por Cláudio Lovato Filho

Ruy Carlos Ostermann (São Leopoldo, 25/09/1934 – Porto Alegre, 27/06/2025)
Quando, nos anos 70, adolescente, descobri e, depois, fui gradativamente entendendo o que ele fazia, fiquei fascinado. Os textos de Ruy Carlos Ostermann. A escrita sobre futebol feita com sofisticada técnica literária e repleta de filosofia, uma mistura que viria a se tornar parte muito importante da minha vida. Não por acaso, a qualidade dos textos dele era exaltada por cronistas do peso de Armando Nogueira.
Mas Ruy Carlos Ostermann, o Professor, ícone da crônica esportiva gaúcha, mestre da escrita, também brilhou nos microfones. Seus comentários pós-jogo nas rádios Guaíba e Gaúcha até hoje ecoam na minha memória. Eram análises acuradas, contextualizadas, verbalizadas com um vocabulário rico e uma dicção tão clara e precisa que dava a impressão de vermos os itálicos e negritos que ele colocava na fala quando assim o desejava.
O Professor Ruy Carlos Ostermann nos deixou na noite desta sexta-feira, 27 de junho, aos 90 anos. Ainda na sexta, à tarde, peguei um livro dele, “A Paixão do Futebol”, e o coloquei ao lado de outro livro dele, “O Nome do Jogo”, numa daquelas rápidas arrumações, um daqueles pequenos ajustes de prateleira. Mas só mexi no livro dele. Eu estava no computador, trabalhando; bati o olho no livro, levantei, troquei o livro de lugar, e logo voltei a escrever. Gosto de pensar que talvez tenha sido um recado dele: “Vai escrever, rapaz. E reescrever. Até ficar bom de verdade”.
Um recado do Professor. Quem sabe? Sabe-se que era uma pessoa que dava atenção a todos. Por exemplo, o respeito verdadeiro à opinião dos leitores e ouvintes era uma conhecida característica do estilo dele – traço extraordinário e bonito num meio profissional (digo isto por experiência própria) em que isso é coisa difícil de encontrar, dificílima, rara.
Obrigado, Professor, por tudo. Obrigado por proporcionar tantas leituras e audições prazerosas. Obrigado por mostrar que o futebol pode e deve ser merecedor das melhores escrituras.
“Escrever sobre futebol é um ofício de respeito. Escrever bem sobre futebol é uma graça que não se recusa. O Ruy nunca pediu desculpa pelo ofício e pelo assunto. Nunca o vi ser condescendente nem com os piores momentos do futebol. E se alguma vez pareceu se desencantar com tudo e nos convidou para esquecer a partida e falar sobre Miles Davis ou um prato de peixe isso nunca durou muito tempo. O futebol sempre volta”. (Luís Fernando Veríssimo)
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