por Zé Roberto Padilha

Quem se joga nas profundezas das relações, das que prosperam, das que são recolhidas, sabem do que estou falando. Os que molham só o pezinho, os amantes de superfície não vão alcançar a sua profundidade.
Falo sobre os segredos daquele órgão que vive a desafiar a razão. O mesmo que contraria o senso comum e invade a contramão onde transitam todas as certezas. E estacionam todas as opiniões.
A Arlindo Cruz foi concedida a graça de traduzir, em versos, prosa e samba os segredos do coração. Esse mesmo, o teimoso, que não escuta ninguém e faz da gente zumbis que transitam pela noite de braços dados com a solidão.
Arlindo olhava pra lua é não via o astro que brilhava, ele via a luz que mantinha acesa o que restou do romantismo. Sua sensibilidade foi capaz de nos tornar cúmplices do inusitado. Reféns do imponderável.
Foi nas suas músicas que encontramos as explicações que nos mantinham acolhidos, felizes e agradecidos por saber que não estávamos sozinhos por mais fria que fosse a madrugada.
A arte tem disso, ameniza frustrações, potencializa aspirações e nos leva a deslizar nas pistas escorregadias desta coisa linda, única, conhecida por vida.
E ela acaba de perder um pouco da sua graça, muito da sua ternura quando deixa escapar quem mais a entendia. Quem melhor a traduzia.
Descanse em paz meu ídolo.
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