por Elso Venâncio

Ser chamado de mestre é um privilégio de poucos. Mestre Ziza, Mestre Didi, Mestre Armando Nogueira, Mestre João Máximo… O meu mestre e conselheiro, como também de muitos no jornalismo, foi Péris Ribeiro. Escreveu vários livros de futebol, entre eles três edições da biografia “Didi, o gênio da Folha Seca”, que recebeu da Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (ACERJ) o Prêmio João Saldanha, na categoria literatura, em 2011. Se Armando Nogueira foi o Machado de Assis da crônica esportiva, Péris Ribeiro foi o Armando Nogueira do Norte e Noroeste Fluminense, especialmente de nossa terra natal, Campos dos Goytacazes.
Dono de uma memória privilegiada, Péris era o Google do futebol, como o gaúcho Luís Mendes, “o comentarista da palavra fácil”. Os dois sempre foram requisitados pelos estudantes de comunicação para pesquisas. A partir desse contato, com sua alta capacidade de diagnosticar talentos, Péris tornou-se um incentivador de vários nomes da imprensa campista. Um verdadeiro mestre, no sentido literal do termo!
Enquanto repórter, Péris conviveu com Pelé no auge, quando trabalhava na revista Placar, em São Paulo. Flamenguista de coração, se encantou com o Santos, que passou a ser o seu segundo time. Falava sempre de um dos grandes esquadrões da bola: Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
Na juventude, Péris vibrou com o melhor Goytacaz que viu em campo: o do supercampeonato campista de 1966 e do bicampeonato fluminense, em 1966 e 1967. Amante do futebol-arte, acompanhou o apogeu do Americano na conquista do eneacampeonato campista, de 1967 a 1975. Sua admiração pelo Americano aumentou quando os ídolos Dudu e Chico Preto trocaram o Goytacaz, clube mais popular da cidade, pelo alvinegro. Uma das formações na época contava com Haroldo; Cachola, Zé Henrique, Marlindo e Joaquim; César e Adalberto: Cidinho, Chico Preto, Luís Carlos e Paulo Roberto.
Campos foi o único município brasileiro a ter um campeonato profissional de 1952 até 1979. “O fim dessa competição foi um duro golpe no futebol campista”, afirmava Péris Ribeiro. Curiosamente, seu maior ídolo não foi o amigo e conterrâneo Didi, nem Pelé, mas, sim, Mané Garrincha.
Com orgulho, Péris costumava lembrar que só a cidade de Campos teve dois bicampeões do mundo no Chile, em 1962: Didi e Amarildo. E estava certo, pois Gilmar nasceu em Santos; Djalma Santos era paulista da capital; Mauro, mineiro de Poços de Caldas; Zizinho, baiano de Ilhéus; Zito, paulista de Roseira; Didi, campista; Garrincha, de Pau Grande (Magé); Vavá, pernambucano de Recife; Amarildo, campista; e Zagallo, alagoano de Atalaia.
Péris Ribeiro faleceu no domingo (20), aos 80 anos, em Campos. Enfrentava problemas no esôfago, além de uma pneumonia. Anos antes, já havia demonstrado sua resistência ao vencer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ocorrido em 2004, mantendo a memória intacta. Viveu com dignidade até o último dia, bem acompanhado pela incansável esposa, Graça. No próximo domingo (27), o mestre Péris será homenageado pelo Flamengo no telão do Maracanã, que exibirá uma foto sua vestindo a camisa rubro-negra. Nada mais justo do que essa reverência a um dos grandes nomes do jornalismo esportivo brasileiro!
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