por Marcos Vinicius Cabral

Estudante do Colégio Benjamin Constant, no Barreto, em Niterói, há 40 anos, eu, Marcos Vinicius Cabral, ainda garoto, esperava ansioso a terça-feira chegar. Era o dia da semana que estava lá, linda e pomposa, a revista Placar que, pendurada na parte de fora da única banca que existia no caminho da escola, seria desvirginada pelas minhas mãos.
Ávido pela leitura, os jornais, apesar de vários, não me seduziam. Mas a Placar… ah, a Placar, estava no sangue de quem não perdia uma só edição.
Era um garoto de 12 anos que amava os Beatles e os Rolling Stones. Mesmo sem grana, folheava as páginas da Placar e uma a uma, iam deliciosamente sendo desbravadas como numa aventura até chegar à matéria principal da capa da revista.
A edição número 800, de 20 de setembro de 1985, trazia uma belíssima foto de Sócrates que, com seu jeito peculiar, subia as escadas do vestiário do Maracanã vestido com o uniforme do Flamengo.
Antes, recepcionado na madrugada por Zico, Sócrates, ídolo do Corinthians e vindo do Fiorentina-ITA, desembarcava no Rio de Janeiro para reforçar o Flamengo. Embora Zico o esperasse para reeditar a dupla de sucesso, o joelho do Galinho, castigado pela entrada animal de Márcio, do Bangu, não era o mesmo.
Sócrates, o gênio dos passes de calcanhar, também não era. Eu sabia disso!
Mas não me importava. Continuava eu, a folhear as páginas da Placar escondido do jornaleiro mesmo assim.
O Magrão já respirava o ar do Rio de Janeiro. Era o malandro carioca que faria o possível e o impossível para formar o melhor time do mundo.
Reeditar a seleção brasileira de 82, apesar da vontade dele e de Zico, seria fantástico. Tão fantástico quanto às 28 vitórias, sete empates e duas derrotas que tiveram jogando juntos desde 1979.
No primeiro treino na Gávea, Sócrates recebeu elogios de Leandro, de Mozer e foi tietado por Bebeto. Até Grande Otelo (1915-1993) foi prestigiar as primeiras batidas na bola.
Ler em um único dia aquela reportagem assinada por Armando Calvano e Palmério Dória (1948-2023) foi uma das experiências mais incríveis da minha vida de torcedor apaixonado pelo Flamengo. Como torci pela reedição da dupla Zico e Sócrates.
Já em outros dias, li ainda a entrevista de Gilson Nunes, treinador campeão mundial Sub-20 uma semana antes, na URSS. Li também que Muller e Silas já eram titulares no São Paulo de Cilinho que começava a encantar.
Deu tempo de terminar a leitura da revista Placar com o levantamento feito pela revista sobre os atletas bicampeões mundiais que tinham um horizonte promissor pela frente.
Taffarel já mostrava que seria um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro naquele ano de de 1985, marcado pelo fim da ditadura militar, pela eleição indireta de Tancredo Neves e a substituíção por José Sarney após sua morte prematura.
Houve ainda o lançamento do Rock in Rio, a exibição da novela “Roque Santeiro”, e Ayrton Senna conquistando sua primeira vitória na Fórmula 1. Herbert Vianna, Renato Russo e Cazuza surgiam no BRock.
Eu, um menino de 12 anos, seguia lendo as ‘Placares’ na única banca de jornal que existia no caminho da escola.
0 comentários