por Marcos Vinicius Cabral

Não é qualquer um que consegue vencer os obstáculos até se tornar um jogador de futebol. É necessário abrir mão de muitas situações e momentos no período em que o sonho de quem ‘comeu o pão que o diabo amassou’ está prestes a se tornar realidade.
Para vestir o uniforme de um grande clube de futebol, exige-se profissionalismo, em primeiro lugar. Em seguida o talento herdado de Deus e, por fim, a responsabilidade.
Profissionalismo, talento e responsabilidade formam o tripé para uma carreira bem sucedida. Geovani Faria da Silva resumia tudo isso.
Troncudo de cabelo grande, as espinhas no rosto e o corpo preparado denunciavam que era ainda pequeno. Mas nos treinamentos da Desportiva Ferroviária era perceptível um futebol de gente grande. Ou melhor, gigante!
Como torcedor do Flamengo e apaixonado por futebol, sempre fui corajoso quando o assunto era enfrentar qualquer time. Confesso, sem medo de errar, que o rubro-negro tem muito disso, de confiar no próprio taco. Melhor dizendo, acredita nas pernas de Leandro, Junior, Andrade, Adílio, Tita e Zico até a morte.
Diante de um Vasco impiedoso que contava com o experiente e artilheiro Roberto, o moleque atrevido Romário, e um Mauricinho que voava em campo pelos flancos direitos, vencer o Vasco era parada dura. E põe dureza nisso!
Mas por trás do trio acima citado, havia um exponencial goleiro de nome Acácio, e dois laterais que eram verdadeiros pontas como Paulo Roberto e Mazinho. Além deles, o cérebro desse time atendia pelo nome de Geovani, camisa 8 que ditava o ritmo com lançamentos magistrais, passes açucarados e cobranças de faltas e penaltis que beiravam a perfeição.
Destaque da Desportiva Ferroviária, do atual famigerado futebol capixaba, o talentoso meia conquistou os estaduais das categorias juvenil, juniores e profissional no estado vizinho. As atuações, umas melhores do que as outras, enchiam os olhos dos torcedores e dirigentes do clube.
Surgia ali, ao alcance de todos, um lançador que, em determinado momento, lembrava o Gérson Canhotinha de Ouro, um exímio cobrador de faltas e pênaltis como Zico e Roberto e, além do mais, genioso, como dois gênios baixinhos como ele: Maradona e Romário, companheiro de Vasco e Seleção Brasileira.
Com todo o respeito ao time grená do Espírito Santo, o modesto clube já era pequeno demais para o talento do menino. As chuteiras surradas e desgastadas transbordavam magias pelos campos ruins do Espírito Santo e ultrapassaram as arquibancadas do Estádio Engenheiro Alencar Araripe. São Januário recebia de ‘braços abertos’ o menino prodígio, em 1982.
A relação com o clube de infância começava a ficar intensa, tão intensa, mas tão intensa que o coração quase ‘saiu pela boca’ quando adentrou pelos portões imponentes e históricos de São Januário pela primeira vez.
E foi esse mesmo Vasco, repleto de grandes jogadores, que exigiu determinação e foco do jovem capixaba. A rivalidade com o Flamengo, um capítulo à parte, revelou um Geovani na sua melhor fase com a impoluta Cruz de Malta estampada no peito. O craque do Mundial de Juniores em 1983, chegou como amuleto na Colina conquistando no primeiro ano de clube o Estadual de 1982 contra o Flamengo campeão do mundo. Ergueu troféus nos estaduais de 1992 e 1993, construindo com sua genialidade o caminho do único tricampeonato carioca do Vasco.
O bicampeonato Carioca em cima do Flamengo (87 e 88) e o vice-campeonato nas Olimpíadas de 88, em que mesmo perdendo a final para a URSS – Geovani não jogou por ter sido suspenso no jogo contra a Argentina, cujo gol solitário da partida foi dele – saiu de Seul maior ainda mesmo com a medalha de prata. Você, que é fã de futebol, não vai esquecer aquele golaço contra a Argentina, que mostrou a visão de jogo e a genialidade do camisa 8.
Geovani foi genial nos gramados em que desfilou o talento que Deus lhe deu. Com a saúde fragilizada, o ‘Pequeno Príncipe’ vive ao lado da família e amigos próximos em Vila Velha. De longe, recebe a energia positiva de quem teve o privilégio de vê-lo em ação nas quatro linhas.
Obrigado, ‘Pequeno Príncipe’, pelos belos momentos em campo, pela genialidade no trato com a bola. Geovani é e sempre será um patrimônio do Vasco da Gama.
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