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OS PODERES DO DR. CASTOR

5 / maio / 2025

por Elso Venâncio

Temido, amado e odiado, Castor de Andrade mandava no samba, no futebol e na cidade. Poderoso, elegia até presidentes da CBF.

O contraventor Castor de Andrade estudou no tradicional Colégio Pedro II e se formou em direito pela UFRJ. Mandava no samba, na cidade do Rio de Janeiro e nos bastidores do futebol brasileiro. Agradava aos grandes nomes da imprensa, sobretudo os da TV Globo.

Castor foi preso algumas vezes, mas deixava a cadeia quando queria se divertir. José Bonifácio Sobrinho, o Boni, todo poderoso da Globo, enviava um maquiador da emissora para que lhe colocasse bigode postiço, barba, peruca, enfim, um disfarce. Assim, o bicheiro ia rever amigos ou frequentava shows, entrando sempre após o início e saindo antes do final.

Durante um dia habitual de trabalho, o empresário Roberto Marinho ficava na redação do jornal O Globo e só ia para a TV no final da tarde. O diretor de jornalismo da emissora e criador do “Jornal Nacional”, Armando Nogueira, era o único a ver o telejornal ao lado do chefe. 

— Armando, o Boni foi visitar Castor na prisão? — perguntou Roberto Marinho em um dos encontros.

— Não sei!

— Chama o Boni — retrucou Marinho, sem levantar o tom de voz.

Boni compareceu e respondeu com sinceridade: “Fui, a pedido do João Havelange (presidente da FIFA), porque estamos negociando os direitos (de transmissão) das duas próximas Copas do Mundo”.

A única eleição acirrada para a presidência da CBF ocorreu em 1986. Giulite Coutinho estava desgastado desde a perda da Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Na ocasião, a Itália surpreendeu e venceu o Brasil, que jogava pelo empate, por 3 a 2, numa partida eternizada como “Tragédia do Sarriá”. Giulite, então, decidiu não concorrer no pleito seguinte e apoiou o vascaíno Medrado Dias. O adversário foi o habilidoso Nabi Abi Chedid, ex-presidente da Federação Paulista e apadrinhado por Eduardo Viana. O polêmico Caixa D’água nunca desejou ser o número 1 do futebol brasileiro, mas não abria mão de comandar a Assembleia Geral da CBF e eleger o seu preferido. Então, ele chamou Castor na sede da Federação do Rio de Janeiro, entidade que presidiu durante 20 anos, e deu um recado: “Precisamos eleger o Nabi”.

Naquela época, só as federações tinham direito a voto. E pelas contas do Eduardo Viana, o paulista Nabi Abi Chedid venceria por um voto de diferença. Castor de Andrade colocou os presidentes que apoiavam Nabi no Copacabana Palace, sem direito a deixar o hotel, e fez o ultimato: “Vocês estão sendo remunerados para votar no melhor candidato”.

Na véspera da eleição, surgiram boatos de que haveria uma traição, o que causaria empate. Se a tal traição fosse confirmada, Medrado Dias seria eleito presidente por ser o mais velho entre os postulantes ao cargo. Por isso, a chapa de oposição foi estrategicamente invertida. Otávio Pinto Guimarães assumiu como candidato a presidente, enquanto Nabi Abi Chedid se tornou o vice. No final, Otávio venceu por um voto, e Medrado Dias acusou o presidente da Federação do Acre, Antônio Aquino Lopes, de ter levado grana. O caso chegou ao Conselho Nacional de Desporto, que absolveu o “Tuniquim”.

Na eleição seguinte, Castor de Andrade atuou decisivamente para Ricardo Teixeira ser eleito. Na época das vacas magras, apoiava financeiramente a CBF, sendo por várias vezes convidado para chefiar a delegação brasileira em amistosos e torneios no exterior. O “capo di tutti capi” carioca faleceu de infarto, em abril de 1997.

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