentivaram a não desistir. Não foi fácil, mas conseguimos!

OS PENSADORES

por Zé Roberto Padilha

Sei que vocês, das novas gerações, ao ouvirem os surtos nostálgicos de quem testemunhou o passado, devem pensar: lá vem mais uma crônica saudosista. Um personagem que só vive do ontem. Pode ser. Ou não? Sou apenas saudoso, com a memória fixada nas grandes jogadas de Zico, nas canções de Gonzaguinha, nos intensos debates políticos de Ulisses Guimarães com Leonel Brizola. Enfim, em toda a arte que desapareceu, substituída pela mediocridade: no futebol, apenas correr; na música, pancadão; no Congresso, adesivar a boca por falta de argumentos.

No futebol brasileiro, já tivemos vários pensadores, românticos como Arrascaeta — aquele meio-campo de imensa categoria, que não corria, deslizava, sempre com a bola colada aos pés e uma solução criativa para cada jogada. Ademir da Guia, Afonsinho, Didi, Sócrates, Deley, Marco Aurélio, Geraldo, Nei Conceição, Mendonça… meu pai dizia que Zizinho também era assim. Ganso, Ricardinho e Pita também fazem parte dessa linhagem.

Cabeça erguida, jogavam com o freio de mão puxado e a lucidez acelerada. Davam canetas como quem molha plantas, faziam lançamentos precisos e invadiam a área com a sutileza de um amanhecer. Pensavam, logo existiam. Como a bola não pensa, precisavam pensar por ela.

O problema é que faziam tudo parecer tão fácil que, no dia seguinte, as escolinhas lotavam de aspirantes ao estrelato, achando que também poderiam repetir. “Pai, eu também quero jogar bola!”. Foi quando a bola, ferida pelas caneladas, reagiu: “Estudem! Logo existirão!”.