por Elso Venâncio

Ao ser reconhecido enquanto caminhava na praia ou nas ruas de Ipanema, a lenda viva Evaristo de Macedo conversava com todos. Bem humorado, sempre gostou de relembrar a sua carreira de jogador, além das seleções e dos clubes que dirigiu mundo afora. Dentro das quatro linhas, foi o primeiro brasileiro a atuar e ser ídolo nos dois gigantes espanhóis, protagonistas de uma rivalidade que transcende o futebol. O Real Madrid representa a realeza, enquanto o Barcelona é um símbolo do povo catalão e do seu desejo de independência. “Sou bem tratado nos dois e sempre convidado para suas festas”, afirma Dom Evaristo.
Revelado pelo Madureira, Evaristo de Macedo fez sucesso com a camisa do Flamengo. Após se destacar no segundo tricampeonato carioca do clube, em 1953, 1954 e 1955, o craque decidiu deixar a Gávea para jogar no Barcelona. “O passe era meu e negociei direto com os espanhóis”, conta Evaristo, que ostentava o fato de ser o camisa 10 da Seleção Brasileira. Na época, a antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) só convocava quem atuava no Brasil. “Pelé só surgiu na Copa da Suécia porque eu fui para a Europa”, garante, com sua habitual irreverência.
A ida para o futebol espanhol rendeu bons frutos. Evaristo é tetracampeão da centenária La Liga, com dois títulos pelo Barcelona e dois com o Real Madrid. Após pendurar as chuteiras, teve uma vitoriosa carreira de técnico. Passou por dezenas de clubes, sobressaindo-se principalmente no Flamengo, no Santa Cruz e no Bahia, onde dá nome ao centro de treinamento. Entre outros trabalhos, levou o Catar a duas Olimpíadas. Também dirigiu a Seleção Brasileira, em 1985, e no ano seguinte a do Iraque, na Copa do Mundo disputada no México.
Evaristo de Macedo era o ídolo de Washington Rodrigues. Nas três vezes em que dirigiu o Flamengo (1993, 1998-1999 e 2002-2003), teve indicações do inesquecível Apolinho. Uma das passagens ficou marcada pelo encontro com o astro Romário, que tinha poderes e regalias que nenhum outro jogador teve na história rubro-negra. Às vezes, nos intervalos dos jogos, Romário fazia duras afirmações: “O Maracanã está cheio por minha causa. Vocês não jogam porra nenhuma”. Certa vez, o Flamengo perdia por 1 a 0 para o Atlético Mineiro, e Romário estava furioso. Decidido, Evaristo partiu para cima do Baixinho:
— Acabou? Foi a última vez que você grita no vestiário! Aqui, quem manda e fala sou eu!
No segundo tempo, Romário empatou o jogo e foi comemorar no banco, descontraído, apontando para o treinador: “E aí? Já fez gol assim?”. Em jogada individual, marcou de novo e virou para 2 a 1, motivo para nova provocação: “Meu técnico, gostou?”, perguntou o artilheiro, rindo, abraçado com os companheiros.
Romário gostava de escalar os times. Cercado de amigos, pedia a algum deles para conversar com os treinadores. Com Evaristo, nem pensar! Os dois acabaram se entendendo e ficaram próximos. Antes dos treinos, Evaristo contava histórias e completava no final: “Eu joguei mais que o Baixola. Muito mais”. Romário ria como criança.
Nascido no Engenho Novo, o carioca Evaristo de Macedo tem vários feitos históricos. Um deles é o de, até hoje, ser o único atleta a marcar cinco gols num mesmo jogo pela Seleção Brasileira. Foi na goleada por 9 a 0 sobre a Colômbia, em 1957, pelo Campeonato Sul-Americano. Morador de Ipanema, Dom Evaristo completará 92 anos no próximo domingo, dia 22, sendo uma das maiores lendas vivas do esporte mais popular do mundo.
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