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O RITUAL DE 15 DE SETEMBRO

15 / setembro / 2025

por Cláudio Lovato Filho

Os familiares, os amigos e os vizinhos sabem disto: 15 de setembro é dia de celebração na casa do veterano torcedor. É dia de portas abertas e bandeirão no jardim, e todos os que podem vão visitá-lo, participando de um ritual que começa de manhã e se estende até altas horas da noite, incluindo infindáveis aperitivos, longo almoço, rememorações e declamações regadas a cervejas, vinhos e cachaças.

E nessa sempre longa e memorável festa de 15 de setembro em sua casa, o veterano torcedor abre as pastas. Ele faz isso em outras datas, eventualmente, quando quer resgatar alguma informação específica ou lustrar uma lembrança pontual, mas não com a pompa e circunstância do dia 15 de setembro. É sagrado: no dia 15 de setembro, as pastas são abertas e seu conteúdo é comentado, explicado, contextualizado.

Além das pastas, que são muitas e cujo conteúdo volta e meia recebe acréscimos,  há os livros, que também são muitos, e um grande acervo de outros objetos de transcendente importância afetiva relacionados ao clube. Eles são vistos em vários cômodos da casa, mas as pastas, que constituem o epicentro de tudo, ficam apenas em um local: o amplo escritório em que o veterano torcedor, em outros tempos, redigia suas petições iniciais e preparava suas aulas da universidade.

Uma das pastas, por exemplo, contém relatos da histórica reunião dos fundadores na noite de 15 de setembro de 1903, em um hotel no centro de Porto Alegre. Há também reproduções de fotos dos primeiros times, dos primeiros Gre-Nais, em que o tricolor aplicou goleadas antológicas, e do Fortim da Baixada, a primeira casa. E a história de Lara, o craque imortal, cujo nome faz parte da letra do hino composto por Lupicínio.

Lupicínio está numa das pastas. Há uma foto, tirada no Restaurante Copacabana, na Cidade Baixa, onde o hino foi escrito. Nessa imagem, ao lado do grande compositor, aparecem o veterano torcedor (quando ainda não podia ser considerado veterano) e um grupo de amigos da sua mesma faixa etária.

Tarciso está em outra pasta. Em diversas reportagens – da Folha da Tarde, da Zero Hora, da Placar. Tarciso, o jogador que mais vezes vestiu a nossa camisa. Tarciso, que nasceu no dia 15 de setembro (obviamente não por acaso).

Alcindo, o maior artilheiro, está ali. Everaldo, campeão do mundo em 70 no México, homenageado com a estrela na bandeira, está ali.

A história do “12 em 13” está ali, no acervo do veterano torcedor. Doze títulos estaduais em 13 anos. Airton, Gessy, Juarez, Joãozinho Severiano, Milton Kuelle, Vieira, Sérgio Lopes – todos eles e todos os outros estão ali.

O time campeão gaúcho de 1977 está ali – time cuja escalação o veterano torcedor recita como um poema: Corbo; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu e Iúra; Tarciso, André e Éder.

E os campeões brasileiros de 1981 e 1996 estão ali (os gols de Baltazar, em 81, no Morumbi, e os de Paulo Nunes e Aílton, em 96, no Olímpico, estão ali, com registros em fotos, sketches e gravuras). Os campeões das Copas do Brasil de 1989, 94, 97, 2001 e 2016 também estão ali, em amplo material.

Ali estão os campeões das Libertadores de 1983, 1995 e 2017. Renato, China, Osvaldo, Caio, César, Tita, Mazaropi, De León, Danrlei, Arce, Adilson, Dinho, Goiano, Carlos Miguel, Paulo Nunes, Jardel, Marcelo Grohe, Pedro Geromel, Kannemann, Arthur, Maicon, Douglas, Everton Cebolinha, Luan e todos os outros.

Toda a história da conquista do Mundial de 1983, obviamente, está ali. A glória selada no Estádio Olímpico de Tóquio. O time azul, preto e branco fazendo o sol brilhar em todos os quandrantes do Planeta ao mesmo tempo.

Nossos maiores comandantes da casamata – com destaque para Oswaldo Rolla, Ênio Andrade, Luiz Felipe Scolari, Valdir Espinosa, Telê Santana e Renato Portaluppi (ídolo como jogador e como técnico) – estão ali. 

Fábio Koff, Hélio Dourado e Luiz Carvalho estão ali. Os maiores presidentes.

O Olímpico e a Arena, a segunda e a terceira casa, estão ali, em textos e imagens.

Logicamente, Luis Suárez está ali, e com muito material no acervo do veterano torcedor, incluindo um espetacular livro fotográfico que retrata os principais momentos da maravilhosa passagem do uruguaio pelo clube em 2023. E também já fazem parte do patrimômio documental do veterano torcedor a compra da Arena, os gols do dinamarquês Braithwaite, a volta de Arthur… A jornada prossegue. 

Tudo nas pastas, abarrotadas de fotos e recortes. E nas maquetes, nos pôsteres, nas flâmulas. Nas bandeiras e nas camisas. Em fitas K7, compactos, LPs e CDs. Em fitas VHS e DVDs. Nos livros.

Celebração do passado, sim, mas não apenas isso. É também dia de reverenciar a maravilha que é a continuidade da vida; o ontem feito de desafios, aprendizados, lutas e glórias cultuado como alicerce de um presente e de um futuro em que a paixão é, e sempre será, mola propulsora e combustível; lança e escudo; poesia e canção.

Em certo momento, como sempre acontece no ritual de 15 de setembro, o veterano torcedor gremista ergue a taça e propõe um brinde a seus convivas. Quando todos estão prontos, ele então solta a voz ainda potente, devidamente amaciada pelo vinho e modulada pela emoção: 

Dá-lhe, Grêmio!

Todos repetem e bebem, e então Lupicínio Rodrigues assume o comando (o filho mais novo do veterano torcedor sabe exatamente a hora de fazer isso acontecer, com um toque no controle remoto):

Até a pé nós iremos/

Para o que der e vier/

Mas o certo é que nós estaremos/

Com o Grêmio onde o Grêmio estiver…

Assim é o ritual do veterano torcedor. O ritual de 15 de setembro. Assim sempre será enquanto ele, o veterano torcedor, estiver entre nós, com sua presença agregadora, festiva e apaixonada.      

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